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Capítulo 17 – Campeões

Me surpreendi com a resposta de Amanda. Se cristais de mana não fazem isso, o que explica eu ter me curado e fortificado ao tocar o cristal?

‘Talvez tenham cometido um erro.’ Pensei, mas duvidei um pouco disso.

“Por que pergunta isso?” Questionou Amanda, com uma expressão de dúvida.

“Esqueça. Não é nada.” Declarei, encarando-a. Meus instintos me deram o leve pressentimento de que eu não deveria revelar algo sobre aquilo.

“Hmm… Está bem. Vamos, me siga.” Falou Amanda, levantando-se da cadeira e saindo da sala.

Obedeci e descemos até o pátio do prédio, antes de entrarmos nas entranhas da cidade novamente. “Escute. Eu sei que você deve estar confuso, afinal veio parar em um lugar que não sabe onde fica, logo após experienciar um trauma intenso o suficiente para despertar.”

“Garanto que aqui é o lugar mais seguro para um mago no Reino Salazar. Infelizmente, devido à nossa situação, não temos muitos magos na cidade nesse momento. Mas pode ter certeza que Roger te ensinará tudo que precisa.” Declarou Amanda enquanto passávamos pelas estradas estreitas. Percebi que já estava anoitecendo.

Após um tempo, chegamos perto dos limites da cidade, e a mulher bateu várias vezes na porta de uma casa apertada e antiga, que estava ao lado de muitas outras construções iguais.

“Acorde!” Exclamou Amanda, aumentando a intensidade de suas batidas. Após alguns minutos, o som da porta sendo destrancada entrou em meus ouvidos.

Da estreita abertura da porta, um homem de cabelos longos e castanhos se revelou. Ele vestia roupas sujas e simples, sem o familiar manto preto que todos os magos que vi ali usavam.

Uma barba por fazer decorou seu rosto branco e liso, junto com olhos pretos.

“Que foi? Caralho.” Reclamou o homem, coçando a cabeça.

“Você vai ser o responsável pelo moleque, vou vir checar o estado dele a cada sete dias. Ele foi a causa do eclipse de nove dias atrás, então você sabe com o que tá mexendo. Espero que ensine-o bem.” Declarou Amanda, batendo nas minhas costas.

O homem olhou para mim e depois voltou a olhar para a mulher. “Por que eu? Tenho certeza que o Mirn faria um trabalho melhor.” O homem disse, abrindo completamente a porta.

Um chão empoeirado de madeira estava sob poucos móveis de mesmo material, e paredes de pedra seguravam luminárias que iluminavam o ambiente.

“Mirn está ocupado lidando com assuntos pessoais. Você é o único vagabundo restante nessa cidade.” Respondeu a mulher, com escárnio em seu tom de voz.

O homem riu com a zombaria de Amanda, antes de gesticular para eu entrar. Meus instintos estavam quietos, mas ainda era um comportamento natural meu analisar um lugar novo brevemente.

Observei, escutei, farejei. Entretanto, não notei nada de estranho naquela casa. Confiei em meus sentidos e adentrei a porta.

“Ótimo. Sabemos que essa casa possui dois quartos, e do jeito que você nunca troca de roupas, deve ter mantos o suficiente. Sirius, se precisar de algo, vá até minha sala no quartel.” Declarou Amanda, se retirando e fechando a porta por conta própria.

Naquele momento, ficou apenas eu e o homem. “Sirius, né? Meu nome é Roger, sou um mago especializado em gelo…” Disse timidamente o homem, coçando a cabeça.

“Especializado em gelo?” Indaguei para ele, não entendendo suas palavras.

“Pelo visto vou ter que começar com o básico.” Falou Roger, passando por mim e caminhando até algo que parecia ser um cubo de pedra em cima de uma mesa no canto da casa.

De alguma forma, ele abriu o cubo e revelou um espaço oco e congelado lá dentro. Algumas garrafas de vidro estavam lá, e ele pegou duas delas antes de fechar o cubo.

Após isso, ele sentou em um dos dois sofás de couro que estavam perto de uma parede, e gesticulou para que eu o imitasse. Obedeci e me sentei em frente a ele.

“Quantos anos você tem?” Questionou o homem, após me dar uma das garrafas.

“Dez.” Menti para ele. Usei o que Amanda disse anteriormente como blefe, pois, preferi não dar nenhuma resposta vaga dessa vez.

Abri a garrafa e um odor forte e alcoólico entrou em minhas narinas, mas isso não afastou minha sede. Dei vários goles na bebida.

“Nossa, você tem potencial para ser um parceiro de bebida no futuro.” Zombou o homem, repetindo minhas ações, mas ele virou a garrafa de apenas uma vez.

“Você não é o mago mais novo que já ensinei…” Revelou Roger, olhando para mim seriamente.

“Não sei do seu passado e nem dos eventos que causaram seu despertar precoce, mas saiba que esse mundo não é gentil com pessoas como nós. Afinal, nós somos inimigos dos deuses.” Revelou o homem, e sua última frase atraiu toda a minha atenção.

“Deuses?!” Levantei bruscamente com essa revelação. Eu finalmente tinha conseguido uma informação sobre eles.

“O quê? Por acaso não acredita neles?” Indagou o homem, tentando conseguir as últimas gotas de sua bebida após isso.

Sentei no sofá novamente, mas não falei nada.

“Sabe por quem somos caçados?” Ele perguntou em um tom sério.

“Os postulados?” Respondi sem ter certeza do intuito de sua pergunta.

“E por que eles nos caçam?”

“Porque somos criminosos?”

“…E por que somos criminosos?”

“Não sei.”

Após essa série interminável de perguntas e respostas, um silêncio se seguiu. “A realeza deste reino é pregadora de uma religião nojenta, que mata e queima aqueles que não obedecem aos planos dos deuses.”

“E nós somos esses que não obedecem. Já ouviu falar sobre a energia prismática?” Revelou e questionou Roger.

“Já. Li que essa energia é a única coisa que os deuses não têm controle sobre.” Falei, ansiando pelas respostas que se seguiriam.

“Correto. E você sabe quem são esses deuses?” Questionou o homem, em um tom melancólico.

Diante dessa pergunta, várias sensações e emoções percorreram meu corpo. Em minha visão, os deuses eram seres além da minha compreensão, mas não além da minha ira.

Nunca havia visto o formato de seus corpos, o abismo era a única coisa concreta que eu sabia sobre eles.

Não respondi à pergunta, afinal reconheci minha ignorância em relação aos deuses. Percebi que força bruta não era o suficiente para matá-los, eu precisava aprender sobre eles.

“Ninguém sabe direito. Apenas conhecemos suas existências por causa dos Campeões e dos livros antigos.” Declarou Roger, encarando-me firmemente.

“Campeões?” Indaguei, percebendo que nunca havia ouvido falar sobre isso.

“Aqueles abençoados pelos deuses, presenteados com poderes e conhecimentos divinos. Eles são as vontades dos deuses, e se esforçam todos os dias para matar magos como nós. Eles comandam os exércitos de postulados sob o título da realeza.” Declarou o homem, antes de se levantar e pegar outra garrafa no cubo congelado.

“Enfim. Já anoiteceu faz tempo, amanhã continuamos com as aulas. Seu quarto está no segundo andar, perto do banheiro. Mas não garanto que estará muito limpo, não entro lá faz meses.”

Após isso, Roger caminhou e subiu uma escada de degraus de pedra no canto da casa. Fiquei sozinho naquele momento.

Inúmeros pensamentos passaram pela minha mente, mas eles foram interrompidos quando percebi que estava com fome.

Não sabia quanto tempo fiquei sem comer, e descobri muitas coisas naquele dia. Por causa disso, resolvi sair da casa e ir em direção à montanha mais perto para caçar.

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Olá, eu sou Kalel K. Dessuy!

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