Capítulo 16.
Último Ato
Tradutor: Zekaev
*Só pra constar, sim, eles conseguiram.*
Haruhiro se lembra de ter tirado sua capa em chamas e a largou sobre um orc próximo, em seguida, ajudou Yumi a se levantar e impeliu-a numa corrida. Ele não se lembra do que aconteceu depois disso, as memórias deste momento resumiam-se em um mero borrão.
Teve um grupo que não desceu até o primeiro andar e permaneceu na escada da torre de vigia, esperando para ver o que acontecia. Depois de tomar o lugar deles, ou melhor, forçá-los a sair, Haruhiro e os outros descansaram um pouco.
Primeiro, Mary tratou os ferimentos graves de Yumi, depois, os de Moguzo. A armadura e o capacete dele achavam-se intactos, mas, após ser atingido diretamente pelo ataque do lança-chamas, não há dúvidas de que ficou com algumas queimaduras.
Ele está bem? Não, impossível sair ileso de uma situação daquelas.
— Obrigado, Moguzo. — Disse Yumi, sentando-se ao lado de Moguzo. — Moguzo, se você não viesse, Yumi acha que ela teria morrido.
— N-Nah. — Disse Moguzo. — Bem… é pra isso que servem os amigos, não?
— Oh, sim. — Disse Yumi. — Isso mesmo, hein.
Ranta estava sentado na escada, com o antebraço apoiado no joelho, em silêncio – terrivelmente silencioso. Mary não falava muito e Shihori manteve-se calada. Haruhiro também não queria se pronunciar.
Isso é ruim, ele pensou.
Isso foi ridiculamente perigoso. O simples fato de todos ainda estarmos vivos é maravilhoso. Um milagre. Se tivéssemos cometido um errinho sequer… mas, não, nós erramos. Provavelmente erramos várias vezes. Então, novamente, independente de termos cometido erros ou não, se a sorte não estivesse do nosso lado, alguém teria morrido. E, se alguém morresse lá, a situação se transformaria num caos completo. Logo um segundo e um terceiro acabariam morrendo também e, em pouco tempo, seríamos aniquilados. Foi sorte. Nós apenas tivemos sorte. É isso.
Recuar.
Mesmo agora, ele não tinha certeza se essa foi a decisão certa. Se um deles caísse durante a retirada, seriam liquidados. Foi por puro acaso que nenhuma fatalidade aconteceu.
Foi bom não ter acontecido nada mais grave, mesmo assim, Haruhiro não podia levar o crédito por isso. Afinal, foi só uma questão de sorte.
— … E agora? — Ranta perguntou em um sussurro.
Ninguém respondeu. O que eles fariam?
E agora? Haruhiro refletiu. É impossível aguentar por mais tempo. Não podemos lutar mais. Isso está absolutamente fora de nosso alcance. Até Renji e seu grupo estão no limite, prestes a cair, isso se já não foram derrubados. A derrota é iminente.
Haruhiro ergueu o rosto. Quando o fez, percebeu que olhava para baixo há algum tempo.
Era o foco dos olhares de seus companheiros. Por quê?
Ah… certo.
Talvez por ele ser o líder? Só porque Haruhiro é o líder desse grupo, então é ele quem precisa decidir qual será o próximo passo?
Bem, mesmo que me perguntem, isso não cabe a mim, pensou ele. Não seja ridículo. Não empurrem isso para mim. Não tenho poder para isso. É muita responsabilidade. Eu não posso, entenderam? Quero dizer, muitos já morreram. Muitas pessoas MOR-RE-RAM. Isso é assustador, vocês não acham? Todas essas coisas. Apenas parem com isso. Morte—-
Ela morreu, não foi, ele percebeu. Choco morreu também.
Todos nós vamos morrer? Renji, primeiro você, depois é a nossa vez, é isso, não é?
Nós vamos morrer, assim como a Choco.
É inevitável.
Acabou. Quero dizer isso a eles, mas não consigo. Eu não quero mais. Pare. Não aguento mais ser o líder. Eu não me importo. Façam o que der na telha. Todos vocês podem fazer o que quiserem. Não esperem nada de mim. Nada. Eu não posso suportar esse fardo. Não, eu não posso. Bem, acho que é isso: todos vamos morrer. Não temos escolha a não ser aceitar. Não há nada que possamos fazer a respeito. Se você não gosta disso, então outra pessoa assume a liderança. É só falar qualquer coisa. Diga algo como “Por que não fazemos isso?”, ou me diz o que pode ser feito.
Mas, não, eu não posso falar essas coisas.
Se ele proferisse tais palavras, era mais que evidente o que aconteceria. O grupo iria desmoronar.
Ahh, ele percebeu. Não, não é bem assim. Não mesmo.
No final, tudo se resumia a ele.
Mesmo nessa situação desesperadora, ele queria manter as aparências, parecer legal. Não queria que seus companheiros desistissem ou ficassem desanimados. Haruhiro não era um líder honesto e, provavelmente, jamais seria. Ainda assim, não queria que seu grupo o visse como o pior líder que poderiam ter. Ele não queria ser odiado. Também não queria desistir. Até o último momento, queria que pensassem nele como alguém em quem pudessem confiar.
Há um limite para o quão patético posso me permitir ser, ele pensou. Desistir… ah, que dramático. Tão… tocante. Ridículo. Mas então, isso é tudo que eu consigo fazer? Não sou como o Manato, acho que… bem, acho que é isso mesmo.
— … Vou dar uma olhada pra ver como as coisas estão. — Disse ele.
Haruhiro e seu grupo permaneceram reunidos a uma pequena distância, ainda na escada em espiral. Se ficassem aqui, continuariam a ouvir o estampido da batalha, mas, dessa forma, eles não teriam uma boa noção do que realmente estava acontecendo.
Provavelmente, não saíram dali justamente porque não queriam saber.
Haruhiro sentia o mesmo. No entanto, espreitar as escadas era melhor do que ficar aqui, exposto àqueles olhares fuzilantes, implorando para que ele fizesse alguma coisa. Além disso, a curiosidade lhe corroía a mente.
Haruhiro desceu as escadas e colocou a cabeça para fora. Ele cerrou os dentes.
— … Renji.
A equipe do Renji ainda se encontrava em pleno combate. Ron e Chibi sangravam muito, enquanto lutavam para proteger Adachi e Sasha, ao mesmo tempo, o duelo épico de Renji com o Guardião Zoran Zesh continuava. Zoran mal sofreu alguns arranhões, enquanto Renji achava-se em péssimo estado, eram tantos ferimentos que mal dava para discernir um do outro, ainda assim, ele se mantinha de pé, em constante movimento para evitar as espadas de Zoran.
Épico. Sim, ‘épico’ era a única palavra para descrever aquela visão.
Quanto aos outros soldados voluntários sobreviventes… talvez houvesse uns cinco ou seis. Os orcs quase não sofreram perdas.
Como chegou a esse ponto… ?
Quando eles desceram ao primeiro andar e depois subiram as escadas para as torres de vigia, Zoran não estava em lugar nenhum. Onde ele se escondeu?
Havia portas no primeiro andar que conduziam a outros lugares além das escadas. Todas essas portas estavam abertas. Isso significa que os soldados voluntários fizeram uma varredura em busca de orcs. Porém, não encontraram Zoran.
Talvez houvesse um porão secreto ou algo assim. Zoran e seus homens podem ter se escondido lá e saíram quando os soldados voluntários subiram para as torres. Sim, deve ter sido isso mesmo.
Os assistentes de Zoran, incluindo os três feiticeiros, somavam cerca de vinte orcs no total. Sua força era claramente um ou dois níveis acima dos outros orcs que os soldados voluntários encontraram hoje. Uma unidade de elite.
O grupo do Renji tem cinco pessoas e havia outros cinco soldados voluntários ali. Depois, veio o grupo do Haruhiro, adicionando mais seis combatentes. Entretanto, não era suficiente pois os inimigos eram mais numerosos e mais fortes também.
Mas… é realmente impossível superar essa diferença de força? Haruhiro se perguntou.
Não demoraria muito para que os soldados voluntários restantes fossem abatidos e, como consequência, Renji e seu grupo caíram um após o outro, trazendo a situação para uma condição ainda mais desesperadora. Mas agora? Agora? Neste exato momento?
A essa altura… pensou ele.
Recursos. É isso. Nem todos os nossos recursos estratégicos estão aqui agora. Kajiko e os Anjos Selvagens provavelmente ainda não desceram da torre de vigia. Sua força tinha um total de dezoito pessoas. Mesmo que eles tenham perdido alguns, deve ter restado uns quinze. Kajiko parecia ser forte, então talvez seja possível mudar as coisas quando elas vierem.
E a Britney? Ele disse algo sobre verificar a força principal. A força destacada originalmente deveria servir como uma distração e manter o inimigo sob controle, permitindo que a força principal quebrasse o portão principal e tomasse a fortaleza. Eles se atrasaram devido a algum imprevisto, mas a força principal vai voltar, cedo ou tarde eles vão estar aqui. Quando eles chegarem, teremos uma vantagem garantida.
Esperamos então? Se nos escondermos em uma torre de vigia até que a força principal cheg- Não, não sabemos quando eles retornarão, e se toda a equipe do Renji morrer antes disso… nada bom. Se isso acontecer, o inimigo com certeza procurará por humanos remanescentes na fortaleza. Mesmo se estivermos em uma torre de vigia, eles vão nos encontrar.
Não podemos contar com a força principal.
Mas quero acreditar em Kajiko.
Então devemos ficar aqui até Kajiko descer? Mas isso ainda depende do quanto Renji e os outros podem aguentar. Para ser honesto, quero que eles continuem lá de alguma forma. Não quero me arriscar mais.
Nós ficamos aqui. O Renji aguenta. E, quando Kajiko chegar, o jogo vira. Isso seria perfeito, mas não há garantia de que é desse jeito que vai acontecer.
Eu quero salvar o grupo do Renji também, é claro. Nosso grupo pode ser só uma formiguinha quando nos comparamos ao grupo dele, mas chegamos juntos em Grimgar. Renji e seu grupo estão esgotados. Se o pior acontecer, e eu ficar aqui assistindo sem fazer nada, terei problemas para dormir à noite.
Além disso, por uma questão estratégica, precisamos que Renji e seu grupo permaneçam aqui.
Eu não sei o quão bons Kajiko e seus Anjos Selvagens são, mas se o Time do Renji e os outros soldados voluntários forem eliminados, os números serão iguais, ou até podemos ficar em ligeira desvantagem. Zoran é muito forte, então é difícil acreditar que Kajiko seja capaz de vencer uma luta como essa. Se Kajiko e os Anjos Selvagens perderem, nossas chances de sobreviver serão drasticamente reduzidas.
Por quanto tempo fiquei aqui pensando? Não sei. Mas preciso fazer alguma coisa. Isso é certo, e é melhor eu me apressar. Vamos lá.
Se ele não fizesse nada, acabariam mortos. Isso significa que eles já estavam praticamente meio mortos.Pensar dessa forma, torna as coisas mais fáceis.
Choco. Em breve nos veremos. Quando isso acontecer, vamos ter uma longa conversa e relembrar as coisas que esquecemos, cada uma delas.
Haruhiro voltou para seus companheiros.
— Desculpe, pessoal. — Disse ele. — Eu sei que é assustador, mas vamos tentar de novo. Vamos ajudar Renji e os outros. Vamos nos concentrar apenas nos feiticeiros. Além da feitiçaria, eles não têm mais nada de especial.
Ele deixou de fora o “Eu acho”. Deliberadamente escolheu afirmar isso como um fato. Ele sentia que estava enganando seus companheiros – também a si mesmo. Mas, por alguma razão, ele não ficou com a consciência pesada por causa disso.
— Um desses feiticeiros é provavelmente aquele tal de Abael. — Haruhiro continuou. — A cabeça dele vale 50 moedas de ouro. Não podemos pegar Zoran, mas podemos matar Abael. Então, vamos lá pegar nossas 50 moedas de ouro.
— Ciiiiiinquentaaa! Ouros! Yeahhhhhhhh! — Ranta gritou.
Ainda bem que Ranta é uma pessoa simples. Com moedas de ouro girando em seus olhos, Ranta desceu as escadas correndo.
Haruhiro deu um tapa nas costas de Moguzo. — Vamos, Moguzo. Estamos contando com você.
— Mm-hm! — Ele respondeu com firmeza, o que acabou surpreendendo Haruhiro. Então, Moguzo foi logo atrás de Ranta.
Haruhiro acenou com a cabeça para Mary, Yumi e Shihori.
Está tudo bem? Ele se perguntou. Sim, está.
Quando terminaram de descer a escada em espiral, e pisaram no primeiro andar, imediatamente avistaram um feiticeiro.
Eles estavam determinados a eliminá-los um por um.
Haruhiro apontou para o Feiticeiro A. — Aquele ali!
Zoran e seus assistentes orcs sequer prestaram atenção neles quando avançaram. Porém, o feiticeiro A notou a investida. Ele tentou abrir o pote, mas era tarde.
— Raiva! — Ranta espetou a garganta do Feiticeiro A com sua espada longa.
Começamos bem, concluiu Haruhiro. Mas não podemos deixar isso subir às nossas cabeças. Temos que manter o foco, nosso objetivo é matá-los, um a um.
Um dos assistentes orcs veio até eles, mas Moguzo soltou um grito de guerra e o afugentou.
Um feiticeiro, pensou Haruhiro. Achei um.
— Ele é o próximo! — Haruhiro gritou, apontando para o Feiticeiro B.
Assim que o fez, os atendentes orcs começaram a convergir para eles.
Eles estão atrás de nós, Haruhiro notou. Bem, podem vir então, a gente ainda vai fazer o que precisa ser feito.
Eles evitaram os atendentes orcs. Moguzo bradou e investiu abrindo caminho, enquanto Haruhiro usava o Pancada para forçar seu próprio avanço.
— Oom rel eckt nem das! — Shihori entoou em voz alta. Ela lançou uma Ligação Sombria na intenção de parar um atendente orc, enquanto Mary gritou e, com seu cajado, quebrou o escudo de outro atendente orc empurrando-o para o lado.
— Estrela Perfurante, miau! — Yumi vociferou enquanto executava uma série de arremessos de facas que fez os atendentes orcs recuarem e…
Espera, “miau”? Por que você está miando? Haruhiro ficou incrédulo. Ah, tanto faz.
Ranta foi o primeiro a se aproximar do Feiticeiro B. Foi aqui que essa técnica apareceu.
— Evadir Especial! — Ranta deu meia-volta na frente do Feiticeiro B e saltou para trás.
Da perspectiva do Feiticeiro B, o humano que veio para atacá-lo repentinamente deu meia-volta, entretanto, o que ele viu em seguida foi uma bunda voando direto para si. Deve ter sido um grande choque.
Com seu peculiar ataque de quadril, Ranta acertou em cheio o feiticeiro B e quase o derrubou.
Agora, Haruhiro pensou.
Ele passou correndo pelo lado do Feiticeiro B.
Aqui. Quando enterrou a adaga na nuca do Feiticeiro B, pôde sentir ela se conectar com alguma coisa. Novamente, copiou o movimento de Sasha, uma Punhalada pelas Costas logo após passar pelo inimigo.
O Feiticeiro B desabou.
— Dois já foram! — Haruhiro noticiou.
Ouvindo isso, o Time do Renji e os soldados voluntários sobreviventes pareceram ganhar um novo ânimo.
É isso, pensou Haruhiro, o universo conspira a nosso favor.
Não baixe a guarda, não seja precipitado, Haruhiro dizia a si mesmo. De qualquer maneira, ele sabia que se deixasse essa chance escapar, se arrependeria. Qual é a resposta certa? Ele não sabia. Mas a situação continuaria a mudar enquanto continuasse com aquele esforço agonizante. Ele não teve tempo para se preocupar em ponderar sobre a escolha errada.
— Nós podemos vencer! — Ele bravejou.
É só “seguir o fluxo”.
— Nós podemos vencer! — Ele esgoelou outra vez. — Força! Não desistam!
Veja, ele ficou entusiasmado, o Universo realmente parece conspirar a nosso favor, isso acontece de vez em quando.
— Eryeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee… ! — Uma voz se fez proeminente.
Aí está, ele concluiu. Essa voz assustadora. Kajiko. É Kajiko e seu grupo.
Os Anjos Selvagens desceram da torre de vigia, com Kajiko na liderança. Em sua primeira investida, não apenas abateram dois dos atendentes orcs, mas os destroçaram. Essa foi a impressão que elas deixaram.
Elas poderiam fazer isso.
Isso vai funcionar, é a condição necessária para a vitória. Foi o que ele pensou, mas…
Enquanto os Anjos Selvagens invadiam o primeiro andar, o terceiro e último feiticeiro – que deveria ser Abael – soltaram outro lança-chamas.
Isso não foi tudo. Abael também jogou alguma coisa.
Uma corda? Haruhiro indagou. Não. Aquilo está se mexendo. Cobras. São cobras. E são muitas.
O feiticeiro jogou cobras nos pés dos Anjos Selvagens. Houve gritos. Os Anjos Selvagens entraram em pânico.
Então Zoran Zesh abandonou Renji e avançou, cortando, cortando e cortando feito um louco. Tudo acabou em um instante. Cinco guerreiras foram literalmente ceifadas.
— Não hesitem! — Kajiko bravejou, tentando parar Zoran.
Eles trocaram golpes. A espada de Kajiko se entrelaçou com as lâminas gêmeas de Zoran. Faíscas voaram.
Ela recuou, não por querer, nem por ser uma simples estratégia de combate, mas porque foi forçada a recuar.
— Droga! — Ela gritou. — Não aguentamos mais perdas! Mako, Kikuno e Azusa, vocês ficam comigo, os demais retirem-se!
Parecia que Kajiko pretendia manter apenas os mais experientes com sigo. Renji perseguiu Zoran, tentando acertar um golpe, mas foi em vão.
Zoran o está tratando como uma criança, Haruhiro percebeu. Tratar Renji como uma criança… Nah, Renji está ferido e também está sem fôlego, deve estar exausto. Alguém deveria fazer algo a respeito de seus ferimentos. Parece que a Chibi está tratando Ron agora. Luz Curadora. Esse feitiço pode curar ferimentos à distância. Um sacerdote. Nós também temos um.
— Mary! Use sua magia no Renji! — Ele gritou.
— A cura só funciona se ele estiver parado! Ela age apenas numa área alvo! — Ela gritou de volta.
— Uma área alvo… — Ele murmurou.
Entendi. Então é um feitiço que emite uma luz curadora em uma região delimitada. Até que a luz cure suas feridas, você precisa ficar parado ali. Renji está lutando contra Zoran. Não tem como ele ficar parado.
— Mesmo assim, temos que deixar Renji descansar um pouco! — Haruhiro falou.
— Eu! Eu vou! — Alguém gritou.
Não foi o Ranta. Era o Moguzo.
Ele parecia estar enfatizando sua masculinidade. “Eu vou”, ele disse.
Moguzo bradou com ferocidade quando se lançou contra Zoran.
Esses golpes são incríveis, Haruhiro admirou a cena. São rápidos, pesados e letais. Zoran está na defensiva agora.
Renji imediatamente tentou atacar Zoran.
Qualé! Por que você acha que Moguzo está lutando tanto? Haruhiro se indignou, agarrando Renji pelo braço.
— Não! Você precisa ser curado! — Ele esbravejou.
— … Saia do caminho. — Renji tentou evitá-lo.
— Eu não vou me mover um centímetro sequer! Mary!
— Certo! — Mary correu enquanto desenhava o sinal do hexagrama e ergueu a palma da mão na direção de Renji. — Ó Luz, que a proteção divina de Luminous esteja com você… Luz Curadora!
Banhado pela luz de Luminous, Renji se conformou e permaneceu quieto. Mary dirigiu a palma da mão para as feridas na cabeça, ombros e costelas de Renji, curando-as à medida que avançava. Ela curou e curou, mas não havia sinal de que isso acabaria. Ele estava pálido e com uma respiração irregular – são sintomas de quem já perdeu muito sangue.
Ranta lutava contra um assistente orc, Yumi lutava com outro. No entanto, mais um assistente orc começou a atacar Shihori. Haruhiro interveio apressadamente, usando o Pancada para ganhar tempo.
— Chega! — Renji derrubou o orc que estava atacando Haruhiro com um golpe da espada de Ish Dogran, em seguida, correu em direção a Zoran. — Eu assumo daqui, seu idiota estúpido! Essa é minha presa!
— Não! Não adianta tentar resolver isso sozinho! — Moguzo refutou.
Moguzo rapidamente mudou para a esquerda de Zoran, deixando uma abertura à direita. Renji instintivamente preencheu essa lacuna e isso a luta se transformou em um combate de dois contra um.
— E eu não sou um idiota estúpido! — Moguzo protestou.
Moguzo atacou girando o Triturador para a esquerda e para a direita, e manteve a ofensiva sem dar tempo ao inimigo.
Renji fez a espada de Ish Dogran dançar também. Moguzo é robusto enquanto Renji é mais flexível. Moguzo tem mais força, Renji é mais hábil – ao menos, é o que parecia. Tudo o que Zoran pôde fazer foi usar suas lâminas gêmeas para se defender. Aquilo era até difícil de acreditar.
Mas, sim, aquilo era real.
— Sim! Isso mesmo! — Haruhiro gritou. — Você não é um idiota estúpido! Você está indo muito bem, Moguzo!
Moguzo é daquele tipo que seria facilmente taxado de lento e bobo ou qualquer outra coisa do gênero. Mas, agora, ele é uma pessoa totalmente diferente. Provavelmente isso tem a ver com acontecimentos anteriores a sua vinda para Grimgar, ou seja, mesmo que não se lembre, internalizou aqueles insultos de modo que isso diminuiu significativamente sua autoconfiança. Mas, lutando ao lado de Haruhiro e dos outros, ele cresceu, progrediu para a posição de “pilar de sustentação” do grupo.
Sem Haruhiro lá, a equipe ainda poderia lidar com a situação se Mary ou outra pessoa assumisse a liderança, mas, sem Moguzo, estariam em apuros. Ninguém pode substituí-lo. Todos pensam da mesma maneira, sabem que dependem inteiramente dele.
Moguzo certamente percebeu a confiança que seus companheiros depositam nele, e agora tem plena consciência disso. Tornou-se mais confiante e finalmente conseguiu mostrar suas habilidades.
Este deve ser o nível natural de habilidade de Moguzo. Renji o julgou mal, deveria tê-lo escolhido para seu grupo.
Ou seja, o prejuízo do Renji foi o lucro de Hahuriro. Na verdade, talvez Haruhiro devesse ser grato pela boa sorte que reuniu Moguzo e o resto deles.
— Não gosto de lutar ao lado de homens, mas… ! — Kajiko se intrometeu, atacando Zoran por trás.
Zoran saltou para o lado e correu.
Difícil acreditar que Zoran estava fugindo.
— A recompensa é uma divisão equilibrada! — Ela comentou em tom de desaprovação.
— Sai! — Renji vociferou.
— Rarrrrrgh… ! — Moguzo adicionou.
Kajiko, Renji e Moguzo perseguiram Zoran.
Talvez eles consigam. Sim, sim, isso pode funcionar.
Enquanto Haruhiro vislumbrava a possibilidade de vitória, Ranta foi incinerado, caiu e deu umas cambalhotas enquanto rolava no chão. — Uau! Gwahhhhhhhhhhhhhhhhhh… !
Feitiçaria. Foi Abael.
Abael alcançou Ranta com seu lança-chamas e, sem demoras, se virou e saiu correndo.
Esse cara é rápido, Haruhiro ponderou. Além do mais, ele persiste nessa estratégia de “bater e correr”. Por isso é tão difícil pegá-lo.
— Mary, cuide do Ranta! — Ele gritou.
— Eu sei! — Ela respondeu.
— Yumi, fique com a Shihori! — Ele acrescentou.
— Miau!
O que ela quer dizer com “miau”?! Ele simplesmente era incapaz de compreender, mas já que ela permaneceu ao lado da Shihori, então deve ter significado “sim”.
— Oom rel eckt pram das! — Shihori usou Enigma Sombrio na tentativa de confundir um dos assistentes orcs, porém, não foi o suficiente para fazer a diferença. Os orcs ainda tinham mais de dez dos atendentes, além de Zoran e Abael, enquanto, do lado dos soldados voluntários, restavam cinco membros da Equipe do Renji, seis do grupo de Haruhiro, quatro dos Anjos Selvagens e outros três dispersos.
Hein!? Estamos na vantagem? Bom, se for só uma questão de números, então estamos ganhando, não é? Haruhiro pensou.
Mas Abael continuava com seus métodos e acertou outro soldado voluntário com seu lança-chamas.
— Arrrrgh… ! — O soldado gritou, tomado pelas chamas enquanto rolava no chão.
É melhor alguém curar ele, ou vai acabar ficando pior, Haruhiro pensou. Espere, ele está usando o uniforme de sacerdote, mas está queimando. Se é um sacerdote, por que não se cura? Bem, deve ser complicado se curar enquanto o próprio corpo está em chamas. Mas nem Chibi, nem Mary podem se dar ao luxo de ajudá-lo agora.
— É o Abael! — Haruhiro ligou. — É aquele ali que temos que pegar!
Moguzo, Renji e Kajiko estavam preocupados com Zoran. Ron não podia deixar Sasha, Chibi e Adachi.
— Mako, Kikuno, Azusa! — Haruhiro chamou. — Foquem o feiticeiro!
Ele, por acaso, se lembrou dos nomes e tentou chamá-las. Elas estavam cada uma enfrentando um atendente orc. Entre elas, havia uma tão grande quanto Kajiko – lembrava uma guerreira – espancando vigorosamente um ajudante orc.
Talvez fosse esse o momento que Abael estava esperando. Ele sorrateiramente se aproximou dela, abrindo a tampa do pote que carregava.
Insetos, Haruhiro se lembrou. Mas antes que pudesse avisá-la, os insetos a emboscaram.
— Eeeeek! — A mulher gritou, tentando afastar os insetos de si.
Foi reflexo, puro instinto, não faz sentido culpá-la, mas isso é ruim. Ela precisa se mexer, precisa correr ou qualquer coisa do tipo. Desta vez, Abael não se retirou imediatamente, ao invés disso, ele se aproximou dela, as interações dele claramente não eram boas.
Ei, espere, essa é a minha deixa… ? No exato momento em que esse pensamento lhe veio à mente, Haruhiro já estava correndo.
Abael carregava uma pequena maça de metal. Ele a usou para golpear a mulher nos joelhos e, depois, na cabeça. A mulher usava um capacete, por isso, não ficou claro se foi ou não uma lesão fatal, de qualquer maneira, ela não resistiu e caiu.
Abael se virou, olhando para Haruhiro.
Merda. Ele me viu.
— Gashgrasha! — Abael gritou e balançou sua maça.
É um movimento curto, posso esquivar, concluiu Haruhiro, mas seu corpo reagiu de maneira exagerada. Ele rapidamente se jogou e rolou pelo chão para levantar e retornar ao ataque, entretanto, Abael aproveitou a brecha para fugir.
— Ele é rápido! — Haruhiro choramingou.
Depois que ele começou a perseguir-
Tem algo de errado nisso, não? Haruhiro se perguntou. Não sei se é bom ou ruim. Mas se eu deixar ele agir livremente, vai ser muito problemático. Seremos derrubados um por um, e nossa vantagem numérica eventualmente desaparecerá.
É assustador, na verdade.
Haruhiro é capaz de deter um inimigo assim?
Certamente não acho que posso lidar com ele sozinho. Quero dizer, olha só pra mim.
Abael se virou para ele e Haruhiro mergulhou novamente no chão.
Lá vem, ele previu, e foi uma previsão certeira. Chamas. Outro ataque lança-chamas. Se a reação de Haruhiro fosse um pouquinho mais lenta, teria se tornado nada mais que um grande pedaço de carne chamuscada.
Abael fugiu de novo. Sem demoras, Haruhiro retomou a perseguição, mas a distância entre eles aumentou.
Sabe… acho que isso é impossível, ele pensou. Parece que está um pouco além das minhas capacidades.
Mal consigo chegar perto dele e, mesmo que eu consiga, o que eu deveria fazer? Também estou preocupado com meus amigos, mas, se eu tirar os olhos de Abael por um segundo que seja, acabo perdendo ele de vista.
Enquanto Abael corria, ocasionalmente espiava Haruhiro.
Vou perdê-lo de vista. Haruhiro parou.
— Osh! — Um assistente orc deu um soco nele.
Haruhiro se esquivou da lâmina do assistente orc, virando e assumindo o risco calculado de correr direto para outro dos assistentes orcs. Ele fez uma curva repentina antes de entrar no alcance de seu novo oponente e os dois assistentes orcs quase se chocaram.
A última manobra de Haruhiro fez com que ganhasse distância dos orcs. Ele olhou em volta, ao mesmo tempo em que se mantinha em movimento.
Perdi ele? Haruhiro pensou. Sem chance. O primeiro andar é grande, mas não tão grande assim. Se eu procurar, posso encontrá-lo num instante.
Apesar dos esforços de Haruhiro, Abael insistia em sua estratégia de “bater e correr”, se escondendo em um canto qualquer ou se misturando com os demais orcs. O maior problema é que Abael nunca ficava parado e sempre procurava correr para fora do campo de visão de Haruhiro na busca de uma brecha para lançar um ataque sorrateiro.
Haruhiro desistiu de Abael, ou era o que ele esperava que Abael pensasse. Dessa forma, caso o plano funcionasse, Abael apareceria novamente.
Haruhiro fingiu não olhar mais na direção de Abael.
Parece que Abael planeja ir até Ron e seu grupo, ele notou. Ou é isso, ou é naqueles Anjos Selvagens que estavam sozinhos. Ou Moguzo, ou Renji, ou Kajiko. É difícil dizer já que ele se move de uma maneira muito imprevisível.
É desse jeito que ele se aproxima dos seus alvos? Farei o mesmo, então. Afinal, eu sou um ladrão, vou roubar isso dele.
Momentos depois, ele descobriu. Esse é o próximo alvo de Abael (aquele que está sendo protegido por Ron e Chibi enquanto ela usa a magia de gelo para obstruir os movimentos dos orcs). É o Adachi.
Abael manteve o olhar fixo em Adachi, preparando-se para pegá-lo com uma rajada de fogo, mas Haruhiro o interrompeu com uma Punhalada pelas Costas.
Abael arquejou e desviou no último momento. A adaga de Haruhiro apenas cortou o braço esquerdo de Abael.
Haruhiro estragou tudo e, outra vez, em vez de revidar, Abael fugiu imediatamente.
Ele só luta quando está em vantagem absoluta? Haruhiro indagou. Ele realmente está levando essa estratégia a sério. Não sei dizer se isso é ser inteligente ou se é pura covardia. Quanta astúcia!
Nesta última tentativa, Haruhiro entregou o jogo e Abael percebeu sua estratégia sendo copiada. O mesmo truque não funcionaria novamente. Se Haruhiro o deixasse escapar agora, Abael ficaria ainda mais cauteloso e seria complicado encontrar outra abertura.
— Evadir Especial! — Ranta gritou.
— Ubogeh?! — Abael exclamou.
Abael sequer pôde discernir o que o atingiu. Afinal, ninguém espera que as nádegas de um desconhecido venham voando, em altíssima velocidade, direto para sua própria face.
O ataque especial de Ranta chocou seu quadril com o rosto do orc feiticeiro. Aos tropeços, Abael deu alguns passos para frente.
O que eu não entendo é como Ranta tem um timing tão ridiculamente bom! Às vezes, é claro. Haruhiro sentiu-se feliz e um pouco indignado. Foi bom. Mas, cara, você está me assustando. De qualquer forma, agora não preciso ver aquela linha para matar o Abael.
Haruhiro tomou todos os cuidados possíveis, optando por usar Viúva Negra em vez de uma Punhalada pelas Costas. Ele agarrou Abael por trás, numa espécie de mata-leão com pernas e braços, e enfiou sua adaga sob o queixo dele, cortando-lhe violentamente a garganta antes de saltar para trás.
Ranta deu daqueles sorrisos de canto, um bem pretensioso.
Você é um idiota? Haruhiro se perguntou. Bem, sim, eu sei que ele é, mas…
Ranta balançou sua espada diagonalmente, acertando-a na nuca de Abael. Não foi o suficiente para decapitar, a lâmina parou na “metade do caminho”.
Ele chutou o orc para o chão e desferiu outro ataque. Não satisfeito, acatou de novo, e de novo. Abael parou de se mover.
— Sim! Cinquentinha! — Ranta comemorou. — Ah é, ganhei mais um vícius também!
Bem, esse é o Ranta sendo o Ranta, Haruhiro concluiu. Sempre interpreta o mesmo papel. Até dá pra sentir um vestígio de admir- Não, não mesmo. De jeito nenhum.
— Agora é só o Zoran! — Haruhiro anunciou.
Ainda há atendentes orcs, mas devemos focar Zoran Zesh. Sem o apoio de Abael, e com nossa vantagem numérica, sim, podemos fazer isso.
— Moguz- Uau… ?! — Haruhiro exclamou.
No momento em que começou a aplaudir, Zoran saltou. Foi uma cambalhota para a frente.
Kajiko tentou dar um soco em suas costas, mas errou, enquanto Renji e Moguzo – que estavam na frente dele – pularam para trás.
— O qu- ?! — Kajiko gritou.
— Urkh! — Renji grunhiu.
~ Oh …?! ~ Moguzo engasgou.
— Gahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh… ! — Zoran explodiu.
Então o orc começou a rodopiar. Aquela cambalhota foi como o impulso para o início de um giro vertical, e ele continuou a avançar enquanto girava como um pião. Por fim, os rodopios ficaram na horizontal.
Foi rápido, um impulso incrível. Renji e Moguzo não puderam fazer nada, apenas recuaram. Mas eles não se afastaram o suficiente. Ambos precisaram bloquear as lâminas gêmeas de Zoran com suas espadas e foram lançados pelos ares.
Zoran não perdeu tempo em atacar Moguzo. Foi um ataque implacável. Quando Renji tentou intervir, Zoran imediatamente se virou para ele e o atacou. Depois de forçá-lo a recuar com um golpe poderoso, gritando, ele desceu com suas lâminas gêmeas em Moguzo.
— Eryeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee! — Kajiko atacou Zoran pelas costas. Mas Zoran deu dois golpes nela enquanto se virava, fazendo-a saltar para trás e retomou o foco em Moguzo.
Zoran atacou Moguzo obstinadamente. Quando Renji tentou se colocar entre eles, Zoran usou o combo de cambalhota com golpe giratório para fazê-lo recuar, depois voltou para Moguzo.
Por quê? Haruhiro não entendia. Por que tanta insistência? Moguzo mal consegue manter sua postura defensiva. Sua armadura está toda amassada, o capacete está esmagado. ELE está sendo esmagado. Moguzo. A cada segundo que passa… Claro que quero fazer algo. Mas o que eu posso fazer?
Talvez, encorajados pelo ataque de Zoran, seus assistentes se aproximaram, gritando: “Osh, osh!”. Um dos assistentes atacou Haruhiro. Ele se defendeu usando Pancada, mas esse cara é forte. Haruhiro sentiu que sua adaga ia cair.
— Parupiro! — Ranta gritou.
Ranta veio em seu socorro, bem na hora, o que tirou Haruhiro do apuro, mas o fato de Ranta chamá-lo de “Parupiro” não era de seu agrado. Ranta o salvou, isso é o que importa.
— Gah! — Kajiko gritou. Zoran a acertou com sua espada e o capacete dela caiu. O rosto de Kajiko ficou coberto de sangue.
— Para trás! — Renji esbravejou com ela.
Não sei se é Mako, Kikuno ou Azusa, mas ela está arrastando Kajiko para longe, Haruhiro observou. Isso não é bom. Não é nada bom. Eu tinha certeza que ia dar certo dessa vez.
Ele é muito forte. Zoran Zesh. Ish Dogran não é nada perto dele. Ele é um monstro.
Mas, de alguma forma… eu não sei. Tem algo estranho, sabe?! Algo que me incomoda. Seus movimentos…
Sim, é isso. Seria algum tipo de padrão?! Quando ele se vira, é sempre para a esquerda. E, quando ele faz aquele ataque giratório, sempre gira para a esquerda. Por quê? É estranho. Algo sobre isso me incomoda.
— Paroporo! — Ranta gritou. — Vai ficar aí parado feito um idiota!?
Não é hora de ficar parado como um idiota, Haruhiro pensou. Bem, sim, ele está certo. E meu nome não é “Paroporo”.
Ranta tinha razão, mas os pensamentos de Haruhiro não cessaram.
Eu sinto que isso é importante.
Essas lâminas gêmeas. Zoran é canhoto? Canhoto? Por que eu pensei isso?
É porque eles são rígidos. Seus movimentos. Quando ele move o braço esquerdo, parece mais fluido do que o direito. Seu braço direito se move bem menos, como se estivesse enrijecido. Ou isso, ou é só um comportamento estranho.
Parece que está tentando encobrir algo.
E se, por acaso, ele tem um ferimento antigo no lado direito, pode ser isso, não? Mesmo que seja de forma inconsciente, ele naturalmente tentaria encobrir.
Bem, e daí?
Renji e Moguzo, que o confrontavam desesperadamente, provavelmente não perceberam. Haruhiro só percebeu por acaso, e porque estava olhando de longe.
De novo, mas e daí? Ele ponderou.
— Ranta! — Haruhiro chamou.
— Hã?! — Perguntou Ranta.
— Você quer cem moedas de ouro ?!
— É claro que sim! — Ranta gritou.
— Então seja uma isca! — Haruhiro sugeriu. — Você é o único que pode fazer isso!
— Ha! Parece que você finalmente descobriu o jeito certo de me usar! — Ranta gritou. — Qual é o plano?!
Haruhiro deu-lhe uma breve explicação. O papel de Ranta era perigoso, mas simples. E, mesmo que não funcionasse, tentar não seria tão difícil. O problema era Moguzo e Renji.
— Moguzo! Renji! — Haruhiro os chamou. — Ele tem o hábito de sempre virar para a esquerda, e o lado direito é mais fraco! Ele deve ter um ferimento ali! Deixem o Ranta na frente! Vocês dois ficam atrás dele!
Eles entenderiam? Mesmo que entendessem, poderiam fazer isso? Não havia garantia.
Haruhiro olhou para Mary e os outros. Mary e Yumi lutavam juntas para conter um assistente orc e proteger Shihori. Shihori usou Ligação Sombria para frear outro assistente em seu caminho. Era bom saber que estavam vivas.
Choco, algumas memórias de Haruhiro vieram à tona. Choco se foi, está morta.
Morrer…
Vamos acabar logo com isso.
Eu vou dar um jeito nisso tudo.
— Vamos, Ranta! — Ele gritou. — Você está pronto?!
— Inferno, sim! — Ranta gritou. — São cento e cinquenta ouros!
— Essa é a sua resposta?!
Haruhiro correu. Zoran seguiu Haruhiro com os olhos enquanto violentamente golpeava Moguzo e Renji. Ele é bem perceptivo. Haruhiro tentou dar a volta por trás de Zoran.
Ele viu através dos meus movimentos, Haruhiro pensou. Mas será que viu tudo?
— Ei, perdedor! — Ranta saltou para a frente de Zoran. — Eu posso cuidar de você sozinho, seu perdedor maldito! Você me ouviu, perdedor? Seu perdedor, fracassado de merda!
Ele ficou na frente de Zoran, apontando sua espada para ele e fazendo uma pose grandiosa. Tudo estava de acordo com o planejado, ainda assim, aquilo era grosseria demais.
De qualquer maneira, com Ranta sendo tão exagerado, Zoran deve ter entendido que estava sendo insultado, mesmo que não conhecesse aquelas palavras. Talvez tenha sido isso que o fez reagir. Zoran deu um salto mortal para a frente, seguido por um golpe giratório.
— Gahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh… ! — Zoran rugiu.
— Evadir! — Ranta não ficou surpreso. Ele se lançou para trás, evitando o golpe giratório de Zoran. — Ha! Idiota, você é tão óbvio, loooo- uau, Evadir… !
Ranta se empolgou e Zoran o perseguiu furioso. Zoran levaria apenas um instante para cobrir a distância que Ranta ganhava usando o Evadir.
Ainda assim, Haruhiro estava certo. Moguzo e Renji eram mais poderosos em combate do que Ranta, é claro. Em uma luta mano-a-mano, Ranta certamente perderia. Entretanto, aqueles dois não eram superiores a Ranta em tudo. Ranta tinha coisas em que era melhor do que qualquer um.
Quando Zoran lançou outro combo giratório, Moguzo e Renji não puderam evitá-lo e, novamente, foram forçados a bloquear com suas espadas. Essa cena se repetiu várias vezes.
Moguzo e Renji não são lentos, porém, mesmo que pudessem prever os ataques de Zoran, ainda eram incapazes de se esquivar. O combo de Zoran é muito rápido e o seu alcance considerável o transforma em um movimento indiscutivelmente perigoso. Apesar disso, Ranta mostrou que podia se esquivar.
A maneira como ele usava o Evadir contribuía para isso, mas, no mínimo, quando se tratava de evitar aquele combo, Ranta era superior a Renji e Moguzo.
— Gahhhhhhhhhhhh! Gahhhhhhhhhhhhhhhhhh…! — O orc rugiu.
— Evadir!Evadir! — Ranta berrou.
Zoran estava ficando bravo. Se ele nem dá conta de alguém como Ranta, então é fácil entender porque está tão nervoso.
Graças a isso, Haruhiro conseguiu ficar atrás de Zoran. Moguzo e Renji perseguiram Zoran junto com Haruhiro.
— Ele gira para a esquerda, não se esqueçam! — Haruhiro os alertou.
Se eles iam atacar, deveria ser pela direita. Comparado a atacar da esquerda, avançar pela direita – atrás dele – seria mais vantajoso pois a espada de Zoran levaria um pouco mais de tempo para alcançá-los.
— Wah ha ha! — Ranta provocou. — Você não é bom o suficiente!
Enquanto Ranta continuava com suas provocações, Zoran uivava e executava um combo após o outro.
Ranta sempre usava Evadir para se esquivar.
Assim que os rodopios acabaram, Renji avançou pela direita. Seu ataque foi silencioso, rápido e feroz. Ele entrou sorrateiramente e desferiu um golpe ágil e preciso.
Zoran reagiu girando para a esquerda, é claro. Usando a espada em sua mão esquerda, ele girou para expulsar a lâmina de Renji. Quase!
Foi por um fio, mas a espada de Zoran bloqueou a de Renji.
Entretanto, foi diferente de antes. Embora a lâmina de Renji não tenha causado nenhum dano, dessa vez, a espada de Zoran é que foi empurrada para o lado.
Entretanto, Zoran luta com duas espadas, ele rapidamente atingiu o torso de Renji com a espada da mão direita. Renji provavelmente colocou tudo o que tinha naquele ataque e, consequentemente, deixou a defesa aberta.
Ele não conseguiu se esquivar.
~ Guh… ! ~ Renji engasgou.
Graças à sua armadura, não foi cortado em dois. Ainda assim, foi um golpe direto. Renji foi literalmente ceifado.
Merda, pensou Haruhiro. Não funcionou.
Haruhiro diminuiu a velocidade e estava prestes a parar de correr. Moguzo, no entanto, não o fez.
— Obrigado… !
Mas Moguzo foi imprudente. Foi seu Golpe de Retribuição, ou Golpe de Fúria. Ele cravou os pés, balançando o Triturador para baixo, na diagonal, com toda a força.
Não foi um ataque surpresa. Zoran estava pronto para isso. Ele esperou o momento oportuno, nem mesmo se preocupando em usar suas espadas para receber o golpe. A lâmina de Zoran era mais rápida que a de Moguzo.
Ele atingiu primeiro o ombro direito de Moguzo. Em seguida, seu braço direito, antebraço esquerdo e na direita do quadril. Por fim, ele foi para a cabeça: o lado esquerdo e, depois, em cima.
Armaduras e capacetes de chapas metálicas são mais resistentes do que eu imaginei, hein! Haruhiro observou com alívio. Ele não pode cortá-los. Mas, mesmo que ele não consiga atravessar, não há como Moguzo ficar bem depois disso. Tem amassados enormes por toda a sua armadura.
Não importa, mesmo que ele não esteja bem, Moguzo não caiu. Nem se ajoelhou. Ele permaneceu parado lá, como se tivesse raízes no pé. Oh, então é isso.
Guarda de Aço.
A habilidade de armadura pesada que amplifica a defesa ao máximo e ainda repele os ataques inimigos.
No entanto, não importa como eu olhe para isso, esses ataques não estão sendo repelidos. Ele está levando uma surra. Ele pode suportar isso? Não importa o quão difícil seja, Moguzo não vai aguentar muito. Nesse caso…
Havia apenas uma coisa que Haruhiro podia fazer.
Seu corpo já se movia por conta própria.
Haruhiro é um ladrão. Ele é um covarde que está sempre vigiando as costas de seus oponentes, sempre pensando em como ficar atrás deles, e agora não é diferente.
Zoran estava concentrado em Moguzo. Ele deve ter se perguntado por que esse humano simplesmente não desiste. Foi estranho. Não, talvez, ele estivesse se sentindo assustado com isso. Ele pode até mesmo estar se deixando levar pela irritação e impaciência.
Haruhiro avançou em direção às costas de Zoran.
A linha? Não consigo ver essa coisa, pensou ele. Não importa. Pelo menos tenho uma vaga noção de onde atacar. Zoran está usando uma armadura vermelha de alta qualidade e um capacete, mas há uma pequena lacuna entre os dois. Talvez eu possa atacar ali.
Zoran é alto, então Haruhiro segurou sua adaga com a ponta voltada para o lado de fora e a lâmina para frente, preparando uma estocada, e mirou a abertura entre a cabeça e costas.
Ele esfaqueou.
Naquele momento, o corpo de Zoran enrijeceu.
Haruhiro puxou sua adaga, se preparando para esfaquear novamente, quando o braço esquerdo de Zoran veio em sua direção e ele foi jogado para longe.
— Obrigado… ! — Moguzo vociferou.
Enquanto Haruhiro rolava pelo chão, Moguzo lançou seu Golpe de Retribuição e acertou a ponta do ombro de Zoran. Zoran chutou Moguzo para longe e parecia tentar se preparar para uma retirada.
Não, você não vai sair daqui. Haruhiro agarrou-se à perna direita de Zoran.
Zoran imediatamente pisou na cabeça de Haruhiro com o calcanhar do pé direito, deixando-o inconsciente por um momento.
Quando ele voltou a si, Kajiko estava desferindo golpes em Zoran. Ron também estava por perto. Adachi lançou ataques mágicos em Zoran. Chibi golpeou Zoran com seu bastão.
Ranta o cortou. Shihori usou Pulso Sombrio. Yumi atingiu Zoran com seu facão. Até Mary estava lá usando seu cajado de sacerdote para espancar Zoran.
Por causa do golpe na cabeça, Haruhiro se sentia um pouco fora de si.
Huh, isso é um pouco estranho, ele pensou. Todos estão se lamuriando em volta de Zoran como se estivessem possuídos. Bem, eu não posso culpá-los. Tivemos uma experiência terrível. Muitas pessoas morreram. Sério, aquele cara era bem assustador. Agora Zoran está encolhido no chão, imóvel.
Ele ainda está vivo? E quanto a seus assistentes? Parece que alguns deles tentaram salvar Zoran, mas foram eliminados. Você sabe, não restaram muitos orcs. Não, não é isso, o fato é que nós temos a vantagem numérica.
Os demais Anjos Selvagens e alguns soldados voluntários que estavam escondidos saíram. Eles cercaram os assistentes de Zoran e, um a um, os espancaram até a morte.
Haruhiro tocou a nuca, não havia sangue. Mas seu rosto estava todo molhado. Parecia que sua cabeça, nariz ou mandíbula bateram no chão quando Zoran o pisoteou, e ele sangrava por causa disso. Era difícil respirar, talvez seu nariz estivesse quebrado.
— Chega. — Renji se levantou, passando por Kajiko, pelos membros do seu próprio grupo e pelos membros do grupo do Haruhiro.
Ranta gritou alguma coisa e tentou impedi-lo, mas Renji apenas deu um soco nele.
Renji agarrou a espada de Ish Dogran. Ninguém teve tempo de detê-lo. Ele decapitou Zoran.
— Acabou. — Disse ele.
A sala ficou em silêncio.
— Woooooo! — Alguém aplaudiu.
Os poucos assistentes restantes gritaram algo antes de atacar os Anjos Selvagens, apenas para serem massacrados.
— Haru! — Mary correu para ele. — Você está bem?!
Haruhiro acenou com a cabeça. Ele tentou dizer algo, mas não conseguiu falar.
— Cento e cinquenta! — Ranta gritou, pulando de alegria. — Cento e cinquenta moedas de ouro!
— Renji deu o golpe mortal! — Sasha tentou contestar a recompensa, mas Kajiko protestou imediatamente: — É uma divisão justa!
Acho que não me importo, Haruhiro pensou. Bem, não, eu me importo. Quer dizer, é uma fortuna. Podemos aprender novas habilidades, ou podemos sair da pensão e alugar um lugar com portas que trancam, ou podemos encomendar novos equipamentos; há muitas coisas que podemos fazer com esse dinheiro. Nosso equipamento de defesa pessoal já está muito danificado. Precisamos consertar algumas partes ou substituir por completo.
Oh, espere, não estou pensando direito.
Parecia que todos os atendentes orcs morreram. Shihori chorava de alívio e Yumi a abraçava, dizendo: “Pronto, pronto. Você foi ótima. Simplesmente ótima,” enquanto ela afagava sua cabeça.
— Você pode se levantar? — Mary perguntou a ele.
Não, não posso. Haruhiro ia dizer aquela mentira, porque parecia que Mary o trataria com gentileza. Mas ele não fez isso.
— Eu consigo, sim. — Disse Haruhiro, levantando-se. — Embora, antes de você vir me ajudar…
Por que ele está parado aí? Haruhiro se perguntou.
Todos dançavam, conversavam, pediam aos sacerdotes para tratá-los ou fazer algo, mas Moguzo estava parado ali.
Há algo estranho nisso, Haruhiro pensou.
Moguzo não estava segurando sua espada. Seus braços estavam caídos ao lado do corpo.
É incrível que ele esteja de pé, Haruhiro reparou. Estou surpreso que ele ainda possa ficar de pé. Especialmente nesse estado. Tipo, o capacete dele não está apenas amassado, está quase caindo da sua cabeça. Há sangue pingando dele por toda parte também.
De repente, Moguzo caiu lentamente. Como quando algo grande e pesado simplesmente perde seu sustento e desaba. Foi esse tipo de queda.
Mary engoliu em seco.
Haruhiro chamou seu nome. — … Moguzo?