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Capítulo 5 – Fome Vasta

Esta foi a primeira vez que dormi em séculos. Suportei o cansaço por todos aqueles anos, mas de algum jeito sobrevivi.

Sentir minha consciência se esvaindo ao dormir me lembrava de coisas desagradáveis, mas foi bom.

Até que vozes começaram a ressoar em minha mente. Vozes intermináveis, elas se fundiam umas com as outras em uma incessante súplica.

As vozes muitas vezes eram confusas e sem significado, mas às vezes elas diziam palavras separadas e sem nexo.

Já outras vezes formavam frases. Uma delas se destacou das súplicas e dos socorros, e foi uma voz que reconheci.

Era o mesmo som medonho que batalhou contra a deusa de luz e que tentou condenar minha alma. Quando falou, silenciou todas as outras vozes.

“Sua deusa não lhe protegerá; ó cria imunda da luz. A escuridão reinará sobre sua vida e seu jazigo será sob meu domínio eterno.”

Eu não conseguia raciocinar direito, mas o peso que essa frase carregava me acordou do meu sono. Quando percebi, estava amanhecendo e os cantos dos pássaros despertavam meus ouvidos.

“Irônico, um deus só pode me ameaçar em um sonho. Talvez eu não devesse me preocupar tanto.” Zombei ao acordar. Sinceramente, me acostumei a ser ameaçado por eles a esse ponto.

E uma simples assombrada em meus sonhos não era capaz de me afetar após tudo que passei.

A fome me trouxe de volta para as preocupações importantes e imediatamente saí do buraco em busca do coelho.

Havia apenas um rastro de sangue perto da entrada e umas pequenas bolas brancas de pelo. No final, minha caça havia sido roubada por algum outro animal.

A faca de arremesso estava quebrada ao lado do sangue, não devo ter percebido que quebrou quando o matei.

Limpei minha mente de qualquer pensamento e corri atrás de outras pedras, mas no meio do caminho tive outra ideia quando a lembrança de criaturas escamosas nadando na água surgiu em minha mente.

Peguei minha espada e fui em direção ao rio. Parei em uma parte rasa o suficiente para mover meu torso livremente.

Com muito esforço, levantei a espada em meus ombros. Acabei perdendo o equilíbrio por um segundo e a espada passou seu fio em minha pele, criando um ferimento pequeno e superficial.

Simplesmente ignorei isso e foquei completamente no que viria a seguir.

Demorou vários minutos até os peixes começarem a me ignorar. Em algum momento, um deles se aproximou e ataquei com a espada.

Acabei errando por vários fatores prováveis. Sem querer movi meus pés ao atacar com a lâmina pesada, e a refração da luz confundiu meus sentidos.

‘Não dará certo.’ 

Mudando minha tática, segurei a lâmina pela guarda e apontei para baixo. O peso cansou meus braços rapidamente, mas persisti.

A cada peixe que passava, eu soltava o peso da espada. Com o tempo, meus braços ficaram dormentes, o que deixou tudo muito mais difícil.

O suor pingava na correnteza fraca do rio, e os peixes flutuavam ao redor. 

Após um bom tempo, havia matado quatro. Alguns deles eram grandes, obtive comida por uns dois dias.

Cada pesca bem sucedida me fazia voltar para a floresta e deixar os peixes no chão, onde reuni alguns galhos e folhas secas.

Em tudo que fazia, meus instintos ajudaram em algo e dessa vez não foi diferente. Após conseguir criar o fogo, assei dois peixes e os comi desesperadamente.

Meu corpo já estava fraco e dolorido, mais algumas horas e eu perderia minhas forças para conseguir comida.

Pensei sobre minha situação enquanto escutava os estalos do fogo e observava a fumaça que o vento levava para várias direções.

‘Consigo comida se me esforçar, as cavidades das árvores me servem de abrigo e me protegem do frio, mas o que farei depois? Preciso descobrir onde estou, antes de tudo.’

Eu não tinha a mínima ideia de como encontrar informações. Andar para frente e sem rumo era uma opção, talvez a única.

‘Talvez eu deva esquecer tudo e viver aqui para sempre. Os deuses podem esquecer sobre mim se eu não fizer nada que chame atenção.’

Revirei minhas memórias, tentando encontrar algo sobre aquele que eu era antes de ir para o lugar infernal. Não descobri nada, o nome Sirius era minha única informação.

‘Devo perguntar para aquela deusa brilhante, ou procurar por minha própria conta. Ela disse que deixei muitas marcas neste mundo, provavelmente devo conseguir encontrar algo relacionado ao meu nome, algo que tenha sobrevivido por todos esses séculos.’

Fechei meus olhos e deitei-me no chão. Meu corpo parecia que iria desmoronar, principalmente meus braços. 

‘A deusa disse que iria me ajudar, não acho que ela me traria para o meio do nada apenas para morrer. Deve ter algo por perto, tem que ter.’

Fiquei deitado por horas recuperando a energia que gastei. Meu corpo doía muito, chegou ao ponto em que quase não consegui levantar quando anoiteceu.

Antes de ter anoitecido completamente, assei os dois peixes restantes e os comi antes de adormecer abaixo de uma árvore.

Quando acordei, meu corpo nu estava coçando e havia pontos vermelhos em muitas partes, então tomei um banho no rio antes de seguir meu rumo ao lado de sua correnteza.

‘Talvez eu deva largar essa espada.’ Pensei enquanto me esforçava para arrastar a lâmina pela terra úmida que cercava o rio.

Mas não fiz isso. Algo maior que meus instintos me conectava com essa espada de algum modo, e não ignorei essa sensação.

O rio levava sua correnteza até onde eu não conseguia ver, e anoiteceu várias vezes durante minha caminhada. Por sorte, havia várias árvores com cavidades abaixo delas, o que me permitia dormir em certa segurança.

Entretanto, algo aconteceu um tempo depois. Seguia minha caminhada ao lado do rio como de costume, até que ouvi um som que despertou adrenalina pelo meu corpo.

Um rugido raivoso surgiu do outro lado do rio, e uma criatura marrom com três vezes minha altura mergulhou nas águas e começou a nadar em minha direção.

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Olá, eu sou Kalel K. Dessuy!

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