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Capítulo 59 – Invasão Mental

O sol nasceu e iluminou o sangue que cobria todo meu corpo. Eu tinha caçado dezenas de animais naquela noite e carregava vários coelhos mortos e congelados ao meu redor quando voltei para a caverna que vivi por um tempo.

No entanto, uma surpresa me esperou lá. Stella estava meditando no chão, no centro da caverna.

Ela absorvia apenas fios de luz, até que abriu os olhos e puro pavor tomou conta de seu rosto ao me ver.

Seus olhos alternaram entre cada coelho morto e flutuante à minha volta, antes de cobrir a boca com nojo.

“Quer um?” Perguntei ao manipular um coelho em sua direção. “Deixarei você comer um deles, acabei caçando muitos.”

Uma polpa de carne congelada chegou perto dela, fazendo-a soltar um grito e rastejar para trás. Minha tentativa de gentileza acabou não sendo apreciada.

“Aah!” Gritou ao se levantar rapidamente. “Por que fez isso?!”

“Você é muito magra e fraca. Seus ossos devem ser fáceis de quebrar, isso não é bom.” Falei ao envolver o coelho caído no chão em vento e trazer até mim. “Precisa comer mais.”

“Olha quem está falando.” Refutou ao apontar pra mim. “O que aconteceu na sua tão incrível missão com Vivian? Parece que emagreceu trinta quilos.” Zombou ao notar as partes rasgadas do meu manto que exibiam meus músculos fracos. “Com esse cabelinho longo e braços finos, você é mais garota do que eu.”

Observei que Stella parecia menos tímida do que antes.

“Está com inveja?” Indaguei ao notar a raiva no seu tom de voz. “Aposto que ficou irritada que ela me escolheu ao invés de você. Bem, não pode culpá-la.” Zombei ao caminhar até um dos cantos da caverna e colocar todos os coelhos que não assei em um cubo de gelo recém-criado.

Eu normalmente não era assim, mas me senti confortável em agir de maneira mais infantil e descontraída perto dela, não sei por quê.

“Do que está falando?!” Gritou com raiva, praticamente provando que eu estava certo. “Ela veio até mim primeiro. Recusei porque quis.”

“Estou irritada porque você arriscou todo mundo aqui quando chamou tanta atenção! Hark falou sobre os rumores, até um macaco conseguiria perceber que é sobre você!” Gritou ao passar pelo meu lado, evitando os coelhos mortos flutuando no ar com uma expressão de nojo.

Agarrei seu pulso fino, ali entendi o que o cristal realmente fez. Mesmo meus músculos estando mais finos que o de Stella, eu era muito mais forte. A minha qualidade muscular era extremamente superior por conta do meu poder.

“Tá bom, tá bom. Eu sei que cometi um erro, nem Hark está irritado, por que você acha que precisa estar?” Falei ao encará-la friamente.

“E esse é meu território. Não me culpe se um dia eu te confundir com um coelho.” Ameacei de brincadeira, mas Stella não pareceu entender a piada.

“Você é louco.” Disse ao dar um tapa na minha mão, se soltando. Claro, a libertei porque percebi que estava forçando a barra, não por conta da força de seu gesto.

Stella saiu sem me dizer o motivo de estar meditando na minha caverna, mas sendo sincero, eu não me importava muito com isso.

Eu menti quando disse que aquele era meu território, pois meus instintos reconheciam Hark como o verdadeiro líder entre aquelas montanhas, essa caverna era só meu local de treinamento.

‘Por que eu agi desta forma?’ Pensei ao olhar Stella sumindo entre as árvores. ‘Essa garota sempre desperta um lado meu que não conheço. Deve ser algum feitiço.’ Comentei ao me sentar no centro da caverna.

Eu odiaria Rugus Furtten para sempre e com certeza o mataria no futuro, mas precisava ser grato a ele por me mostrar sobre os signos. Graças a ele tracei um novo objetivo para minha jornada.

Aprender todo e qualquer método de manipulação de mana. Não importa a eficiência, eu precisava de toda vantagem possível para enfrentar os deuses.

Imitei a explicação de Hark e juntei vários fios vermelhos em um só, antes de imprimir o mesmo símbolo que ele fez no chão. Um círculo no centro de cinco triângulos invertidos.

Não entendi a lógica por trás dos efeitos de cada símbolo, mas tentei não pensar muito nisso. Meu conhecimento sobre signos era raso e o único especialista nesse assunto que eu conhecia era meu inimigo.

No momento que o signo brilhou, senti uma conexão entre ele e minha mente. Eu imediatamente soube o que fazer para ativar, e assim fiz. Um rastro minúsculo de fogo subiu vários centímetros e se apagou depois de alguns segundos.

Consegui ativar esse efeito várias vezes, mas a cada vez o brilho diminuía e eu precisava alimentar o signo com mais mana.

Fiquei vários minutos tentando criar vários signos diferentes, usando minha imaginação e instintos para criar algo que funcionasse.

No entanto, não consegui criar nada funcional. Precisava urgentemente aprender sobre isso com alguém ou com um livro.

‘Será que aquela biblioteca no quartel tem algo sobre signos?’ Me indaguei ao lembrar do local que aprendi sobre a mana. ‘Vou aproveitar para pegar minha espada.’

Com esses pensamentos eu saí da caverna e parti até a cidade. Atravessei a floresta e desci a montanha, eventualmente chegando às casas abandonadas.

No entanto, outra pessoa estranha surgiu em minha visão. Um homem com cabelos escuros tão longos que caíam até sua cintura, vestindo o mesmo manto preto de sempre, estava no meio da estrada.

Agachado, parecia estudar o chão e uma janela quebrada.

Sua pele era branca e limpa, sem qualquer tipo de ruga. Seus olhos castanhos e expressão eram resolutos enquanto analisava o ambiente.

Um arrepio desceu pela minha espinha quando percebi que aquele era o local exato da minha luta com o demônio em forma de morcego de um tempo atrás.

O arrepio se intensificou quando o homem virou a cabeça para mim e fizemos contato visual. Ele então correu em minha direção com uma expressão medonha.

Mesmo com a teoria de que ele era um companheiro mago, meus instintos se alarmaram com sua ação repentina.

Fragmentos de gelo e raios surgiram através do nada atrás de mim e partiram em sua direção, rasgando o ar.

O homem simplesmente desviou dos ataques e parou em minha frente.

“Você fede aos deuses.” Falou com uma expressão de nojo. “Fede mais do que um campeão.”

Seu nojo se transformou em raiva após a comparação. “Quem é você?” Questionou ao levar os dedos lentamente até meu rosto. “Me deixe checar.” 

Tentei correr, mas meus músculos falharam quando uma agulha de escuridão saiu de debaixo da sua unha do dedo indicador e entrou no meio da minha testa.

De repente tudo ficou escuro e me vi dentro da minha consciência, mas uma rachadura estava no céu noturno imaginário.

“Até mesmo sua mente tem o odor pútrido dos deuses, que nojo. E que esfera branca é essa?! Tem o pior cheiro que já senti!” A voz raivosa do homem saiu de dentro da agulha, que na minha perspectiva agora era gigante.

Uma ponta de escuridão tentou invadir meu interior, procurando respostas e explicações entre minhas memórias.

Entretanto, algo mais incrível ainda aconteceu.

Rugidos ferais, sibilos serpentinos ameaçadores e gritos cacofônicos que pareceram nascer dentre o maior dos pandemônios ecoaram por tudo.

A água escura abaixo dos meus pés tremeu e balançou por todo o horizonte sombrio da minha alma, até que ondas bateram em mim.

Formas estranhas e imensas surgiram do mar escuro da minha consciência e subiram ao céu. Criaturas vazias, horrendas e misteriosas, diferentes dos demônios, declararam suas ameaças e reclamações para a agulha.

Uma pressão horrível e enjoativa que me deu dor de cabeça bagunçou toda minha mente, mas quase não me importei, pois imediatamente entendi que criaturas eram aquelas.

Eram as personificações dos meus instintos primordiais, lutando para defender todos os segredos que minha mente guardava.

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Olá, eu sou Kalel K. Dessuy!

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