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Omake

Alto Elfo

Tradutor: Zekaev

Seu nome era Leelya, Leelya Sturm. Ela é uma nobre elfa da casa Sturm das Sete Espadas. Além de, também, ser a primeira na linha de sucessão – a herdeira da casa – embora nunca tenha pensado em si como pertencente a uma linhagem nobre. Na melhor das hipóteses, ela sabia que a casa Sturm já foi grande, mas agora via-se apenas uma sombra de sua antiga glória. Não era apenas a casa de Sturm que estava antiquada, a sociedade élfica como um todo acabou estagnada em um passado distante. Tornaram-se fracos, ineficazes, e caíram em declínio.

Leelya era uma criança prodígio, saudada como o avatar de Varyag, a Lâmina Santa. Muito se esperava de seu futuro desde seus dias de infância, mas ela não vislumbrava esse tal futuro. Porém, embora soubesse que a estrada seria tortuosa e cheia de obstáculos, ela decidiu que deixar Kagemori era o caminho correto.

Ela experimentaria o mundo exterior por si mesma e ampliaria seu conhecimento. Foi para esse fim, e nenhum outro, que ela deixou sua pátria para trás.

Souma.

Quando ela chamou seu nome, o homem fez uma pausa na manipulação do utensílio de comida conhecido como “pauzinhos” e encontrou o olhar dela. Seu semblante permaneceu inalterado. Sua falta de expressão dificultava compreender seus pensamentos, mas não era só isso que o tornava uma pessoa difícil de ler. Ela também podia ver que seu humor era um pouco severo.

Souma, costuma ser um homem sofisticado: com as próprias mãos esculpiu, a partir de uma árvore, os “pauzinhos” que usava agora. Além de si mesma, a companhia de Souma consistia no grande paladino, com a pele um pouco escura, Kemuri; o Necromante Pingo, que parecia uma criança à primeira vista, Zenmai, a construção artificial criada pelo Pingo; e a ex-ladra, Shima, que não permanecia em um lugar por muito tempo e preferiu dormir sob as estrelas.

Kemuri é o cara que dorme o quanto quer e em qualquer lugar, quando está de bom humor, em contrapartida Pingo dificilmente dorme. O companheiro constante do Pingo, Zenmai, não tem nenhuma necessidade de dormir. Shima, embora seja uma mulher inteligente e de boa aparência, não se importa em ter que se jogar e rolar numa cama de grama enquanto dorme.

Leelya, nascida e criada na cidade élfica de Arnott, não conseguia entendê-los no início, mas agora já se acostumou. Atualmente reunidos sob o céu estrelado, sentados ao redor da fogueira – cada um à sua maneira – comendo ou descansando; Leelya penteava delicadamente o cabelo prateado enquanto Souma mastigava alguma coisa.

Era carne seca ou frutas, Souma usava seus “pauzinhos” para levá-los à boca pedaço por pedaço. É assim que ele prefere comer, e isso não é nenhum problema para ela.

Você está segurando os pauzinhos com a mão esquerda.

Por conta do comentário, Souma baixou o olhar e seus olhos ficaram ligeiramente mais abertos.

Tem razão. Talvez porque a comida não é apetitosa. Ele disse.

Talvez você tenha razão. — Concordou Leelya

Eu me pergunto por quê. Souma continuou, inclinando levemente a cabeça, um pouco confuso ao pegar os pauzinhos com a mão direita.

Ele não tinha a menor noção do por quê usou a mão esquerda, mesmo que ainda fosse tão hábil quanto. E se ele não sabia, então como Leelya poderia saber?

Além disso. Leelya adicionou, apontando para um ponto logo abaixo de seus próprios lábios. Você tem algo em seu rosto.

Por um momento, a expressão de Souma foi uma mistura de vergonha e incredulidade. Não pode ser! Ele levantou a mão para limpar o lugar várias vezes.

Não, eu não…. — Disse ele.

Eu sei. — Disse Leelya com uma expressão neutra. Era uma piada.

Ha. Shima riu quando se apoiou em um cotovelo para cobrir um bocejo.

Pingo, sentado nos joelhos de Zenmai e olhando para a estrela, também riu. Kemuri roncou, pois dormia profundamente.

Souma baixou o olhar, os cantos de sua boca se curvaram de forma quase imperceptível no que poderia ter sido uma carranca. A expressão de Leelya suavizou. Souma apressadamente sentou-se de maneira mais ereta e retomou aquela mesma expressão calma. Dava a impressão de ser um homem muito interessante.

Há três dias, Leelya e os outros entraram no antigo Reino de Ishmael, domínio dos mortos-vivos. É uma terra maldita e repleta de atrocidades; onde os mortos-vivos se entregam voluntariamente para serem desmantelados, transformando-se em criaturas mais fortes e ainda mais hediondas. Mesmo o famoso grupo de Souma não podia evitar ficar preocupado aqui, embora tenham sido descuidados no dia anterior.

Souma, como de costume, empregava as habilidades de katana da sua classe Samurai para lidar com seus inimigos. Os mortos-vivos não conseguiram se aproximar antes que fossem retalhados. Sua técnica e agilidade são de tirar o fôlego. No entanto, Leelya, uma orgulhosa mestre da dança de espadas, que também treinou incessantemente para não envergonhar sua reputação como um prodígio ímpar, sentiu que havia algo errado.

Souma não estava em seu eu normal. Sua lâmina era menos rápida, seus pés mais pesados e seus movimentos um pouco mais lentos. Parecia, à Leelya, que ele lutava com um tornozelo torcido. No entanto, se ele estivesse ferido, era uma questão simples: bastava pedir a Kemuri para curá-lo.

Shima, que mudou para a classe Xamã, pode não perceber, mas é uma mulher deveras trabalhadora. Seu talento natural influenciou muito, mas ela treinava até enquanto dormia e, em pouco tempo, dominou as técnicas ocultas dos elfos e foi exonerada pelo chefe do Círculo dos Seis. Ela não foi a primeira humana a se tornar um Xamã, mas é a única a receber algum reconhecimento dos altivos feiticeiros membros do Círculo, além de ser capaz de curar qualquer ferida instantaneamente.

Quando a luta acabou, Leelya se aproximou de Souma. Sua forma desajeitada e a sua deselegância são inadequados. Se você está ferido ou se sente mal, talvez seja sábio pedir que Shima dê uma olhada .

Souma pensou por um momento antes de responder. Eu também acho que algo está fora do lugar…

Ele puxou seu joelho aqui e ali, e o problema foi facilmente identificado. Suas botas estavam invertidas, ou seja, a bota esquerda no pé direito e a bota direita no pé esquerdo.

Então foi por isso. — Disse Souma.

Claro que foi por isso. Mas o que o levou a cometer um erro desses? Quando Leelya perguntou, Souma apenas murmurou inclinando a cabeça. Não faço ideia. E Leelya indagou se deveria considerar como um simples lapso. No entanto, Souma frequentemente se equivocava de tal maneira.

Souma é um homem estranho, pensou Leelya. Ele é sofisticado e inteligente, então não seria exagero dizer que sua técnica com a espada atingiu o ápice. Ele não é descuidado ou desorganizado. Leelya normalmente diria que ele é muito confiável, não que ela precisasse confiar nos outros. A liderança da Souma não apresenta defeitos, ele tem um excelente julgamento e um senso de responsabilidade nato.

Ele é um daqueles que, se jogado em um lugar selvagem, nu e sozinho, ainda encontraria uma maneira de sobreviver. No entanto, também lhe faltava algo. Leelya estava com ele há algum tempo, mas não sabia o que poderia ser. De vez em quando, ele faria algo inesperado que a pegaria completamente de surpresa. Ele é o que nenhum elfo jamais foi, daí o pequeno interesse de Leelya. Na verdade, é um singelo e pequenino interesse – nem mais, nem menos.

Souma logo se deitou no chão. Kemuri ainda estava profundamente adormecido e Shima preparada para seguir. Pingo e Zenmai ficariam de guarda durante a noite, embora ninguém tenha solicitado isso à eles. Leelya também sentiu-se sonolenta. Não era necessário nenhuma preparação: sua bolsa servia como um travesseiro e seu manto como cobertor. No entanto, ela não dormiu imediatamente.

Deitada com os olhos ainda fechados, seus devaneios começaram a lhe perturbar. Ela ignorou-os e deixou que ficassem, mas esperava que logo fossem embora de sua consciência. De vez em quando, com as pálpebras entreabertas, ela olhava para além da fogueira – para ver o Souma. Ele estava deitado de barriga para cima, com os braços sob a cabeça e um joelho levantado. Será que ele já adormeceu? Ela não tinha certeza.

Se algo acontecesse, Pingo daria o alarme e não havia nenhuma dúvida de que ele estaria imediatamente de pé. Era mais como se ele estivesse em um sono leve. Souma se virou enquanto emitia uma mistura de murmúrio com grunhido — Mnn… Ficou de frente para ela. Ligeiramente surpresa, ela fechou os olhos novamente.

Leelya não tinha quaisquer segundas intenções e seria complicado explicar o contrário no caso de ocorrer um mal-entendido. Mas Souma estava aquém disso, talvez em sono profundo. Leelya suspirou e vagarosamente abriu os olhos de novo.

Ela encontrou o olhar de Souma. Ele estava olhando diretamente para ela. Leelya enrijeceu. Devo me explicar? Não, ela não fez nada de errado. Souma foi quem procurou e acabou encontrando o olhar dela. Isso não requer qualquer tipo de explicação. Sequer havia necessidade de se preocupar. Souma era o único culpado… Ou talvez não culpado, mas… parcialmente responsável.

E ele deve assumir a responsabilidade por isso. Seria problemático para ela se ele recusasse. Mas, antes disso, o contato visual… Ela precisava quebrar o contato visual com ele. Ela não podia suportar mais esse olhar. Era muito… embaraçoso trocar olhares dessa maneira. Ainda assim, por que ela não conseguiu desviar o olhar?

Antes que ela pudesse encontrar uma resposta, Souma fechou os olhos, se virou e voltou a dormir. Leelya então percebeu que Souma não estava olhando para ela. Ele sequer acordou, simplesmente abriu os olhos enquanto dormia e, coincidentemente, virou na direção dela. Não foi nada de mais.

Tudo aquilo foi irrelevante, apesar de repentino. Ele começou a murmurar alguma coisa. N… nnn…

Para Leelya, soava como se ele estivesse chamando o nome de alguém. Talvez fosse apenas imaginação. Incapaz de aguentar mais, ela se aconchegou para tentar dormir, mas sentiu uma dor aguda no peito. O que seria esse sentimento em seu coração? O que causou isso? Ela não sabia. Ela não tinha a menor noção.

Eu não sei. Leelya sussurrou para si mesma.

Ela esperava conhecer o mundo externo para adquirir conhecimento, percepção e a força emocional necessaŕia para permanecer imperturbável e apaixonada. Leelya ainda não contou isso a ninguém, mas está convicta de que a raça élfica, que caminha para o total declínio, deve reconquistar sua antiga glória.

Ela estava aqui apenas com este propósito. Na verdade, ela admitiu ter interesse no Souma. Mesmo assim, era um interesse secundário.

E, certamente, nada de mais.

Olá, eu sou o Asu!

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