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Floresta do Dragão
Casa da árvore de Lilac | Início da manhã

O começo da manhã foi deveras agradável.

Era possível ouvir o som dos pássaros cantando, os belos campos gramados ao fundo, com algumas residências próximas às montanhas, com suas chaminés expelindo fumaça.

Sob as árvores, podia-se observar em suas folhas pequenas gotas de orvalho, enunciação que foi de fato uma noite úmida.

E ainda pendurado a árvore de Lilac estava Viktor, que foi amparado por Lilac assim que a dragão acordou.

Ela então o levou para dentro e o ajudou a se restabelecer, sob os olhares de Milla, que mostrava preocupação com o jovem, e Carol, que queria levá-lo de volta aonde estava, sendo rechaçada por Lilac.

Viktor então foi tomar um banho. Com a ajuda de Milla que, depois de procurar pelos armários do quarto das garotas, curiosamente encontrou vestimentas masculinas que tinham o tamanho ideal para o rapaz usar.

E para ser mais específico, eram todas vestimentas locais que, a exemplo das demais garotas, eram de aspecto oriental, como as dos habitantes de Shang Tu: sapatilhas pretas, uma calça preta e um blusão estilo kimono branco.

Passado algumas horas, eis que então o rapaz volta a seus afazeres matinais.

Entretanto, enquanto preparava o café, era possível perceber que seu semblante estava ainda pior do que quando saiu do centro de pesquisa do Castelo de Shang Tu no dia anterior.

As garotas, já à mesa esperando pela refeição, conversavam.

Lilac, um pouco chateada com Carol, disse:

— Carol, de todas as coisas insensatas que você fez até hoje, essa sem dúvida alguma foi a pior. Como pôde fazer aquilo com o Viktor?

— Opa, peraí Lilac. Tu tá vendo só o lado dele.

— Claro! O que você fez foi algo horrível!

— Horrível? E minha moto? Porque o piá foi logo pegar na minha moto? E tu falando assim parece até que eu dei um sacode no mané. Embora ele merecesse mesmo.

— Carol!

— Lilac!

Por pelo menos dois minutos, as duas ficarem se encarando e dizendo o nome de cada uma, em uma provocação que parecia não ter fim.

Mas até Milla já não estava mais aguentando.

— Ei! Vocês duas poderiam parar de fazer isso? Não é certo ficarem gritando logo de manhã — disse Milla, um pouco brava com suas amigas.

— Milla, vê se não se mete, tá? — era Carol, falando dessa vez. — Tô na treta só com a sabichona aí metida a defensora de destruidores de motos inocentes que não fizeram mal a ninguém.

— Carol, deixa a Milla fora disso! — disse Lilac, mais irritada que de costume.

— Não tô zuando a Milla, tá? E para de ficar me criticando. Eu fiz o que tinha que fazer. Eu que não ia aceitar calada o que aconteceu. Eu que tô no prejú aqui, falou?

— É só uma moto. Você pode consertá-la.

— Você fala como se fosse facin, né? Sabia que motos como a minha não nascem em árvores? Vou ter que morrer numa grana pra reconstruir ela toda e isso tudo custa muitas gemas.

— Tudo bem, eu entendo que vai ter dificuldades, mas você não precisava ter tratado o Viktor daquele jeito. Ele não tem pra onde ir e pouco conhece do nosso planeta.

— Então, agora ele conhece melhor esse planeta. E fiz ele aprender que na moto da kid Carol aqui ninguém toca.

— Carol!

Logo Viktor, que ouviu toda a conversa enquanto preparava o café, leva a bandeja até a mesa, retirando a tampa.

Dessa vez o jovem cozinheiro havia feito pão doce, com cobertura de chantilly e com frutas cristalizadas por cima.

As garotas ficaram deslumbradas com tamanha surpresa.

— Oh, minha nossa nossa nossa! Logo de manhã essa coisa maravilinda de café da manhã! — disse Carol, com os olhos brilhando.

— Viktor, que café da manhã maravilhoso! Mais uma surpresa! — disse Lilac, com um enorme sorriso.

— Eu nunca vi pães tão bonitos e apetitosos como esses, Viktorius! — Desta vez era Milla, já salivando de tanta fome.

Ele as serviu, mas continuou calado.

As garotas, mesmo com a animação de poderem saborear mais um café da manhã especial, perceberam que havia algo errado com o rapaz.

Lilac, percebendo isso, tratou de animá-lo.

— Viktor, você é bom mesmo! Meus parabéns! Seus pães estão deliciosos.

Mas o rapaz simplesmente serviu o café e depois caminhou até o corredor.

Milla, preocupada, também falou.

— Ei, Viktorius, você não vai comer?

— Não estou com fome — disse, continuando a caminhar. — Estou no quarto de hóspedes, se precisarem de algo.

Era perceptível que o jovem não estava bem.

Imediatamente, Lilac olhou para Carol, demonstrando toda sua irritação.

E não era só a dragão: Milla também não fez um rosto muito feliz ao olhar para a felina verde.

As duas comiam da refeição matutina, mas sem abandonar as feições de irritação em seus rostos mesmo ao mastigar.

Pressionada com tanta antipatia de suas amigas, Carol se manifestou.

— Ok.Tá. Entendi. O piá tá na fossa.

— Isso tudo é culpa sua, Carol!

— Tá, Lilac — ela falou, desviando o olhar para um dos lados. — Talvez eu tenha exagerado.

— Talvez? O Viktor tem sido zeloso conosco desde que veio pra cá e você ainda diz “talvez”? Como pode ser tão fria?

— Tá, Lilac. Eu exagerei. Não esperava que o piá… Digo, o Viktor ia ficar assim.

— Então, faça alguma coisa pra resolver isso. Ele está triste e você só se preocupou consigo esse tempo todo. Tudo bem que ele destruiu sua moto. Eu compreendo que você está chateada com isso também. Mas ele não fez pra te causar mal, fez pra tentar nos ajudar. Compreende agora?

Carol então, depois de devorar o último pão, falou a Lilac:

— Tá. Eu vou conversar com ele. Vacilei dessa vez.

Minutos depois…
Quarto de hóspedes

Carol, entrando sem bater, viu Viktor sentado perto da janela. O jovem estava com um olhar distante.

Ele, ao perceber quem entrou, logo tratou de se levantar, como se estivesse temendo alguma investida de Carol nossa.

A felina, ao pressentir isso, foi cuidadosa:

— Calma. Não vim te fazer nada. Fica frio, pô!

— Eu não quero problemas, Carol. Já te pedi desculpas!

— Tá, cara. Putz, que situação.

— O que você quer de mim?

— Nada Tipo, bem, É que… Eu… — ela tentava falar, deixando claro sua vergonha — Cara, como é difícil fazer isso.

— Carol, eu não queria te causar nenhum mal. Me perdoe, por favor. Eu só tentei ajudar, mas estraguei tudo.

O comportamento de Viktor só fez com que Carol ficasse ainda mais sentida com a situação.

Ela, em um dos raros momentos que demonstrou sentimentos mais afetivos, se aproximou do rapaz, o abraçando forte.

— Viktor, você não tem que me pedir desculpas por nada, tá? Eu que te devo desculpas. Eu fui insensível com você, sabe? Tu tá sempre querendo ajudar, tá cozinhando pra gente, tem até a paciência de me aturar. Eu sei que eu sou chata na maioria das vezes, mas é o meu jeito.

Foi uma abertura que ela encontrou, de ter ao menos ir ao encontro do rapaz e falar sinceramente. Surtiu efeitos: Viktor retribuiu o abraço.

Ela continuou com as desculpas.

— Não quero que pense mal de mim, tá? Te fiz aquilo sem pensar nas consequências. Não quero tu na fossa por minha causa. Eu que exagerei mesmo, fui uma boba. Me perdoa, Viktor. Eu não deveria ter feito o que fiz.

O humano percebeu que Carol estava mesmo se expressando de forma sincera.

Desde que apareceu no planeta das garotas, Carol sempre o provocou ou brincou com ele, sempre demonstrando seu lado “moleque”.

Mas dessa vez o jovem pôde ver um lado da felina que não imaginava que existisse.

Ele, entendendo os sentimentos de Carol, a abraçou da mesma forma, aceitando as desculpas.

— Tudo bem, Carol. De certa forma, eu mereci. Mas ainda assim eu quero te pedir des… — ele foi interrompido.

Carol falou mais alto, mas havia um motivo para isso.

— Não, cara! Deixa disso! Eu que vacilei, tá? Olha, posso te pedir uma coisa?

— O que seria?

— Esse abraço que te dei.

— O que tem?

— Não diga nada pra Lilac nem pra Milla, tá beleza?

— Tudo bem, mas porque?

— Não gosto dessa coisa melosa. Só tô sendo carinhosa com você porque tu é parça.

— Entendi.

Mas a tagarela foi além desse pedido.

— Posso te pedir outro favor?

— Sim, diga.

— Pode soltar agora? Tu tá me abraçando tão forte que já tô pensando que tu tá afim de mim.

Viktor, às pressas, soltou Carol, indo até o canto do quarto envergonhado.

Ela, olhando para o rapaz, deu um recado:

— E tipo, piá, tu é até bonitinho, mas não faz meu tipo, tá? Fica sussa e não diz nada pra elas, tá?

— Tu-tudo bem, senhorita Tea.

— É Carol, piá! Carol! Larga a mão de ser engomado, caraca!

Horas depois…

Depois do café da manhã e da conversa que Carol teve com Viktor, os quatro jovens começaram a fazer o seu rito diário.

Lilac ficou analisando dados de posicionamento das últimos pedaços da pedra do reino, Milla arrumou o quarto das garotas, Viktor logo tratou de limpar a louça do café e varrer a casa e Carol passou o resto da manhã toda juntando os destroços de sua moto, os colocando ao pé da árvore de Lilac, para tentar de alguma forma arrumar seu veículo.

Depois de um tempo, Lilac e Milla se sentaram na sala e começaram a assistir ao noticiário na TV.

Viktor estava em seu quarto, lendo algo em seu celular. Embora fosse sabido que não funcionaria para fazer ligações, era perfeitamente funcional para as demais tarefas.

Mas, chamando sua atenção, enquanto andava para ir ao banheiro, se deparou com uma conversa que Carol estava tendo com alguém em seu comunicador.

— É, tipo, tô precisando desse adiantamento pra arrumar minha moto — a pessoa do outro lado da linha lhe disse algo negativo — Como assim? Mas como vou fazer essa entrega sem minha moto? Mas é por isso que tô pedindo um adiantamento, pra arrumar a bodega da minha possante, ora! Tá de saca, né? Pô, choque, tô mesmo na pindaíba. Não tenho pila pra comprar uma peça. Adianta aí, pode ser?

A felina não teve boas notícias.

Era visível em seu rosto a negativa para receber o tal adiantamento.

Ela então foi até a sala e saiu pela porta.

Viktor, olhando que não tinha ninguém por perto, se aproximou de alguns papéis que Carol colocou sobre a mesa e, lendo as informações, logo constatou.

— Minha nossa! É tudo isso?! — ele continuou lendo. — Conduíte: 80 gemas. Velas: 25 gemas. Capacitor: 120 gemas. Cilindros: 140 gemas. Só nisso ela vai gastar 365 gemas. Se ontem ela disse que o prato para comer naquele restaurante custava 50 gemas era algo caro, então o problema é maior do que eu imaginava.

Foi nesse momento que ele entendeu a gravidade da situação.

— Nossa, o que eu fui fazer? Isso não está certo. Ela não tem que arcar com isso. Eu tenho que arrumar esse dinheiro pra ela, mas como?

Viktor então caminhou de volta até seu quarto, mas quando estava ainda no corredor, Lilac o chamou.

— Viktor, vem cá.

— Sim, o que foi? — ele se aproximou da dragão.

— Teria como você acompanhar Milla até a cidade? É que precisamos de alguns mantimentos. Tudo bem se não quiser, não quero te obrigar a nada.

— Tudo bem. Sem problemas, senh… Digo, Lilac.

— Muito obrigada mesmo. Eu iria com ela, mas Royal Magister quer minha presença o quanto antes no castelo.

— Pode deixar. Eu vou acompanhá-la.

Minutos depois…

Ao pé da árvore, Viktor e Milla estavam juntos se preparando para irem à cidade.

Próximos a um ponto de ônibus, aguardavam o coletivo, que já era possível vê-lo no horizonte.

Entretanto, a pequena olhou para o rapaz, percebendo em seu rosto certa preocupação.

— O que foi, Viktorius?

— Estou pensando na Carol.

— Na Carol?! O que foi?

— Ela se desculpou comigo.

— Isso foi muito legal da parte dela. Mas porque você parece preocupado?

E ele estava.

Seus pensamentos o levavam para longe, tentando achar algo que pudesse ajudar a gata tagarela.

Ele subiu no ônibus com Milla, mas muitas indagações se mantiveram em sua mente.

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Olá, eu sou Hunter X!

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