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Capítulo 49 – Guerra Arcaica

O mecanismo misterioso era como uma esfera dourada, repleta de botões e pequenos pilares que a sustentavam em um altar branco.

Cada botão possuía um símbolo diferente com significados que eu não entendia. 

“Ei…” Krez sussurrou preocupado.

“Que foi?” Indaguei, estudando sua expressão. Ele parecia analisar o chão branco e as linhas douradas.

“Eu acabei de perceber que já estudei sobre um lugar parecido… Num livro de história da biblioteca da minha família.” Comentou, engolindo seco.

“Essas linhas são iguais aos padrões presentes em câmaras arcanas…”

“Câmaras arcanas?” Questionei, extremamente curioso apenas pelo nome. “O que é isso?”

“Não sei muito bem… Fui forçado a aprender sobre isso. Apenas lembro que muito tempo atrás, no final da Guerra Arcaica, os maiores magos do reino criaram lugares para esconderem seus tesouros e conhecimentos sobre a magia.”

“Guerra Arcaica?”

“Você não sabe o que é a Guerra Arcaica?!” Krez perguntou, chocado. “Foi a maior batalha entre magos e Campeões!”

“Milhares de magos e centenas de Campeões lutaram no centro do reino, no final os Campeões ganharam. Foi nesse dia que os magos foram oficialmente exilados e decretados criminosos!”

“A guerra aconteceu algumas décadas depois do desaparecimento misterioso dos demônios. Dizem que os magos e Campeões lutavam juntos contra os monstros, mas depois que a ameaça em comum sumiu, a guerra teve início.”

‘Isso não faz sentido… Os deuses que criam os demônios, por que os Campeões, abençoados pelos mesmos, lutavam contra eles? Não deviam ser aliados contra os magos?’

‘Mais uma pergunta para a deusa brilhante.’

“Mas por que a Casa Furtten mora acima de uma câmara arcana? Isso é um dos crimes mais graves que tem! Todo cidadão do Reino Salazar deve relatar a descoberta de uma câmara arcana para a Coroa, quem não o fizer é passível de execução pública…” Krez indagou-se, roendo a unha.

“Isso é ruim.” Declarei em tom sério. “A gente descobriu algo que não deveria. Se acharem a gente, não vão nos deixar ir embora. Isso é um segredo que vale mais do que a vida de duas crianças.”

“Como assim?” Krez questionou com medo na voz.

“Significa que vão nos matar se formos encontrados.” Declarei indiferentemente. O cristal não mais me importava naquele momento.

Eu ainda poderia consegui-lo em algum mercado mágico, não era hora de ter o alvo de uma família nobre poderosa nas minhas costas. Eu ainda não era poderoso o suficiente.

De repente aquele mecanismo misterioso não valia meu tempo. Peguei a mão de Krez e corri até o corredor rapidamente, mas algo aconteceu.

Me deparei com um homem velho preparando-se para entrar na biblioteca, vestindo um manto branco e limpo. Sua pele era clara, seus cabelos grisalhos e médios cobriam sua testa, provavelmente enrugada igual ao resto do rosto.

Seu olhar esverdeado nos encarou com um misto de sentimentos. Dúvida, raiva, melancolia.

“O que estão fazendo aqui?” O homem questionou com autoridade.

Krez claramente temeu por sua vida. Ele tentou dizer algo, mas falei por cima. “Senhor, nossas mães estão no chá de bebê, estávamos indo roubar comida na cozinha, mas encontramos uma passagem secreta no corredor… Ficamos curiosos e viemos parar aqui!” Menti com um falso desespero e convicção.

“Você não parece estar mentindo.” O homem falou enquanto coçava sua barba por fazer.

Um pouco de alívio surgiu em mim, mas ele logo se desfez.

“O que é uma pena.” Sussurrou enquanto sorria.

Pensei em imediatamente saltar em sua garganta para matá-lo, mas o homem fez algo preocupante.

Duas mãos roxo-escuro intangíveis de repente apareceram no ar. Elas não pertenciam a um corpo inteiro e eram feitas de energia prismática.

Percebi-as pela minha visão periférica, não as encarei diretamente. Não podia arriscar que o homem descobrisse que eu era um mago ao olhar minha pupila na direção das mãos.

A mão era extremamente rápida, mais rápida que o tempo de reação do meu corpo. Meus músculos falharam e adormeceram quando uma das mãos passou pelo meu pescoço, parecendo literalmente arrancar minha consciência de dentro de mim.

Apenas pude ver o corpo de Krez caindo igual ao meu, antes de tudo escurecer por horas.

Um silêncio que pareceu refletir a própria inexistência tomou conta de tudo. Me senti mais morto do que quando morri durante meu despertar.

Então era essa a sensação de sua consciência realmente sair do seu corpo. Qualquer sensação, desejo ou noção não existia em minha percepção quase nula.

Senti que a única marca que me tornava existente havia perdido seu lugar na realidade… Até que eu acordei.

O ambiente era frio e silencioso, mas seu tom branco e claro contrastava totalmente com a escuridão que eu estava mergulhado até alguns segundos atrás.

Um salão branco repleto de símbolos, sangue seco e correntes me rodeou. Krez estava do meu lado, acorrentado, nu e desacordado.

Olhei para baixo e estava quase na mesma situação. Não estava mais vestindo meu terno e correntes metálicas aprisionaram meus pulsos e pés.

Estávamos no centro de um grande símbolo estranho. Percebi que fios prismáticos estavam alinhados em sua forma, o que era novo pra mim.

Eles não estavam flutuando livremente pelo ambiente, pareciam ter sido manipulados de um jeito que eu desconhecia.

‘Merda, não esperava encontrar um mago. Ele provavelmente é o líder do grupo responsável pelos desaparecimentos…’

Chequei meu núcleo e ele estava bem. Preenchido completamente com várias cores para me auxiliar em quase qualquer ocasião.

Entretanto, eu não sabia onde estava. Era arriscado me libertar imediatamente, era melhor analisar tudo por um tempo.

De repente escutei passos vindo na nossa direção. Eles eram leves e lentos, e descobri pertencerem ao mago que nos aprisionou.

“Oh, não esperava que você acordasse tão cedo. Sua consciência realmente é forte.” Ele declarou com admiração. Estava a alguns metros de distância, perto de outros símbolos arruinados.

“O que você vai fazer com a gente?” Questionei com raiva. Aquela situação despertou todos meus instintos, afinal eu estava sozinho contra um mago experiente.

Minha única vantagem era meu corpo e o efeito surpresa.

“Você não entenderia. Os segredos da magia estão além do alcance da maioria dos magos, um simples plebeu como você não conseguiria enxergar nem seu mais simples relance.” Ele falou com desdém.

Recebi algumas dicas analisando a mana nas linhas do símbolo ao nosso redor. Era principalmente composta por fios de escuridão e luz da mais alta qualidade.

Os fios reagiam entre si de maneiras curiosas e estranhas. Não consegui descobrir seus propósitos com um olhar, então fiquei à mercê na situação.

“O que acontecerá com a gente? Por favor, eu imploro!” Gritei, forjando um desespero falso.

Um silêncio se seguiu por alguns minutos. O homem me encarou, até que sorriu.

“Acho que você merece. Todas as outras crianças apenas choraram, mas você teve coragem de fazer uma pergunta.”

“Saiba que a magia é uma dádiva muito além de qualquer coisa! Ela está acima das pessoas, do mundo e dos deuses. É o próprio universo em forma de energia!”

“Aqueles que a possuem são superiores a qualquer um! Temos o poder da própria realidade atrás de nossos olhos, mas esse mundo, regido por subordinados de deuses incapazes de controlá-la, nos caça.”

“Atingirei a imortalidade usando a vida de inúmeras crianças repletas de vitalidade, para que um dia possa mostrar a superioridade de nós magos!” O homem declarou cheio de vigor e animação. Ele tinha fé naquilo que falou.

“Mas meu tempo está acabando. Estou ficando velho, portanto devo ser apressado. Apenas saiba que sua morte será indolor, garoto. E também saiba que será por um propósito incrível.”

Um traço de energia prismática escura saiu de seus olhos e tocou uma parte do símbolo à nossa volta, que começou a brilhar em uma luz roxa e branca.

De repente, uma pressão do peso de uma montanha caiu sobre meus ombros.

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Olá, eu sou Kalel K. Dessuy!

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