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Capítulo 2 – Além De Significados

Senti meus instintos gritarem pela primeira vez; meu corpo queria se mexer sozinho. Eu queria correr para longe o mais rápido possível.

Mas minha consciência se esvaiu antes do meu corpo se mover. Apenas senti o sangue quente escorrendo dos meus ouvidos e descendo pelo meu rosto, deitado no chão.

Tudo ficou preto e, pela primeira vez, senti paz. Meu corpo não sentia nada, e minha mente não sentia o peso de viver em um mundo que não me queria vivo.

Inconscientemente aceitei a morte, mas a luz iluminou minha mente repentinamente, o que me deixou cego por um instante. Quando percebi, estava rodeado por seres além da minha compreensão.

Eu estava mergulhado em um mundo morto, cercado por um profundo abismo recheado de uma escuridão isenta de qualquer significado ou propósito.

Mas não estava sozinho; havia olhares que me analisavam de todas as direções. Ouvia vozes confusas e abafadas, junto com sons irreconhecíveis. 

E então, senti a pior dor que provavelmente existe. Senti cada fibra, cada centímetro do meu corpo sendo despedaçado e arrancado de minha completude. 

Fui destruído e reconstruído infinitas vezes, vi o significado da minha existência se esvaindo no abismo mórbido que me cercava.

Mas aguentei. Suportei cada momento, cada desgraçado momento. Ganhei novos corpos e os perdi no mesmo milésimo de instante.

Era como se eu tivesse deixado de existir incontáveis vezes, perdendo um pedaço de mim mesmo para sempre a cada vez.

“O que você é?” Uma voz que parecia trazer todos os sons do mundo consigo me perguntou. Seu tom carregava propósitos que nunca entendi.

Não respondi, não sabia como. Eu não possuía boca, nem corpo, nem nada. Nem sabia como conseguia pensar.

“O que você é?” A mesma voz me perguntou novamente, mas dessa vez eu conseguia falar.

 “Eu não sei. Você tirou qualquer significado de mim.”

“Errado,” a voz me respondeu com uma raiva que fez parecer que o abismo em que eu estava iria cair em um ainda maior e mais profundo, “você nunca possuiu nenhum significado.”

Ao terminar sua frase um silêncio lúgubre me rodeou. Me senti envolto em uma mortalha de escuridão e era ali que eu ficaria por toda a eternidade, sem nem saber o porquê.

Talvez fosse meu destino sempre cair nas mãos de um deus sádico, sendo deixado à mercê de abismos diferentes.

“Errado também.” Uma voz nova disse, trazendo consigo uma luz que iluminou toda a complexidade do abismo em que eu estava.

A escuridão se tornou nada perante a luz imponente que iluminava tudo. “Essa pobre alma pertence a mim.”

Pela primeira vez, desde minha mais antiga memória, experienciei conforto. Senti uma mão calorosa segurando minha alma, me protegendo de qualquer ameaça ou dor.

“Perdoe-me, ó meu querido filho.” Declarou a nova e gentil voz enquanto me envolvia em sua luz.

 “Lhe darei uma nova chance de apreciar uma boa vida, uma isenta do sofrimento que um dia sentiu.”

Após isso, senti minhas memórias se fragmentando e minha existência sendo reconstruída. Não doía do jeito que foi quando estava no abismo, pelo contrário, foi prazeroso.

Mas de repente, tudo parou.

“Não irei deixar você sujar nosso mundo com outra cria.” Algo medonho disse nos arredores da luz que me cercava.

No entanto, a luz tornou-se mais intensa e começou a me reconstruir mais rapidamente. Então, uma escuridão cercou metade da minha alma e ameaçou destruir todo o progresso da luz.

Logo começou uma batalha entre luz e escuridão ao redor da minha alma. A luz buscava me fragmentar e me libertar, enquanto a escuridão parecia querer me prender ao sofrimento eterno.

Senti a pressão de duas forças além de qualquer descrição ou lógica sobre minha alma, parecia que minha existência como um todo iria se despedaçar.

Eu já não entendia o que estava acontecendo, pelo visto havia virado objeto de briga entre divindades. Não suportava mais. ‘Seria realmente meu destino apenas sofrer nas mãos de seres além da minha compreensão?’ Pensei enquanto tentava ignorar tudo à minha volta, o que se provou impossível.

Então, deixei de sentir qualquer coisa. Não reconhecia a reconfortante luz ou a escuridão absoluta, não havia nada para sentir. 

‘Seria essa a morte? Todo meu esforço foi em vão?’ 

‘Não pude nem apreciar minha vingança. Todo meu sofrimento foi tão inútil assim?’ Pensei comigo mesmo, tentando suprimir o silêncio que reinava em minha mente.

Como uma resposta para minhas dúvidas, voltei a sentir. Senti algo onde era meu rosto quando possuía um corpo.

Era desconfortável e me arranhava. Também colocava uma certa pressão no meu rosto e corpo. Quando percebi, consegui abrir minhas pálpebras.

Vi que estava deitado em um chão verde e estranho. Passei minhas mãos por ele e foi aí que percebi a falta de escamas e pelos em meus braços.

Tinha uma mão branca e lisa, bem menor que antes.

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Olá, eu sou Kalel K. Dessuy!

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