Capítulo 13
Mea culpa
Tradutor: Zekaev
A partir daí, já nem dava para chamar de luta, era uma massacre.
Pego entre Haruhiro e os outros, no grupo de interceptação da Tempestade Verde e da Águia Selvagem, os orcs do lado norte caíam como moscas.
Quantos tempo demorou para eliminá-los? Foi rápido. Em poucos minutos, mais de vinte orcs transformaram-se em cadáveres silenciosos.
Eles eram seus inimigos, por isso, Haruhiro não sentia pena, mas aquilo ainda lhe parecia deveras brutal. Já se acostumou com o cheiro da morte, porém, em meio a tantos corpos, ficava difícil lidar com a situação.
As Anjos Selvagens, lideradas por Kajiko, passaram pelo grupo de Haruhiro.
As estolas de penas ao redor de seus pescoços, seus capacetes e chapéus, até mesmo as penas de suas bandanas… todas elas estavam tingidas com o sangue de seus inimigos.
— … Incrível …!
Ranta está olhando com admiração, mas… isso não é incrível, é assustador, Haruhiro pensou.
— Britney! E o portão principal?! — Kajiko perguntou em um tom ameaçador, mas Bri – ainda na parede leste – simplesmente balançou a cabeça.
— Isso é ruim! Parece que eles não vão conseguir! Não dá pra ver daqui, mas acredito que devem estar travando uma batalha difícil!
— Nesse caso, estamos por conta própria! — Kajiko disse, abrindo bem os braços. — Ouçam, soldados voluntários! O Exército da Fronteira pagará cem moedas de ouro pelo guardião, Zoran Zesh! Além disso, há mais cinquenta moedas de ouro pela cabeça de Abael, um feiticeiro que já matou muitos dos nossos usando magia negra!
— Cem…!
— Cem moedas!
— De ouro?!
— Cinquenta?!
— Cenzinho, é?!
— Ela disse cem… de ouro?!
— Caramba!
— Isso é sério…?!
As torres de vigia lançaram uma chuva de flechas sobre as forças da Tempestade Verde e a Águia Selvagem, foi como um balde de água fria que dissipou toda a excitação do momento. Aparentemente, vários soldados voluntários foram atingidos. O “Sr. Risonho”, do grupo da Choco, acabou com uma flecha espetada no ombro e o “Sr. Sacerdote” tentava removê-la.
— Es-escudos…! — Haruhiro rapidamente pegou um escudo orc. No entanto, parecia que ninguém estava mais se preocupando com as flechas. Os soldados voluntários carregavam um olhar diferente agora. Queriam subir as escadas do castelo e invadi-lo a todo custo. Afinal, cento e cinquenta moedas de ouro são mais que tentadoras. Entende?! Estamos falando de CEN-TO-E-CIN-QUEN-TA moedas de O-U-RO.
Cento e cinquenta ouros no total. Essa é a única coisa em suas mentes agora? Claro, cento e cinquenta ouros é uma quantia irresistível. É tanto dinheiro que nem parece real.
Haruhiro ouviu um grito de guerra familiar ecoar pelo pátio.
Foi Ron. — Entrem naquela fortaleza! Rápido! Nós seremos os primeiros!
Observando das escadas, Haruhiro viu a imponente barreira inimiga sendo empurrada para trás com a mesma frequência que os soldados voluntários avançaram e, finalmente, a defesa dos orcs foi quebrada.
As forças da Tempestade Verde e da Águia Selvagem se misturaram, apressadamente subindo as escadas externas. Uma cena comparável à uma enxurrada, porém, de corpos humanos. Flechas caíam das torres de vigia, mas o fluxo para dentro do castelo era imparável.
As vontades dos indivíduos já não importavam. Nenhum deles conseguia parar. Haruhiro também foi empurrado. Seus camaradas estavam ao seu lado. Até aí, de alguma forma, ele ainda tinha certa noção dos acontecimentos.
— Estou indo para o portão da frente! — Britney gritou. — Vou verificar a força principal! Kajiko, conto com você!
— Britney, quando você voltar, nós já… !
— Não os subestime! Ajam com cautela! Vocês já não são mais crianças!
— Pode dizer àqueles inúteis do exército regular que a recompensa é minha!
— Pra ser sincero…! Só não seja descuidada, não agora!
Bri está indo para algum lugar? Haruhiro indagou. Ele disse algo sobre o portão principal. Acho que está tudo bem. Que seja. Não importa. Eu tenho preocupações maiores agora. É a escada externa. Finalmente, estamos na escada externa. No entanto, isso aqui está um pouquinho congestionado demais, não?!
Será que dá para subir assim? Tem muita gente, acho que não, mas ainda conseguimos nos mover um pouco. Espere, por que estamos indo tão rápido? Até que não demorou muito. Já estamos no telhado do castelo.
Uaaau. Flechas. As torres de vigia. Há flechas vindo de três direções. Agora sim, isso definitivamente é uma verdadeira chuva de flechas. É como uma torrente.
De alguma forma, Haruhiro conseguiu levantar seu escudo – isso lhe garantiu a proteção necessária enquanto ia rumo à entrada da fortaleza sendo alvejado pelos arqueiros nas torres.
Pouco antes de ser empurrado para dentro alcáçar, ele jogou fora seu escudo.
Moguzo. Aqui. Ranta. Ali. Yumi. Shihori. Mary. Perfeito.
Talvez ele pudesse ver o rosto da Choco – doce ilusão. Estavam tão apertados naquele tumulto que era difícil discernir qualquer coisa. Sequer era possível ter uma noção do interior do forte. Por enquanto, podia apenas seguir o fluxo.
Ele correu por um corredor e desceu algumas escadas. Do terceiro andar para o segundo, depois para o primeiro.
O primeiro andar da torre de menagem tem um teto alto e largo. Tão largo ao ponto de fazer o andar inteiro parecer uma área aberta.
Havia escadas nos quatro cantos, a que Haruhiro e os outros desceram provavelmente ficava no sudeste. Se ele estiver certo, teriam que subir as escadas do primeiro andar para chegar às torres de vigia. Isso significa que os outros três conjuntos de escadas, no noroeste, sudoeste e nordeste, deveriam levar às torres de vigia.
Também havia quatro portas nas paredes, todas abertas. Eles já foram revistadas, ou não? Ele pisou, ou pulou tentando desviar dos cadáveres de orcs no corredor, mas isso não era nada comparado com o primeiro andar. No tempo que Haruhiro e os outros levaram para chegar aqui, uma batalha feroz foi travada.
Havia dez – não, mais do que isso – orcs mortos, além de um considerável número de soldados voluntários caídos. Alguns estavam sendo tratados por seus camaradas, enquanto outros não – ou seja, morreram.
— E agora? Qual caminho nos levará à glória? — Kajiko ponderou.
Kajiko e as demais Anjos Selvagens pareciam prontos para atacar a torre noroeste. A equipe do Renji escolheu a torre sudoeste. Tendo isso em vista, a maioria dos outros soldados voluntários se esgoelava em direção à torre de vigia do nordeste.
— O que vamos fazer?! — Ranta ergueu a viseira do capacete, olhando de um lance de escada para outro. — Duvido que possamos competir com Kajiko ou Renji, então devemos ir para a torre nordeste como os outros…?
— Nah- — Haruhiro bodejou.
Eu preciso decidir.
Antes que a nuvem de indecisão tomasse sua mente, Haruhiro se adiantou. Foi algo como um palpite. — Vamos com o grupo do Renji.
— Você é burro?! Se formos para o mesmo lugar que aqueles caras, não há a menor chance de conseguirmos a cabeça de um dos líderes, e você sabe disso! — Ranta protestou.
— Yumi e todos não seriam capazes de tirar suas cabeças de qualquer maneira, sabe. — Yumi comentou.
— Sua idiota! Retardada! Você tem que mirar mais alto! — Ranta berrou.
Shihori caiu na gargalhada. — Duvido que alguém que acredite que, se fôssemos como o grupo do Renji, não seríamos capazes de pegar a cabeça de um líder orc, provavelmente diriam que…
— Sim. Muito bem, senhorita. Acho que você está certa. Beleza! Vamos roubá-la, então! — Ranta declarou.
— Hahaha… — Moguzo riu.
— Covarde. — Marry disse friamente.
— Eu não vejo nada demais nisso! — Ranta disse com um sorriso. — Para um Cavaleiro do Terror, essas palavras são o mais alto dos elogios! Muahahaha! Ó Escuridão. Ó Senhor do Vício. Convite Sombrio!
Por trás da cabeça de Ranta, um pouco acima dele, algo como uma nuvem roxa negra apareceu. A nuvem surgiu como um vórtice e logo tomou forma.
Era como um torso sem cabeça, com dois orifícios para os olhos em seu peito e uma boca em forma de fenda embaixo – o familiar de um cavaleiro do terror, um demônio.
— … Kehe… Kehehehehe… Kehehehe… Kehehehehehehehe… Kehe… Ranta morre.
— Em vez de “Morra Ranta”, você disse “Ranta morre”?! Por acaso, você está, de repente, prevendo minha morte, Zodiaczinho?
— … Ehehe… Mate Ranta.
— E agora você está me ameaçando de morte?! — Ranta esbravejou.
— Zodizinho, pata! — Yumi chamou, estendendo a mão.
— … Morra… Feio… — Zodiac proferiu antes de colocar sua mão na dela.
— Ohh! — Yumi chorou. — Zodizinho é um menino tão bom. Mas, sabe, chamar as pessoas de feias é maldade…
— … Kehehe… Desculpe…
— Ficou mansinho agora, hein! — Ranta exclamou.
O golpe cômico de Ranta não obteve reação do Zodiac. Por que até mesmo seu próprio demônio o atormentava?
O grupo da Choco parecia inseguro sobre continuar.
— Vocês podem não gostar desse conselho: precisam se esforçar mais! — Haruhiro os repreendeu.
Não estava claro se eles seguiriam, ou não, o conselho de Haruhiro, mesmo assim, Choco e seu grupo pareciam não querer ir além do primeiro andar. Havia outros grupos que também não planejavam prosseguir. Estariam mais seguros dessa maneira. É uma boa escolha.
Na verdade, Haruhiro e seu grupo estariam melhores se permanecessem no primeiro andar também. Mas esse não era o caso, por quê? Porque eles mataram orcs. Já que perderam a virgindade, estariam deixando que isso lhes subisse à cabeça? Eles acreditavam ser capazes de matar qualquer orc agora?
Haruhiro não pensava dessa maneira. Normalmente, Haruhiro teria, pelo menos, hesitado um pouquinho. Então, por que ele tomou uma decisão tão rapidamente?
Era porque ele sentiu que não seria tão perigoso se estivesse com o grupo do Renji? Provavelmente, ou seja, esse fator contribuiu muito – era inegável.
A equipe do Renji é forte. Se ele ficasse escondido atrás do Renji, é certo que não morreria tão facilmente.
Dito isso, ele não tinha intenção de apenas se esconder. Haruhiro sabia que seu grupo deveria ser capaz de ajudar – é o que ele pretendia.
Foi estranho admitir, mas Haruhiro sentiu um pouquinho de vontade de ajudar Renji. Nada do que eles fizessem seria o fator decisivo na batalha, mas não é como se eles fossem incapazes de, no mínimo, fornecer apoio. Se iam ajudar alguém, ele preferia que fosse Renji. Mesmo que fossem vistos apenas como uma ajuda indesejada, ou tratados como um peso morto. Haruhiro não aceitaria que seu grupo fosse julgado como um bando de incompetentes.
Se Haruhiro estivesse sozinho, não se importaria em ser visto como um inútil. Se zombassem dele, até seria capaz de rir disso. Ele poderia desistir de si mesmo. No entanto, está na liderança de um grupo. Precisa valorizar seus amigos.
Moguzo é um guerreiro incrível. Até Ranta, por mais chato que seja, tem muita tenacidade e acabou se tornando algo único por conta da forma como usa suas habilidades. Yumi sempre foi tranquila, então é uma pessoa fácil de se conviver, Shihori podia parecer medíocre, mas está sempre pensando em seus camaradas, além de ser boa a analisar as situações de maneira abrangente. Mary também trabalha com afinco para fornecer apoio ao grupo.
Manato. Nós nos transformamos em um bom grupo. Embora seja uma pena você não estar aqui conosco. Eu quero levar este grupo até o mais elevado nível. Não há necessidade de pressa, estou certo de que podemos ir além.
— Vaaamooooooss… ! — Ranta gritou.
Com Ranta tomando a frente, Haruhiro e os outros perseguiram Renji. Talvez porque eles não quisessem competir com o Time do Renji, não havia muitos soldados voluntários indo em direção à torre sudoeste.
Renji e seu grupo subiram as escadas rapidamente – Haruhiro e os outros os seguiram.
— Os olhos de Yumi estão girando e girando! — Yumi disse enquanto sorria.
Eles podiam ouvir ruídos estridentes vindos de cima. O som da batalha.
— Tiramos a sorte grande?! — Alguém gritou.
Havia soldados voluntários agrupados perto do topo da escada.
Cinco deles. Um grupo, hein.
— O que você está fazendo?! — Ranta berrou.
— Mesmo se quiséssemos… não podemos… a situação ficou caótica lá! — Um soldado voluntário, com os olhos arregalados, explicou.
— Você é burro?! Se está caótico, então é um motivo a mais pra entrar! — Ranta vociferou, empurrando Zodiac para frente. — Vai, Zodiac! Vai lá e volte para nos contar o que está acontecendo!
— … Nnnnnn… Não, não, não, não, não, não, não… Kehehehehehehehehe…
— Por que não?! — Ranta gritou.
Haruhiro estalou a língua. — Esqueça! Eu vou! Você não se sente mal pelo Zodiac?
— Como é que é?! O Zodiac é meu, então posso fazer o que quiser com ele!
— … O que… Quem você está dizendo que é seu… ? Eu não sou seu… Você é burro… ? Morra…
— Se eu morrer, você desaparece! Tem certeza que é isso que quer?! — Ranta gritou.
— … Eehehehe… Se você morrer… Eu… E-e-eu não poderia estar mais feliz… Ehehehehehe…
— Whaaa.
Empurrando Ranta e passando entre os soldados voluntários que estavam à frente deles, Haruhiro colocou a cabeça para fora da escada.
— Uau!
Eles estavam falando sério.
Isso é mesmo uma situação caótica.
A sala redonda no topo da torre de vigia era mais larga do que ele esperava, com um teto bem alto. À primeira vista, havia mais de dez orcs. No centro da sala estavam Renji e Ron, que pareciam estar indo muito bem, mas Chibi, Sasha e Adachi foram perseguidos até a borda da sala.
Chibi balançava seu cajado e, de alguma forma, conseguia proteger Sahsa e Adachi. Os membros da equipe do Renji eram os únicos soldados voluntários ali, e havia apenas um orc caído neste momento.
Haruhiro enfiou a cabeça na escada. — Isso é ruim, pessoal. Nesse ritmo, eu não sei sobre Renji e Ron, mas Chibi e os outros…
Eles precisam salvá-los.
Eles podem fazer isso? Eles?
Era absurdamente presunçoso pensar que podiam intervir. Ainda assim, Renji e seu grupo encontravam-se em apuros. Naquele momento, eram cinco contra dez. Eles podem ser fortes, mas ainda são apenas humanos. Seus oponentes são fisicamente superiores. Entretanto, se o grupo de Haruhiro participasse, a situação poderia mudar – pelo menos em relação a desvantagem numérica.
Primeiro, eles ajudariam o grupo de Chibi. Renji e Ron não precisam de ajuda. Além disso, se Haruhiro e os outros ajudassem Chibi primeiro, consequentemente, seria mais fácil para Renji e Ron também.
— Moguzo, sobe e vai para a direita! — Haruhiro decidiu intervir. — Chibi e os outros estão lá, então proteja-os! Ranta e eu também iremos! Yumi, Shihori, Mary, fiquem de olho na situação e decidam por si mesmos!
— Mm-hm! — Respondeu Moguzo.
— Sim, eles estão praticamente implorando por… — Ranta murmurou.
— Ranta, cara, tente dizer isso na cara do Renji, bem na cara dele! — Haruhiro atirou de volta.
— Eu não posso, você sabe disso! Idiota!
— Você é o idiota aqui! Vamos!
Haruhiro, Moguzo e Ranta subiram – nessa ordem.
Ele viu.
Uma linha brilhante.
Tocou em algo. Um ponto vital.
Quando ele puxou para fora, o orc desabou sem emitir um ruído.
— … o que é que foi isso? — Sasha perguntou incrédula.
Haruhiro balançou a cabeça em resposta. Afinal, nem ele sabia o que era aquilo de fato.
— Obrigado…! — Moguzo bradou, usando seu Golpe de Retribuição para afastar um orc prestes a atacar Chibi-.
— E-ei, você! Zodiac! Ajude, sim! Você não está sendo justo… !
— … Huhehehehehehehehehehehe… Nnnnnnn… Não… Sua lagartinha covarde… Morra…
— Merda… ! Tem pouco espaço aqui, aí fica difícil!
Ranta corria para evitar um combate direto. Ainda assim, estava lidando com um orc sozinho.
Yumi, Shihori e Mary subiram também.
— Renji! — Haruhiro forçou um orc a recuar com uma Pancada, Sasha o finalizou.
Sasha era boa em usar Pancada. Haruhiro tem mais força muscular, entretanto, ela é mais flexível e se move com muita mais destreza, além de ter um ritmo indiscutivelmente melhor.
— Chibi e os outros estão bem! — Haruhiro gritou.
Renji olhou para Haruhiro, sorrindo com franqueza.
Ahh.
Ele é mesmo incrível.
Renji usou seu corpo inteiro para fazer a espada de Ish Dogran girar. Chegava a parecer algum tipo de dança. Que técnica foi essa? Foi uma habilidade?
Com dois cortes seguidos, Renji derrubou dois orcs em sequência. Ron nocauteou um também, cortando-o num golpe com força total. Por fim, Renji decapitou outro.
— Zeel mare gram fel kanon.
Adachi usou o feitiço Sangue Gélido e congelou os pés de um orc. Apesar disso, o orc ainda continuou, porém, aos tropeços
— Zeel mare gram tera kanon. — Sem perder o ritmo, Adachi começou a entoar seu próximo feitiço.
Era o Orbe de Gelo. O elemental de gelo solidificou instantaneamente a água na atmosfera. O cristal esférico resultante estraçalhou-se lindamente no rosto do orc.
Pareceu doloroso. O orc caiu de joelhos.
Sem demora, Sasha avançou. Ela passou pelo orc e, imediatamente, enterrou sua adaga no pescoço do orc.
Então você também pode usar uma Punhalada desse jeito?! Haruhiro pensou. Que combinação! Bem, até que não estamos indo mal.
— Ohm rel ect nem das! — Shihori parou um orc com Ligação Sombria, Mary desferiu uma forte pancada com seu cajado, Yumi o esfaqueou com seu facão para fazê-lo recuar e, por fim, Moguzo.
— Hunghh… !
Ele não usou o Golpe de Retribuição, entrou esticando o braço para executar um golpe de uma mão. Foi o Furor Rompante.
A garganta do orc simplesmente foi destroçada. Claro, isso significa que seu pescoço estava quebrado. Sem chances de ele se levantar novamente.
Haruhiro olhou ao redor procurando por mais inimigos
Nenhum.
Todos os orcs foram derrubados.
— Droga… — Ron sacudiu sua espada ensanguentada. — Não precisávamos da sua ajuda.
— Você disse alguma coisa?! — Ranta aproximou-se de Ron de maneira insultuosa, mas um simples olhar foi o suficiente para fazê-lo recuar na velocidade da luz.
— … E-eu sinto muito. Não vai acontecer de novo.
— Covarde… — Mary murmurou.
— Wimpy, wimpy, wimpy… Kehehehehehehe… Wimpy, lagartinha… Ehehe… Lagartinha, lagartinha, lagartinha… Lagartinha…
— … uma lagarta de verdade seria mais útil, você não acha? — Shihori perguntou.
Apesar de não chamar muita atenção, Shihori pode ser muito cruel, Haruhiro pensou. Eu concordo com ela, no entanto.
— Já que lagartas são fofas, sabe. — Yumi assentiu.
Não posso concordar com isso.
— Você ajudou. — Disse Renji.
Cara, até a voz do Renji é legal. Uma voz calma e segura. É intimidante, mas há uma vaga tristeza aí. Quando eu o ouvi dizendo que ajudamos, com aquela voz – Honestamente, foi avassalador.
Isso o frustrou, então Haruhiro tentou fingir calma, encolhendo os ombros. — Eu te devia isso.
— Agora estamos quites. — Disse Renji.
— … estamos? — Haruhiro balbuciou.
— Sim. — Disse Renji, olhando para Moguzo. — Você. Eu poderia usar você.
— Huh…? — Os olhos de Moguzo se arregalaram, então ele apontou para si mesmo. — Whaaa?! S-S-S-S-Você quer dizer eu… ?! N-Não, isso não é… Uh, eu não sou tão impressionante…
O que ele quis dizer com “posso usar”? Isso pode ter incomodado Haruhiro um pouco, mas tanto Renji quanto Moguzo são guerreiros. “É preciso ser um guerreiro para conhecer um” - ele não sabia se havia uma expressão assim, mas somente guerreiros sabem o que significa ser um guerreiro. Além do mais, ele estava sendo reconhecido por Renji, o cara que tinha a atenção de mais soldados voluntários do que qualquer outra pessoa. Moguzo devia se orgulhar disso.
Moguzo realmente é incrível, Haruhiro pensou. Nosso Moguzo é incrível.
— Mesmo assim […] — Disse Adachi, ajustando a posição dos óculos, assumindo um tom calmo e sarcástico. — […] parece que a “cereja do bolo” não está aqui. Esse seria o melhor momento para descansar, Renji?
Renji não respondeu. Em vez de uma resposta, ele se virou para as escadas. Foi então que aconteceu.
— Ei! Aqui embaixo… ! — alguém disse.
Alguém. Não da equipe Renji ou do grupo de Haruhiro.
Haruhiro torceu a cabeça. — Embaixo… ?
Renji disparou.
— Haruhiro! — Ranta deu um tapa nas costas de Haruhiro. — Vamos!
O que poderia ser? Estranho. Meu coração. Está batendo freneticamente. Embaixo. O que está acontecendo? Embaixo. Espere, lá… ?
Eles desceram a escada em espiral.
Parecia que seus ouvidos foram tapados. Estranho. Por quê? Por que ele estava tão abalado? Ele não entendeu. Qual foi a razão? Por quê? Haruhiro perdeu a cabeça a ponto de não conseguir entender nada.
Ele ficou instável, corria quase que aos tropeços.
Mesmo assim, seu corpo continuou se movendo, como se estivesse no modo “piloto automático”.
Para baixo.
Para o primeiro andar.
Eles estavam mortos.
Soldados voluntários.
Muitos deles.
Havia um grande número de cadáveres.
Também havia orcs. Como? De onde vieram esses caras? Eram mais do que apenas um ou dois. Havia uma tonelada deles.
No meio, se destacava um orc maior que todos os outros. Este usava uma armadura e um elmo dotados de um vermelho profundo, com o cabelo tingido de preto e dourado. Para compensar, carregava duas espadas – indiscutivelmente amedrontadoras, duas cimitarras que alardeavam o perigo do mais alto nível – uma em cada mão, pronto para o combate.
Zoran.
Zoran Zesh.
Não havia nenhuma dúvida. Ele combina com cada característica que Bri descreveu. Este é o Guardião, o chefe do Clã Zesh, aquele cuja cabeça vale cem peças de ouro.
O sangue dos soldados voluntários escorria pelas cimitarras.
Esse é o “Sr. Agradável”, Haruhiro percebeu. Do grupo da Choco.
O “Sr. Agradável” tentou bloquear a cimitarra de Zoran com sua espada. Porém, foi lento demais.
— Ahh! — O “Sr. Agradável” soltou um grito que soou um pouco patético. Ambos os braços foram decepados ao mesmo tempo.
Então, sem demora, a cabeça do “Sr. Agradável” rolou pelo salão.
Um ato banal.
O que é isso?
O que está acontecendo?
Onde está aquele sujeito risonho? O Sacerdote? A amiga da Choco, a maga? Eles não estão aqui?!
Não, não mais, não exatamente.
Eles caíram.
Todos foram cortados, ou melhor, esquartejados.
O “Sr. Altão” mal conseguia se manter de pé, lutando de costas contra a parede contra um orc que não era Zoran. Ao lado dele, Choco.
Choco está aqui.
O “Sr. Altão” tentava proteger Choco, no entanto, estava claramente levando uma surra e não podia protegê-la totalmente.
Forte. Esses orcs são fortes. Eles não são nada parecidos com os orcs contra os quais haviam lutado há pouco.
Não era o equipamento, era algo sobre a constituição deles, ou mesmo aquela aura. Eles são totalmente diferentes. Esses são o guardião e seus companheiros mais próximos.
Havia vários orcs sem armadura com um tipo de pote pendurado em seus quadris – talvez sejam magos. Não, não magos – eles são chamados de feiticeiros, certo?
A equipe de Renji já inciara o combate. No entanto, a desvantagem numérica era muito grande e o primeiro andar é desnecessariamente amplo e aberto.
Como estava o Sr. Altão e a Choco?
— Urkh! — O “Sr. Altão” travou as lâminas com um dos companheiros do guardião, mas ele deve ter levado um chute na barriga ou algo assim, porque imediatamente começou a se contorcer.
Ei.
Não.
Você não pode fazer isso.
Você não pode…
Choco tinha sua adaga em posição de combate. Com ambas as mãos no punho e a lâmina apontada para o orc.
A ponta da lâmina estremeceu. Ela estava apavorada.
Não. Isso não vai funcionar.
— Choco! — Haruhiro gritou, começando a correr.
Naquele momento, parecia que Choco olhava para ele. Provavelmente, ela tentou olhar.
A espada do orc afundou no ombro dela.
O orc a chutou para o chão, arrancando sua espada ensanguentada e imediatamente balançando-a para baixo, em cima da Choco.
— Pa-
Uma vez.
Duas vezes.
Três vezes.
Choco.
Ahh!
Choco.
Como? Por quê? Isso não pode…
Não.
Haruhiro agarrou sua cabeça. Ele ouviu uma voz. Ele não sabia o que estava acontecendo, ele realmente não sabia o que era aquela voz. Ele não sabia.
Que diabos foi isso?
