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Capítulo 31 – Três Anos

As casas abandonadas e antigas nos acolheram e afirmaram nossa segurança. Minhas costas estavam doloridas por conta do impacto, mas não usei o cristal para me curar. Preferi economizar seu brilho.

Eventualmente Hark parou e me olhou. “Irei levar ela até Lívia, amanhã falaremos sobre o que aconteceu.”

Concordei com a cabeça e parti para a casa de Roger. O homem estava dormindo no sofá, segurando firmemente uma garrafa quase derramando.

Não conseguia entender como ele tinha um estoque tão grande daquilo, apenas subi as escadas e treinei meu controle mágico antes de dormir.

Infelizmente meu sono novamente foi perturbado por pesadelos e vozes. Foi irritante e acordei inúmeras vezes durante a noite, fiquei com receio se um dia esses sonhos acabariam.

Acordei ainda sonolento, lamentando a falta de uma boa noite de sono. Roger estava na exata mesma posição anterior, mas a garrafa em sua mão agora estava caída e seu interior derramado pelo chão.

Senti o cheiro de meu corpo enquanto caminhava até o gramado que envolvia a cidade, e tirei minhas roupas quando cheguei lá.

Mergulhei minha pele na água que se resultou do derretimento do gelo que criei. Apenas a água não aliviou completamente o problema, mas melhorou um pouco o fedor.

Continuei meu treino de controle mágico, e quando estava prestes a iniciar meu treino prático, Hark apareceu.

Senti seu cheiro atrás de mim, e o aumento de energia prismática vermelha no ambiente também insinuou sua presença ali.

“Demônios… Me diga sobre eles.” O homem pediu ao sentar de joelhos em minha frente.

Seus cabelos loiros estavam amarrados em um rabo de cavalo, e o manto preto escondeu todo seu corpo do pescoço para baixo.

“Não sei do que está falando.” Menti, meus instintos nem precisaram interferir, a lógica mostrava que era óbvio o fato de ser estranho eu saber sobre criaturas que aparentemente sumiram há meio-milênio.

“Você afirmou para mim que aquilo era um demônio, e não parecia haver dúvidas sobre isso em seu rosto naquela hora.”

“Eu ouvia histórias sobre eles quando era menor, apenas reconheci sua aparência de um dos meus contos favoritos.” Menti novamente, improvisando um motivo por trás do meu conhecimento.

Hark me encarou, aquele homem não me conhecia o suficiente para negar o que eu disse. 

“Escute. Daqui a três anos acontecerá um evento em que terei que comparecer, junto com Lívia, Roger e Gael.”

“A cidade nunca ficou tão vazia, então te darei uma chance para conseguir minha confiança. Se você conseguir se comportar enquanto estamos fora, te deixarei sair da cidade para fazer algumas coisas para mim.”

“E se você não causar nenhum problema nessas saídas, pararei de pegar no seu pé e você poderá fazer o que quiser, desde que não exponha seu status como mago.”

Com essas declarações, interrompi meu treino e levei minha atenção para o homem.

‘Ele acha que sou algum tipo de animal?’ Perguntei para mim mesmo, não entendendo o motivo de tamanha desconfiança.

Claro, no fundo era óbvio para mim que o responsável era minha personalidade insana frente ao perigo, e Hark já tinha dito sobre isso.

“… Está bem.”

Hark sorriu com minha resposta, e percebi que seus olhos passaram pelos fios prismáticos que flutuavam lentamente à nossa volta.

“Me fale, o que você acha que é a magia?” O homem perguntou, e não entendi suas intenções naquela hora.

“… Uma arma que me permitirá matar os deuses.” Respondi honestamente, a energia brilhante que eu controlava não tinha nenhum significado profundo para mim.

Era apenas a ferramenta que me daria a chance de concluir minha vingança.

“Eu também pensava assim.”

“Mas acabei percebendo que a mana é mais do que isso. Na minha opinião, ela é a forma do mundo encontrar pessoas capazes de renová-lo.”

Não entendi o que ele queria dizer, e deixei isso claro em minha expressão.

“Quando magos talentosos lutam seriamente, muitas vezes resultados catastróficos acontecem.”

“Montanhas são partidas ao meio, desertos são alagados, vulcões entram em erupção.”

“E isso quase sempre muda a paisagem e vida na área, recriando um ciclo na natureza.” O homem olhou para o céu enquanto falava. “Claro, isso acontece raramente, afinal magos desse calibre não surgem tão fácil, mas sempre criam marcas no mundo.”

“A mansão. Sabia que recentemente foi relatado que a área envolta da mansão teve mudanças depois que você despertou?”

Isso me surpreendeu, não esperava ouvir o homem mencionar a mansão.

“Que mudanças?” Perguntei interessado.

“Rachaduras imensas surgiram em uma floresta perto dela, e a mansão não existe mais. Um buraco que não conseguiram encontrar o fundo surgiu no lugar, e acham que ela caiu lá dentro.”

“Além disso, caçadores de aldeias do marquesado reclamaram que animais não são mais vistos lá, e os territórios vizinhos relataram uma onda de animais selvagens fugindo para longe das fronteiras.”

“Por causa disso uma fome se alastrou no território do falecido marquês Grafio. E ficamos sabendo que a Coroa está preocupada de que mais rachaduras surgirão no futuro.”

Eu não esperava ouvir isso, nem como reagir. Não entendi perfeitamente o que aquilo significava, então contei com mais revelações de Hark.

“Não sei se isso é por culpa sua ou apenas uma coincidência, mas achei que você ia gostar de saber sobre.”

Não me importava sobre a fome na região, minha própria vida era prioridade naquele momento. Era melhor usar minha concentração para treinar do que para lamentar algo assim.

“É isso, vou parar de te incomodar. Não te chamei pro quartel pois Stella está descansando, o trauma parece ter sido intenso.”

Após essa declaração Hark se levantou e foi embora. Meus sentimentos eram mistos depois daquela conversa casual, mas algo estava fixo em minha mente.

‘Rachaduras… Eu lembro delas no meu despertar. Será uma dica sobre minha magia irregular?’

Palpites eram minha única opção ali, eu ainda tinha que aprender sobre esse tipo de magia, mas não sabia como.

Iniciei meu treino prático com a espada, e criei vários manequins de terra no gramado, e também envolvi minha espada em terra e gelo, para não danificar ela.

Treinei até o final da tarde, e quando completei meu treino prático, comecei a exercitar meu corpo.

Meus instintos e intuição me auxiliaram a descobrir os melhores movimentos para fortalecer meu físico, então voltei para casa quando a lua estava no meio do céu.

Na manhã seguinte meu corpo estava dolorido por conta do treino, mas não diminuí sua intensidade.

Um simples desconforto não era nada enquanto eu continuava ficando mais forte.

Treinar era a única coisa que eu conseguia fazer naquela cidade, e isso continuou por um ano e meio. Infelizmente, meus pesadelos continuaram mesmo nesse tempo.

Minha rotina de acordar, caçar, treinar meu controle mágico e prático com a espada, e no final me exercitar, foi interrompida quando um demônio surgiu em minha frente quando estava descendo a montanha à noite.

Um lobo flamejante de dois metros iluminou as árvores ao redor de mim, e o mesmo uivou para o céu quando me encontrou.

Meu rosto estava indiferente, mesmo estando cansado do treino.

Entretanto, no fundo estava feliz, afinal eu gostava de lutar. Treinar incessantemente por tanto tempo foi tedioso.

Agora era minha chance de testar minha força e os resultados de meu treino, e quando percebi isso, um sorriso sádico tomou forma em meu rosto.

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Olá, eu sou Kalel K. Dessuy!

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