Selecione o tipo de erro abaixo

Capítulo 85 – Extermínio De Inocentes

Foi a primeira vez que vi a reação de pessoas comuns ao descobrirem magos. As expressões raivosas, os gritos preenchidos de ódio, as tochas iluminando os montes.

Observei a cena com o olhar frio. Os camponeses se aproximaram com facas, ganchos e enxadas. Crianças arremessaram rochas em mim e não me dei o trabalho de desviar.

“Crias do demônio!”

“Assassinos!”

Ameaças e ofensas ecoaram pelas árvores. Achei impressionante como uma vila aparentemente calma era capaz de demonstrar tanto ódio.

No entanto, no meio de todos, havia um homem que me encarava com o olhar triste. Ele não carregava armas, não gritava palavras raivosas e não me olhava com desdém.

Era apenas uma expressão vazia, mas preenchida de tristeza. Era padre Levi, o homem generoso que nos ajudou apenas por sua fé.

No momento que fizemos contato visual, um dilema surgiu dentro de mim.

Matar ou não matar.

Mas no momento que me virei para trás e encontrei Stella deitada em cima de Penumbra, tampando os ouvidos e soluçando, eu me decidi.

Lembrei da mulher doente que matei um tempo atrás. Matar uma única pessoa inocente e vulnerável me afetou profundamente, mas os sentimentos que foram abalados por esse evento já estavam guardados no fundo do meu coração.

Eu aprendi a me tornar vazio, sem qualquer hesitação ou culpa.

Derramar oceanos de sangue inocente já não importava mais. Não quando eu ou Stella estávamos do outro lado da balança.

O monstro de quinhentos anos ainda existia dentro de mim e ele não hesitou em correr como uma besta sanguinária no meio de dezenas de pessoas e criar um massacre.

Meia dúzia de cabeças voaram no segundo que me infiltrei no monte revoltado de camponeses.

Eu dilacerei a carne de todas as pessoas que consegui. Quiara teve seu rosto perfurado ao meio por Caedes enquanto tentava se arrastar para longe em meio aos corpos que ainda caíam.

Não poupei nem as crianças. Apenas girei Caedes e manchei sua lâmina secular com um carmesim sujo. Gritos de desespero ecoaram quando a camada externa do monte revoltado recuou para trás e me deu espaço entre os inúmeros cadáveres decapitados.

A lua iluminou a cena violenta. Uma criança de doze anos se manteve em pé em meio a corpos, segurando uma espada bastarda, responsável pelo massacre de um terço de uma vila em questão de segundos.

As tochas iluminaram o sangue que cobria meu rosto. Eu não sorri nem chorei, apenas uma frieza congelante exalou de meus olhos amarelos.

“Nada disso teria acontecido se vocês tivessem ficado dentro de suas casas.” Declarei para as pessoas apavoradas que me cercavam.

Quando terminei minha frase, acabei encontrando novamente o olhar de padre Levi. Ele estava ajoelhado, segurando o cadáver de uma criança.

Suas lágrimas caíam na pele branca do pequeno garoto enquanto ele levantava a cabeça e me encarava com um olhar sombrio.

“Eu não queria fazer isso.” Revelei de maneira indiferente. “Só queríamos um mapa e suprimentos.” 

“Então por que você fez?” O homem de meia-idade indagou ao apertar a criança morta em seu colo.

Permaneci em silêncio com sua pergunta.

Havia muitos motivos que me levaram a fazer aquilo, mas também havia motivos que quase me impediram.

Eu realmente não queria ter feito aquilo. Ter o sangue de inocentes em minha mão lentamente corroía minha mente, mas julguei ser necessário.

Se apenas fugíssemos com Penumbra, poderiam enviar cartas e contatar o exército postulado do reino. Eu queria ficar longe dos olhos dos campeões o máximo possível.

E eu não poderia usar magia de escuridão para limpar as memórias de todos, pois meu controle mágico sobre esse elemento ainda era amador. Só conseguia usar escuridão para desmaiar pessoas.

Mas matar todos nos manteria no escuro por mais tempo. Ninguém notaria o massacre de uma pequena vila no meio do nada, não em um reino tão imenso quanto o Reino Salazar.

No final fiz tudo por mim e por Stella. Nossas vidas eram muito mais importantes que a de qualquer inocente, eu nunca nos arriscaria, nem por uma vila inteira.

Poderiam me chamar de vilão, assassino, monstro. Não importava, pois eu aceitei o peso destes nomes quando matei um inocente pela primeira vez.

“Culpe os deuses por eu existir.” Falei ao me aproximar do padre. 

“Você é uma maldição enviada pelo demônio.” O homem exclamou enquanto lágrimas caíam por seu rosto enrugado. “Um dia você pagará por seus pecados.” Anunciou enquanto mordia o lábio.

Suas últimas palavras me fizeram rir um pouco.

“Eu já paguei pelos pecados de várias vidas.” Revelei ao cortar Caedes horizontalmente e decapitar o homem, fazendo sua cabeça cair sobre a criança em seu colo.

Eram nestes momentos que o peso de quinhentos anos de tortura se mostravam.

As pessoas ao redor tentaram correr para longe neste momento, mas fragmentos de gelo surgiram no ar e voaram em direção a cada um.

Quase uma centena de corpos caíram no chão em sincronia quando meus feitiços perfuraram seus corações ao mesmo tempo.

Me ajoelhei e encarei as estrelas.

‘Eu realmente sou uma maldição criada apenas para manchar esse mundo?’ Me indaguei ao deslizar o dedo pela lâmina coberta de sangue inocente.

Fechei os olhos e suspirei, limpando minha mente. Era mais fácil ignorar o peso das minhas ações quando eu não pensava nelas.

No entanto, despertando-me de meus pensamentos, latidos chamaram minha atenção. O mesmo cão branco de antes estava cheirando um dos corpos que tentou me atacar.

Ele lambia o rosto de um homem jovem, tentando acordá-lo.

“Seu dono está morto.” Declarei para o cão, mesmo sabendo que ele não poderia me entender.

O cachorro continuou tentando acordar o homem, o que me afetou um pouco.

“Pare com essa merda!” Gritei com raiva para o cão, que se assustou e correu para longe. Respirei profundamente, colocando minhas mãos na minha cabeça e soltando um grito para o céu.

Foi um grito de muitos significados. Eu apenas quis exprimir tudo dentro de mim, e o resultado foi uma sinfonia cacofônica de desespero.

Gritei por minutos até minha garganta parecer rasgar e minha voz colapsar.

Lágrimas caíram do meu rosto. Não foi por culpa ou arrependimento. Foi a dor de simplesmente existir naquele mundo e ser quem eu sou.

Me salvando do afogamento em um oceano escuro de miséria e dor, uma mão pequena acariciou meu rosto.

Abri meus olhos com surpresa, encontrando Stella com os olhos fechados. Ela tinha um sorriso triste e algumas lágrimas caíam por suas bochechas rosadas.

“O que vocês está fazendo aqui?” Indaguei com a voz rouca. Ela deveria estar me esperando em Penumbra.

“Não precisa se preocupar, eu estou de olhos fechados.” Explicou-se enquanto caía sobre meu colo. “Eu escutei seu grito… Foi o pior som que já escutei.” Revelou ao esfregar a mão no meu rosto.

“Tinha tanta dor e desespero nele… Me deu vontade de chorar.” Stella falou com a voz trêmula de tristeza. 

“A culpa foi minha, Sirius. Eu matei Frank e tudo isso aconteceu por minha causa. Não se sinta culpado, você fez o que fez porque cometi um erro.” A garota declarou, finalmente se rendendo ao choro.

Limpei suas lágrimas com meu dedo enquanto sorria.

“Cale a boca.” Zombei ao olhar para o céu. “Aquele verme tentou te tocar. Se você não tivesse matado ele antes, eu teria feito muito pior e o resultado seria o mesmo.”

“É nosso destino como magos em um reino que nos odeia, Stella. Se o mundo é nosso inimigo, não hesitarei em matar o mundo por nós.” 

Um silêncio se seguiu por alguns segundos. Éramos só nós dois, rodeados por cadáveres de camponeses em um círculo de morte.

Mas no meio deste círculo miserável de dor e sangue, uma demonstração de amor surgiu quando Stella beijou meus lábios.

Picture of Olá, eu sou Kalel K. Dessuy!

Olá, eu sou Kalel K. Dessuy!

Por favor, comentem nos capítulos! Isso me ajuda e me motiva de uma forma inexplicável.

Clique aqui para entrar em nosso Discord ➥