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Capítulo 55 – Estrago

Emaranhar magia poderia ser muito complexo. Uma simples esfera de fogo tem potencial para se tornar extremamente poderosa se o seu criador colocar bastante esforço em cada detalhe de sua forma.

Feitiços não são simples formas puras de energia, eles têm significados e suas estruturas devem ser planejadas pelo mago. 

O interior da esfera que criei foi concebido com a ajuda de meus instintos evoluídos. Eles me falaram como cada aspecto deveria ser para maximizar o potencial de destruição. Usei os fios de melhor qualidade que encontrei no ambiente de jeitos específicos, envolvidos de várias formas.

O resultado foi uma esfera instável, que pulsava com o anseio de explodir tudo, até mesmo seu criador.

“Não te deixarei morrer antes que eu possa explorar o limite do seu corpo!” O mago gritou antes de correr em minha direção.

“E é muita arrogância da sua parte achar que um feitiço apressado como esse pode ser capaz de passar pelos signos que passei anos criando.” Falou ao me agarrar pela gola do pijama coberto de sangue.

O mago me levou até a altura de seus olhos, onde o encarei com ódio. Minha esfera flutuou ao meu lado, afinal ainda não tinha dado uma forma final para ela.

Vi rastros de escuridão surgirem de seus olhos e lentamente fluírem até mim. Ele queria me desmaiar novamente, mas não dei a chance.

Um último toque fez a esfera receber um corpo real e cair no chão, vibrando freneticamente. O homem pareceu perceber seu poder e tentou agarrá-la para cancelar seu efeito, mas não deu tempo.

Senti todos os meus ossos quebrarem, cada centímetro do meu corpo ser carbonizado e meus órgãos caírem para fora enquanto era arremessado e atravessava a parede de gelo, colidindo com as paredes da mansão.

Um som que estourou meus tímpanos criou uma paisagem assolada pelo fogo e caos. Pilares e paredes colapsaram sobre si mesmas.

Coloquei a mão no meu rosto e senti meu olho esquerdo soltar-se para fora do meu rosto, meu crânio aberto e minha mandíbula segurando-se em um pedaço de pele.

Estava sentado no chão, apoiado em um grande buraco que criei na parede ao ser arremessado. Senti o calor das minhas entranhas libertarem-se de dentro de mim, junto com alguns órgãos.

Minha carne viva pulsava sob uma camada completamente carbonizada e escura.

No entanto, o cristal estava lá, entre minhas entranhas. Desesperadamente usei as mãos para enfiar meus órgãos de volta para dentro do meu corpo, quando a regeneração começou.

O cristal iniciou sua perda de cor conforme minha pele e órgãos eram movidos forçadamente por seu poder milagroso.

Tive que me arrastar para coletar os poucos órgãos que caíram durante o impacto, antes de enfiá-los para dentro. Apenas pude contar que a cura os colocasse no lugar certo.

Me senti um morto-vivo, ansiando pelas partes de seu corpo que foram tiradas dele.

Não consegui ver o mago nem ninguém enquanto esperava meu corpo ser curado, afinal a dor excruciante me impediu de raciocinar.

Minha mente quebrou pela pressão da cura.

Não sabia quanto tempo havia se passado quando recuperei minha razão. Algumas pessoas estavam no lugar, apagando o fogo com baldes de água.

Gritos e ordens entraram em meus ouvidos agora curados, mas minha audição não estava perfeita. Escutei tudo de maneira abafada, mas ainda entendi que a situação havia evoluído.

Um homem de pele parda e cabelo curto escuro estava envolvendo minha perna em um curativo, com uma expressão preocupada. Nunca havia o visto, mas seu jaleco pertencia a um médico.

Olhei para meu corpo agora nu e minha pele estava rosada, como se tivesse sido criada recentemente, que nem um bebê.

Não pude ver a situação dos meus órgãos, afinal meu ferimento estava fechado. Meus músculos não recuperaram o tamanho, mas conseguia os usar.

Escutei um apito agudo que me irritou, mas lentamente voltou ao normal, junto com minha visão antes embaçada.

Assim pude ver que o mago estava sendo socorrido vários metros na minha frente. Sua pele estava carbonizada, mas ele estava respirando.

‘Levante-se…’ Ordenei-me e com esforço ergui uma das pernas. O médico que me curava tentou me impedir, mas o usei como apoio para levantar a parte superior do meu corpo.

Entretanto, eu falhei e caí, mas isso não me impediu. Eu me arrastei como um verme até o homem, apenas para ter a chance de finalmente matá-lo.

Para minha infelicidade, minha consciência sucumbiu. A adrenalina não me permitiu perceber, mas a regeneração que me forcei exigiu muito da minha mente.

Até mesmo meus instintos cessaram quando a escuridão me abraçou. Não sonhei com a voz da deusa nem com demônios, era apenas um silêncio mórbido.

Então eu acordei em uma cama, sendo observado por duas pessoas. Reconheci o médico, mas a outra mulher era desconhecida para mim. Ela vestia um jaleco de enfermeira e anotava as palavras do médico em uma caderneta.

Olhei para o lado e minha cama estava cercada por cortinas, mas ainda escutei gemidos de dor e reclamações no quarto.

Atrás do médico, no outro lado do quarto, outras camas e cortinas guardavam pessoas machucadas.

“Ele acordou.” A enfermeira falou ao perceber meu olhar curioso estudando meus arredores. Eu estava vestindo um pijama estranho, igual ao das outras pessoas nas camas.

“Consegue nos entender?” O médico perguntou para mim. Assenti com a cabeça e ele suspirou de alívio.

“Você e Rugus Furtten foram as únicas pessoas no local da explosão, mas ele está muito ferido para responder às perguntas. Já você é outra história.” O homem falou com um tom sério.

“O que aconteceu lá?” Questionou, mas demorei alguns segundos para responder. Meu raciocínio ainda estava lento.

“… Não lembro.” Menti ao descansar minha cabeça no travesseiro.

“Qual é seu nome?” Continuou a questionar.

“Não lembro.” Menti novamente. Não iria perder a chance de esconder minha identidade, afinal era coerente não lembrar quem eu era naquela situação.

O médico e a enfermeira trocaram algumas palavras, mas não me importei. Levantei da cama e tentei caminhar, quase falhando. 

Não senti o cristal dentro de mim, o que significava que ele perdeu seu poder completamente me curando.

Isso mostrou que eu não poderia abusar da regeneração frequentemente, pois pesava muito na minha mente e corpo.

“O que está fazendo?!” O médico gritou quando tentou me impedir de andar. 

“Não toque em mim.” Murmurei friamente. Não esperava a hora de voltar para as montanhas.

“Precisamos saber como contatar seus pais! E você não está estável, precisa descansar, garoto!” Exclamou a enfermeira, mas ignorei.

Saí do quarto e me vi em um corredor largo de madeira com várias portas, onde enfermeiras saíam e entravam. Vi uma escadaria que não hesitei em descer.

Passei por uma entrada com várias cadeiras e pessoas machucadas, mas não me importei com os olhares que me acompanharam quando saí pela porta da frente.

Era de dia e as ruas de Furtel apareceram, mas ainda não havia alcançado minha liberdade. Só me sentiria em paz quando saísse daquela cidade.

Consegui ver a grande torre que fui aprisionado ao longe, então a usei como referência para deduzir minha localização.

No entanto, não fui embora imediatamente. Meus instintos me falaram pra eu ir até a taverna e fiz isso.

Demorei vários minutos para encontrar a familiar rua em frente ao lugar que morei por poucos dias com Vivian.

Meu peito apertou um pouco de ansiedade. Algo dentro de mim achava que ela não tinha me abandonado e estava me esperando.

Adentrei a porta e vi algumas pessoas almoçando, o dono do bar limpando uma taça atrás de sua estação de trabalho, mas não encontrei Vivian.

Caminhei até o dono enquanto olhava ao redor.

“Com licença, você viu minha mãe?” Perguntei enquanto levantava meu pé para aumentar minha altura e olhar o homem nos olhos.

“Oh, é você. Por que está aqui? Pensei que tinham cancelado sua estadia depois que você e sua mãe não voltaram após saírem todos aprumados uns dias atrás.” Comentou ao continuar limpando a taça.

“Quê? Ela não voltou sem mim?” Perguntei, surpreso. Ele assentiu, o que me preocupou.

‘Será que ela tentou me procurar e algo aconteceu?’ Indaguei a mim mesmo, mas nem meus instintos poderiam responder isso.

Não me restava nenhuma opção além de voltar para as montanhas a pé, então foi isso que me preparei para fazer.

Saí da taverna, mas uma visão completamente inesperada apareceu em minha frente.

Uma mulher ruiva como o fogo, com olhos azuis como o gelo me encarou com um olhar emocionado. Um desenho amador de uma criança de cabelos escuros e olhos amarelos, em cima de uma legenda “Desaparecido”, estava em suas mãos.

“Sirius?” Indagou com a voz trêmula. Seu rosto estava cansado, como se não dormisse há dias.

“Vivian?” Perguntei com um tom levemente feliz, diferente do meu comportamento frio usual.

Ela então correu em minha direção e me abraçou. “O quê aconteceu?! Por que está tão magro?” Gritou enquanto me apertava mais.

Devolvi o abraço e a acalmei. “Está tudo bem, apenas aconteceram algumas coisas, nada demais.” Respondi com um sorriso tímido.

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Olá, eu sou Kalel K. Dessuy!

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