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Capítulo 11 – Grades e Sangue

Quase sufoquei-me no meu próprio sangue enquanto sentia meu rosto colidindo contra o chão inúmeras vezes.

A dor logo sumiu quando desmaiei no local. Eu senti minha cabeça doendo mesmo enquanto estava desacordado, e então abri os olhos.

Estava deitado em um chão frio e úmido. O ambiente era um pouco escuro, mas minha visão melhorada me permitiu enxergar os arredores.

Entretanto, o que vi me surpreendeu. Haviam pessoas ali, e elas eram pequenas, do meu tamanho. Éramos crianças e estávamos cercados por grades.

“Alguém novo apareceu.” Disse um garoto de cabelos loiros no canto da cela. Seus olhos eram completamente brancos, o que revelava sua cegueira.

Entrava um grande feixe de luz alaranjado por um buraco em uma parede fora da cela, e a cada segundo ficava mais claro, mostrando que estava amanhecendo.

Vi crianças me observarem com olhos tristes. Suas roupas eram esfarrapadas, possuíam muitos hematomas pelo corpo, e outras cicatrizes.

No entanto, notei algo peculiar. Todos eles tinham olhos diferentes e coloridos. Haviam olhos vermelhos, roxos, rosas, brancos, e mais.

“Qual o seu nome?” Uma garota de cabelos castanhos e olhos vermelhos me perguntou. Sua pele era branca e machucados estavam espalhados por seus braços descobertos.

Eu não entendi o que estava acontecendo. Essa era a primeira vez que encontrei crianças, não sabia como reagir.

“Ele deve estar se recuperando, Karla. Provavelmente não tomou o vinho envenenado que nem o Horn e o guarda bateu nele.” Outra garota disse no canto da sala úmida. Tinha cabelos negros e olhos rosas em um rosto de pele branca e suja.

Um silêncio melancólico dominou a sala pelos próximos minutos, até eu interrompê-lo. “Quem são vocês?” Perguntei enquanto apoiava minha cabeça dolorida em minhas mãos.

Outro momento de silêncio se seguiu, até que as crianças responderam: “Somos iguais a você. Idiotas com os olhos especiais e sem os pais, também confiamos naquele gordo de merda.” Falou o garoto cego em um tom irônico.

“Horn! Não diga palavrões!” Repreendeu Karla, a garota de olhos vermelhos. O garoto cego abaixou a cabeça usando um sorriso triste como resposta.

Tentei analisar o ambiente fora das grades após me levantar. Haviam outras celas, e ao longe na saída do lugar, tinha um homem guardando a porta.

“Ei.” Gritei para o homem que acordou de seu sono.

“Não faça isso!” Exclamou uma garota de cabelos loiros e olhos roxos antes do guarda começar a caminhar até nossa cela.

Ele parou em frente a mim e olhou com uma cara de desprezo. “O que foi?” Perguntou o guarda após cuspir em meu pé.

“Me tire daqui.” Falei enquanto o encarava por baixo e apertava meus punhos nas grades metálicas e gélidas.

“Se não o quê?” Respondeu o guarda, com um sorriso sarcástico.

“Ou eu irei te matar.” Respondi sem hesitar, antes de um impacto acertar meu abdômen. Ele me atacou com o pomo de sua espada.

No entanto, eu não fraquejei. Meu corpo já era forte o suficiente para suportar um ataque desse tipo. Continuei o encarando friamente, esperando uma resposta.

Ele era acima do peso, as roupas em seu braço não salientavam nenhum tipo de músculo definido. Meus instintos me disseram que eu seria capaz de machucá-lo.

O guarda se virou após franzir as sobrancelhas e ir embora. “O marquês ficará sabendo disso.” Ameaçou o homem.

Um silêncio se seguiu nos próximos instantes, até que Karla se levantou e veio até mim. “Você está bem?” Ela perguntou, olhando para a minha barriga, onde um terno esfarrapado cobria o hematoma que ganhei poucos segundos antes.

Não disse nada para responder sua pergunta, apenas me virei e me preparei para gritar para o guarda novamente.

“Não!” Exclamou a garota, tampando minha boca por trás com suas mãos pequenas. Tirei elas do meu rosto com facilidade, antes de encará-la.

“O que você quer?” Perguntei de maneira fria. Talvez eu tenha dito de maneira muito grosseira e intimidadora, pois a garota deu um passo para trás, usando uma expressão nervosa.

“Se você irritar o guarda, todos nós seremos castigados…” Karla respondeu timidamente, após criar coragem e me olhar de volta.

Meus instintos relaxaram com o olhar determinado da garota, e isso despertou mais da minha razão.

Olhei em volta novamente, dessa vez prestando mais atenção. Todas as crianças estavam com uma expressão depressiva, em condições mais deploráveis que pensei originalmente.

Era uma cela apertada, provavelmente sete metros quadrados, e nesse pequeno espaço havia cinco crianças além de mim.

Eram quatro garotas e dois garotos, contando comigo. Em um canto da sala, dormia uma menina branca de cabelo cor lavanda.

Karla e a garota de olhos rosas me encararam com expressões conflitantes, e uma garota sem nenhum fio de cabelo em sua cabeça estava sentada em um canto da sala. Seus olhos eram roxos, e ela olhava para o nada.

“Por que estamos presos?” Perguntei para Karla, antes de voltar a analisar o ambiente fora da cela.

“Não tenho cert–” Antes que ela terminasse sua frase, o garoto cego a interrompeu.

“Aquele gordo coleciona crianças com os olhos coloridos, simples assim.” Ele respondeu, virando para mim como se conseguisse me enxergar.

“Por quê? O que é ‘coleciona’?” Questionei, não entendendo sua frase. Ainda estava me adaptando com o idioma, por mais que o entendesse.

“Você é burro?” O garoto cego perguntou em tom de zombaria.

“Horn!” Karla repreendeu novamente, chamando atenção do guarda no corredor úmido.

“Silêncio!” Ele gritou, obrigando-nos a ficarmos quietos.

Um tempo se passou, até que a garota de cabelo lavanda acordou de seu sono e chamou o guarda. Observei suas ações em silêncio.

“Banheiro.” Ela disse, acordando o guarda de seu cochilo prévio. Ele caminhou e abriu a porta de nossa cela, deixando a garota sair.

Ele a levou para o fim do corredor e saiu do ambiente. “Por que ela pode sair?” Questionei para Karla enquanto segurava as barras de metal da cela.

“Como assim? Ela pediu para ir ao banheiro. Nós temos direito a três desses pedidos por dia.” Respondeu ela, abraçando seus joelhos. “Além disso, daqui a pouco virá nossa comida. Você deve estar com fome.” Karla disse, desapoiando seu rosto.

Com sua resposta, tive uma ideia. Eu iria matar o guarda no momento em que ele me deixasse sair daquela cela, e depois tentaria fugir.

Me senti completamente confiante em assassinar aquelas empregadas caso elas tentassem me impedir, a única ameaça era o homem que me emboscou no quarto.

Sua força era algo que meu corpo atual não era capaz de igualar, meus instintos afirmaram que eu não tinha chance alguma sem uma arma.

Esse pressentimento me obrigou a querer fugir de maneira silenciosa, portanto, não deixei meus instintos me controlarem e decidi formular um plano.

Alguns minutos depois, a garota de cabelo lavanda voltou para a cela e continuou seu sono. O guarda retornou para sua posição e fez o mesmo que a garota.

O tempo se passou, até que uma empregada veio até nós e entregou seis tigelas com sopa de legumes e carne.

Observei cada passo dela, analisei completamente o ambiente. Enquanto todas as crianças estavam comendo, eu vi várias cenas onde tentei fugir e acabei morto.

Meus olhos passavam por todas as celas e cantos escuros. Demorou dois dias para eu decidir fugir, mas meus planos foram interrompidos quando o guarda veio até a nossa cela.

“Ei, olhos amarelos. O marquês está te esperando em seus aposentos.” Ele disse, sorrindo. Percebi que todas as crianças ficaram com expressões aterrorizadas e chocadas.

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Olá, eu sou Kalel K. Dessuy!

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