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Capítulo 83 – Vila De Vonlet

Continuamos a explorar a vila. Ela não era tão pequena quanto eu pensei que fosse, pois passamos por muitas casas, algumas igrejas, pequenas torres e gramados onde crianças brincavam e corriam.

Em algum momento, um pequeno cão branco se aproximou. Sua pelagem grossa estava encardida de terra, mas Stella não hesitou em acariciar o animal.

No entanto, no mesmo segundo que fizemos contato visual, o cachorro colocou o rabo entre as pernas e quase mordeu Stella quando tentou correr para longe.

“Nunca vi isso.” A garota reclamou ao cruzar os braços. “Como você consegue ser tão odiado pelos animais?” Indagou antes de continuar a andar.

“Não sei.” Respondi indiferentemente ao observar os arredores. As crianças paravam para nos encarar, os idosos sussurravam entre si, os adultos faziam olhares curiosos.

Entretanto, após alguns minutos de caminhada enquanto nos aprofundávamos pelas construções da cidade, um homem nos parou.

“Pelos deuses sejam agraciados, crianças.” Falou um homem calvo e branco, vestindo um manto escuro com alguns brasões religiosos e com as mãos juntas em gesto de oração. “Nunca os vi em nossa humilde vila, posso perguntar o que estão fazendo sozinhos?” Indagou com um sorriso gentil.

Nojo.

Foi isso que senti quando encontrei um adorador dos deuses. Eu já sabia sobre padres, humanos simples que adoravam os deuses, mas sem receberem bênçãos, como os campeões.

‘Acalme-se.’ Pensei ao manter minha mente fria. ‘Para as pessoas comuns os deuses são bons, não é culpa dele viver em uma mentira.’ Pensei comigo mesmo, tentando distanciar minha raiva.

Stella mentiu para o padre, contando a mesma história que inventou para Frank e Quiara. O rosto do homem se iluminou quando ela citou nosso aparente sangue postulado.

Era óbvio, pois os cavaleiros postulados eram soldados que obedeciam ás ordens diretas dos campeões, que eu nem preciso explicar a conexão que têm com o divino.

“Onde é a casa do líder da vila?” Finalmente perguntei, interrompendo Stella. Eu apenas queria ir embora e não precisar olhar para um adorador de deuses.

O padre sorriu e juntou as mãos. “Irei levá-los para lá. Meu irmão mais velho é o líder da vila, ele irá recebê-los de braços abertos comigo junto.” Declarou animadamente.

Seu espírito generoso não abafou minha raiva. Uma parte de mim queria matá-lo lá mesmo, mas me controlei.

Segui Stella e o homem, mas permaneci uns passos atrás. Arrastei a ponta de Caedes no chão, encarando a nuca do padre.

Eu normalmente não teria vontade de matar inocentes sem motivo, mas encontrar alguém que se dedicava para os alvos da minha vingança inevitavelmente afetou meu ego.

‘Controle-se, Sirius. Seus alvos são mais fortes que você, nada mudará mesmo se eu matar todos os padres do reino ou queimar todas as igrejas. Foque essa raiva nos campeões e nos deuses.’ Pensei ao esfriar minha mente.

Alguns minutos depois chegamos em uma casa simples, não muito diferente das outras. Ela tinha dois andares e era feita de pedra e madeira.

O padre, que no caminho revelou seu nome como Levi, bateu na porta algumas vezes até que um homem pequeno a abrisse.

Ele era muito baixo, um pouco mais alto que eu, mesmo sendo uma criança. Sua pele era branca e enrugada, seus olhos profundos e nariz grande. 

“Que foi?” Perguntou o homem, cutucando o nariz com a ponta do dedo mindinho. Ele pareceu um pouco mal-humorado quando viu a pouca diferença de altura entre nós dois.

Roger uma vez falou que eu era mais alto que a maioria das crianças da minha idade. Nessa época eu provavelmente tinha um metro e cinquenta de altura, com um corpo por volta de doze anos.

Stella tinha treze anos, um inverno mais velha que eu.

“Essas crianças estão em uma jornada sob o olhar protetor de nossos deuses. Elas precisam de ajuda para se tornarem grandes cavaleiros postulados e honrarem nossa fé.” Padre Levi declarou com orgulho.

“E com o que eu posso ajudar?” Perguntou de maneira seca o irmão do padre. 

“Eles parecem estar perdidos, precisam de um mapa. Sabemos que você tem um mapa do reino, que inclusive era meu.” Levi disse ao cruzar os braços. Suas palavras fizeram o homem suspirar e caminhar para dentro da casa, nos fazendo esperar por alguns minutos.

“Tô ocupado agora, não vou conseguir convidá-los para entrar, sinto muito. Tomem o mapa.” O líder disse ao atirar um pergaminho envolto em um nó para o padre.

Não hesitei em roubar o papel de Levi, virando de costas e abrindo o pergaminho. O rolo de papel desceu e revelou um desenho simples, sem cores, do contorno completo do reino e das regiões.

Vonlet estava marcada em vermelho, e para minha completa tristeza e desgraça, estava realmente no sudeste, a milhares de quilômetros de distância do norte.

‘Será que foi por culpa da explosão? Deve ter complicado aquele mecanismo na hora.’ Indaguei ao quase amassar o papel de tanta frustração.

Todos meus planos foram por água abaixo quando descobri nossa verdadeira situação. Uma viagem dessa magnitude poderia durar meses.

Eram aproximadamente cinco mil quilômetros de distância, afinal o Reino Salazar ocupava um continente inteiro. Um continente imenso, inclusive.

‘Isso pode durar um ano.’ Pensei ao fazer os cálculos da viagem. Viajaríamos oito horas por dia com Penumbra, descansando de noite, caçando, viajando por terrenos difíceis e evitando cidades grandes.

Também precisaríamos treinar, pois eu precisava recuperar minha força completa ainda.

“Podemos ficar com o mapa?” Indaguei, sem olhar para os homens atrás de mim

“Quê? Claro que não. Esse mapa é valioso.” O líder falou presunçosamente.

Permaneci em silêncio e devolvi o rolo de papel para o homem, que revirou os olhos e fechou a porta sem falar nada.

Claro que não ficaria por isso. Eu roubaria aquele mapa antes de partirmos. “Sabe onde podemos arranjar suprimentos para a viagem?” Questionei para o padre que encarava a porta com um olhar vazio.

“Hã? Ah, sim.” Levi murmurou ao retomar a atenção em nós. “Júnior pode ter o que vocês precisam.” Revelou ao nos fazer segui-lo pelas ruas de Vonlet por alguns minutos.

As pessoas continuaram nos observando. Algumas folhas laranjas voaram pelos pátios e gramados das casas simples da vila, criando um cenário bem confortável.

Enfim chegamos em uma pequena loja simples onde um vendedor nos esperava atrás de um balcão. Havia muitas ferramentas e itens diferentes.

Até tinha algumas espadas e alabardas fixadas no canto da parede. “Bença, padre.” O vendedor cumprimentou Levi e depois nos olhou.

“São novos órfãos?” Questionou antes de voltar seu olhar para o padre.

“Não, são pequenos aventureiros que precisam de ajuda para concluírem uma missão imposta pelos deuses. É meu dever fazer o possível para auxiliá-los.” Padre Levi declarou ao se apoiar no balcão.

Sua generosidade lentamente me convenceu de que ele era um bom homem, mas eu ainda o odiava por ser um padre. Era natural, afinal eu era inimigo de tudo que é divino.

“Eles precisam de suprimentos para uma viagem bem longa.” O padre revelou, tirando uma pequena bolsa do manto.

“Eu pago por tudo.” Declarou, me surpreendendo. Sua generosidade não fazia sentido.

Eu queria perguntar o por quê, mas era a oportunidade para conseguir coisas de graça. Nunca hesitaria em me aproveitar da boa vontade de alguém, pelo menos não na nossa situação.

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Olá, eu sou Kalel K. Dessuy!

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