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Capítulo 80 – Nova Companheira Fiel

“Tremor!” Stella ofereceu antes de morder um pedaço de carne assada.

“Não.” Recusei ao imitar sua última ação.

Estávamos dentro do celeiro. Carbonizamos os esqueletos dos animais e conseguimos fechar o portão aberto da construção, fornecendo um abrigo bem espaçoso.

A égua relinchou ao nosso lado enquanto comia palha e bebia água de um grande balde. 

“Nem ela gostou, viu?” Provoquei a recomendação ruim de Stella para o nome de nossa nova companheira.

“Encantada! Não, duquesa? Já sei! Valente!” A garota continuou oferecendo sua opinião, mas nada me agradou.

“Não, não e não.” Continuei recusando tudo, eu queria um nome bom para a égua, algo marcante. “Escolha algo parecido com ela. A pelagem dela é bem escura, tem umas manchas brancas, ela é grande.”

“Já sei.” Stella levantou o dedo. “Você vai gostar, eu acho.”

“Diga.”

“Penumbra…!” Stella declarou ao beber água de uma caneca que encontramos na cabana.

Sinceramente, eu gostei bastante, e concordando comigo, o animal relinchou animadamente. “Penumbra, hein?” Comentei ao me cobrir com um cobertor que encontramos em um quarto.

Poderíamos ter dormido na cabana, mas Stella não se sentiu confortável lá, e ela queria ficar perto de Penumbra para acompanhar seu tratamento.

A égua pastava em um monte de palha alguns metros ao nosso lado. Stella disse que ela tinha um corte profundo na garganta, mas sua magia de luz resolveu o problema.

‘Pelo menos isso vai facilitar a viagem.’ Pensei ao encarar o animal. Stella me imitou e deitou-se em seu próprio cobertor do outro lado da fogueira.

Os pesadelos se seguiram quando fechei os olhos, mas meus instintos me acordaram quando amanheceu. Saí para caçar depois de checar Stella e Penumbra.

Conversei com Caedes durante minha caminhada na floresta, segurando duas lebres mortas pelas orelhas.

‘Qual sua opinião sobre tudo que está acontecendo?’ Indaguei para minha lâmina enquanto seguia o cheiro das minhas presas.

‘É uma situação complicada, com certeza, mestre. Não era possível prever que seu uso de energia irregular teria tantas consequências catastróficas para seu futuro, então saiba que não é sua culpa.’

‘Além de espada devoradora de mundos, matadora indestrutível de demônios e a peça mais importante que tenho no quebra-cabeça para descobrir quem sou, é terapeuta. Você é bem útil no final.’ Comentei zombando, mas no final do meu pensamento, encontrei um cervo bebendo de um pequeno lago.

De um segundo para o outro, a água que ele bebia se tornou carmesim quando Caedes, sob emaranhados de fios verdes, avançou pelo ar e perfurou o pescoço do animal.

Levei minha caça sobre meu ombro até o celeiro, onde encontrei Stella treinando magia de luz. Um vórtice branco e brilhante flutuava acima de sua cabeça, absorvendo todos os fios brancos no ambiente.

Percebi que fazia um tempo que eu não treinava meu controle mágico ou meu corpo, afinal estávamos sem tempo para aproveitar após tudo que aconteceu.

Não atrapalhei a garota e atirei os corpos que cacei em um canto, antes de retirar sua pele e congelá-los.

Imitei Stella e meditei ao seu lado. Eu queria testar algumas teorias em tipos específicos de magia, o que demorou a tarde toda.

Nossa rotina se baseou nisso por cinco dias, o tempo necessário para a égua recuperar energia. Teria demorado muito mais, meses talvez, mas Stella auxiliou a reconstrução dos músculos desnutridos usando magia.

“Você sabe colocar isso nela?” Indaguei ao descer do segundo andar do celeiro, onde encontrei uma sela de couro empoeirada.

A garota assentiu e subiu em cima do animal, que não tentou resistir nem um pouco. Stella colocou o equipamento em Penumbra e me deu instruções para ajudá-la.

Demoramos alguns minutos, mas conseguimos preparar nossa nova companheira para a viagem.

Sem muita hesitação fomos embora do nosso melhor abrigo até o momento.

“Eu não conheço nenhuma dessas cidades.” Stella declarou ao ler as placas indicadoras no poste pequeno de madeira.

Eu estava atrás dela, agarrando sua cintura, afinal não sabia como andar de cavalo, o que sinceramente foi um pouco vergonhoso.

“Vamos para Vonlet, então. Ela está mais pro norte.” Decidi ao notar a direção da cidade, e partimos logo a seguir.

Stella preferiu ir lentamente no começo, pois Penumbra estava terminando de se recuperar ainda, mas mesmo assim foi muito mais rápido do que andar.

Seguimos por uma estrada de terra estreita durante a manhã. A floresta nos cercava, mas não impedia que os raios solares iluminassem o chão e as folhas caídas.

“Estamos entrando no outono.” Stella comentou ao notar algumas folhas amarelas e laranjas entre os montes verdes ao lado da estrada.

“Depois será o inverno.” Falei, engolindo seco. Precisávamos encontrar uma cidade e informações sobre Rosent antes da estação que sucede o outono.

Eu já havia enfrentado alguns invernos desde que chegara naquele mundo, e todos foram difíceis. Meu corpo não era imune ao frio da neve, e a temperatura atrapalhava meu olfato, o que dificultava a caça já horrível.

Mas dessa vez seria muito pior, pois estávamos em um lugar desconhecido, com apenas cinco moedas de bronze que encontramos no cadáver de um camponês.

E no fim éramos apenas duas crianças. Claro, éramos mais poderosos que qualquer homem comum, e apenas postulados ou campeões poderiam nos afetar realmente, mas tínhamos que manter nosso status como magos escondido.

‘Merda.’ Pensei quando uma dor aguda se alastrou por apenas um segundo pela minha coluna enquanto seguíamos viagem em cima de Penumbra. Eram as queimaduras roxas do campeão ainda me afetando.

Todas as noites Stella tentava me curar ou substituir o tecido queimado, mas simplesmente não conseguia. 

‘Se eu usar minha energia irregular vou dedurar minha localização pros campeões…’ 

Preferia sentir uma dor horrível de vez em quando do que enfrentar a outra opção, mas aquelas queimaduras lentamente corroeram minha força, o que era importante.

‘Preciso encontrar um jeito de curá-las sem usar meu poder.’ 

No entanto, interrompendo meu raciocínio, um grito nos assustou. Isso fez Penumbra quase nos derrubar, mas Stella conseguiu acalmá-la com magia de escuridão.

Era o grito de uma mulher que vinha entre as árvores na floresta. Eu achei aquilo estranho, e julgando pelo olhar da garota, ela também.

“Me espere, vou ver o que é.” Falei para Stella, que assentiu e desceu de Penumbra e me observou entrando na floresta em alta velocidade.

Senti o cheiro de dois sangues diferentes conforme me adentrava entre o mato, e um rugido feral ecoou, fazendo os pássaros na área voarem para o céu.

Apressei o passo e no fim encontrei uma cena inesperada. Uma mulher branca, com cabelos loiros e olhos verdes, estava deitada no chão, apoiada contra uma árvore.

Seu braço direito estava horrível, era envolto por um tecido agora inteiramente carmesim. A mulher vestia uma roupa de couro e uma aljava com flechas nas costas. Ao seu lado um arco de madeira quebrado.

E o dono do rugido estava em sua frente. Um imenso urso pardo, de dois metros e meio de altura em pé nas patas traseiras, com uma flecha cravada no olho esquerdo.

A criatura imensa estava alguns metros longe da caçadora, o que me permitiu aparecer entre os dois de repente. Senti dois pares de olhos confusos me encararem, um pela frente e o outro por trás.

“O que está fazendo, moleque?!” A mulher gritou, tentando me impedir. “Vá embora, ele vai se distrair me devorando!”

Não falei nada, apenas brandi Caedes em direção à criatura.

A diferença de tamanho entre nós dois era absurda, afinal eu ainda tinha o corpo de uma criança de doze anos.

Fiquei parado, encarando o urso com um olhar tenso. A criatura rugiu e espalhou sua espuma na grama.

Eu não podia usar magia ali, não queria estragar a primeira oportunidade de comunicação com a única pessoa que encontramos.

Pensei em usar magia de escuridão para espantar a criatura, mas isso seria suspeito.

Suspirei e encarei a situação de forma fria quando me posicionei. Me agachei, apoiando-me com minha mão direita no chão enquanto colocava Caedes para trás com a outra mão, encostando sua ponta no chão.

“Já fugi de um de vocês uma vez, mas isso não se repetirá.” Falei ao lembrar do urso que encontrei logo após ser libertado.

Assim que pensei isso, o urso rugiu e correu em minha direção.

E não consegui evitar um sorriso se espalhar pelo meu rosto.

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Olá, eu sou Kalel K. Dessuy!

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