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Capítulo 10 – Repulsa Natural

‘Mana… Esta palavra não me é estranha. Preciso buscar mais sobre isso, sinto que pode ser o que precisarei para fugir das correntes dos deuses.’ Pensei enquanto procurava mais frases que eu pudesse entender.

Infelizmente, não fui capaz de achar mais nada. Eu precisava aprender aquele idioma urgentemente.

Ouvi batidas na porta, mas não respondi. Então, ela se abriu e revelou uma mulher de cabelos castanhos vestindo roupas de empregada.

“Foi preparado um banho para o nosso convidado. Peço que me siga até o andar superior da mansão, jovem Sirius.” Declarou a empregada, gesticulando para que eu saísse do quarto e a seguisse.

Olhei de relance para minha espada apoiada na parede antes de colocar o livro de volta em seu lugar na estante.

Nessa época, eu desconhecia muitos termos e significados após ficar tanto tempo mergulhado no caos. Meus instintos e intuição tinham mais autoridade que meu raciocínio lógico em muitos momentos, entretanto, obedeci à mulher.

Passei pelos mesmos corredores decorados e muitas portas, subi uma escadaria branca para me encontrar no segundo andar daquela construção.

“Lhe será dado suas vestimentas após seu banho, jovem convidado.” Disse a mulher, apontando com seu braço para um banheiro aberto.

Lá haviam duas mulheres vestindo as mesmas roupas que ela, e elas limparam todo meu corpo quando entrei e descansei na banheira cheia de água.

Haviam velas que criavam um odor agradável no banheiro, mas meu receio inabalável não me permitiu aproveitar o momento.

Tinha uma coisa de errado ali, mas eu não podia dizer o quê. Após alguns minutos, as empregadas me vestiram com um terno preto e sedoso antes de me secar quando saí da banheira.

Fiquei extremamente desconfortável em uma roupa tão justa após estar acostumado em andar nu por aí.

“Marquês Grafio está lhe esperando na sala de jantar, jovem Sirius.” Mencionou uma das mulheres que me lavou.

No começo tive dificuldades em andar devido às roupas e sapatos que me obrigaram a vestir, mas consegui seguir uma empregada loira até o andar inferior da mansão.

Ela parou em frente a uma grande porta, antes de olhar para mim com o canto dos olhos e abrir a entrada para a sala de jantar.

Uma grande mesa repleta de pratos cheios de comida, taças de vinho, frutas e carnes cozidas estava lá. Na ponta da mesa, estava o marquês sentado em uma cadeira olhando para mim.

“Espero que tenha apreciado os serviços da mansão!” Disse ele, levantando os braços e trazendo a atenção de todos os mordomos e empregadas nos cantos da sala.

Eu o ignorei e sentei na cadeira onde uma empregada me guiou.

“Entendo, ainda não se abriu completamente para conversas,” falou o marquês, antes de erguer uma taça de vinho, “mas tenho certeza que está aberto para um banquete!”

Não entendi seu comportamento, eu ainda não sabia que aquilo era uma comemoração. No entanto, copiei suas ações e ergui a taça ao lado do meu prato.

Os momentos que se seguiram, foram no mínimo, intensos. Minha única refeição até aquele momento havia sido peixes sem qualquer tipo de tempero ou sabor.

Mas agora eu estava presente em um verdadeiro banquete. Pude me deliciar com sopas de legumes, frutas que nunca pensei que existiriam, carnes de animais que eu nunca havia visto. Lá tinha tudo para meu estômago vazio.

“Pelo visto os cozinheiros dormirão felizes hoje.” Falou o homem, rindo animadamente. “Isso mesmo, aproveite sua estadia aqui.” Ele falou, e percebi um sorriso ao olhar de relance enquanto sujava meu rosto com a comida do meu prato.

Ignorei aquilo e concentrei-me em não cair da cadeira ao tentar experimentar tudo naquela mesa. Minutos depois, fiquei finalmente satisfeito.

“Se falasse do jeito que come, não existiriam dicionários suficientes no mundo.” Zombou Grafio, antes de tomar um gole de sua taça.

“Vamos, molhe um pouco sua garganta. Abri esse vinho para a ocasião de hoje.” Ele falou, apontando com sua taça para a minha.

Não apenas minha visão, mas meu olfato e audição também foram melhorados pelo cristal. Percebi que aquele vinho tinha um cheiro estranho.

Meus instintos se alarmaram o suficiente para me fazer não tomar aquilo.

Vi que o sorriso do marquês colapsou por um instante antes de falar: “Entendo, acho que crianças não gostam dessas coisas.” 

Após dizer isso, um mordomo apareceu e trouxe-me outra taça, contendo suco de maçã. Senti o mesmo cheiro ali.

Me recusei a tomar aquilo, e com isso o sorriso do marquês desmoronou completamente.

Depois disso, um silêncio se seguiu. Havia inúmeras pessoas na sala, mordomos e empregadas, mas nenhuma palavra foi dita.

“Terminaremos o banquete, então. A lua já deve estar no meio do céu, é hora de uma criança como você ir dormir.” Declarou Grafio, se retirando da sala.

Alguns minutos se passaram antes que uma empregada me levasse de volta para meu quarto. Quando cheguei, havia uma roupa dobrada na cama e minha espada não estava onde deixei.

“Onde está minha arma?” Perguntei rudemente enquanto olhava para a empregada.

“O marquês teve a gentileza de ordenar a limpeza da sua espada e retirar a ferrugem da lâmina, além de afiá-la.” Revelou a mulher, com os olhos fechados.

“Quero ela de volta, agora!” Ordenei. Meus instintos já não me deixavam abaixar a guarda naquela mansão, e perder minha espada me impediria de me defender caso precisasse. 

“Peço que o convidado tenha paciência, amanhã de manhã sua lâmina estará pronta e será devolvida.” Ela disse de maneira indiferente, fechando a porta antes que eu pudesse ter a chance de responder.

Meus instintos quase me fizeram sair dali e procurar minha arma, mas me controlei. ‘Meu corpo está mais forte graças ao cristal. Devo conseguir fugir caso precise.’

Chequei o cristal carmim embrulhado abaixo da cama, e ele ainda estava lá. Antes de adormecer, tentei ler todos os sete livros da estante.

Infelizmente não reconheci nenhuma palavra, nem sequer os outros títulos. ‘Energia prismática…’ Lembrei ao deitar na cama confortável e apagar o candelabro ao lado.

Senti minha consciência se esvair quando o sono tomou conta de minha mente, e meus sentidos se apagaram.

No entanto, um barulho despertou-me um tempo depois.

Passos que carregavam o peso de um homem adulto se aproximaram da minha cama. Imediatamente abri os olhos e levantei, mas um soco atingiu meu rosto ao fazer isso.

Não consegui reagir ao que veio depois. O homem de cabelos negros que dirigia a carruagem do marquês estava agredindo meu rosto sem parar.

“Você devia ter tomado aquela taça de vinho, pirralho. Assim seria menos doloroso.” Ele falou enquanto me enforcava com as mãos.

Não consegui respirar e minha visão começou a ficar escura. A força do meu corpo não foi o suficiente para remover os braços musculosos dele sobre mim.

Vi o reflexo de minha íris amarela nos olhos do homem, antes de chutar seus testículos com toda a capacidade de minhas pernas.

Meus pés pequenos se encaixaram perfeitamente entre a virilha do homem, fazendo-o interromper sua sucessão de socos para cair da cama com dor.

Aproveitei a chance para correr, mas quando quase alcancei a porta do quarto, ele agarrou meu tornozelo e arrastou-me.

Então, ele pegou meus cabelos e bateu minha cabeça no chão, incontáveis vezes, até eu perder a consciência em cima do meu sangue.

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Olá, eu sou Kalel K. Dessuy!

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