Selecione o tipo de erro abaixo

Capítulo 86 – Indo Embora

O sangue no chão refletiu nosso beijo graças à lua que abafava as estrelas no céu. O gesto durou poucos segundos, mas me despertou completamente do meu desespero.

O rosto de Stella estava vermelho e ela desviou o olhar quando afastou-se. “Ainda somos crianças, então o máximo é um beijo.” Disse ao se levantar com os olhos fechados.

Ela quase tropeçou em um cadáver, mas me levantei e a impedi. “Espere.” Falei enquanto me agachava e a colocava em cima de meus ombros de repente.

Stella soltou um grito de susto, mas aceitou minha ajuda enquanto ria e socava fracamente minha nuca. 

Tomei cuidado para não tropeçar em algum corpo enquanto saímos de perto da área do massacre. Em alguns minutos chegamos em Penumbra, que relinchou animadamente quando nos viu.

Coloquei Stella em cima da sela e a pedi para esperar um pouco. Caminhei pela grama fria até meus pés nus tocarem no sangue congelante.

Um arrepio passou pela minha espinha quando encarei todos aqueles cadáveres. Não foi a primeira vez que causei um massacre do tipo, pois havia matado dezenas de empregadas durante minha fuga na torre de Furtel.

Mas lá eu estava em um estado de frenesi descontrolado, matando qualquer um que se colocasse no meu caminho.

No entanto, dessa vez eu mantive minha mente fria. Eu sabia o que estava fazendo quando matei aqueles camponeses, incluindo as crianças.

Me aproximei dos cadáveres pronto para queimá-los, mas um fio de energia escura saiu de cada corpo e se reuniram dentro do meu núcleo.

Foi uma quantidade ridícula de energia da morte, mas muito maior que a quantidade que recebi quando matei os cavaleiros postulados nas montanhas.

Percebi que as crianças me forneceram uma quantidade de energia extremamente maior que os adultos, e isso foi algo que me fez engolir seco.

“Devo conseguir curar essas queimaduras agora…” Comentei ao levantar minha camisa e encarar as marcas roxas na lateral do meu torso. O que me impediu foi lembrar do que aconteceria se eu fizesse isso.

Parei de pensar no assunto e incendiei todos aqueles cadáveres. Uma fumaça com odor horrível subiu no céu e o fogo iluminou aqueles montes mortos.

Caminhei até a vila e procurei mais pessoas que pudessem ter presenciado o massacre, mas não encontrei ninguém.

A vila inteira realmente tinha se reunido para nos linchar. Aproveitei o vazio e saqueei algumas casas, encontrando dinheiro e mais alguns suprimentos.

Voltei para Penumbra quando terminei de reunir trinta moedas de prata e um saco de couro com várias frutas. A essa altura os corpos já haviam se transformado em cinzas e voado para as árvores.

‘Sempre deixo uma pilha de corpos para trás por onde passo.’ Pensei ao caminhar pela grama manchada de sangue e cinzas.

Stella ainda me esperava em cima de Penumbra enquanto brincava com os cabelos longos da égua. O ambiente era sombrio, mas ainda não fomos embora.

Afinal não era todo dia que tínhamos à disposição uma casa quente e uma cama confortável, e toda noite Penumbra tinha que descansar para a viagem no dia seguinte, então ficamos por lá.

Eu e a garota dormimos naquela noite na casa de Frank e Quiara depois que limpei o corpo e o espinho gigante no meio da casa.

Não nos importamos em dormir na mesma cama, na verdade Stella pediu que eu dividisse o quarto com ela porque por algum motivo tinha medo de dormir sozinha dessa vez.

Apenas trocamos o lençol e o cobertor antes, por um motivo óbvio.

Fechei os olhos enquanto dava as mãos para Stella e uma maré de demônios me atacou. Dessa vez eu estava em um oceano vermelho, uma paisagem que nunca vi no inferno que sobrevivi.

Seres gigantes me rodeavam na água e criavam ondas imensas que me arremessavam entre as hordas demoníacas que se afogavam que nem eu.

Em um momento senti minha perna ser puxada para o fundo do mar e criaturas misteriosas me receberam. 

Eu era do tamanho de suas pupilas que me encaravam, mas essas criaturas eram diferentes das personificações dos meus instintos.

No entanto, suas formas eram muito detalhadas para serem um fruto da minha imaginação.

‘Talvez esses pesadelos possam me dar informações úteis.’ Pensei enquanto analisava os demônios aquáticos gigantes.

Desse dia em diante, eu comecei a prestar mais atenção nos demônios que me atacavam. Nos outros sonhos eu apenas os matava com uma força que eu não possuía de verdade, sem me importar com nada.

Mas no final os demônios tinham uma anatomia própria. Eu nunca os estudei naquele período de tortura porque minha mente não tinha foco nem razão o suficiente para isso.

Agora era diferente. Eu poderia estudar seus órgãos, dissecar seus corpos, entender sua composição e pontos fracos biológicos.

Sorri quando fui devorado por um dos demônios gigantes e acordei no topo de uma montanha cinza. No horizonte escuro, hordas de criaturas medonhas corriam e tropeçavam entre si em minha direção.

Pulei do cume da montanha e pousei de joelhos no chão, pronto para receber meus oponentes. Em seguida, uma luta sangrenta ocorreu.

Matei milhares de criaturas e a cada oportunidade eu analisava seus interiores. Foi difícil, pois em nenhum momento eu consegui ficar parado ou sem ser incomodado, mas minha compreensão inata em relação aos demônios já havia melhorado quando meus instintos me acordaram pela manhã.

‘Isso vai ser útil na próxima vez que um deles aparecer.’ Pensei ao dar tapinhas no rosto de Stella e acordá-la da cama.

Ela lutou um pouco para levantar, afinal estávamos no lugar mais confortável da viagem até o momento.

Sentei na cama enquanto Stella acordava e pensei no que faríamos a seguir. Abri o mapa e analisei as cidades que passaríamos durante nossa jornada.

Também revisei o que eu precisava fazer. Treinar meu corpo e controle mágico já era natural, mas haviam certas coisas necessárias.

Aprender e estudar os outros métodos de manipulação de mana, como os signos, certamente era importante.

Usar Caedes para conseguir mana pura também, afinal ela conseguia absorver a energia de um fio prismático e transformá-lo em mana verdadeira.

Treinar Stella também fazia parte da agenda, ainda mais agora que ela com certeza precisaria se distrair com algo depois que matou Frank.

Assim que saímos da cabana, uma visão interessante se desenrolou.

O cenário se desenhou em uma paleta de cores suaves e quentes, criando uma atmosfera serena e nostálgica. O sol, ainda abaixo no horizonte, pintou o céu com tons de laranja e rosa, lançando uma luz dourada sobre a paisagem.

Das árvores se exibiu uma mistura de folhas verdes, amarelas e avermelhadas, algumas já começando a cair e formar montes crocantes pelo chão. A brisa suave carregou consigo o aroma fresco das folhas molhadas.

O ar, nítido e fresco, revelou a mudança de estação. As gotas de orvalho decoravam algumas teias de aranha entre os galhos das árvores. A grama, ainda verde, contrastou com as folhas caídas.

Os pássaros cantaram uma sinfonia suave, aproveitando os últimos dias de calor antes da chegada do inverno. Uma sensação de calma e tranquilidade permeou o ambiente, indiferente ao que aconteceu na noite anterior, como se a natureza estivesse dando as boas-vindas a uma pausa suave antes da chegada do frio.

Aquela foi a primeira manhã de outono.

Picture of Olá, eu sou Kalel K. Dessuy!

Olá, eu sou Kalel K. Dessuy!

Comentem e avaliem o capítulo! Se quiser me apoiar de alguma forma, entre em nosso Discord para conversarmos!

Clique aqui para entrar em nosso Discord ➥