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Capítulo 34 – Convite de Vivian

Observei as cinzas voarem pela planície escurecida pela vastidão da noite.

Incendiei o cadáver da mulher, junto com os dois veículos. Não podia deixar Hark descobrir que saí das montanhas, eu estava perto de conseguir a confiança dele.

Mas antes disso, envolvi os mapas em fios verdes e os trouxe comigo.

Não estava triste, mas aquela foi a primeira vez que matei por misericórdia. Uma morte insignificante comparada aos extermínios que sempre me acompanharam, mas foi o suficiente para criar um dilema em minha mente.

“Será que merecerei seu perdão no final da minha vida?” Indaguei a mim mesmo, recordando das últimas palavras que a moça sussurrou em meus ouvidos.

Entretanto, logo parei de pensar nisso. Eu estava determinado a mergulhar o continente inteiro de Deorum no sangue e na escuridão, uma simples morte não poderia me desconcentrar.

Esfriei minha expressão quando coloquei aquela situação no fundo da minha mente. Libertei os três cavalos, cortando as cordas que os amarravam e escutando seus galopes se distanciarem na planície. Depois disso subi a montanha novamente e incendiei os cadáveres restantes.

Agora ninguém mais poderia saber dos meus crimes. Me certifiquei de que cada centímetro de seus corpos virassem cinzas e voasse aonde o vento levasse.

Caminhei até a casa de Roger, dessa vez ele não estava deitado no sofá bebendo. Subi para o meu quarto e me permiti descansar depois que escondi os pergaminhos e mapas, mas pesadelos surgiram logo após.

Os cenários não mudaram. Havia fugido do lugar infernal, mas ainda o via todo dia. Enquanto caía em um abismo infinito milhares de vezes, escutei algo que diferia aquele pesadelo dos outros.

Pela segunda vez, um deus falou comigo. Sua voz cacofônica carregava a energia do abismo, e senti náuseas durante a conversa.

“Um dia sua deusa cairá, e será nesse dia que nossos exércitos irão atrás de você.” A voz falou, me causando arrepios durante o sono.

“Você é um deus, mas continua patético o suficiente para me ameaçar apenas durante meu sono. Por que eu deveria ter medo de você?” Zombei do mesmo jeito que fiz na primeira vez, lá na floresta.

Nenhuma palavra se seguiu, e continuei caindo em paz pelos abismos. Eventualmente acordei, mas fiquei com receio do que o deus me disse.

‘Exércitos virão até mim? O que isso significa?’ Me perguntei, mas não consegui pensar em uma resposta óbvia.

‘A cada dia ganho mais motivos para ficar forte.’

Foi com esse pensamento que me levantei da cama e me vesti com um manto preto que estava no armário. Ele estava sujo de poeira, mas não me importei.

Cortei algumas partes para ele se encaixar no meu tamanho e não arrastar no chão.

Desci as escadas, mas ao invés de me encontrar com Roger, me encontrei com Vivian. Fiquei surpreso, não havia a visto desde que a conheci, um ano e meio atrás.

“Oi, Sirius! Dormiu bem?” Ela me perguntou animadamente, tirando uma mecha de cabelo ruivo da frente de seus olhos azuis. Seu cabelo estava amarrado em um rabo de cavalo, e um par de mechas de cabelo estava nas laterais de seu rosto.

Estranhei sua aparição e fiquei sem saber o que falar. “Sente-se, preciso falar contigo.” Pediu, e fiz isso. Me sentei no sofá em frente ao dela e esperei Vivian falar.

“Olha, preciso te pedir um favor.” Declarou, despertando minha atenção.

“Que favor?” 

“Vai acontecer uma festa daqui à 4 meses, em uma cidade próxima.”

“A filha do prefeito engravidou e irá fazer uma comemoração com a cidade toda. Acontecerá um chá de bebê, e várias mães poderão se encontrar com ela e dar dicas.”

Escutei os detalhes com atenção, mas não entendi qual seria o meu papel.

“Fiquei sabendo que o tio da grávida é um capitão postulado, e ele estará presente na reunião como guarda. É uma oportunidade para tentar conseguir informações.” Vivian declarou com um sorriso.

“Enfim, tive a ideia de levar você junto e fingir que é meu filho. Assim poderei entrar na reunião e me aproximar do capitão.” 

Fiquei em silêncio por alguns segundos, não esperava ouvir aquilo. “Eu tenho permissão para sair das montanhas?” Fiz a primeira pergunta que apareceu em minha mente.

“… Não.” Vivian falou em um tom decepcionado. “Mas isso não importa. Hark não precisa saber, e se tudo der certo, você vai poder mostrar a ele que não existem motivos para ele se preocupar.”

“Por que eu? Stella não é mais confiável?” Indaguei em um tom frio.

“Ela recusou, acho que não gosta de eventos assim. Uma pena, já que ela é muito fofa. Eu iria conseguir entrar no evento facilmente.”

Pensei na proposta. Era um risco Hark descobrir, mas Vivian estava certa. Se tudo desse certo, eu muito provavelmente conseguiria a confiança dele mais cedo. E mesmo se acontecesse algo, a culpa seria de Vivian, afinal ela que me arrastou para lá.

“Está bem, mas como você irá conseguir informações? Irá torturar ele?” Questionei para a mulher, que apenas sorriu como resposta.

“Você ainda é uma criança, não iria entender. Apenas saiba que tenho algumas técnicas femininas.” Ela falou orgulhosamente, cruzando as pernas.

“Então você só vai seduzir ele?” Indaguei honestamente. Era óbvio que eu não era ignorante sobre o assunto, meus instintos me davam certas noções, principalmente sobre reprodução.

Afinal meu corpo provavelmente já estava com quase doze anos, eu sentia que alguns instintos sexuais estavam começando a florescer.

“… É.” Vivian falou sem expressão. Ela parecia que estava prestes a perguntar algo, mas não o fez.

“Irei embora, voltarei daqui a algumas semanas para te buscar. Viajaremos antes para comprar algumas roupas para você, e te ensinarei um pouco de etiqueta na viagem.” Declarou ao se levantar e caminhar até a porta.

“Tchau.” Vivian falou enquanto acenava e sorria. Apenas acenei de volta.

Fiquei sozinho quando a mulher foi embora. ‘Tenho poucas semanas para treinar. Melhor me preparar.’

Voltei ao meu cronograma de treinamentos intensos. Puni meu corpo com exercícios físicos e mente com meditações longas.

Meu controle mágico melhorava a cada dia, mas foquei no controle de magia de ar naquele curto espaço de tempo. Percebi que ela poderia ser muito útil na caça, eu poderia controlar minha adaga sem me mexer, matando animais de surpresa.

Mas ainda era difícil. Parecia que o peso dos objetos aumentava muito ao serem controlados pela magia de ar, então tive que sempre manter a concentração.

Nessa época encontrei uma caverna espaçosa sob um morro no cume da montanha. Transformei aquela caverna em minha área de treinamento, e logo a enchi de bonecos de terra e manchas escuras em suas paredes rochosas.

Um buraco em seu teto permitia os raios solares entrarem e iluminarem a área.

Dormi várias vezes naquele lugar, e ocasionalmente voltava para a cidade pra pedir conselhos e ajuda sobre magia.

Roger parecia não se importar com meus sumiços, ele apenas me pedia para tomar cuidado.

Perdi meu manto novamente durante as caças e treinos, mas não me importei. Meu corpo era resistente o suficiente para resistir ao frio natural daquele ambiente.

Passei dias decapitando bonecos de terra, e às vezes fazia a caverna tremer. Entretanto, algo aconteceu um mês depois.

Caminhava nu pela floresta, procurando alguma presa para me alimentar. No entanto, encontrei uma pessoa.

Uma moça de idade, com cabelos grisalhos e pele enrugada. Seu manto preto me fez perceber que também era uma maga. Ela parecia estar colhendo algumas ervas no chão.

Seus olhos eram castanhos, e exalavam uma aura de sabedoria intensa. “Prazer em te conhecer, garoto. Primeira vez que nos vemos, não é mesmo? Stella me falou sobre você várias vezes, meu nome é Lívia.”

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Olá, eu sou Kalel K. Dessuy!

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