Selecione o tipo de erro abaixo

Capítulo 56 – Consequências

Minha mente estava tão cheia. Sinceramente, uma parte de mim queria ter continuado no hospital, descansando. Mas me forcei a ir embora, nunca me deixaria ter o luxo de descansar com a liberdade na minha frente.

Permiti meu corpo ceder ao cansaço extremo que acumulei durante aquele tempo. Caí no colo de Vivian ali mesmo antes da minha visão escurecer.

Meu sono soou interminável. Mesmo dormindo, minha consciência melhorada me permitia raciocinar levemente e perceber a passagem do tempo quando eu quisesse.

Uma hora. Um simples descanso, insuficiente, na verdade.

Duas horas. Melhor do que antes.

Cinco horas. Mais tempo do que pensei que dormiria, mas isso significou que meu corpo realmente precisava de descanso.

Doze horas. Dormi por meio-dia, nessa hora começou a ficar preocupante.

Um dia inteiro. Nesse momento tentei forçar meu corpo a acordar, mover algum músculo ou gritar, mas falhei. Só pude esperar acordar em algum momento.

Três dias se passaram e eu não acordei. Provavelmente foi o preço de abusar da minha regeneração com o cristal em minhas entranhas.

Cinco dias na completa escuridão da minha inconsciência. Genuinamente achei que nunca mais acordaria.

Até que meus olhos se abriram oito dias depois. Não sabia quanto tempo fiquei desacordado no hospital, pois eu não estava dormindo, e sim quase em coma.

Provavelmente meu corpo só ficou confiante em se tornar vulnerável daquela maneira por tanto tempo porque eu alcancei os braços de Vivian e no fundo julgou ser confiável.

Analisei o ambiente que estava e me surpreendi. Era meu quarto na casa de Roger, lá nas montanhas.

‘Quê?’ Indaguei com a mão na cabeça. Minha mente ardia como fogo, como se os oito dias fossem o mínimo pra minha necessidade.

‘O que aconteceu?’ Continuei me perguntando ao me levantar. Os cristais vermelhos que consegui um tempo atrás estavam dentro do armário, do jeito que deixei.

A espada que levei na viagem estava ao lado da cama, apoiada.

Acendi a lamparina ao lado com magia, já que estava de noite. Poderia enxergar no escuro, mas não estava afim de forçar meu corpo mais ainda. Eu vestia um manto preto usual, mas limpo.

Saí do quarto e caminhei pelo corredor familiar da casa, encontrei Roger dormindo em sua cama ao bisbilhotar pela porta.

Não o acordei e desci as escadas. A casa estava quieta e escura, mas andei despreocupadamente, desviando dos móveis de maneira natural.

Saí de casa e o vento frio da noite me abraçou. Uma grande lua cheia iluminou o céu estrelado, mas não me importei em observar sua beleza.

Eu precisava falar com Vivian para saber o que aconteceu.

Caminhei pelas ruas abandonadas da cidade, no entanto, vi alguém que nunca tinha conhecido antes.

Um homem estava atirando algumas pedras na janela de uma casa esquecida, incomodando meus ouvidos com o barulho rechaçado.

Ele me notou alguns metros a distância, antes de uma expressão irritada surgir em seu rosto quadrado e barbado.

Seu corpo era bruto, sua roupa não escondia os grandes músculos e cicatrizes de batalha marcavam toda sua feição. Provavelmente escondia muito mais delas sob o manto preto familiar dos magos do Exército Prismático. Não estava vestindo capuz, o que me permitiu ver um enorme corte antigo separando a raiz de seu cabelo ao meio. 

“Você é o merdinha que fudeu tudo, né?” Questionou ao se levantar e caminhar até mim. Sua raiva era óbvia, mas meus instintos não gritaram.

“Tem sorte de Vivian se responsabilizar pela sua cagada, mas se eu ouvir qualquer rumor de que um Campeão foi para Furtel para investigar o que você fez, eu mesmo te mato.” Ameaçou quando se posicionou em minha frente.

Tive que erguer o pescoço completamente. Ele tinha mais de dois metros de altura, e eu era um pouco mais alto que uma criança média de doze anos.

“Do que está falando?” Perguntei friamente. Sua postura arrogante e ameaçadora não alarmou nem meus instintos mais paranoicos.

Não era como se ele fosse fraco, pelo contrário. Eu não tinha dúvidas que não conseguiria fazer nada contra o homem em minha frente, mas no fundo eu tinha certeza que ele não tentaria nada naquele momento.

“Do que estou falando?!” Gritou ao abaixar a mão contra mim, mas articulando todos seus dedos quando quase chegou perto, como se tivesse se controlado no último instante.

Meu rosto permaneceu indiferente perante a sua quase declaração de violência, o que pareceu deixá-lo um pouco curioso.

“Foi você que quase matou Rugus Furtten, né não?” Perguntou seriamente. Assenti com a cabeça, o que fez ele rir.

“Puta merda… Como pôde fazer algo tão fudido assim?” Questionou com raiva. “Um monte de gente que trabalha naquela mansão disse que viram um moleque de cabelos escuros e olhos amarelos correndo que nem um bicho por lá matando todo mundo! E que ele foi responsável por uma explosão misteriosa! Por que caralhos você fez isso?!” Gritou ao balançar meus ombros.

“Aquele homem era um mago.” Revelei ao dar um tapa em sua mão, tirando-a de cima de mim. “Ele me prendeu naquela torre e apenas fugi. Acabamos lutando no final e venci.”

Seu rosto se mostrou surpreso antes de soltar outra gargalhada. “Tá de sacanagem? A gente conhece todos os magos de Furtel, e pode ter certeza que o irmão do chefe da Casa Furtten não é um. Todos os membros de casas nobres são analisados por cães da Coroa. É impossível ele ter escondido seu status como mago tendo uma posição tão privilegiada.”

“Pode ir perguntar pra alguma empregada dele, se você não acredita em mim.” Declarei com arrogância. Uma delas viu ele criar uma parede de gelo e só correu quando começamos a lutar. Ou ela ficou com medo de revelar algo já que ninguém sabe disso ou todas elas conhecem esse segredo.”

Seu rosto ficou sério de repente. “Aquele cara pode ser um velhote, mas se ele realmente for um mago, como você venceu?” Indagou com um tom de zombaria. “Um pirralho arrogante que despertou faz nem dois anos como você não teria chances contra um mago de verdade.”

“Ele me subestimou e pagou o preço, simples assim.” Declarei antes de passar ao seu lado. “Agora saia do meu caminho.”

O homem não tentou me impedir, mesmo mostrando uma clara irritação com minha arrogância. 

“Meu nome é Trevor.” Anunciou com orgulho. “Boa sorte quando encontrar todo mundo. Geral tá bem puto contigo.” Falou antes de soltar uma última gargalhada.

Não me importei com seu gesto e segui em frente. Demorei alguns minutos para chegar no quartel, onde encontrei Amanda lendo um livro em um dos sofás do primeiro andar.

“Oh, Sirius… Quanto tempo.” Falou hesitando. “Estávamos preocupados, você dormiu por dias e estava quente como fogo. Achamos que tinha pegado uma febre perigosa.” Declarou ao fechar o livro que lia.

“Nem mesmo Lívia conseguiu te acordar.” Revelou com a voz tímida. “O general e Vivian querem muito falar com você, ele provavelmente está meditando no telhado. Já ela eu não sei, deve estar dormindo em casa. Amanhã você fala com ela.”

Assenti e subi as escadas até o último andar, mas não encontrei nada que me levasse diretamente para o telhado.

Isso não me impediu, pois abri uma das janelas e escalei a beirada, antes de me ver alguns metros longe de Hark treinando sob a imensa lua no céu.

Sua meditação era completamente diferente da minha. Ele estava nu, como se o fogo houvesse queimado suas roupas.

A energia prismática vermelha agia diferentemente perto dele. Ela tomava formas além dos simples fios sem significados.

Pequenos rios de fogo o rodeavam, bestas misteriosas feitas da chama mais pura que já vi voavam e sopravam sua própria energia no ar antes de sumir.

Seu cabelo esvoaçava para cima, mas até mesmo esse material parecia imune ao fogo ardente.

O corpo dele frequentemente pulsava em vermelho por um instante, como se o fogo em seu interior quisesse ir além de sua prisão de carne.

“Sirius.” Repentinamente falou com uma voz diferente. Sua voz soou “flamejante” se isso faz sentido.

Picture of Olá, eu sou Kalel K. Dessuy!

Olá, eu sou Kalel K. Dessuy!

Comentem e avaliem o capítulo! Se quiser me apoiar de alguma forma, entre em nosso Discord para conversarmos!

Clique aqui para entrar em nosso Discord ➥