Capítulo 15
Desculpas
Tradutor: Zekaev
Haruhiro tentou se aproximar de Yumi e Shihori com uma conversa casual. — Então, como foi o seu dia? Você tem dificuldade para acordar? Quase sempre? Entendo…
Ou, “Então, o que você comeu no jantar na noite passada? A mesma coisa de sempre? Entendo…”
Ou, “Então, nós nos encontramos com Renji noite passada. Foi ridículo. Não está interessada? Entendo…”
Ou, “Então, o que você tem para o almoço? Pão? Entendo…”
Ou, “Então, você parece cansada…”
Então… Então… Então… Haruhiro estava começando a parecer uma pessoa compulsiva por começar suas frases com “então”. Ele não estava exatamente sendo ignorado, mas foi deprimente o fato de todas as respostas que recebeu serem mínimas. Mary era fria, distante e inacessível. Fez Haruhiro se perguntar se ela tinha alguma alegria em sua vida. Ele admitiu que sua própria vida agora não era, precisamente, a mais divertida, mas não era tão sombria quanto Mary fazia parecer.
Eles voltaram de Damroww para Allpea à noite e venderam o saque do seu dia. Os ganhos do dia foram de uma prata e quinze kappas para cada um, que, para um grupo como o deles, não era ruim. Mas, também, não era bom.
Haruhiro ignorou a taberna naquela noite e voltou direto para o seu alojamento. Após o banho, agachou-se para esperar por Yumi no corredor, ela surgiu vindo da casa de banhos.
— Er, Yumi?
Yumi parou, mas não se virou para olhar Hiruhiro. Ela continuou a enxugar seu cabelo com um pedaço de pano. Yumi sempre usava o cabelo trançado e agora que ele estava solto, parecia uma pessoa completamente diferente.
O silêncio constrangedor entre eles se estendeu alguns segundos a mais.
— Umm, Shihori não está com você? — Disse Haruhiro, finalmente.
— Ela está no quarto.
— Entendo. Umm… — Haruhiro esfregou a nuca. — Você está brava?
— Não.
— Sério? Mas… Parece que…
— Yumi disse que ela não é brava~yan. Haru acha que ela está?
— Talvez eu ache.
— Por quê?
— Porque nós convidamos Mary para se juntar ao nosso grupo sem falar nada para você ou Shihori. Achei que nós não poderíamos ficar sem um sacerdote, mas talvez eu tenha decidido sobre ela muito cedo. Embora eu não tenha sido o único que tomou a decisão…
— Se não foi você, então quem?
— … Kikkawa apresentou Mary para nós e eu, Ranta e Moguzo tomamos a decisão. Então eu acho que a culpa é de nós três.
— Não, não é.
— Hã?
— Eu disse que não é~yan.
— … Yumi?
— Você é um idiota, Haru. — Yumi torceu seu cabelo com o pano. — Não é culpa de vocês três. Não em tudo.
— Yumi, espere… — Haruhiro se virou para ela, começando a se aproximar. Mas ele se afastou. — Espere… o que está errado?
— Você não entende, não é?Porque você não entende nada, Yumi e Shihori são assim.
— Mas… — Haruhiro baixou o olhar para o chão. — É que… Quer dizer, você e Shihori nunca sequer tentaram falar comigo. Como eu poderia entender?
— Yumi não é boa em expressar o que ela sente~yan. É difícil para Yumi. Para Shihori também.
— Não é como se eu-! — Haruhiro sentiu sua voz aumentando e, conscientemente, se forçou a recuar. — … Não é como se eu fosse bom em falar também. É que, no momento… foi tudo tão de repente.
— Se é assim, então era a mesma coisa para todos~yan.
— A mesma coisa… para todos nós. Eu acho que isso é verdade.
— Então, não é de todo mundo? — E Yumi começou a chorar. — Não é culpa de só de uma pessoa que as coisas ficaram assim~yan. Não foi só você, Haru, ou Ranta, ou Moguzo. É culpa de Yumi e de Shihori também~yan. Yumi está errada? Nós somos companheiros de equipe, certo? Contando Manato, nós seis éramos amigos de verdade. Yumi está errada?
— … Não, você não está.
Ela está certa, pensou Haruhiro. Yumi não é a única que está errada. Eu, também, estou.
Manato havia dito uma vez que eles se tornaram uma boa equipe. Ele próprio tinha concordado junto com, Manato, Haruhiro, Ranta, Moguzo, Yumi, e Shihori. Os seis, juntos, formavam uma boa equipe. Mesmo que um dos seis não estivesse mais entre eles, não é como se Manato fosse capaz de fazer tudo sozinho. Mesmo se o resto deles contribuísse apenas de forma sutil, os seis, juntos, poderiam realizar coisas que Manato jamais faria sozinho.
Manato certamente entenderia isso muito bem e ele entendeu. É por isso que, mesmo Ranta sendo egoísta, Haruhiro inepto, Moguzo obtuso, Yumi um pouco estranha e Shihori covarde, Manato nunca disse uma única palavra de crítica.
Os cinco eram tão incapazes que nada iria funcionar. Manato ajudou eles, preencheu a lacuna deixada por suas incapacidades. Apenas os seis, juntos, conseguiram algo que pudesse ser chamado de equipe.
Quando coisas ruins aconteciam, era o mesmo para todos eles. Quando uma coisa boa acontecia, isso acontecia com todos eles. Quando as coisas ficavam difíceis, ficava difícil para todos. Nenhum deles era forte o suficiente para suportar tudo sozinho, mas eles podiam, pelo menos, partilhar o sofrimento e a dor.
Haruhiro não tinha pensado em compartilhar nada. Foi só ele, Ranta e Moguzo. Três meninos reclamando uns com os outros sobre bebidas, todas as noites, apenas para seu próprio bem. O que Yumi e Shihori pensaram ao ficar de fora? É claro que elas teriam pensado que eram indesejadas, fazendo elas se sentirem insuportavelmente tristes e solitárias.
— Yumi, desculpa.
Assim que as palavras saíram de sua boca, Haruhiro finalmente entendeu porque Manato usou suas últimas palavras para se desculpar com ele.
Naquele dia, Manato tinha elogiado todos, exceto Haruhiro. Para Haruhiro, ele não disse nada e, por isso, Haruhiro ficou triste. Isso estava na mente de Manato o tempo todo, com certeza.
— … Manato.
De repente, ele não podia ver. Eram lágrimas, algo veio rapidamente, como transbordaram deste jeito? A pequena aparência de calma que ele mantinha foi varrida em um instante. Os joelhos de Haruhiro cederam e ele caiu, olhando para o chão.
Manato estúpido. Por que você estava se desculpando? Por quê? Não havia necessidade. Eu não queria…
Ele não estava certo. Esse não era o momento. Manato, provavelmente, não tinha noção de que estava morrendo. Sem dúvidas que, mais do que se desculpar com Haruhiro, ele queria dizer outras coisas mais importantes. Ele não devia usar suas últimas palavras em um pedido de desculpas. Mas, é claro, Manato usou.
Manato disse à Haruhiro: “Eu não acho que eu era o tipo de pessoa que tinha um monte de amigos”. Mas ele estava completamente errado sobre isso. Completa e indubitavelmente errado.
Por quê? Por que ele morreu? Por que ele tinha que morrer?
— Haru… — Yumi se agachou e o abraçou. Ela estava chorando também.
Chorando, ela gentilmente acariciou suas costas, os ombros e a cabeça. Suas bochechas estavam molhadas de lágrimas e ele podia ouvir uma respiração rouca perto de sua orelha. Haruhiro não sabia quanto tempo ficaram assim, chorando, enquanto se abraçava com ela.
Quando finalmente recuperou a calma, sentiu-se vazio, como se tivesse chorado todas as lágrimas que ele nunca chorou. Yumi, também, tinha parado de chorar há algum tempo, mas, mesmo assim, ainda estavam abraçados. Era estranho… como se eles não pudessem encontrar uma razão para se separarem. Eles se abraçaram apenas por abraçar, pelo simples ato em si.
Mas foi bom. Seu corpo era macio e quente…
Não, não, não, não. Ele não podia deixar sua mente vaguear por essas bandas. Ficaria estranho. Talvez até mais do que estranho. E, naturalmente, Yumi não estava pensando nada disso. Eles eram companheiros de equipe. Amigos, apenas Amigos.
— Haru.
— Ss-sim? — Ouvi-la dizer o seu nome foi tão inesperado e perturbador que ele mal conseguiu guinchar uma resposta. Ele amaldiçoou a si mesmo por ficar em pânico numa situação dessas.
— Yumi…. — Ela continuou.
— Sim?
— Yumi vai tentar o seu melhor. — Disse ela, abraçando Haruhiro ainda mais firmemente.
E, embora Haruhiro admitisse que se sentia bem, também desejava que ela não fizesse isso. Espera. Onde ela ia “tentar o seu melhor”?
— Tentar o seu melhor com o quê? — Perguntou.
— Com Mary. Yumi não vai se assustar com ela, mas Yumi vai tentar o seu melhor para se dar bem com Mary-yan.
— Ah sim. Certo. Se você pode fazer isso, vai ajudar… eu acho.
— Yumi não sabe se ela vai conseguir. Na verdade, Yumi está um pouco preocupada~yan. Yumi pensa que Mary pode odiar ela.
— Sério? Eu não acho que ela odeia você, mas…
— De vez em quando, Yumi e Mary vão fazer contato com os olhos, e seus olhos são super frios. Seus olhos e sua expressão são tão assustadores~yan.
— Não se preocupe, não é só com você. Ela é assim com todos.
— Sério? Se é assim, tudo bem~yan. Mas Yumi tem um sentimento de que não será fácil.
— Sim. Você provavelmente está certa.
— Pode Yumi realmente conseguir? Yumi vai tentar o seu melhor. Mas, Haru, pode Yumi pedir um favor?
— Um favor? De mim? O quê?
— Yumi descobriu que ser abraçada é super calmante~yan. Abrace Yumi mais apertado e diga para ela tentar o seu melhor.
— Está… realmente bem? — Ele perguntou, incerto. Seria um abraço de incentivo, nada de mais. Não como se quisesse dizer mais alguma coisa; era, puramente, um abraço de encorajamento. Não tem problema. — Se você quer…
Ele a puxou para mais perto, abraçando-a com toda a sua força, até que um suspiro escapou de seus lábios. Ele queria dizer a ela para parar com isso, já que estava abraçando-a com o único propósito de encorajamento e, ao mesmo tempo, sentiu uma espécie de excitação começando a dominá-lo, ameaçando esmagá-lo para fazê-lo explodir.
Não se entregue! Não perca! Ele pensou consigo mesmo. O que ele tinha a perder? O que ele tinha a ganhar? Ele não fazia a mínima ideia. Só tinha uma sensação de que, se perdesse aqui, seria ruim. Seria muito ruim.
Ele fechou os olhos. — Faça o seu melhor, Yumi.
Yumi não disse uma palavra, ela simplesmente assentiu.
Haruhiro abriu os olhos e, instantaneamente, congelou. Shihori estava de pé na extremidade oposta do corredor.
— Er…
— Hm? — Yumi olhou dessa maneira também. — Ah…
— Uhh… umm… uh… — Shihori começou a brincar com os pés, olhando em pânico.
Mas foi o mesmo para Haruhiro e Yumi. Por quanto tempo ela esteve ali? Por que não notaram a presença dela?
Realmente, não era o que parecia! Mas isso não era bom. Não importa o que ele dissesse agora, era tarde demais. Eles foram flagrados em uma posição que, naturalmente, levaria a um mal-entendido. Ele precisava esclarecer e precisava fazê-lo agora.
Haruhiro e Yumi saltaram para longe um do outro.
— Não é o que você- — Ambos disseram em coro perfeito e, em seguida, olharam um para o outro ao mesmo tempo.
— Eu sinto Muito! Eu- — Shihori começou a se afastar. — Eu não sabia! Meu senso para essas coisas é péssimo, então eu não percebi! Eu… Eu, sinto muito!
— Não, não é o que parece, não é o que você pensa! — Disse Haruhiro.
— Certo, Haru! Não é o que você pensa~yan! Yumi apenas pediu para Haru abraçá-la apertado, isso é tudo! — Acrescentou Yumi.
— Yumi, explicando assim não está ajudando!
— Oh? Por quê?
— Sinto muito, eu vou sair agora! — Disse Shihori, correndo o mais humanamente rápido que pôde.
Yumi corou e colocou suas mãos no rosto. — Shihori e Yumi compartilham quartos, Yumi vai explicar tudo para ela mais tarde~yan. Vai ficar tudo bem.
— Eu vou… Deixá-la para você. — Haruhiro suspirou, esfregando a parte posterior do pescoço.
Ele olhou para Yumi por um breve momento e, por algum motivo, sentiu-se envergonhado. Ele realmente não deveria abraçar uma menina se não tem nenhum sentimento especial por ela, mas acabou foi o que acabou de fazer. O que ele faria se, por conta disso, sentimentos especiais, que não estavam lá, começassem a brotar?
Não, de jeito nenhum isso vai acontecer, disse a si mesmo.
