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Capítulo 91 – Peste

A notícia foi decepcionante, de fato. Eu com certeza não parecia ter quinze anos, mas não é como se tivesse algo a fazer.

Guardei isso no fundo da memória para poder pensar nisso quando chegasse no orfanato, o que demoraria muito.

Continuamos a viagem após Rick certificar-se que sua esposa e filho estavam bem. Por sorte, não encontramos nenhum grupo de mercenários e finalmente chegamos na cidade após cinco dias.

Era uma cidade grande, muito maior que Vonlet, mas nada perto de Furtel. Um grande muro rochoso cercava os perímetros da cidade e um imenso portão fechado impedia a entrada de várias carruagens.

Ouvimos reclamações e xingamentos perto de uma comoção perto do portão. Quando nos aproximamos, percebemos várias pessoas linchando dois guardas irritados.

“A cidade está em quarentena, já avisamos! Qualquer entrada ou saída da cidade está estritamente proibida por nosso senhor!” Um guarda gritou ao apontar sua espada para os comerciantes e viajantes enfurecidos.

‘Quarentena?’ Me perguntei, sem entender o significado da palavra.

“Eu sou um médico e trago remédios.” De repente, uma voz declarou entre a multidão. Todos pararam de gritar e abriram caminho para o homem misterioso.

Ele vestia um manto preto parecido com os magos do Exército Prismático, o que me deu certa ansiedade. 

Os dois guardas se entreolharam antes de permitirem o homem entrar pelo portão parcialmente aberto. Ele dirigia uma carroça com caixotes com forte odor químico.

Uma nova onda de reclamações surgiu quando perceberam a discrepância de tratamento, que era justa, sinceramente.

Então, Rick desceu da carroça antes de pedir para mim cuidar das garotas. Ele caminhou até os guardas e um caminho foi liberado para ele.

Todos lá eram pessoas simples, comerciantes fracos e viajantes desconhecidos. Ninguém poderia copiar a presença de Rick, com suas cicatrizes e altura. 

“Dê detalhes sobre essa quarentena.” Rick pediu em um tom sério. O guarda mais alto não chegava nem nos ombros do homem.

“Quase todos lá estão doentes depois que uma doença misteriosa surgiu. As ruas estão lotadas de cadáveres.” Um dos guardas respondeu.

“Quais são os sintomas?” Rick questionou.

“Febre alta, vômito, inchaço dos gânglios linfáticos, calafrios e cegueira. Parece atacar especialmente as crianças, por mais que os adultos não escapem. Metade das pessoas que foram infectadas ou morreram, ou estão cegas para sempre.” O guarda revelou com tristeza notável.

Rick olhou para nós e encarou o pequeno bebê nos braços de Chloe quando ouviu sobre a parte das crianças. Aquela cidade realmente não poderia mais ser nosso destino.

“E agora?” Ele indagou quando voltou para nós e se apoiou na carroça. 

“A cidade mais próxima pro norte é Oertia, cento e vinte quilômetros de distância. É bem perto, chegamos em meio-dia se acelerarmos.” Falei ao observar o mapa. 

No entanto, enquanto eu pensava no que fazer, outra comoção surgiu, mas por um motivo diferente. No topo das muralhas, uma mulher enfaixada segurando um bebê ameaçou saltar.

As pessoas se afastaram quando perceberam que ela estava infectada. “Tirem meu filho daqui!” Ela gritou desesperadamente.

Guardas surgiram pelos lados e tentaram acalmá-la, mas não funcionou. Meus instintos bestiais reconheceram seus instintos maternos e souberam imediatamente que ela não desistiria de proteger seu filho.

Então, como um resultado inevitável, a mulher caiu para baixo, segurando seu filho entre os braços ao cair de barriga para cima.

Um choro seguiu o impacto e o sangue cercou seu corpo. Foi uma cena horrível e muitas pessoas gritaram e fugiram com medo da doença, inclusive Rick e Chloe.

“O que está esperando? Essa merda pode infectar pelo ar, já pensou?” Rick gritou para mim, mas eu não conseguia prestar atenção em mais nada quando notei algo importante.

Eu vi rastros de energia prismática saindo do cadáver da mulher.

Isso me fez perceber que aquilo não era uma doença natural, e sim resultado da magia de algum mago da região.

No entanto, eu não reconheci o elemento daqueles fios, o que só restou uma opção assustadora.

O mago que espalhou essa doença era um mago irregular.

‘Um mago irregular que é capaz de criar doenças?’ Pensei ao reconhecer o verdadeiro perigo da situação.

Olhei para o mapa com atenção e percebi que o templo dogmático mais próximo estava a trezentos quilômetros para o sul. Isso era relativamente perto e sem sombra de dúvidas cavaleiros postulados seriam enviados para a cidade, e quando percebessem que se trata de magia irregular, algum campeão viria para cá.

Isso poderia me atrapalhar e muito, afinal eu não subestimava a capacidade de rastreio do reino. Poderiam notar que eu passei por lá.

Suspirei quando segui em frente, contrariando a expectativa de todos. Eu senti incontáveis olhos pousarem em minhas costas quando caminhei em direção ao bebê que chorava sobre o cadáver esmagado da mãe.

Fios verde-escuro que me passavam uma sensação estranha estavam começando a envolver o pequenino, que não cessava o choro.

“Garoto, espere! Daqui a pouco vão retirar o corpo de lá-” Um guarda tentou impedir.

Eu não parei de segurar Caedes nem por um segundo, mas não usei minha lâmina.

Apenas encarei o guarda profundamente ao olhar pra cima. Não coloquei nenhuma pressão ou intenção assassina, sequer magia.

O homem engoliu seco e me deixou passar antes de se afastar.

‘Você já sabe o que fazer.’ Comentei com Caedes ao encostar sua ponta gelada nas costas do bebê.

“Ele vai matar o bebê!” Declarações parecidas ecoaram pela multidão enquanto pedras eram arremessadas em minha direção.

Não me importei em desviar, apenas colocar meu corpo na frente das que iriam acertar a criança. Eu vi os fios irregulares sendo sugados por Caedes e irem embora do corpo da criança e do cadáver da mãe.

‘Isso tem gosto de esgoto, mestre.’ Caedes reclamou.

‘Se acostume.’ Pensei ao cuidadosamente segurar a criança em meus braços e caminhar até os guardas que se afastavam conforme eu me aproximava.

“Esta criança não está infectada.” Anunciei para todos os olhares que me julgavam. “Você precisa encontrar alguém-”

Me interrompendo, um homem desesperado saiu rastejando do portão meio-aberto enquanto chorava. Ele vestia uma máscara de pássaro estranha e um manto preto.

“Amor!” Gritou enquanto abraçava o cadáver da mulher suicida. “Por que fez isso?! Eu estava procurando a cura para todos nós! Era só você esperar mais um pouco!”

“Onde está meu filho?!” Ele questionou com uma dor profunda, mas sua postura foi abalada quando olhou para o bebê em meu colo.

Ele rapidamente levantou e correu em minha direção, retirando a criança dos meus braços. 

Um guarda se aproximou e explicou o que aconteceu para o homem. Ele estava tão abalado que nem percebeu a parte em que apontei uma arma para seu filho.

“Muito obrigado por se arriscar para ajudar meu bebê… O que posso fazer para retribuir?”

“Nos deixar entrar na cidade.” Respondi com um sorriso. O homem pareceu hesitar, mas logo falou com os guardas e nós entramos na cidade.

Foi difícil convencer Rick e Chloe, mas eles aceitaram me esperar do outro lado da muralha após fazerem um acampamento por perto.

Eu apenas não poderia demorar muito, pois mercenários poderiam aparecer.

E foi assim que eu e Stella entramos numa paisagem infernal. Centenas de corpos de variados tamanhos estavam alinhados nas ruas, as poucas pessoas que caminhavam pelas calçadas eram médicos com vestimenta de corvo.

E minha teoria se provou verdade quando eu notei os fios irregulares em todos os corpos.

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Olá, eu sou Kalel K. Dessuy!

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