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Capítulo 08 – Matar ou morrer

Noro se viu mergulhado em um sonho, um lugar onde a escuridão reinava absoluta. Era um vazio completo, uma escuridão tão densa que parecia engolir tudo, até mesmo o conceito de luz. 

Ele tentou olhar ao redor, mas não havia nada para ver, apenas o infinito negro.

A sensação era desconcertante. Ele podia pensar claramente, mas não havia nada para focar seus pensamentos.

Suas emoções pareciam distantes, como se ele estivesse se afastando de si mesmo, flutuando em um mar de nada.

Noro tentou chamar, mas sua voz não fazia som. Tentou se mover, mas não tinha corpo, era apenas consciência, perdida na imensidão vazia. 

A sensação de isolamento era esmagadora, uma solidão que parecia sugar até o último resquício de esperança.

Ele tentou se agarrar a alguma memória, alguma emoção, mas tudo parecia tão distante, como se suas experiências e sentimentos fossem parte de outra pessoa. 

Havia uma estranha sensação de paz nesse vazio, uma calma que ele nunca havia experimentado antes, mas era uma paz fria, desprovida de conforto ou contentamento.

De repente, uma luz tênue apareceu, um ponto distante na escuridão. Noro se concentrou nela, tentando entender o que significava. 

A luz começou a crescer, aproximando-se lentamente, e com ela, as emoções de Noro começaram a voltar, enchendo o vazio com fragmentos de sentimentos e pensamentos. 

A luz se aproximava cada vez mais, trazendo consigo uma sensação de urgência, uma necessidade de compreender, de se agarrar a algo real.

E então, tão repentinamente quanto começou, o sonho se dissipou, e Noro acordou, ofegante e confuso, ainda sentindo o eco daquela escuridão vazia e da luz enigmática. 

Noro acordou com uma sensação estranha de renovação. Movendo-se cautelosamente, ele percebeu que seu corpo, apesar de ainda marcado por ferimentos, estava significativamente melhor do que esperava. 

“Como…?” ele murmurou, confuso. Olhando para suas mãos, viu os cortes e arranhões começando a cicatrizar de maneira quase sobrenatural.

“Não faz sentido”, ele pensou, analisando as feridas que deveriam ter sido muito mais graves. “A última coisa de que me lembro é…” 

Ele pausou, sua mente correndo de volta para o momento crítico da luta com o Lobo das Sombras. “O fragmento do cervídeo!” ele exclamou em voz alta.

Lembrava-se agora, a sensação de absorver o fragmento, um poder novo e desconhecido correndo através dele. “Cura… regeneração…”, murmurou ele, colocando as peças juntas. 

“O fragmento do cervídeo deve ter habilidades de cura. Isso explica como estou melhor.”

Sentado ali, ele refletiu sobre o incidente. “Isso muda tudo,” ele disse para si mesmo.

“Eu tenho uma nova vantagem agora.” 

Ele fechou os olhos, focando na sensação de energia renovada dentro de si. “Mas isso não é suficiente para enfrentar aquela besta. Preciso ser mais esperto, mais forte.”

Ele olhou para a floresta ao redor, a luz do amanhecer começando a filtrar-se pelas árvores. 

“Vou precisar de um plano melhor,” ele pensou, uma determinação firme tomando conta de seus pensamentos. 

“E vou começar agora.” 

Noro, sentado cautelosamente na clareira luminosa, sentiu um arrepio percorrer sua espinha. 

Havia uma sensação opressiva no ar, uma presença espreitando nas sombras. Ele sabia, sem sombra de dúvida, que o Lobo das Sombras o observava, estudando cada um de seus movimentos. 

Um medo instintivo tomou conta dele, mas ele o reprimiu, concentrando-se em formular um plano.

“Está aí, não está?” Noro murmurou, seu coração batendo acelerado. “Observando… esperando.”

Ele começou a ponderar suas opções, falando em voz baixa para si mesmo. “Preciso de uma vantagem… algo que ele não espera.”

Noro repassou os fragmentos que tinha à disposição: força, velocidade, pulo, regeneração com o tempo, a faca noturna, a adaga voadora e a corrente negra. 

“Velocidade e pulo… isso pode me dar a mobilidade de que preciso. A faca noturna e a adaga voadora serão cruciais para o ataque.”

Ele traçou um esboço do plano em sua mente. “Se eu puder atraí-lo para um ponto específico… usar a corrente negra para restringir seus movimentos…”

Noro começou a se preparar. Ele posicionou-se estrategicamente, garantindo que tinha espaço suficiente para manobrar. 

Ele sabia que o plano era arriscado, mas também sabia que não tinha muitas opções. 

Cada parte do seu ser estava alerta, preparado para o confronto iminente.

Noro respirou fundo, tentando acalmar seus nervos. 

“Hora de virar o jogo, Lobo”, ele sussurrou, pronto para enfrentar seu destino.

A noite envolveu a floresta com seu manto escuro, trazendo consigo um silêncio quase tangível. 

Nas sombras, o Lobo das Sombras se movia com uma graça silenciosa e mortal, aproximando-se da clareira onde ele tinha certeza de encontrar sua presa. 

A lua lançava uma luz pálida sobre a clareira, iluminando os arbustos carmesins que pareciam brilhar sob seu toque.

O Lobo parou na borda da clareira, seus olhos amarelos vasculhando o terreno. Ele esperava ver Noro, vulnerável e ferido, mas para sua surpresa, a clareira estava vazia. 

Um sentimento de confusão e cautela tomou conta dele. Onde estava Noro? Será que ele tinha subestimado a astúcia de sua presa?

Movendo-se com cautela, o Lobo adentrou a clareira, seus sentidos aguçados tentando captar qualquer sinal de Noro. 

Ele sabia que humanos não podiam desaparecer sem deixar rastros. Havia algo errado, algo que ele não estava vendo.

De repente, o Lobo sentiu uma presença às suas costas. Antes que pudesse reagir, uma corrente negra, com pedras pesadas em ambas as extremidades, envolveu seu corpo, prendendo-o firmemente ao chão.

Noro emergiu das sombras, movendo-se com velocidade estonteante. Ele havia preparado uma emboscada perfeita, e o Lobo das Sombras caíra direto nela.

“Te peguei!”, exclamou Noro, triunfante.

Em uma mão, ele segurava a faca noturna; na outra, a adaga voadora, coberta por um fluido brilhante. 

Ele sabia que não poderia prolongar o confronto. Era a hora de usar sua melhor arma.

As plantas que brilham ao redor da clareira deviam sua luminescência a uma reação química interna. 

Essa reação envolvia luciferina e luciferase, e, quando a luciferina era oxidada, emitia uma luz espetacular.

Noro desativou seu fragmento de velocidade e ativou o de força. Preparando-se, ele posicionou a adaga, incandescente e luminosa, para trás, em uma postura de arremesso. 

Concentrando toda a sua energia, ele lançou a adaga com uma força devastadora.

“Eu não posso errar!”, pensou, determinado.

No momento decisivo, a adaga voou e atingiu o olho esquerdo do Lobo das Sombras. 

Um rugido de ódio ecoou pela clareira, enquanto o olho da fera era brutalmente perfurado pela adaga brilhante.

Noro, seus olhos faiscando com uma determinação feroz, concentra-se intensamente. 

Num movimento fluido e poderoso, ele ativa o fragmento de pulo. Seu corpo dispara para o céu, uma flecha humana impulsionada por forças além do natural. 

No ápice de seu voo, ele estende a mão e agarra com firmeza o cabo da adaga, ainda cravada no olho dilacerado do Lobo das Sombras.

“É agora ou nunca”, sussurra Noro para si mesmo, desativando o fragmento de pulo e ativando o de força no mesmo instante. Uma decisão crítica, feita em uma fração de segundo.

O lobo, em um reflexo de pura selvageria, lança uma de suas garras mortais na direção de Noro. 

A garra atinge seu alvo, perfurando brutalmente o lado de sua barriga. Noro arqueja, a dor é quase insuportável, mas ele se recusa a ceder. 

Sangue escapa de seus lábios, mas suas palavras são de desafio: “Não vou… cair aqui…”

Usando cada grama de sua força potencializada, Noro puxa a adaga para baixo, rasgando o tecido do rosto do lobo, abrindo um sulco sangrento da órbita até a garganta, continuando impiedosamente pelo peito e barriga. 

O lobo, em um último esforço, acerta Noro com uma patada devastadora, lançando-o violentamente contra uma árvore próxima.

Noro colide com a árvore, o impacto é brutal, seu corpo grita em agonia. Ele cai ao chão, o mundo ao seu redor gira em um turbilhão de dor e escuridão. 

Através dos galhos, ele vislumbra um céu pontilhado de estrelas, e com um fôlego que parece ser o último, ele murmura com uma tenacidade que desafia sua condição: “Eu… ainda… tenho… um caminho a percorrer…”

Mas, para a surpresa de Noro, o Lobo das Sombras, ferido mortalmente, cambaleia para o lado e colapsa sem vida.

A adaga de Noro, em sua trajetória impiedosa, não apenas cortou uma artéria crucial no pescoço do lobo, mas também estraçalhou seus órgãos vitais.

O lobo, em seus últimos momentos, tenta se manter de pé, mas a força da vida o abandona rapidamente. 

Ele cai, um gigante reduzido a uma sombra do que fora. Cada respiração se torna mais fraca, cada grunhido mais distante, até que finalmente, em um suspiro final, a besta encontra seu fim.

Noro, apesar da dor excruciante, observa a queda de seu adversário com um misto de alívio e incredulidade. Ele sussurra para si mesmo, quase sem acreditar: “Acabou… Eu realmente… venci…”

A noite ao redor se torna mais silenciosa, como se a própria floresta estivesse prestando homenagem à batalha titânica que acabara de testemunhar. 

Noro, exausto e ferido, sabe que esta é apenas uma parte de sua jornada, mas nesse momento, ele se permite sentir a doçura da vitória, por mais efêmera que seja.

Enquanto Noro se aproxima do corpo imóvel do Lobo das Sombras, ele percebe algo que não havia notado durante o calor da batalha. 

Os ferimentos do Lobo, já graves por si só, parecem ter sido agravados por uma reação química violenta. 

O líquido incandescente que cobria sua adaga não era apenas um brilho vistoso, mas um veneno corrosivo mortal.

Noro, com um misto de alívio e surpresa, observa os efeitos devastadores do veneno.

A pele ao redor dos ferimentos está visivelmente deteriorada, corroída pela substância tóxica. 

Ele sente um arrepio percorrer sua espinha ao pensar na sorte que teve por não ter entrado em contato direto com esse líquido fatal.

Agora faz sentido o porquê de não haver criaturas nesta clareira luminosa! Elas têm medo do veneno corrosivo.

Com um sorriso irônico, Noro murmura para si mesmo: “Bem, isso teria sido uma reviravolta desagradável. Imagina se eu tivesse me lambuzado com essa coisa pensando ser só um brilho bonito? Teria sido uma curta jornada, hein?”

A piada sardônica, embora leve, revela o alívio de Noro por ter escapado de mais uma ameaça desconhecida. 

Ele reflete sobre a imprevisibilidade de sua jornada, sabendo que cada passo adiante pode trazer perigos inesperados. Mas por ora, ele respira fundo, sentindo-se um pouco mais preparado para enfrentar o desconhecido.

Noro, exausto e ensanguentado, repousou brevemente sob o manto da floresta, seus olhos fechando-se em busca de um alívio fugaz. 

Sua cabeça lateja de dor e sob a escuridão de suas pálpebras, uma visão se desenrolou com uma clareza surpreendente.


Ele se viu em um recanto oculto da floresta, banhado pelo brilho suave da lua. 

Ali, o Lobo das Sombras dançava entre as árvores, uma figura majestosa e livre, sua pelagem escura fundindo-se com a noite. Noro observava, fascinado, a pura essência da liberdade e força naquele ser.

Mas a visão se transformou abruptamente, revelando uma realidade mais dura. 

O lobo enfrentava adversidades contínuas: caçadas árduas, confrontos ferozes, e, acima de tudo, a proteção de seus filhotes vulneráveis, ocultos em uma toca secreta. 

Era uma luta incansável, não apenas pela sobrevivência, mas pela continuidade da vida que ele gerara.

Nesse instante, Noro sentiu uma ponta de admiração mesclada com uma estranha forma de inveja. 

O lobo, mesmo ferido e exausto, jamais se rendia. Ele lutava com um propósito que ia além de sua própria existência, algo que Noro, em sua jornada solitária, raramente experimentava.

A visão escureceu mais uma vez, revelando o fatídico momento em que a magia antiga e proibida da floresta se entranhou no lobo, transformando-o em uma criatura de sombras, uma fusão de besta e escuridão.

Erguendo-se com esforço, Noro olhou para o corpo inerte do Lobo das Sombras e soltou um riso rouco, tingido de sarcasmo. 

“Olha só para nós dois, hein? Você, lutando até o fim pelos seus pequenos, e eu? Apenas arranhando e mordendo pela minha própria pele. Que herói eu sou, não é mesmo? Ah é verdade, eu nao sou um herói.” Noro sorri amargamente e da de ombros

Seu sorriso amargo refletia um reconhecimento sombrio, uma ironia cruel na dança da sobrevivência…

À luz do amanhecer, o “acampamento” de Noro estava imerso em uma calma solene.

Ele havia passado a noite processando os eventos do dia anterior, cada momento de confronto com o Lobo das Sombras ecoando em sua mente. 

Com a primeira luz do dia, ele se levantou, seus movimentos refletindo uma determinação recém-fortalecida.

Ao redor da fogueira, restos do que fora o Lobo das Sombras jaziam em um canto. 

Noro decidiu não comer a carne do Lobo das Sombras, alegando respeito, mesmo sentindo muita fome.

“Respeito minha bunda! Só não como porque tá envenenada,” ele murmurou ironicamente para si mesmo.

Enquanto arrumava seus pertences, Noro refletia sobre a noite anterior. 

A visão do lobo lutando por algo maior do que si mesmo havia deixado uma marca indelével em sua alma. Havia uma ironia cruel naquilo – o lobo, em sua essência, mostrara-se mais nobre que muitos homens que Noro conhecia. 

Com um suspiro, ele olhou para o horizonte. 

O sol ascendia, banhando a floresta com uma luz dourada, prometendo um novo dia, novos desafios. Noro sabia que a jornada à sua frente seria árdua, mas sentia-se preparado. 

Com um último olhar para o lugar onde o lobo caíra, Noro ajustou sua mochila e partiu, pisando no manto de folhas que cobria o chão da floresta. 

A cada passo, ele carregava consigo não apenas as provisões e armas, mas também as memórias e ensinamentos daquela noite fatídica, prontamente encarando o que quer que o futuro reservasse.

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