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Capítulo 50 – Destino

Tossi sangue ao sentir cada parte do meu corpo sofrer. A energia prismática se infiltrou nos meus músculos como um parasita, roubando minha vitalidade.

A força privilegiada que o cristal me presentou saiu lentamente do meu corpo. Isso despertou minha mais pura raiva, afinal algo que me permitia ser forte estava sendo tirado de mim.

O símbolo brilhou mais conforme mais roubava de mim, e o sorriso daquele mago se intensificou.

“Incrível! Seu corpo é verdadeiramente incrível!” Me exaltou ao bater palmas. Entretanto, parou de sorrir quando percebeu que eu não estava morrendo mesmo depois de vários minutos.

“Que vitalidade é essa?” Ele indagou dando passos para trás. “Merda, eu não configurei o signo para aguentar tanta energia…!” Reclamou em desespero. 

O homem rapidamente correu até minha direção e começou a interagir com o símbolo que estava quase me partindo ao meio. Inúmeros feixes de escuridão e luz prismática saíram de seus olhos e modificaram partes específicas do desenho.

Para sua infelicidade, rachaduras surgiram no brilho da energia, até que tudo se rompeu e o peso sobre meus ombros deixou de existir.

“Você…” Tentei falar algo, mas falhei. Eu não mais sentia aquela força anormal, meu corpo agora pertencia à mesma categoria que o de uma criança comum. 

Meus músculos definharam, minhas veias estavam claramente visíveis pela falta de gordura. Nunca me senti tão fraco e deplorável. Todo meu esforço e progresso durante meu treinamento corporal foi em vão por culpa daquele verme.

O homem pareceu extremamente confuso com a cena. “Não faz sentido um ser humano conter tanta vitalidade…” Sussurrou ao observar meu estado. Eu não conseguia nem caminhar em sua direção, e a mana dentro de meu núcleo parecia não me obedecer.

“E sua vitalidade é tão absurda que o signo automaticamente preferiu ignorar o outro garoto pra focar nela!” Comentou animadamente ao olhar para meu lado.

Usei todo meu esforço para levar meus olhos para o canto da minha visão, onde encontrei o garoto. Surpreendentemente, Krez parecia bem. Permaneceu desacordado com uma expressão sofrida, mas bem. Melhor do que eu.

“Você é o alimento perfeito para a imortalidade! Não preciso de mais ninguém.” Falou enquanto me abraçava.

Não consegui reagir, apenas me deixar cair em meio à escuridão da inconsciência.

Eu fui fraco. Tomei a decisão errada em não me libertar imediatamente, e por conta disso sofri as consequências. 

Nunca mais cometeria aquele erro. Não poderia me permitir ser fraco novamente quando meus alvos são deuses.

‘Você é patético.’ Declarei ao olhar meu reflexo em uma água escura e infinita abaixo de um céu negro iluminado por uma lua falsa.

‘Como pode almejar a morte de reis de um reino além do céu, quando falha em ser o ápice de si mesmo?’

‘Como consegue ser tão fraco e ao mesmo tempo desejar ser o mais forte?’

‘Como se permite desperdiçar o dom da magia ao ser um inútil que não consegue nem escapar de outro mago?’

Perguntas preenchidas de desdém contra mim mesmo saíram da minha boca. Eu não sabia onde estava naquele momento, nem o que estava acontecendo.

Apenas aproveitei para desabafar em um lugar calmo, escondido e escuro no interior da minha alma.

Olhei para o lado e vi um orbe brilhante branco, flutuando pacificamente acima daquela água completamente negra.

Era o mesmo orbe de antes de acordar nas montanhas após despertar e ser salvo pelo Exército Prismático.

Se eu o tocasse novamente, provavelmente acordaria. 

Mas era isso que eu queria? O que me esperava lá fora, quando abrisse os olhos?

Provavelmente estaria preso, sendo usado por aquele velho como uma ferramenta para seu objetivo.

Me perguntei o que o homem que um dia fui, quinhentos anos atrás, acharia dessa situação. Eu fui grande o suficiente para conquistar o ódio de deuses, mas agora era digno de pena. 

O homem de meio-milênio atrás provavelmente nunca precisou ser salvo.

“O homem de meio-milênio atrás está morto.” Uma voz familiar tremeu.

“Você carrega seu nome e seus pecados, assim como a ira deles. Mas com toda certeza não é ele.” A deusa brilhante falou através do orbe.

“Estou cansado de ouvir sua voz nos meus piores momentos.” Declarei com ódio. Eu culpava aquela mulher, por algum motivo. Talvez fosse apenas minha imaturidade desejando culpar alguém pela minha própria incompetência.

“Me perdo-”

“Não quero seu perdão.” Interrompi. “Eu quero poder. Você é a merda de uma deusa, deve conseguir me ajudar de um jeito melhor. Um jeito que não seja me atirar em um mundo como esse sem qualquer auxílio.”

“…”

Ela permaneceu em silêncio.

“Se eu te der poder, você morrerá.” De repente declarou.

“Por quê?!” Gritei, quase socando o orbe. No último instante desviei o ataque para não acordar antes da hora.

“Pois não é a hora certa.”

“… E por que não é a hora certa?” Questionei sem esperanças.

“Eu estou te protegendo a todo momento.” A deusa revelou, despertando minha atenção. Eu estava ajoelhado e olhando para baixo, mas ergui a cabeça na direção do orbe.

“Como assim?” Indaguei com a voz trêmula.

“Eles tentam te matar a cada segundo. Neste exato momento, existem dezenas de deuses do abismo tentando quebrar a barreira entre os planos apenas para ter a chance de tirar sua vida.”

“Sou eu que mantenho essa barreira erguida. Mas estou ficando sem forças, se eu te der mesmo uma parte do meu poder, a barreira se quebrará e o mundo cairá no caos.”

“Às vezes acabo me desconcentrando e permitindo seus filhos entrarem nesse mundo e irem até você. Peço que me perdoe por isso.” 

Quase fiquei sem palavras com suas revelações. Aquilo explicava muitas coisas, uma delas era o porquê dos demônios aparecerem aleatoriamente perto de mim.

“Mas um dia minha força acabará, e assim morrerei. Nesse dia o mundo será invadido por seus exércitos demoníacos e eles partirão até você.”

“Por isso você deve ficar forte, Sirius. Fique forte o suficiente para sobreviver e vencer contra um mundo inteiro, assim como você já fez.”

Tantas perguntas foram respondidas, mas muito mais apareceram. 

“Um dia irei responder tudo que quer saber. Revelarei a verdade por trás dos deuses, as origens deles e motivações. Mas não agora.”

“Estou gastando minha energia falando com você, e isso está reduzindo seu tempo no futuro. Adeus, meu bravo cavaleiro.” A deusa brilhante se despediu com melancolia.

“Lembre-se da sua espada, ela é mais importante do que imagina.” Falou uma última vez antes de sua aura sumir completamente.

“Espere!” Gritei, mas não obtive reações. Continuei sozinho, observando o orbe, desejando ouvir sua voz novamente.

Me levantei e esfreguei meu rosto. Me senti uma verdadeira criança implorando para a mãe não abandoná-la.

Mas eu era mais forte do que isso. Toquei o orbe e me vi deitado numa cama luxuosa, em um quarto mais luxuoso ainda.

Uma janela estava ao lado da cama, e fiquei surpreso ao enxergar a totalidade da cidade de Furtel vista de cima. Era de dia, o que significava que perdi a festa. ‘Perdão, Vivian. Estraguei tudo.’

Eu estava naquela torre imensa atrás da mansão, era a única explicação. Olhei para baixo e percebi que vestia um pijama branco de seda, mas uma corrente metálica me prendeu na cama. 

Meu corpo permaneceu definhado e fraco, e meu núcleo por algum motivo estava vazio.

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Olá, eu sou Kalel K. Dessuy!

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