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A cabana era simples por dentro e por fora. Estava claro que Quiara e seu marido eram pessoas simples, que provavelmente viviam da caça.

“Qual o seu nome, garoto herdeiro?” Frank, o companheiro de Quiara, perguntou enquanto me servia uma caneca de água velha.

Estávamos todos sentados em uma mesa de madeira iluminada por velas. Stella estava ao meu lado e encaramos o casal na nossa frente.

“… Isso não é do seu inter-”

“Ele é Ethan, eu sou Emy.” Stella me interrompeu, mentindo novamente. Revirei os olhos enquanto escutava os três.

Frank nem tentou esconder que só estava nos ajudando por pensar, erroneamente, que éramos ricos ou herdeiros de alguma família de postulados nobres.

Caedes estava no chão, apoiada na minha perna. ‘Não gostei desse cara.’ Pensei para minha lâmina consciente.

‘É difícil você gostar de alguém, mestre.’ Caedes respondeu afiadamente.

Não falei nada e apenas continuei observando Stella enganar aqueles camponeses habilmente. Ela inventou detalhes sobre nossa origem, família, jornada e vidas.

Os olhos de Frank brilhavam cada vez que ela citava sobre a fortuna que herdaríamos se provarmos nossa força na jornada imposta por nossos rigorosos pais, capitães postulados do reino.

No fim, nos foi dado um pequeno quarto na parte de cima da casa, que era um pequeno sótão aberto. Ficaríamos por lá até descobrirmos informações de onde estávamos e alguns suprimentos para a viagem.

“Enfim, você sabe onde fica Rosent?” Questionei para o homem, interrompendo a conversa entre ele e Stella.

Todos me olharam, mas encarei friamente os olhos do homem.

“Nunca ouvi falar dessa cidade, pode dar mais detalhes?” Frank falou ao beber de sua caneca. 

“Tem um orfanato chamado Flores da Esperança nela, fica aqui no norte.” Expliquei, ansiando por alguma resposta sólida.

“Aqui no norte? Do que tu tá falando?” O homem disse, confuso. Sua expressão aumentou minha ansiedade.

“A gente tá na região sudeste do reino, bem longe do norte.” Revelou, me dando a pior resposta possível.

‘Pelo menos ainda estamos no Reino Salazar.’ Caedes tentou melhorar meu humor, mas falhou.

Levantei abruptamente, derrubando a cadeira. “Como assim? Você tem algum mapa?” Questionei para o homem, batendo na mesa.

Acabei não controlando minha força, o que fez minha mão atravessar a madeira completamente. Não pedi desculpas, apenas suspirei.

“O líder da vila tem um mapa.” Quiara falou ao levantar a mão timidamente.

Entretanto, Frank fez algo completamente absurdo.

Ele deu um tapa no rosto da mulher de repente. “O que eu disse sobre falar na mesa quando temos convidados, mulher?!” Gritou com raiva.

Me mantive frio naquela situação. Já havia abandonado a empatia com pessoas estranhas pelo bem da minha vingança.

Mas Stella entrou em pânico e correu para fora da cabana, me surpreendendo. Olhei para o homem com desdém e sinalizei que já voltava depois que peguei Caedes.

Caminhei para fora da casa, onde senti o cheiro de Stella perto de Penumbra. A garota estava deitada em cima da sela, brincando com os longos cabelos pretos da égua.

“O que foi isso?” Perguntei quando me aproximei. Stella limpou as lágrimas de suas bochechas rosadas.

“Não é nada. Ver aquilo apenas me lembrou de coisas desagradáveis.” A garota revelou, desviando o olhar.

Suspirei e me apoiei de costas em Penumbra. “Vamos pra vila pra você limpar a mente.” Recomendei enquanto olhava para cima e me encontrava com o rosto sorridente da garota, poucos centímetros acima e longe de mim.

“Vamos!” Exclamou enquanto pulava em mim.

Habilmente movi meu corpo e consegui colocá-la em pé no chão, sem desperdiçar movimentos. Stella pegou em minha mão e correu comigo até a vila.

Escutei uma discussão se iniciar dentro da casa, mas não me importei. Me preocupar com Stella era o suficiente, os problemas domésticos de camponeses não tinham valor para mim.

“Espere.” Impedi a garota, parando de repente. “Precisamos de roupas novas.” Falei depois de lembrar do buraco na parte de trás do manto dela.

Era acima da cintura, mas já estava mais largo, quase revelando o que deveria manter-se escondido. 

Seu rosto ficou um pouco vermelho, mas ela concordou.

Nos aproximamos de algumas casas simples de madeira e palha. Era uma vila pequena, nem poderia ser considerada uma cidade, e provavelmente não era.

Algumas pessoas nos observavam pelas janelas enquanto caminhávamos pelas ruas de terra. 

Em algum momento, três crianças nos pararam. Eram três garotos, dois deles pareciam ter a nossa idade, mas um era maior, com quinze anos, provavelmente.

“O que estão fazendo aqui, forasteiros?” Um dos dois menores perguntou enquanto apontava um graveto para mim.

Meu humor já não estava intacto, ter que lidar com três pivetes irritantes foi estressante, mas me controlei.

“Onde é a casa do líder daqui?” Indaguei enquanto colocava Caedes sobre meu ombro esquerdo. Stella estava atrás de mim nessa hora.

“Quem está aí? Apareça!” O garoto do graveto mandou, se aproximando, tentando me mover e colocar as mãos na minha companheira.

“Toque nela e eu mato vocês e seus pais.” Ameacei ao segurar a mão do garoto, quase quebrando-a. Neste momento, o maior deles interviu e tentou me segurar pela gola do meu manto.

Um chute na lateral de seu joelho resolveu o problema, obrigando-o a se agachar e ficar vulnerável ao meu soco, que o arremessou para longe e lhe tirou quatro dentes.

Eu não fiz aquilo por orgulho ou para realmente proteger Stella, afinal eram crianças, foi apenas porque meu humor já estava ruim.

“Sumam.” Ordenei, cravando Caedes no chão. Os três saíram correndo e chorando para a mesma casa, não me importei em continuar observando.

Segurei a mão de Stella e seguimos na rua. “Será que isso não vai dar ruim pra gente?” Ela indagou ao olhar para trás.

“Não.” Falei friamente. “Conseguiremos informações por bem ou por mal. Se precisar eu mato essa vila inteira, só quero um mapa e algumas roupas do nosso tamanho.” Declarei de maneira indiferente.

“Não precisa matar ninguém, calma.” Stella disse, mas isso entrou por um ouvido e saiu pelo outro. Alguns minutos depois chegamos em uma lojinha pequena.

Tinha um balcão vazio na frente e uma placa sobre os itens apontando para dentro da loja. 

Um homem velho estava sentado em uma cadeira atrás do balcão, ele levantou-se quando paramos em sua frente.

“Você tem roupas infantis?” Indaguei para o homem, que fez uma expressão confusa, mas logo assentiu. Seguimos ele para dentro, onde havia frutas, ferramentas de trabalho manual, alguns livros velhos, bolsas de couro, bijuterias de pedra, e felizmente, roupas.

‘Que tipo de loja é essa?’ Pensei ao ver tudo espalhado de maneira mal organizada. No meio de montes de roupas largadas no chão, ele tirou quatro pequenos pares de roupas.

Por sorte, eram dois pares femininos e dois masculinos. 

“Trinta moedas de bronze.” O homem revelou o preço ao me dar as roupas.

“Não, são cinco. Na verdade, uma só.” Refutei-o, e ele fez uma expressão com dúvida, mas que logo se tornou resoluta quando o infectei com magia de escuridão e o convenci do novo preço usando magia.

“Deixa quieto. É de graça.” Me decidi quando levei as roupas embora sem pagar nem um centavo. Stella apenas me observou roubando do camponês.

“Ele poderia precisar do dinheiro pra comer.” Ela falou enquanto me seguia.

“Pode ter certeza que nossa situação é pior que a dele, não perca tempo se preocupando com cada pessoa que vamos prejudicar nessa viagem. Você sabe que eu farei de tudo para chegarmos até Rosent, e tenha certeza que haverá momentos que você irá desejar fechar os olhos.” Declarei enquanto vestia minha roupa atrás de uma casa.

Era uma camisa longa de lã escura e uma calça de linho marrom-escura. Revezei o canto com Stella, que logo revelou-se vestindo uma blusa verde e uma calça de lã preta.

“A sua roupa combinou contigo, já a minha…” Murmurou tristemente ao examinar sua nova vestimenta.

Ignorei sua reclamação e logo partimos à procura da casa do líder da vila.

Se realmente estivéssemos no sudeste, a viagem seria muito mais longa do que pensamos.

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Olá, eu sou Kalel K. Dessuy!

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