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Capítulo 15 – Constelação e Sentimentos

Gael me olhou com uma expressão surpresa, interrompendo sua caminhada até a saída. “Um deus? Como você iria matar um deus?”

“Matando.” Respondi honestamente. Os meios não me importavam, nem as consequências de qualquer ação. Minha vingança me moveu durante quinhentos anos, nada mais importava em meus olhos.

O homem de cabelos grisalhos sorriu intensamente quando ouviu minha resposta. “Se eu soubesse como matar um deus, eu seria rei de todo o mundo. Ficar forte é uma responsabilidade apenas sua, isso depende de seu talento e determinação.” Declarou Gael, saindo da cabana.

“Espere!” Gritei para o homem, que parou na porta e se virou.

“Eu li que a energia prismática é a única coisa que os deuses não têm controle sobre. Isso é verdade?” Questionei quando me levantei da cadeira apressadamente.

“Falarei sobre isso depois, aqui não é um bom lugar. Me siga, te levarei até o quartel, lá te darei duas escolhas.” Revelou o homem, voltando a se distanciar da cabana.

Me posicionei vários passos atrás dele e o segui. Descemos a montanha, e um grande arco de madeira criou a entrada da cidade perto do cume.

A cidade não era grande, e muito menos lotada. Não havia ninguém na entrada, e nem nas estreitas ruas que segui Gael.

Janelas fechadas e empoeiradas protegiam o interior das casas da visão do mundo exterior, e alguns olhos vindos de dentro das janelas me observavam durante minha caminhada pelas entranhas da cidade.

“Deve estar se perguntando do porquê esse lugar é tão vazio.” Comentou Gael, chamando minha atenção.

Eu tinha minhas suspeitas do motivo, e a principal delas era sobre o despertar prismático.

“Nós, magos, somos raros por inúmeros motivos. Somos caçados, exilados e odiados. A maioria de nós vive escondido, sem manter contato com outros magos.”

“Com muito esforço conseguimos criar um exército e nos alocarmos para essa cidade remota.” Declarou Gael, seguindo em frente.

Após essas revelações, um silêncio se seguiu enquanto atravessávamos toda a cidade. Não vi absolutamente mais ninguém durante o passeio.

Casas e prédios de pedras lisas cercavam as estreitas estradas de terra, onde apenas uma carruagem conseguiria passar por vez.

Em um momento, chegamos em um arco de pedra, marcando a entrada de um grande terreno. Na minha direita, havia um extenso campo de grama, com inúmeros alvos e pequenos muros.

Na esquerda, havia um prédio largo e cinza com várias entradas e janelas. Gael entrou em uma das portas, e o segui.

Subimos as escadas e finalmente cruzei meus olhos com outra pessoa. Ao entrarmos em uma das muitas portas na construção, passei por uma garota branca com a mesma altura que a minha. Ela possuía fios de cabelo roxo-claro e olhos prateados. No curto instante que fizemos contato visual, notei pontos brilhantes e dourados em suas íris, como se fossem parte de um céu estrelado.

Fiquei atordoado por alguns segundos, observando nossa distância aumentar a cada segundo. “O que está fazendo?” Reclamou Gael, percebendo meu comportamento estranho.

Não disse nada e continuei meus passos, mas encontrei o homem parado, impedindo meu caminho. Lancei um olhar questionador para ele, entretanto, Gael apenas me olhou por alguns segundos e voltou a andar.

Continuamos nosso caminho até ele parar em frente a uma porta, antes de abri-la. Um pequeno e empoeirado escritório se mostrou, com uma mesa coberta de papéis e duas cadeiras, uma claramente mais desconfortável que a outra.

Estantes de livros decoravam as paredes cinza, e Gael gesticulou para que eu sentasse na cadeira desconfortável, que estava mais perto da porta.

Obedeci e me encontrei em frente a ele quando o mesmo se sentou.

“Te darei duas opções, garoto. Ou você se junta a nós, e quando estiver preparado, irá concluir tarefas e missões em nome do exército. Terá uma obrigação conosco, mas também lhe será dado ajuda. Não precisa se preocupar, ainda será independente e poderá tomar qualquer decisão que não ponha nós em risco.”

“Ou você nega o favor que nos deve e iremos te tirar dessa cidade à força. Afinal, você pode muito bem revelar nossa localização caso seja capturado e torturado.”

Encarei Gael após suas revelações. A melhor escolha era óbvia, mas ainda pensei sobre. Eu com certeza não queria ficar largado naquele mundo novamente, e essa era minha chance de conseguir informações e um lugar para ficar.

“Irei me juntar a vocês.” Decidi após poucos segundos. Nunca tive uma vasta gama de opções nesse mundo, me tornar membro de uma organização vazia e criminosa não me assustou.

Gael sorriu antes de fazer um gesto de aperto de mão. Nessa hora, não entendi suas intenções. Aquele sinal de boas-vindas ainda não me era familiar.

Ele tossiu fracamente antes de pegar uma fina pilha de papéis e ajeitá-los. “Vá falar com Amanda, ela está dois andares abaixo. Ela tem cabelo curto e castanho, você vai saber identificá-la.” Ordenou o homem, enquanto lia as folhas brancas e empoeiradas em suas mãos.

Saí da sala e observei o ambiente. Muitas portas estavam naquele andar, e algumas mesas de madeira ficavam perto de uma janela aberta.

Voltei para as escadas, e luminárias no teto iluminavam os degraus. Desci dois andares e explorei o lugar onde a mulher deveria estar, mas encontrei uma placa com uma palavra que consegui ler.

‘Biblioteca.’ Li em minha mente, ficando surpreso ao reconhecer o significado das letras.

Entrei na porta ao lado da placa e vi várias estantes altas e largas, com inúmeros livros e categorias. Não entendi a maioria das placas que categorizavam o conteúdo dos livros, mas o interesse despertou em mim quando reconheci a palavra “magia”.

Me aventurei nas capas velhas e empoeiradas, buscando incessantemente descobrir algo sobre aquilo. Horas se passaram enquanto eu tentava ler títulos e folhear páginas, até que encontrei algo.

“A Origem Da Magia” Li em voz alta ao pegar o livro em minhas mãos. Surpreendentemente, consegui entender quase todas as palavras das primeiras páginas.

“A magia é ligada aos sentimentos. A emoção que for intensa o suficiente para se conectar com a energia prismática, influenciará em toda a jornada de um mago. Aqueles que entenderem seu sentimento mais primordial e intenso se destacarão entre aqueles capazes de usar magia.” Eu disse ao ler o texto antigo em minhas mãos.

Essas palavras me fizeram pensar. Eu era íntimo com o sentimento que me tornou um mago, afinal convivi com ele por quinhentos anos.

Meus braços e pernas eram movidos por vingança, mas o que fortalecia essa vingança?

Ódio, ira, cólera, fúria.

Todos os sinônimos ligados ao sentimento mais destrutivo que alguém poderia ter preenchiam meu coração.

Conforme a compreensão sobre a ferocidade que me resumia aumentava em minha mente, comecei a sentir algo no ambiente.

‘Não é o suficiente.’ Pensei comigo, forçando-me a tentar entender mais.

‘O que é o ódio? É apenas o puro desejo de destruição? É a minha vontade absoluta de querer matar deuses que tentam me controlar e acorrentar?’

‘Não. Meu ódio é algo mais profundo que uma intenção ou objetivo. Sou os restos de um homem odiado por deuses, e usarei esse ódio para meu próprio benefício.’

‘Minha ira sou eu. Ela define o que já fui e o que serei, pois é graças a ela que sobrevivi e sobreviverei.’

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Olá, eu sou Kalel K. Dessuy!

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