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Capítulo 14:

Mudo, ou idiota?!

Tradutor: Zekaev

Essa máquina de venda automática ficava ao lado da minha casa. Bem perto mesmo, só um ou dois minutos a pé e, se eu andasse um pouco mais, encontraria uma loja de conveniências também, mas não importa a hora do dia, se eu fosse tão longe encontraria conhecidos, e eu meio que não queria encontrar ninguém, então aquela máquina de venda automática era como meu refúgio… Quer dizer, eu digo refúgio, mas não é como se eu realmente quisesse me esconder, ou fugir, não o tempo todo, é que… Bem… Quando eu meio que queria fugir, meio que, como se não aguentasse mais, eu simplesmente saia de casa e ficava ali perto daquela máquina, à toa.

Quando comecei a fazer isso?

Foi no primário?

Deixa eu ver, acho que foi na quinta série, mais ou menos… Acho que foi isso mesmo.

Eu não tinha um quarto só para mim, dividia o espaço com meu irmão, era difícil relaxar, então queria ficar sozinho, eu acho. Mesmo pensando nessas coisas, tenho certeza que meu irmão diria para não ser um pirralho atrevido e me daria um chute, além disso, tenho certeza que houve momentos em que eu queria ficar sozinho.

Então, eu ia na máquina de venda e comprava um suco, às vezes, eu só comprava qualquer coisa, só para comprar mesmo.

Depois de perder um bom tempo olhando para o nada, eu começava a sentir que talvez fosse hora de ir para casa, e eu ia, é isso.

Foi assim no início, mas, uma vez, quando na sexta série, num típico dia quente de verão, eu acho, fui até onde estava a máquina de venda automática, alguém apareceu e eu pensei que talvez devesse me esconder, me senti meio estranho, até pensei em fingir que não a notava, porém, era alguém que eu conhecia, Choco, uma menina que morava perto.

Choco usava um corte curto, um daqueles cortes que deixa os cabelos um pouco abaixo da linha do maxilar. Tipo, sério, ela era assim desde pequena e, não importa onde ou quando, sempre que eu olhasse para um corte daquele, não ficaria surpreso em encontrar o rosto da Choco, isso mostra o quão forte era a conexão entre ela e aquele corte de cabelo.

Ela não era nada sociável, e você nunca poderia dizer exatamente o que se passava da cabeça dela. Na escola e em lugares assim, ela era do tipo que sempre parecia um pouco deslocada. Mas, bem, só um pouco.

Não era como se ela não tivesse amigos nem nada do tipo. Mas, em vez de ser uma amiga realmente próxima de alguém, ela só andava com um certo grupo de pessoas, era mais ou menos isso.

Não sei por que, mas desde a época da pré-escola, eu me interessei por ela. Tipo, “Sabe, tem alguma coisa diferente nela.” Para ser honesto, eu simplesmente não conseguia tirá-la da minha cabeça, porque, bem, acho que você poderia dizer que eu estava apaixonado.

Na verdade, Choco foi a primeira pessoa por quem me apaixonei, desde a pré-escola. Quer dizer, estávamos juntos desde a pré-escola, afinal de contas, e acabamos na mesma classe várias vezes, nossas casas eram próximas, e conversávamos também, porque éramos muito próximos, mas eu nunca confessei meu amor por ela, ou qualquer coisa assim.

Bem, não era como se eu pudesse.

Acho que aconteceu na terceira série. Corriam boatos de que Choco gostava de um tal Kawabe e, quando ficamos sozinhos depois da escola, perguntei a ela se era verdade, simples assim, o mais sutilmente que pude, e ela pensou um pouco e então respondeu: “Sim”…

Meu… Foi como se um caminhão tivesse me atropelado.

Mas foi um atropelamento ‘especial’.

Kawabe era esguio, não exatamente do tipo atlético, estudava piano. Ele veio de, eu acho que você poderia dizer, uma boa educação…

Ah, então é disso que a Choco gosta, pensei. Entendo.

Então é isso.

É isso?

Nah, não pode ser, refleti.

Kawabe era exatamente tudo o que eu não era, mas, na verdade, de vez em quando, tocávamos juntos, e Kawabe sempre foi muito bom nisso. Nunca tive problemas com ele. Me arrisco a dizer que ele estava bem no topo da minha lista de amigos, e eu tinha uma boa impressão dele, então… foi tipo, “Oh, Choco gosta de Kawabe, huh…”

Tipo, “Bem, Kawabe é um sujeito boa pinta, afinal.”

Tipo, “Sabe, eu realmente não sei o que fazer, mas tenho que apoiar”.

Quero dizer, teria sido estranho se ela tivesse se apaixonado por algum estranho, mas este era Kawabe. Kawabe era um cara bom.

Foi o que pensei, então fiz uma sugestão. “Ei, Choco, por que você não dá alguma coisa pra ele, tipo, uma carta ou algo assim? Sabe, os pais deles são bem restritivos, então ele não tem um celular, mas acho que ele pode ler uma carta. Também acho que ele te daria uma resposta. Quero dizer, é do Kawabe que estamos falando. Parece uma boa ideia, não?”

Choco disse que não precisava. Que ela estava bem sem ele. Ela não tinha intenção de fazer nada parecido.

Oh, tudo bem. Entendo. Hmm.

Ela simplesmente gostava dele, só isso.

Essa foi a resposta de Choco. Ela simplesmente gostava dele.

Mesmo assim, você sabe, tentei muitas coisas. Como encontrar maneiras de Choco falar com Kawabe, fiz tudo que pude. Ou tramar para que Choco e Kawabe pudessem ficar sozinhos. Quando eu olho para trás agora, era tudo muito flagrante e estranho, mas eu estava fazendo isso com frequência naquela época. Quer dizer, Kawabe, ele era um cara legal, e Choco… Eu adorava a Choco.

De qualquer forma, durante o verão em que eu estava na sexta série, Choco veio até a máquina de venda automática, e quando ela me chamou para perguntar o que eu estava fazendo, respondi: “Oh, nada, estou apenas passando um tempo aqui.” E Choco, por conta do calor, queria uma lata de refrigerante bem gelado, mas não tinha nenhuma na geladeira em casa, então ela veio aqui para comprar uma, por isso, bem, acabamos conversando um pouco, tipo, dez, quinze minutos e, depois, quando voltava para a máquina de venda, às vezes, a encontrava lá.

Choco costumava comprar um refrigerante gelado ou, nos dias frios, uma lata quente de mingau de milho.

Ela reclamava que o refrigerante incomodava sua garganta, mesmo assim o bebia, ou chamava mingau de milho de “minguilhinho” ou dizia “Quente, quente” e soprava para esfriar, eu amava essas coisas nela, mas, sei lá, não é que eu a amasse muito… Bem, na verdade, era inevitável – um amor natural – sabe, estava lá, como o ar, tipo, “Bem, sim, é claro que a amo”. E sempre foi assim.

Choco era o tipo que costumava se apaixonar por garotos. Ela não deixava transparecer, no entanto.

Ela mesma disse que normalmente começava com um pensamento vago – “Ei, ele é legal” – e, não muito tempo depois, se pegava pensando naquele cara o dia todo, então percebia: “Estou apaixonada, hein”. E, enquanto ela pudesse continuar pensando isso, permaneceria apaixonada.

Ela não queria sair com eles?

Quando perguntei isso, ela respondeu que não estava completamente desinteressada, mas que não tinha total certeza sobre. Acho que eu era assim também.

Já que eu amava a Choco, pensei que seria bom sair com ela, se pudesse, mas Choco estava apaixonada por outro cara. Quando eu perguntava por quem estava apaixonada agora, ela sempre me respondia com sinceridade. Então eu pensava: “Bem, você sabe, mesmo que ela não pretenda fazer nada a respeito, espero que eles possam ser amigos, ou que possam se conhecer melhor”… E, de alguma forma, eu acabaria tentando fazer isso acontecer.

Embora Choco nunca tenha me pedido, eu fazia isso por conta própria.

É claro que sempre me passava pela mente: “Por que estou fazendo isso?”

Quer dizer, pensei muito nisso; eu também sabia que estava sendo um idiota.

Choco era anti-social e meio inexpressiva, mas, quando falava com um cara de quem gostava, ficava animada e, quando a conversa acabava, ela ficava olhando para o nada, ou seu rosto corava um pouco.

Quando penso “Ah, Choco está feliz”, isso me deixa feliz também.

Não sei como explicar, mesmo a conhecendo há muito tempo, não sabia como fazê-la feliz.

Choco era muito misteriosa. Ela não lia, não ouvia música, mal assistia TV e, nas raras vezes em que encontrava algo parecido com um hobby, se cansava rapidamente.

Quando eu perguntei a ela: “Não há nada que você realmente goste?” ela respondeu imediatamente: “Sim, não há nada.”

Ela era difícil de entender, e isso só aumentava meu interesse por ela, eu queria fazê-la feliz, vê-la sorrir, mas simplesmente não conseguia descobrir como.

Essa era a Choco que eu conhecia.

Então, não importava o preço, eu queria fazer Choco feliz.

Embora, sim, fosse um pouco doloroso.

Novamente, naquela noite, enquanto eu estava sentado em frente àquela máquina de vendas, Choco apareceu.

Eu meio que tinha uma vaga sensação de que ela viria, porém,na maioria das vezes em que eu tinha essa sensação, ela acabava não vindo. Entretanto, naquela noite, Choco realmente apareceu e, na minha mente, eu queria gritar “Sim!” e bambeei meu braço, mas me contive.

Com uma calma fingida, cumprimentei-a com um “Oi” e Choco ergueu a mão direita em resposta, dizendo “Oi”.

A maneira como ela falava e seus pequenos gestos eram super adoráveis ​​e eu pensei: “Sim, é isso”, reafirmando para mim mesmo que eu a amava, mas agora Choco gosta desse cara na nossa classe, um cara que tinha um nome incomum, Hidemasa… Esse Hidemasa era um cara legal e com uma boa aparência, adimito que o Choco tinha bom gosto para homens.

Como devo dizer?

Ele era um daqueles caras que não eram muito populares com as garotas nem nada, mas, se você olhasse para ele, certamente pensaria: “Mas ele parece um cara bom, sabe? Por que as meninas não veem isso?” Pois é, elas viam, e sempre havia uma, ou duas – talvez até mais – garotas secretamente apaixonadas por ele. Esse tipo. Choco sempre se apaixonou por caras assim.

Tipo, “Sim, até eu posso entender o porquê”.

Tipo, “Bem, se for ele, então já era.”

Claro que eu gostaria de apoiá-la, e apoiei. Quer dizer, eu não era páreo para caras assim. Eu começaria a me antecipar, pensando coisas como: “Ele poderia fazer Choco feliz.”

Choco comprou um refrigerante. Uma daquelas bebidas mistas de lima e limão. Ela o abriu com o puxador e tomou um gole, fez uma pequena careta, deixando escapar um gemido.

Minha garganta dói.

Ei. — Eu disse.

Hm?

Se dói, por que continua bebendo? Eu perguntei.

Porque eu quero beber.

É claro.

Mas, você sabe, beber isso com frequência provavelmente faz mal à minha saúde. — Acrescentou ela.

Pode ser. Os atletas não podem beber, ouvi dizer. Refrigerante.

Oh, entendo. — Disse ela. Não que eu seja atleta.

Bem, acho que está tudo bem, então. — Eu disse.

É só de vez em quando.

Você fala isso, mas sempre te vejo bebendo um desses.

Mas eu só bebo aqui. — Ela se defendeu.

Entendi.

Tentei contar a ela que fui ao karaokê com o Hidemasa recentemente. Choco não parecia interessada. Ela também parecia estar fingindo desinteresse enquanto ouvia com atenção.

Achei que, sim, ela devia estar ouvindo, então contei a ela sobre as músicas que Hidemasa cantou. Tipo, a maioria das canções de ídolos pop que eram as estrelas do momento, e ele parecia estar tentando satisfazer os gostos de todos. Por isso, eram músicas que todos conheciam, então todos realmente se interessaram por elas.

Falei sobre como Hidemasa, às vezes, podia ser assim. Quando eu me senti um pouco exausto e fiquei quieto, Hidemasa puxou conversa comigo porque estava preocupado. Falei sobre como o Hidemasa pode ser um cara incrível.

Eu. Disse Choco, falando de repente. Não consigo ser tão atenciosa nem cuidar de outras pessoas, mas acho que eu posso gostar de alguém que faz essas coisas.

Oh. — Eu disse. — Faz sentido. Tipo, buscar nos outros o que você falta em você?

Você acha que eu também não tenho o mínimo de consideração pelos outros, Hiro? Ela perguntou.

Não, não é isso. Você não faz coisas que deixam as pessoas desconfortáveis, não é?

Talvez não, eu acho.

Sim, foi o que pensei.

Você também não, Hiro.

Eu estava surpreso. Mesmo? Huh? Estou conseguindo ser atencioso?

Como você é para mim?

Hmm. Bem, nós nos conhecemos há muito tempo, afinal.

Você não tem uma, Hiro? Ela perguntou.

Huh? Um o quê?

Uma pessoa que você ama ou uma garota em quem está interessado.

Eu não sabia o que dizer e pensei muito, meu cérebro disparou enlouquecidamente, e achei que essa poderia ser minha grande chance de contar a ela, mas então pensei: não, não era minha chance, como poderia ser, e pensei melhor.

Amo Choco, mas não é bem assim, pensei.

Poderia ser, mas não foi.

O que foi isso?

Parecia que eu já havia ultrapassado esse ponto. Como se tivesse transcendido isso.

Eu não me importava comigo mesmo e era feliz enquanto Choco estava feliz. Pareceu estúpido e, se você me perguntasse se eu realmente me sentia assim, eu não saberia a resposta.

As coisas estão bem do jeito que estão. Isso é o que eu devia estar pensando.

Se eu mantivesse a mesma distância que sempre mantive, ainda poderíamos conversar assim às vezes. Se Choco arranjasse um namorado algum dia, isso poderia mudar, no entanto. Se aconteceu, aconteceu. Isso poderia ser bom à sua maneira, foi o que eu senti.

Quer dizer, Choco sempre amou outra pessoa, e eu sempre a observei, por mais doloroso que fosse, eu já estava acostumado.

Eu amo Choco, apesar de tudo.

Eu não. — Eu disse. Se essa pessoa existisse, eu diria a você quem é.

Não que eu esteja interessada. — Disse ela.

Uau. Você é horrível. Depois de todas as vezes que te ouvi falar sobre o seu.

Você é um fracote sem o mínimo de força de vontade. Disse ela.

… Você disse algo?

Sim. Eu disse.

Eu te ouvi…

Eu me perguntei o que aquele insulto poderia significar.

Embora, talvez, Choco pudesse já ter percebido que eu estava apaixonado por ela.

Ela seria capaz de descobrir isso?

Choco se agachou ao meu lado. Seu ombro estava próximo ao meu, ela olhava para baixo.

Algum dia, Hiro, se encontrar uma pessoa que você ama…

— … Sim?

— … você vai me contar.

Achei que você não queria saber.

Na verdade, não. — Disse ela. Mas você vai me contar.

Tudo bem, eu conto.

Choco se virou um pouco para me encarar, sorrindo levemente, seus olhos se estreitando um pouco. Hiro, você não mente.

Bem, existe hora e lugar para tudo. — Eu disse. Mas eu não minto para você… pelo menos eu acho que não.

Eu sei.

Eu estou mentindo, no entanto. Provavelmente é uma mentira óbvia.

Ouça, eu… Já faz muito tempo…

Desde que me lembro, eu amo você, e só você.

Mas eu não posso dizer isso.

Tenho certeza que vou passar minha vida inteira sem nunca diz———————

Olá, eu sou o Asu!

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