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Capítulo 18 – Ameaça Surpresa

Saí da casa e me vi em uma rua escura, iluminada fracamente pelo luar no céu. Entretanto, consegui enxergar tudo perfeitamente.

Virei à direita e passei por um beco, a fim de me encontrar nas bordas da cidade e então caminhar alguns metros por um gramado.

Andei alguns minutos até chegar no sopé da montanha, mas lá tive uma ideia. Alternei minha visão ao me sentar de joelhos no vasto gramado que cercava a cidade.

Vi inúmeros fios multicoloridos novamente, eles atravessavam o chão e tudo que ocupava espaço na paisagem noturna à minha volta.

Tentei me concentrar na sensação atrás de meus olhos. Era como se tivesse algo lá, tipo uma esfera. 

Não entendi direito seu formato, mas após um tempo percebi uma coisa estranha.

De alguma forma, consegui usar esse espaço. Era como respirar usando meus pulmões, algo completamente automático, mas que eu podia controlar se quisesse.

Passei mais alguns minutos me concentrando nessa sensação, usando meu raciocínio e meus instintos para entender mais rapidamente.

Em algum momento, os fios começaram a se aproximar de mim. No início, eles apenas flutuavam em minha direção, mas depois algo aconteceu.

Mais e mais fios continuaram se aproximando, até que eles convergiram em uma única posição. Eles se emaranhavam em uma esquisita forma multicolorida, bem entre meus olhos.

O espaço atrás dos meus olhos começou a ficar mais pesado com essa cena, e a sensação queimante voltou, entretanto, não desisti.

Mais fios se juntaram no emaranhado multicolorido, e uma dor de cabeça pressionou minha concentração. Após poucos minutos, interrompi o processo.

Caí para trás, entre respirações ofegantes. Alternei minha visão para não precisar mais cansar meus olhos com aquela cena brilhante.

Suor descia pelo meu rosto, mas isso só me motivou.

Depois de descansar por alguns segundos, me sentei e alternei minha visão novamente. Fios multicoloridos lotaram minha vista, e me concentrei em atraí-los. 

O espaço em minha cabeça ficou cheio em pouco tempo, mas nesse pequeno período, notei algo.

Entre a vastidão de cores intermináveis, poucos fios completamente escuros e brancos ocasionalmente apareciam, e eram eles que mais enchiam o espaço atrás de meus olhos de apenas uma vez.

Para aprender mais sobre isso, eu tinha que de alguma forma esvaziar aquele espaço, mas não sabia como.

‘Espera… Será que esses fios são as ondulações que senti no gelo de Vivian? É isso que os magos usam para criar magia?’

Após essa ideia surgir em minha mente, passei vários minutos tentando de alguma forma criar magia.

Falhei inúmeras vezes, afinal, eu só tinha uma vaga lembrança e uma sensação esquisita como base para minhas teorias.

Mas isso não me impediu. Em algum momento, tive a ideia de fazer o contrário que tentei antes. Ao invés de atrair os fios, eu iria os expulsar do espaço.

Não tinha a mínima ideia de como fazer isso, mas meus instintos me ajudaram a usar algo que de certa forma era parte do meu corpo.

Depois de um tempo, finalmente consegui empurrar um fio de dentro do espaço. Era apenas um fino fio amarelo, mas ele saiu do meio do meu rosto, entre meus olhos.

Percebi que conseguia controlar com minha mente a direção que o fio flutuava, e o fiz. Ele flutuou até uma árvore, e colidiu com ela.

Uma faísca elétrica extremamente minúscula se formou por um milésimo de instante, mas eu vi o que o fio causou.

Tentei novamente, procurando mais fios amarelos dentro do espaço, e consegui remover uns sete fios. Com dificuldade, emaranhei eles em um mais grosso, e os movi até a árvore.

Outra faísca se seguiu, entretanto, ela foi maior. Muito pequena, mas maior. 

Isso me motivou, e continuei o processo. Dessa vez, tentei juntar vinte fios. No início foi difícil controlar tantos deles ao mesmo tempo, mas acabei me acostumando.

Uma forma emaranhada do tamanho da metade do meu dedo indicador se formou. Ela se tornou volátil quando juntei todos, e a dificuldade de mantê-la intacta aumentou.

Por conta disso, os fios se desfizeram e voaram para longe, fugindo do meu controle.

Persisti e juntei-os novamente, usando toda minha concentração para mantê-los no lugar. Com o tempo, uma faísca do tamanho do meu dedo se formou.

Mas fiz algo diferente, ao invés de apenas flutuar o fio normalmente, tentei fazê-lo flutuar rapidamente até a árvore.

O resultado foi um buraco chamuscante do tamanho do meu pequeno punho no tronco. O cheiro de fumaça e madeira queimada entrou em meu nariz, e isso fez minha ambição ferver.

Por poucos segundos senti a mesma ondulação que senti no gelo de Vivian, e isso fez minha teoria se provar correta.

Não mais dependia do meu corpo frágil para sobreviver, aquela simples faísca se mostrou o começo de minha vingança.

Refiz o processo com outros tipos de fios. Fios azuis criaram manchas congeladas na superfície do tronco, fios vermelhos criavam minúsculos rastros de fogo que se alastravam em meu alvo, fios marrons fizeram pequenas pedras e terra se juntarem ao meu comando.

Entretanto, não consegui controlar os fios escuros e brancos. Eles eram de certa forma pesados, além do meu controle amador.

Senti que eu conseguiria criar muito mais, mas era necessário mais treino para isso.

A fome novamente interrompeu meus pensamentos, e decidi usar o que aprendi naquela noite na hora de caçar.

Adentrei a floresta que cobria a montanha em minha frente, e subi seu terreno inclinado. Andei lentamente, usando minha audição e visão melhorada para encontrar alguma presa. 

Presenciei a vastidão da vida noturna que morava na região, até que escutei algo que chamou minha atenção.

Um uivo solitário e fraco subiu no céu. Caminhei com cuidado até a origem do som, e encontrei um lobo me encarando.

A fera era notavelmente idosa, e não tinha nenhum companheiro da mesma espécie ao seu lado. Na hora não tinha como eu saber disso, mas o animal provavelmente era algum lobo idoso que foi expulso de sua alcateia.

O ser cinza e peludo rosnou para mim. Ele começou a lentamente rodear minha posição, buscando uma oportunidade para me matar.

Meus instintos se alertaram, e usei minha concentração para reagir em poucos instantes no caso de um ataque.

Entretanto, por mais que a situação fosse obviamente perigosa, não senti medo. Alternei minha visão para enxergar os fios, e usei minha mente para criar um emaranhado amarelo.

Lancei a forma na direção da criatura, e no caminho entre nós, um raio amarelo rasgou o ar e chegou nos olhos do lobo.

Talvez por sua intuição animal, ou pelos mesmos instintos que eu, ele conseguiu desviar o suficiente para não morrer de uma vez. Mas seu olho direito ficou esfumaçado e com certeza cego.

Meus instintos me alertaram novamente, afinal percebi que o espaço atrás dos meus olhos ficou consideravelmente mais leve.

A cor que mais predominava dentro do espaço era o amarelo, então resolvi usar raios novamente.

Usei o efeito surpresa que ainda restava para formar outro emaranhado, e acertei o meio do peito da criatura após outro raio rasgar o ar.

Sangue jorrou, e o lobo caiu no chão, emitindo sons tristes e repletos de dor. Sua condição não estava boa, mesmo antes de eu ter chegado, então me aproximei para finalizar o serviço.

Infelizmente, quando cheguei perto dele, escutei rosnados parecidos atrás de mim. Quando me virei, encontrei duas feras iguais à criatura quase morta em meus pés.

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Olá, eu sou Kalel K. Dessuy!

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