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Capítulo 1 – A Miséria De Um Mundo Decaído

Morte, desgraça e miséria. Essas são palavras que descrevem com precisão o lugar em que sobrevivi por anos.

Dias? Décadas? Séculos? Talvez até mesmo milênios, já não tinha mais ideia. Havia perdido qualquer traço de sanidade desde que abandonei a esperança em sair daquele lugar.

A mesma paisagem imunda tirava-me qualquer noção de tempo. O mesmo chão cinza e arenoso, as mesmas montanhas sem cor no horizonte.

O céu negro que nunca amanhecia, a lua vermelha que nunca mudava de posição, os mesmos demônios que tentavam me matar a todo momento, nada mudava. 

Não lembrava de quem já fui nem de quem já amei, não lembrava nem mesmo o meu próprio nome.

Vagava naquele mundo apocalíptico por um motivo, um objetivo que me inspirava a sobreviver em meio à loucura. 

Este motivo era matar um deus. Iria perfurá-lo com a espada que carregava em minhas mãos, iria despedaçar seus membros com meus dentes e esquartejá-lo com minhas garras.

Enfrentar a eternidade naquele inferno era algo que estava disposto a fazer por muito tempo, mesmo que tenha começado a esquecer o porquê.

Esta persistência iniciou-se na única memória intacta que ainda havia permanecido.

“Você atrapalha meus planos.” Repeti enquanto rasgava a garganta de um gigante com meus próprios dentes.

Estas simples palavras me foram ditas por um ser superior, uma criatura além de qualquer sentido ou propósito.

Um verdadeiro deus.

Instantes após ouvir essa frase, acabei por ficar preso naquele lugar. Quase tudo depois disso se tornou fragmentado em minha memória, obrigando-me a seguir instintos bestiais e violentos.

Talvez eu fosse um daqueles monstros e minha única memória era uma mentira, talvez eu tenha sido apenas um presságio de destruição cujo único propósito era manchar aquelas terras cinzas e imaculadas com um mar de sangue e corpos.

Quem fui já não mais importava, afinal tinha me tornado algo completamente diferente. Ainda lembrava vagamente da sensação que tive ao ver meu reflexo uma vez, e o que senti me disse que minha aparência original era longe daquilo.

Possuía presas afiadas capazes de perfurar até mesmo a pele mais resiliente, garras que rasgavam qualquer corpo e criavam uma orquestra de violência. 

Meu corpo era quase completamente coberto com escamas ou pelos negros. Mas mesmo com tudo isso, ainda usava uma espada enferrujada como arma.

Não sabia o porquê, mas sentia que esta espada era a única coisa que me conectava com o que um dia havia sido. E foi com ela que exterminei todas as criaturas que haviam tentado buscar minha morte naquele lugar.

Ela ainda não havia quebrado, mesmo após decapitar e enfrentar inúmeros seres gigantes e temíveis, então ainda tinha sua serventia.

Perdido em pensamentos, caminhei em direção a uma montanha longe de onde estava. Minha espada pingava sangue, criando pequenas manchas vermelhas na areia cinza.

As pequenas gotas se conectavam com maiores, até se encontrarem com poças de sangue, chegando num rastro vermelho interminável e cadáveres que acompanhavam minhas pegadas.

Estas criaturas foram minha única companhia naquele mundo destruído, apesar do fato de que tentavam me matar a todo momento.

Elas possuíam muitas formas, algumas até estranhamente familiares, enquanto outras eram tão esquisitas que eu até demorava para entender suas aparências.

Mas o desejo incessante de me matar era presente em todas elas, não importava o tipo. Nunca tive paz naquele mundo cadavérico, mas estava tudo bem.

Uma vez que encontrasse o deus que me levou para lá e matasse-o, iria sair dali.

Isso estava fixo em minha mente desde muito tempo, e continuaria assim. No fim da minha linha de pensamentos, cheguei à montanha que antes era apenas um pequeno pico no horizonte.

A montanha sozinha na planície arenosa me trouxe uma sensação estranha. Não era comum encontrá-las, então sempre subia até o topo quando tinha a oportunidade.

Só que essa era diferente das milhares de montanhas que já havia escalado.

Ela passava uma aura imponente, que vagamente me lembrava o deus que lá me prendeu. Mas quando comecei a escalá-la, algo aconteceu.

A montanha começou a tremer e então me derrubou no chão, antes de rachaduras gigantes se espalharem pelo lugar. Pensei em fugir, mas encontrar algo que pudesse me tirar dali valia mais do que o risco de morrer.

Como uma refutação para meu pensamento astucioso, a montanha se quebrou e rochas brancas caíram. Corri para longe para me proteger, mas o que vi em seguida tirou qualquer pensamento de minha mente.

Uma cabeça escamosa imensa elevou-se ao céu negro e com seus olhos reptilianos me encarou. Um corpo esguio e branco contrastou-se com o fundo escuro, mas manteve sua aparência majestosa antes de abrir a mandíbula e revelar uma língua bifurcada.

O som que a criatura emitiu fez meus ouvidos sangrarem, e parei de ouvir qualquer coisa imediatamente.

As escamas brancas que lotavam minha visão se tornaram negras quando desmaiei e caí no chão.

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Olá, eu sou Kalel K. Dessuy!

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