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Capítulo 79 – Fazenda Abandonada

Stella foi obrigada a se afastar de mim quando desci da árvore. Meu cheiro era tão podre quanto se podia imaginar, foi como se eu tivesse sido fermentado em um barril com inúmeros cadáveres por anos.

Ela cobriu seu rosto enquanto me olhava com desdém, mas percebi ela tentar ao máximo não demonstrar nojo por mim, no entanto, era inevitável.

“Droga.” Reclamei ao mexer as mãos para tentar remover a camada preta e gosmenta sobre mim. “Me pergunto quantos banhos irei precisar pra me limpar disso.”

Para minha surpresa, Stella começou a rir. Ela colocou os braços na barriga de tão genuínas e fortes eram suas risadas.

Fiquei segundos encarando-a, procurando a graça na situação. O líquido já estava endurecendo e fazendo minha pele grudenta.

“Ah, ah, foi mal.” Ela se desculpou enquanto tentava parar de rir, mas falhou miseravelmente. “Você geralmente é tão distante e indiferente, sempre tentando mostrar o quanto é forte, te ver fedendo tanto acabou sendo mais engraçado do que eu pensava.” Stella declarou antes de começar a rir novamente.

“Muito engraçado.” Debochei ao cruzar os braços. “E você não era muito diferente, sempre distante, por que está tão diferente agora?”

Ela então se acalmou e parou de rir gradualmente. “Eu não sei, mas me sinto confortável em mostrar esse meu lado para você agora.” Stella disse com um sorriso envergonhado, mas tampando o nariz.

Revirei os olhos e andei para longe. “Fique aí, vou me limpar.” Falei ao retirar meu manto quando saí do campo de visão da garota e me escondi atrás da grande árvore morta.

Limpar meu corpo daquilo seria difícil, mas eu tive uma ideia, uma bem dolorosa. Usei a água da magia de gelo para retirar a camada superficial do líquido que me cobria, antes de usar magia de fogo para queimar minha pele em algumas partes.

Foi excruciante, mas não me importei. Isso purificou profundamente minha pele e a matéria orgânica infectada foi substituída por uma nova graças a magia de luz.

Fiz isso por quase todo meu corpo, o que demorou quase uma hora inteira. 

O problema principal era o manto preto. Não tinha como repetir esse processo na roupa, então me restou apenas limpar a roupa com água, o que não foi tão eficiente, mas melhorou o odor.

“Vamos.” Finalmente falei para Stella, que estava interagindo com um esqueleto no chão enquanto me esperava.

“Olhe o que encontrei.” A garota disse ao mostrar um objeto para mim. Era uma pequena bolsa rasgada com objetos pequenos dentro.

Algumas moedas de bronze, ervas e um desenho parcialmente queimado.

Era um papel com desenhos de uma mulher no lado direito, uma criança no meio e metade de um homem no lado esquerdo, onde o resto do papel estava queimado.

A criança e a mulher pareciam tristes. Eles vestiam roupas simples de camponês. Parecia ser apenas um desenho de uma família comum, mas algo me deixou uma impressão ruim naquilo.

Coloquei o achado no bolso do meu manto e então partimos até a estrutura que vi alguns quilômetros de distância, já havíamos perdido muito tempo.

Demorou apenas alguns minutos para encontrarmos um cercado de madeira caindo aos pedaços.

‘Será que este é o orfanato Flores da Esperança?’ Indaguei ao analisar a madeira podre e o caminho de terra que levava até uma cabana grande.

Parecia completamente abandonado por anos, mas adentramos de qualquer forma.

Na esquerda, havia uma casa velha de dois andares, e atrás, na direita, um celeiro com o portão fechado. Não tinha animais, pegadas, ou qualquer coisa viva.

Corvos voaram quando subimos os degraus da entrada da cabana. As janelas eram barradas pelo lado de fora e a porta estava trancada, mas um chute meu a arrombou rapidamente.

Um cenário sombrio tomava conta do interior da cabana. Alguns esqueletos estavam caídos no chão, e um deles chamou minha atenção.

Uma estante de livros torta atiçou meus instintos, e um esqueleto de vestido deitava-se sobre o móvel de uma maneira particular, como estivesse protegendo-o.

A madeira rangeu quando adentrei na casa. Stella parecia com medo, mas me seguiu. Alguns cadáveres decompostos eram atravessados por armas simples, como as que vimos no campo de batalha.

Percebi uma pequena fenda de ar no limiar vertical entre a estante e a parede. “Recue um pouco” Ordenei para Stella quando enfiei meus dedos no limiar e puxei.

A estante era pesada e fez um barulho pesado quando a movi e revelei um espaço escondido. Parecia ser debaixo das escadas, mas não tinha nada lá.

Exceto por dois cadáveres pequenos, menores que a gente.

“… São crianças.” Stella comentou ao se apoiar em mim e ver o interior do quarto secreto. “Parece que a mãe tentou escondê-los, mas eles ficaram presos aqui e morreram.” A garota presumiu com tristeza.

Não falei nada e saí de perto, ansiando em descobrir algo de interessante na casa. Exploramos o primeiro e segundo andar, mas não havia nada.

Apenas móveis antigos e um ar melancólico de nostalgia e morte.

“O celeiro pode ter algo legal.” Stella recomendou e assenti.

Saímos da cabana e andamos até a grande construção com um portão fechado. No canto, perto da cerca, havia um buraco na parede.

Entramos no local e vimos de imediato cadáveres de animais grandes, montes de palha e ferramentas quebradas. 

Entretanto, o portão do outro lado estava aberto, e ele levava para uma estrada onde um poste indicador de madeira apontava para duas direções diferentes.

Atravessei o celeiro rapidamente, mas algo chamou minha atenção e me fez parar de forma abrupta.

Uma respiração fraca, mas ao mesmo tempo pesada, estava do meu lado direito. Quando virei para o lado, encontrei um animal grande deitado entre a palha.

Parecia um cavalo preto com manchas brancas, mas estava extremamente magro. Ele relinchou fracamente quando me aproximei.

“Meu deus!” Stella falou animadamente quando chegou e viu a criatura. “Que égua linda!” Disse ao se aproximar do animal.

“Cuidado, ela pode te atacar.” Tentei avisar, mas fui ignorado com um sorriso.

“Os animais gostam de mim.” Stella declarou ao esfregar sua mão no pescoço do animal. “Coitadinha, deve estar morrendo de fome.”

“Que milagre não ter virado osso.” Comentei ao me aproximar também. Como resposta, a criatura bufou.

“Parece que ela não gosta de você.” Stella disse, rindo. “Está tudo bem, ele é bonzinho.” 

‘Bonzinho?’

Suspirei e recuei alguns passos para trás. “Já volto, vou checar as direções daquele poste na estrada.” Falei ao sair do celeiro.

Andei lentamente e com cautela, em poucos minutos cheguei nas placas que mostravam nomes das cidades próximas.

‘Ritere? Vonlet?’ Pensei ao ler as direções. Eu não reconheci nenhum nome, e por algum motivo, Rosent não estava presente lá.

‘Será que passamos pela cidade no meio do caminho?’ Pensei, temendo que minha teoria fosse verdade. Voltei para o celeiro depois de pensar um pouco, onde encontrei a égua em pé e Stella ao seu lado.

O animal era muito maior que a gente, mas era pacífico.

“Ela tinha um ferimento na garganta, por isso não conseguia comer a palha daqui… Imagino há quanto tempo deve estar passando fome.” A garota comentou ao esfregar sua mão no corpo do animal.

“Mas não é estranho? Por que ela está viva e os outros animais não? Ela provavelmente não é dessa fazenda.” Falei ao cruzar os braços.

“Ela pode ter se perdido na estrada e veio parar aqui uns dias atrás.” Stella presumiu com um tom triste. “Mas não importa! Agora temos uma égua para viajar!” Declarou com um sorriso.

“Tem certeza que ela está bem para isso?” Indaguei ao notar a falta de músculos no animal. Isso infelizmente remetia ao meu corpo fraco, por mais que agora já estivesse bem melhor.

“Vou ajudá-la a se recuperar, vamos descansar uns dias aqui até ela ficar melhor. Mas primeiro temos que fazer uma coisa.”

“O quê?” Perguntei, curioso.

“Escolher um nome!” Anunciou com um sorriso infantil.

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Olá, eu sou Kalel K. Dessuy!

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