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Capítulo 60 – Personificações Primordiais

Parecia que as paredes da minha mente se estilhaçariam com tamanho poder, mas a agulha sofreu muito mais que eu.

Fiquei surpreso quando percebi que conseguia entender os sons medonhos que carregavam um ódio ancestral ao percorrerem o céu.

“Você não pertence ao reino de nosso soberano.” Uma ordem sibilante caiu junto com uma língua bifurcada de um ser com um corpo serpentino gigante. Apenas uma parte de seu corpo estava exposta acima do mar escuro, revelando inúmeras formas semelhantes a bocas humanas sem lábios percorrendo todo seu pescoço escamoso e sombrio. Dentes afiados e escuros residiam dentro dessas formas, quase me causando arrepios.

Seus olhos eram órbitas vazias sem qualquer significado.

“Tal desrespeito não poderá ser ignorado.” Uma ameaça soou pelas gargantas rasgadas de uma criatura que não me lembrava nenhum tipo de animal.

Chifres côncavos saíam de onde seus olhos deveriam ocupar, seu crânio era semelhante ao de um humano, mas sem qualquer feição, nariz ou boca. Um grande e único globo ocular violeta estava no centro de seu rosto inexpressivo. Dois pares de asas esqueléticas imensas tentavam cobrir um torso com quatro braços, cada um segurando uma cabeça canina quase demoníaca que falava em sincronia com as outras.

Eu não consegui contar quantos seres como aqueles estavam escondidos dentre as águas sombrias da minha mente, mas as vozes pareciam pertencer a milhares.

A esmagadora maioria não saiu de dentro do mar, mas suas vozes ainda poderiam ser escutadas.

“Que truque é esse, garoto? Eu nunca vi nenhum feitiço parecido.” A voz do homem ecoou pela agulha, mas isso despertou a raiva dos meus instintos.

O mar subiu até o céu como um dilúvio, mas não me afoguei nas profundezas. Por alguns segundos consegui estudar o resto do corpo dos seres escondidos abaixo do oceano, e se eles tivessem um corpo real, facilmente poderiam ultrapassar centenas de metros de altura.

‘Isso não faz sentido.’ Pensei enquanto meu corpo era levado para cima ao invés de afundar.

‘Será que o cristal laranja lhes deu um significado corpóreo?’

Meus pensamentos foram interrompidos quando voltei para a superfície agora impermeável do mar. A rachadura não mais existia no céu, nem a agulha.

Quando olhei ao redor, todos os instintos que revelaram seus corpos estavam abaixados, me reverenciando.

Tentei fazer perguntas para aquelas criaturas me venerando, mas de repente acordei e voltei para a realidade.

Eu estava no mesmo lugar de antes, no meio da rua, mas o homem agora se mostrou caído no chão, desesperado.

“O que foi isso…?” Indagou-se, colocando as mãos na cabeça. “Isso é um pesadelo, é a única explicação. Aquelas criaturas… Você as criou com escuridão?!” Perguntou animadamente, levantando-se e tentando colocar as mãos nos meus ombros.

No entanto, cobri meu punho com gelo e terra e soquei seu rosto, quebrando seu maxilar, antes de desembainhar minha adaga e tentar cortar sua garganta.

“Espere!” Uma voz familiar me impediu. Essa voz pertencia à Amanda, inesperadamente.

“Você tem cinco segundos pra me explicar quem é esse cara ou ele morre.” Declarei ao apontar minha adaga em direção ao seu rosto agora no chão.

“O nome dele é Mirn, é meu irmão!” Falou ao correr até nós e abraçá-lo. “Me desculpa, ele não tinha intenção de te machucar.”

“Mas eu tinha.” Respondi ao dar uns passos para trás. “Ele usou um feitiço de escuridão para invadir minha mente.”

“Sério, me perdoe por isso… Ele sempre foi obcecado pelos deuses, mais do que qualquer outro mago. Ele diz ser capaz de sentir o cheiro deles, deve ter sentido isso em você. Sei que é uma baboseira, mas não consigo convencer ele, Sirius.” Amanda se desculpou enquanto curava o ferimento no maxilar de Mirn.

“Ele voltou recentemente de uma missão, deve estar com a cabeça cheia. Vou levá-lo para casa, me desculpe novamente.”

Não falei nada e apenas observei a dupla de irmãos caminhar lentamente para longe.

‘Por essa eu não esperava. E ele falou que fedo mais aos deuses do que um campeão… O que isso significa?’ Pensei ao retomar minha caminhada até o quartel. Tentei conversar com meus instintos no caminho, mas não obtive respostas.

‘Talvez eu precise ir para aquele lugar estranho sempre que desmaio ou fico inconsciente. Era cheio de água escura…’

Fui direto até a sala de Hark quando entrei no quartel, lá encontrei o homem escrevendo uma carta.

“Vim buscar minha espada.” Anunciei ao abrir a porta. Hark simplesmente apontou com a cabeça para uma parede, onde vi minha espada enferrujada apoiada.

“Descobriram sobre a energia estranha?” Indaguei ao finalmente tocar na lâmina. Senti uma conexão se formar novamente. Aquela arma era realmente parte de mim.

“Não.” Hark respondeu enquanto encarava a espada. “Essa arma exala uma aura não-natural, como a mana, mas completamente diferente. Essa aura também impediu a gente de conseguir retirar a ferrugem. Provavelmente só você é capaz de descobrir o que tem de errado nela.” 

“Só espero que isso não seja algum tipo de bomba que exploda as montanhas… Tudo sobre você é imprevisível, afinal de contas.” Zombou ao retomar sua escrita.

Me despedi e caminhei até a biblioteca, onde fiquei procurando sobre métodos de manipulação de mana até o anoitecer.

Encontrei alguns livros sobre signos, maldições, bençãos, juramentos, e outros tipos mais heterodoxos.

‘Signos são incorporações de significados através de símbolos específicos e antigos junto da mana, maldições são criadas através da formação da conexão entre a alma de alguém e uma intenção maligna alimentada por uma quantidade de mana absurda, bençãos são a mesma coisa, mas com uma intenção boa, e juramentos é usar a mana para criar um laço inquebrável entre duas almas, onde as duas devem concordar com os termos do juramento.’ Resumi em minha mente após ler tudo que achei. 

Todos os livros eram básicos, nenhum se aprofundava muito no método que ensinava, mas foi útil ter uma ideia dos principais usos da mana.

No entanto, descobri algo extremamente importante. Um termo específico estava presente nos livros sobre maldições, bençãos e juramentos.

‘Mana pura ou mana verdadeira.’ Pensei ao estudar sobre esse tipo de mana.

‘É a mana em sua forma mais pura e maleável, sem qualquer influência dos elementos. Para ser manipulada, o mago deve retirar o significado elemental da energia prismática. Em termos leigos, é necessário extrair a energia, basicamente a cor, de um fio, restando apenas sua forma básica de coloração cinza. Essa forma pode ser usada para conseguir efeitos específicos e poderosos. Todavia, deve se ter extremo cuidado durante o procedimento, pois na maioria dos casos, o fio prismático deixa de existir quando seu significado elemental é arrancado.’

‘Por que Roger nunca me falou sobre esse tipo de mana?’ Me indaguei ao fechar o livro empoeirado.

Imediatamente tentei fazer o que o livro ensinou. Retirei um fio vermelho de meu núcleo e o estudei, analisando cada milimetro de sua forma.

Tentei de alguma forma absorver seu brilho, mas não deu certo. O fio apenas se aproximou, mas o empurrei para longe.

Um dos meus instintos começou a gritar na minha mente, me auxiliando no processo.

Entretanto, algo apitou na minha cabeça. Ondas que chamavam pelo meu nome vinham de algum lugar na sala, me surpreendendo quando percebi que vinha da minha espada.

Entendi suas intenções, como se fosse um ser vivo. Ela queria me ajudar, de alguma forma.

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Olá, eu sou Kalel K. Dessuy!

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