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Cidade de Shang Tu | Final da manhã

Como sempre, o centro da cidade estava bem movimentado. Não só de automóveis, como de monotrilhos suspensos e transeuntes que caminhavam para todos os lugares.

Já na zona mercantil da cidade, era onde Milla e Viktor faziam as compras que Lilac pôs na lista.

Como bom cozinheiro que era, o jovem escolheu a risca cada legume e verduras, desde temperos e ervas.

Milla havia levado algumas gemas, o que chamou atenção de Viktor.

— Então essa é a moeda local de vocês aqui. Curioso.

— Que bom que as coisas que a Lilac pediu são bem baratinhas.

— Milla, como vocês conseguem gemas?

— Bem, a Lilac e a Carol fazem missões para Royal Magister e ele gentilmente as presenteia com gemas. Assim a gente consegue viver tranquilo.

— Então regras trabalham pra ele?

— Não exatamente. Nós cumprimos missões pra ele às vezes.

— Missões…?

— É, mas tem outras vezes que a gente encontra tesouros. Foi assim que a Carol turbinou a moto dela.

— Entendi. Então é isso.

Logo após passarem no caixa para pagar, foram até ao ponto de ônibus para retornar para casa, caminhando juntos pelas ruas barulhentas da metrópole.

Porém, ao passarem em frente a um aglomerado de pessoas trajando vestimentas de artes marciais, Viktor, curioso, perguntou a Milla:

— O que está acontecendo? Porque tem tanta gente aqui?

— É que vai ter o torneio de artes marciais de Shang Tu.

— Espera. Sempre tem esse torneio?

— Na verdade, será o primeiro. É que a gente, em uma das missões, encontramos um tesouro. E nele tinha uma espada.

— Espada?

— Sim. Ela se chama Brava Espada dos Espíritos de Shang Tu, a Bededst. Dizem que é o maior símbolo das artes marciais. Todo mundo que está aqui deve estar querendo tê-la.

— Espera, deixa ver se eu entendi. Essa gente toda vai duelar pra ver quem vai ficar com a espada? A espada é o prêmio?

— Sim. Isso não é legal?

— Isso é mais que legal. É perfeito! — Viktor sorriu, prestes a ter uma ideia.

— Hã? Como assim, Viktorius?

— Milla, essa espada vale muito?

— É, Bem… — ela respondeu, com uma de suas mãos em seu queixo. — Royal Magister disse que sim. Muitos pagariam mais de 2000 gemas por ela. Mas ele achou melhor colocar como prêmio para o vencedor do torneio.

Viktor logo ficou com seus olhos brilhando de tanta satisfação.

De fato, como era um mestre, poderia facilmente entrar no torneio e vencer, para assim conseguir a espada e vendê-la para ajudar Carol, essa era sua ideia.

Ele, olhando com um sorriso no rosto, expôs esse seu ponto de vista.

— Milla, posso te pedir um grande favor?

— O que foi, Viktorius?

— Me ajude a me inscrever nesse torneio. Tenho que vencê-lo!

— O que?! Não não não! — reclamou a canina, impedindo que Viktor caminhasse. — Não vai, não! Viktorius, você não tem ideia de como essa gente é forte e habilidosa.

— Porque? Eu também sou, e sei lutar. Ou é um daqueles torneios de luta até a morte?

— Não, mas… — ela fraquejou, explicando melhor depois com segurança em suas palavras. — Bem, tem regras. Eu não sei todas, mas não tem isso de morte. Na verdade, isso nem é a motivação de uma arte marcial.

— Isso mesmo! Exatamente, Milla.

— Mas porque você quer lutar no torneio, Viktorius?

— Porque eu quero ajudar a Carol. Olha, não conta pra ninguém, mas eu vi que ela terá gastar muitas gemas para consertar a moto dela.

— Mesmo sim, Viktorius, não sei se você deveria participar do torneio.

— É só você não contar pra ninguém. Será nosso segredo. Pelo menos até eu vencer esse torneio.

— Você está muito confiante. Olha, tem gente muito forte nesse torneio.

— Quero ajudar a Carol, Milla — ele falou, de uma forma mais incisiva. — É só por causa disso. Por favor!

A canina fofinha pensou bem após a súplica de seu novo amigo. Embora a ideia do jovem fosse absurda demais, seus propósitos eram nobres e se de fato Carol precisasse mesmo de muitas gemas, toda ajuda seria bem vinda.

Sabendo que o torneio tinha regras, Milla então se convenceu que nada de ruim poderia acontecer, mesmo se porventura Viktor não tivesse êxito.

— Tudo bem, Viktorius. Mas você vai ter que tomar cuidado.

— Cuidado?! — ele perguntou, um pouco surpreso. — Porque está dizendo isso?

— Por dois motivos. Um, que você pode se machucar. E dois, porque a Lilac, se descobrir, vai ficar uma fera com você.

— Ora, mas porque?

— Ela disse pra nenhuma de nós participar desse torneio.

— Porque? Vocês são boas de luta, não?

— Sim, mas eu não gosto de contrariar a Lilac. Ela é minha amiga e minha guia. Ela sempre me ajuda. Não quero magoá-la nunca.

— Tudo bem, Milla. Eu prometo que vou tomar cuidado.

— Tudo bem, então! — ela sorriu para o jovem.

— Ótimo! Então vou me inscrever agora!

Mas antes que Viktor entrasse na fila, Milla imediatamente o puxou pelo braço.

Ele, confuso, perguntou:

— Milla, o que houve?

— Você não pode participar do torneio mostrando seu rosto pra todo mundo!

— E porque não? Eu não tenho nada a esconder.

— Lilac vai assistir o torneio! — a canina explicou. — Ela estará na arquibancada. Carol também virá. Se elas o virem, vai ficar complicado.

— Minha nossa, você tem razão! Mas o que fazer pra evitar isso?

Milla poderia ser uma pessoa inocente e ordeira, mas sabia agir com Inteligência.

A pequena olhou ao redor e avistou uma loja de roupas tradicionais de artes marciais no outro lado da rua.

— Tá, sem perguntas! Vem comigo!

— Hã?! Mas…

— Vem, Viktorius!

Logo tratou de puxar Viktor pelo braço mais uma vez, o levando até o lugar.

No interior da loja, era possível ver uma vasta gama de trajes, o que fez aumentar ainda mais a curiosidade do rapaz.

Logo um vendedor guaxinim, que usava vestimentas chinesas, saudou os dois.

— Sejam bem-vindos a minha humilde loja. O que vocês jovens desejam? Que tal um traje de primavera pra irem na festa?

— Moço, a gente vai a nenhuma festa! — disse Milla, com o rosto bastante vermelho.

— Oh, entendo. Então vocês querem um traje para comemorar a amizade de vocês? Azul é a cor ideal!

— Moço, nós não precisamos disso!

— Pois bem. Então vocês estão brigados e querem um traje para reatar a amizade? A cor roxa é a melhor escolha, hehe.

— Olha, moço…

Viktor já havia percebido o objetivo do moço da venda. Ele não perdeu tempo.

— Espera. O que faz o senhor pensar que estamos tendo problemas com isso? Além do mais, essas coisas são muito íntimas, não deveria se meter!

— É que vocês parecem meio tristes e…

— Eu já entendi a sua, moço: Táticas de vendas!

— Táticas de venda? — Milla perguntou.

— Esses caras que te agradam, tentando achar uma brecha pra ter vantagem e poder vender logo. Mas com a gente não vai ser assim, espertinho!

— Meu rapaz, eu não tinha intenções de fazer mal algum — disse o vendedor, desconversando — Só estou fazendo o meu trabalho.

— Tudo bem mas, por favor, corta esse papo. Viemos aqui pra comprar um traje de artes marciais, só isso.

— Ah, mas porque não disse logo? — o guaxinim disse, voltando a sorrir — Tenho vários! Tem alguma preferência?

— Algum bem tradicional mesmo.

— Compreendo.

— Viktorius, você deveria usar uma máscara também — disse Milla, olhando um estande com várias máscaras.

— Eles deixam lutar assim? — perguntou Viktor.

— Sim. É uma tradição lutarem com máscaras. Você vai ficar bem bonito com ela e também esconder seu rosto.

— Tudo bem então. Vou seguir sua dica.

Milla comprou o uniforme que Viktor iria usar com o restante das gemas que sobraram das compras.

A roupa era composta por uma calça preta, com blusão vermelho e uma faixa preta colocada na cintura.

A máscara era a de um tigre, que foi escolhida por Viktor por um valor simbólico: o tigre é o animal que simboliza o karatê.

Devidamente trajado, os dois então seguiram caminhando pela calçada para fazer a inscrição.

Já na fila, Milla, olhando para Viktor, comentou.

— Viktorius, sobre aquilo lá na loja.

— O que, Milla?

— Você acha que garotos ou garotas têm muitos problemas com essas coisas de amizade?

— O que aquele cara falou tem a ver com essa sua pergunta?

— É que, bem… — ela estava um pouco corada — nunca andei com garotos e queria saber sua opinião.

— Sério mesmo?

— A gente sempre está fazendo missões, sabe? Aquela vez lá no baile do shopping é coisa difícil de fazermos.

— Eu entendi. Bem, é comum sim, Milla. Só que aquele moço foi um mala sem conhecer a gente. Mas amizade é algo bem relativo, coisas que vem naturalmente. Não é algo que você deveria se preocupar, até porque você é uma ótima amiga.

— Ah, sério? — ela disse, mostrando um sorriso no rosto — Obrigada, Viktorius! Você também é um ótimo amigo?

— Hehe, fico feliz em saber disso.

— Olha! — ela apontou para frente — É a sua vez!

E o rapaz então é interpelado pelo fiscal, que olhou de baixo para cima ao vê-lo.

— Olá. Seja bem vindo ao Coliseu de Shang Tu para o torneio de artes marciais. Qual é seu estilo?

— Shorin Ryu, senhor.

— Shorin Ryu1?! Nunca ouvi falar — o funcionário continuou. — Bem, você é um estrangeiro, entendo. Qual sua graduação?

— Faixa preta.

— Um mestre?! Ótimo! Verá outros por aqui, meu rapaz. Irá disputar a categoria principal, que o premiará com a espada Bededst, o símbolo máximo das artes marciais do nosso reino. Está preparado?

— Sim, senhor.

— Muito bem. Sabe as regras? Tome aqui o manual.

Ao tomar posse do folheto, Viktor e Milla fizeram sua leitura.

As regras eram bem simples:

1- Luta um contra um, sem contagem de pontos;

2- Há um ringue sem paredes nem corners. Caso um lutador saia ou caia do ringue será desclassificado;

3- Caso um lutador fique caído por mais de cinco segundos, será aberta uma contagem até dez para que se levante. Caso termine a contagem, será declarado perdedor;

4- Não há limites para nocautes (quedas após os cinco segundo de tolerância). Ou seja, a luta só será definida se:
1) o participante desistir;
2) se o participante ficar inconsciente;
3) se o participante não se levantar antes da contagem.

5- É terminantemente proibido usar qualquer tipo de poder especial. A proposta do torneio é mostrarmos como os Naturais lutavam antigamente;

6- Armas são permitidas, porém não podem ser usadas para fins letais.

7- Caso algum lutador se contundir gravemente, a luta será paralisada imediatamente até que seja tratado da forma devida o lutador ferido. Será julgado depois a resolução do vencedor do duelo ou a continuidade do combate.

Viktor havia recebido um guia sobre todo o torneio.

O jovem estava mesmo confiante para o torneio.

Enquanto isso…
Castelo de Shang Tu | Início da tarde

Lilac andava pelos corredores do Castelo, indo em direção ao salão imperial.

A frente da porta estavam dois soldados, que faziam a proteção do lugar.

Depois dos protocolos, Lilac é autorizada a entrar, seguindo até o salão do trono.

Lá era possível ver todo o reino, desde as planícies até os altos prédios da cidade de Shang Tu.

Sentado em seu trono estava Royal Magister, se levantando assim que avista a dragão entrar.

Ela, ao vê-lo, abaixou seu corpo o reverenciando.

Logo após as formalidades, Lilac perguntou:

— Royal Magister, eu estou aqui por seu chamado. O que posso lhe ser útil?

— Sash Lilac, me agrada saber que seus esforços em procurar os fragmentos da pedra do reino são plenos. Revigorante, por assim dizer. Porém temo que em breve tenhamos problemas com desordeiros que pensem em usar esses resquícios para seu bel prazer.

— Compreendo, majestade. Mas não se preocupe, pois estamos sempre alertas. O localizador que os cientistas nos entregaram são muito úteis e precisos. Vamos conseguir encontrar a todos.

— De fato. Agradeço-lhe pelo suporte.

Ele então vai até a marquise do salão principal, convidando Lilac para que lhe faça companhia.

— Sash Lilac, tem conhecimento do torneio de artes marciais que estamos promovendo, não?

— Sim, Royal Magister. Vossa majestade presenteará o vencedor com a espada que encontramos, não?

— Exatamente. Irá acompanhar o torneio?

— Sim. Eu convidei Carol e Milla também. Só que foi um problema convencer Carol de não participar.

— Temos planos para esse torneio e uma das estratégias é não termos aliados no tatame, se me entende. Só peço a colaboração de seu time e que estejam assistindo.

— Tudo bem, Royal Magister. Mas foi um sacrifício da Carol, devo avisar, hehe — disse Lilac, rindo em seguida.

— Entendo. Antes que me esqueça de dizer, um dos cientistas me disse que vocês estão ajudando um viajante.

— Sim, estamos. É o Viktor.

— Um nome peculiar. E tenho certeza de que o estrangeiro não tem ideia como veio, estou certo?

— Isso mesmo, Royal Magister. Mas vamos ajudá-lo até que encontremos uma forma dele voltar.

— Eu também me pergunto se é devidamente prudente que dêem um teto para o abriga-lo. Sabe dos riscos, dragão?

— Sim, Vossa excelência. Mas ele é legal, não se preocupe.

— Entendo — Magister fechou seus olhos, demonstrando segurança — Bem, agradeço a visita. Espero que consigam o quanto antes recuperar o restante dos fragmentos.

— Sim, Royal Magister. Até a próxima.

Lilac então saúda novamente o monarca, saindo pela porta em seguida.

Royal Magister era um líder nato. E esse seu trato não era somente em governar.

Ele era inteligente a ponto de imaginar centenas de possibilidades. Tudo em prol da segurança de seu reino.

Diante as desavenças e conflitos de um passado recente, não estava disposto a correr riscos. Cada assunto era tratado com as devidas atenções, sejam quais elas fossem.

Com esse intuito em mente, ele chamou um dos soldados do Reino de Shang Tu que, rapidamente, se fez presente.

— Guarda, contate General Gong. Informe-o para investigar sobre um certo indivíduo chamado Viktor.

Como esperado, tudo seria meticulosamente levado a sério.

Enquanto isso, no coliseu…

Ainda tomando os procedimentos de inscrição, Viktor respondia a perguntas, mas já estava quase no fim. O funcionário do coliseu perguntou:

— Qual seu nome, mestre?

— O meu nome é Vik…

— O nome dele é Red Mask! — disse Milla, tomando a frente de Viktor. — Isso mesmo! Red Mask!

Tudo isso não passou de um plano de Milla para manter o sigilo. Ele, estranhando o comportamento da canina, foi saber do que se tratava essa situação.

— Milla, o que você está fazendo?

— Viktorius, você não pode se apresentar com seu nome.

— Nossa, é verdade! Obrigado, Milla. Você está me ajudando de verdade.

Após a inscrição, os dois voltaram para a casa da árvore na Floresta do Dragão.

Embora o compromisso de voltar com as compras fosse o principal motivo, agora existia um outro.

Em breve será a hora de entrar no coliseu e lutar.

  1. Nota: Shorin-ryu é um dos mais antigos estilos de Karatê, originário de Okinawa. Shorin é a pronúncia japonesa da palavra chinesa Shaolin, que quer dizer “Pequeno Bosque”, sendo assim, como Ryu significa estilo, Shorin-ryu seria o “Estilo do Pequeno Bosque”. Praticamente todos os golpes deste estilo são oriundos do Kung Fu tradicional, o kenpo. É de fato o estilo do karatê mais próximo das reações da natureza, buscando harmonia e leveza.
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Olá, eu sou Hunter X!

Agradeço imensamente pela leitura até este capítulo. Espero que estejam gostando da história.

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