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Aquele estardalhaço todo não parecia ser a postura comumente chata de nobres, mesmo assim havia uma pouca variedade de personalidades entre a multidão.

Metade parecia ser mais extrovertida e amigável, facilmente iniciando conversas com Vivian e outras mães.

Já a outra metade carregava uma arrogância nítida ao olhar para todos, com isso já descobri o nível de importância hierárquica entre elas.

As mais arrogantes provavelmente eram as mais poderosas, e o poder era a única coisa que me importava. Eram essas mulheres que eu observaria.

Não que o poder nobre significasse algo comparado ao poder real, mas seria útil aprender sobre aqueles acima da hierarquia social de qualquer forma.

Mantive um sorriso falso por longos vinte minutos, até que nos sentamos em um dos sofás para que Vivian continuasse a conversar com as outras mães confortavelmente.

Conversas inúteis, perguntas inúteis, histórias inúteis sobre seus filhos inúteis. A única coisa que me interessou naquele salão foram os aperitivos na mesa principal e o garoto de cabelos cinzas.

Falando nisso, ele continuou a me encarar.

“Mãe, posso ir brincar com as outras crianças?” Perguntei para Vivian usando uma expressão inocente. 

Confesso que doeu um pouco agir dessa forma.

“Claro, querido. Mas se comporte, okay?” Vivian respondeu com um sorriso de mãe. Sua atuação foi melhor que a minha.

Assenti com um sorriso mais falso ainda e caminhei lentamente até o garoto com os olhos fixos em mim. Meu sorriso lentamente se deformou em um rosto sério.

Não tinha ninguém perto dele, nem criança ou mãe.

Parei apenas quando uma curta distância nos separou, nossa encarada permaneceu recíproca por vários segundos, até que ele desviou o olhar.

“Tá me encarando por que, princesa?” Ele questionou enquanto apoiava a cabeça no braço.

“Essa pergunta é minha.”

Um silêncio desconfortável se seguiu novamente, dessa vez fazendo com que o garoto demonstrasse incômodo.

“Você já roubou algo?” Ele inesperadamente perguntou enquanto se aproximou de meu ouvido.

Fiz uma expressão confusa. “Por que quer saber?” Indaguei ao me afastar.

“Sei que isso é estranho e repentino, mas eu sou capaz de enxergar como as pessoas são interiormente. E eu percebi que você é diferente de todos logo quando te vi!” Ele declarou ansioso.

Inúmeros cenários e maneiras de matar aquele garoto surgiram em minha mente. Se ele fosse capaz de ver meu interior, não poderia o manter vivo. Ele ser criança não me importava nesse caso.

“Eu vi a ganância por trás dos seus olhos! Você quer poder, né?! Quer dominar o mundo e escravizar todos aqueles abaixo de você! Que nem eu!” O garoto declarou com uma animação cativante.

“… Tipo isso.” Respondi indiferentemente. Ainda não tinha entendido qual era a dele.

“Meu nome é Krez, da patética família Lovir.” Krez anunciou com desdém ao me cumprimentar com um aperto de mão.

“Patética família Lovir? Odeia tanto assim a sua família?” Perguntei ao aceitar o aperto de mão.

“… É.”

“…”

“Sou Lucas Zestyne.” Anunciei com um orgulho falso. “Sobre o roubo, por que me perguntou aquilo?”

Krez olhou em volta antes de me puxar para o sofá ao seu lado. “Se você me dedurar, vou dizer que tá comigo desde o começo, tá bom?”

Assenti e o mesmo começou a contar seus planos. “Eu juro por Deus que vi um mordomo entrando numa passagem secreta em um dos corredores da mansão, carregando um tipo de pedra estranha.

‘Pedra estranha?’

“Que tipo de pedra?” Indaguei curioso, com uma certa esperança.

“Parecia um cristal laranja. Ele brilhava mesmo depois do cara o cobrir com um pano.”

‘Um cristal prismático laranja!’

“Eu lembro do jeito que ele usou pra abrir a passagem. Deve ter muita coisa foda lá dentro! E mesmo se pegarem a gente, podemos só dizer que nos perdemos. Eles não vão achar que crianças como nós estariam lá pra roubar algo.”

Considerei o assunto seriamente. Fazer isso estava completamente fora dos planos, podendo prejudicar a missão como um todo.

Mas obter um cristal prismático para testar minha teoria de fortificação corporal tão cedo era muito bom. Se tocar em um cristal vermelho já me deu tantas vantagens, imagine tocar em um laranja.

“Me dê os detalhes.” Falei enquanto me sentava em uma posição confortável.

“Detalhes?” Krez indagou.

“Não me diga que você quer simplesmente ir lá, entrar em uma passagem que você ao menos sabe como sair e roubar artefatos da Casa Furtten, sem nem ao menos montar um plano?”

“É.”

‘… Acho que ele ainda é uma criança no final das contas.’ Reclamei mentalmente. ‘Mas ainda preciso dele pra abrir a passagem. Posso usá-lo como isca também.’

Vários cenários e situações surgiram e sumiram em minha mente. Eu estava formulando planos, álibis, ações e reações que poderiam acontecer.

A festa com certeza teria muito mais convidados presentes do que o chá de bebê, então era melhor fazer algo antes. Eu poderia usar minha magia de escuridão em vários casos também.

“Onde é essa passagem?” Questionei ao observar Vivian conversando com várias mulheres no lado oposto do salão.

“Em um dos corredores dos fundos, parecia ser perto da cozinha, eu vi vários mordomos no caminho.”

“Como eles não te impediram de ir lá pra trás?” Questionei ao continuar minha formulação de planos.

“Sei lá, não falaram nada. Alguns me olharam, mas não me impediram de andar pelos corredores.”

‘Acho que os servos têm medo de confrontar uma criança nobre, mesmo que de outra família.’ Presumi ao analisar tudo que Krez disse.

De repente, Vivian sinalizou para que eu fosse até ela.

“Durante o chá de bebê, sairei para ir ao banheiro. Te esperarei na direita do corredor, venha até mim três minutos depois que eu for.” Ordenei ao me levantar e correr como uma criança feliz até Vivian.

Me agarrei nas pernas de Vivian como uma criança, escondendo meu humor pensativo.

‘Por que eles têm um cristal prismático?’

Vários minutos se passaram e novos convidados apareceram com o tempo. Tive que cumprimentá-los junto com Vivian, até que algo aconteceu.

Um homem robusto que exalava força apareceu, empurrando uma garota que descansava em um tipo de cadeira de rodas.

Essa garota parecia um coelho fofo na frente da massa de músculos em uma armadura que era o homem. Um brasão estranhamente familiar estava encrustado no peitoral de placas cinzas.

Um dragão voando verticalmente, acima de uma mão gigante e flamejante que exibia um anel diferente em cada dedo.

Cada anel possuía um símbolo em suas gemas, e por algum motivo não me senti bem ao encarar aqueles símbolos.

“A Casa Furtten os recebe com a mais profunda alegria e gratidão.” O homem de armadura anunciou em voz alta.

“Essa noite, a jovem senhorita Linya terá o privilégio de aprender sobre a maternidade nobre, graças às mães guerreiras aqui presentes.”

Um sorriso envergonhado apareceu no rosto da jovem. Seus cabelos loiros e brilhosos refletiam os cuidados privilegiados que uma nobre recebia. Sua pele clara e perfeitamente lisa também.

Seus olhos escuros pareciam estudar cada pessoa naquele salão, mesmo que discretamente.

Claro, sua característica mais chamativa era a enorme barriga de grávida.

Todas as mães sorriram, mas o homem as impediu de chegarem perto. “Peço que tomem cuidado, senhorita Linya anda muito sensível ultimamente.”

Entretanto, engoli seco ao perceber algo. 

Minha audição me permitia escutar absolutamente tudo dentro daquele salão. Desde vozes baixas até batimentos cardíacos.

E eu não escutei nenhum batimento vindo de sua barriga.

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Olá, eu sou Kalel K. Dessuy!

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