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Capítulo 58 – A Nostalgia De Um Predador

Eu inevitavelmente iria partir das montanhas um dia, óbvio. Assim como Hark disse, minha ambição era muito grande para ficar naquele lugar.

Não entendi o motivo de seu pressentimento ruim. “Se está com tanto medo que algo vá ocorrer, por que ir?” Perguntei honestamente.

“Não tenho escolha,” revelou em um tom sério, “será uma reunião extremamente importante entre os magos mais poderosos do reino. Claro, os conhecidos. Com certeza existem alguns monstros por aí que ninguém sabe o nome…”

“Enfim, só sei de alguns detalhes, a segurança será absurda e o local exato nem eu sei por enquanto. É muito difícil algo vazar, mas ainda existe a chance. A Coroa com certeza não hesitará em enviar campeões para lá se descobrirem.” Terminou de falar com um suspiro.

“Qual o motivo da reunião?” Indaguei. “Se é tão arriscado, deveriam fazer algo menor. Sem precisar chamar vários magos.”

Hark soltou uma risada derrotada. “Tem razão, mas esse é um caso especial. Existem coisas acontecendo neste exato momento que você nem tem noção, garoto.” Declarou com a voz cansada. “Este reino passará por uma mudança, é isso que vários magos estão dizendo. Não sei se estão loucos ou não, mas irei descobrir na reunião.”

Ficamos em silêncio por alguns minutos. A cidade era tão antiga que o som noturno era igual como em uma floresta.

“Por que a base de vocês é aqui?” Finalmente perguntei. “Acho que é bem fácil encontrar uma cidade como essa entre montanhas no meio de uma planície.”

Sua expressão ficou séria. “Você está certo, mas há um motivo importante para ficarmos aqui.” Revelou, hesitando.

“O quê?” Indaguei, mas não obtive resposta. 

“Ainda não tá na hora de você saber.” Hark falou ao se levantar. Ali lembrei que ele estava nu e que realmente era um homem, esquecendo da sua aparência um pouco feminina.

‘Espero que o meu não cresça tanto assim, deve atrapalhar numa luta…’ Comentei mentalmente ao imitar seus movimentos e me levantar.

“Ei, tenho uma pergunta.” Repentinamente falei, chamando atenção dele. “Rugus usava uma forma de feitiçaria estranha. Ele chamou de signos, o que é isso?” 

Seu rosto se mostrou surpreso, muito surpreso. “Você venceu contra um mestre de signos?!” Perguntou com fervor.

Assenti e o homem gargalhou. “Você realmente é fora da curva.” Zombou ao retomar a seriedade. “Signos são uma das muitas formas de manipular a mana. Usar feitiços é a forma principal, mas não a única, e também não a mais poderosa.” Revelou ao se agachar e encostar a ponta do dedo no telhado.

“Os elementos não são a única coisa que magos passam a vida estudando, eles também procuram métodos eficientes para usá-los.”

“Pra fazer um signo é até que simples. Você precisa juntar fios de um elemento e fundi-los, formando um fio mais grosso. Então você deve imprimir esse fio em um símbolo. Dependendo da grossura, forma e muitas outras coisas, os efeitos podem variar.” Explicou enquanto movia o dedo indicador em movimentos circulares e variados.

Fios vermelhos se juntaram assim como em sua explicação e se imprimiram no chão, como tinta. De repente, uma minúscula bola de fogo subiu quando o signo brilhou, antes de apagar.

“Geralmente usam signos para criar armadilhas.” Hark acabou de explicar. As informações foram muito importantes para mim, como sempre.

“Ele possuía signos tatuados no corpo que cancelavam meus feitiços.” Falei em um tom frio. “Tem uma ideia de como ele fez isso?”

Hark colocou a mão no queixo ao pensar na resposta. “Não sei exatamente como ele fez isso porque não sou especializado em signos, mas isso até que é comum entre magos que nem ele. Provavelmente criou um símbolo que desfaz formas pré-definidas de feitiços mais simples.” Explicou, antes do seu rosto se iluminar.

“Ah, é por isso que você explodiu tudo, né? Fez um feitiço mais poderoso que os feitiços memorizados pelos signos dele.”

Assenti com a cabeça e outra risada saiu da sua boca. “Você conseguiu perceber isso na hora sem nem mesmo saber o que é um signo. Acabou de ficar mais assustador.”

“Bom, já estou cansado. Não precisa se preocupar com Rugus, ficarei de olho nele. Apenas reze que eu seja o único, não seria nada bom se um campeão fosse para lá.”

Com isso, o homem simplesmente pulou do telhado. Um rastro de fogo surgiu de seus pés durante a queda e uma fumaça subiu ao céu antes de sumir.

Hark chegou ao chão em perfeito estado, como se não tivesse acabado de pular de vários andares.

“Ei!” Gritei antes dele sumir em um beco e o mesmo virou para olhar pra mim perto da borda do telhado. “Por favor, você pode investigar sobre Krez Lovir? É um garoto nobre que estava na festa, ele ficou preso junto comigo na torre. Quero saber se ele está bem.”

Hark concordou com a cabeça antes de sumir completamente entre os becos. Nem mesmo meu olfato e audição captaram qualquer sinal de sua existência.

Eu tinha colocado minhas mãos ao redor da boca para minha voz ficar mais alta e Hark me escutar, mas naquele momento lembrei de algo importante.

‘Preciso recuperar minha força urgentemente.’ Pensei ao olhar as montanhas ao longe da cidade. Meu corpo tinha descansado por oito dias seguidos, eu conseguiria ficar algumas noites acordado caçando e treinando.

Havia treinado intensamente por mais de um ano e vários meses, punindo meu corpo todo dia. Mas perdi todo meu progresso e esforço por conta de Rugus.

Eu ainda o mataria um dia, machucá-lo não era o suficiente. No entanto, precisava me esforçar bastante para recuperar a vitalidade e força dos meus músculos.

Parti em direção à floresta e analisei o ambiente. Consegui escutar alguns pequenos animais correndo, cigarras cantando e outros sons usuais de uma floresta à noite.

Caminhei alguns passos até um ponto aparentemente aleatório no chão. Uma camada de terra envolveu minha mão e lâminas surgiram nos meus dedos quando arremessei meu braço para baixo.

Quando puxei, um coelho preto assustado tremeu entre minha manopla endurecida. Não precisei de esforço para apertar seu pescoço e quebrá-lo.

Arranquei sua pele com meus dentes e envolvi seu cadáver em fios verdes para deixá-lo flutuando ao meu lado, enquanto fios vermelhos o assavam sem que eu precisasse montar uma fogueira.

A magia poderia ser bem conveniente nessas horas.

Mais cadáveres de coelhos se juntaram ao meu redor com o tempo e eu os devoraria instantaneamente ao terminar de assá-los.

Então encontrei um cervo dormindo em pé ao lado de uma árvore. Começou a correr no mesmo segundo que me viu, mas isso não me incomodou.

Pelo contrário, eu queria exercitar meu corpo o máximo possível. Os pequenos pedaços de carne que flutuavam ao meu redor lutaram para me acompanhar quando parti em direção ao cervo.

Criei garras de terra que me permitiam cravar minhas mãos em árvores e o chão para pegar mais impulso, até que comecei a correr em quatro patas.

Me senti um verdadeiro predador caçando uma presa e não suprimi um sorriso largo. Fazia um tempo que não me sentia assim.

O cervo então escorregou em um barranco, onde não deixei a chance passar. 

Dilacerei seu pescoço com minhas garras. O animal se contorceu e tentou fugir, mas me prendi ao seu corpo e perfurei sua barriga, deixando escapar seus órgãos internos.

Demorou alguns minutos para que finalmente deixasse de respirar, mas tive que usar uma adaga para retirar sua pele antes de assá-lo.

Continuei caçando até o amanhecer, quando voltei para a caverna que treinei por um tempo antes da missão.

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Olá, eu sou Kalel K. Dessuy!

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