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Capítulo 5: Visita


Seis dias se passaram desde que recebi a encomenda do diretor, isso significa que amanhã irei para a academia.

Agora, observando o céu, noto que o azul está desbotando para um cinza escuro. As nuvens passam, inquietas, impacientes para um bom aguaceiro.

Enquanto caminho pela calçada da rua, paro de encarar os céus e retorno às profundezas da minha mente.

“Como ele sabe?”

Claro, se o diretor fosse amigo da minha mãe, faria sentido ele saber meu antigo nome. Entretanto, não importa o quanto vasculhe minha memória, não me recordo dele.

Mesmo fazendo várias pesquisas, não encontrei nenhum indício de que David Ospol conhecia minha mãe. Então como ele sabe meu antigo sobrenome? Tenho certeza de ter apagado tudo que me ligava aos Lenox… Bom, quase tudo.

Pesquisando mais a fundo, descobri algumas coisas interessantes.

No início dos pontos, a família Ospol obteve bastante reconhecimento por ter vários membros ceifadores poderosos, e o mesmo pode ser dito de sua academia. Posteriormente, ela e a Ceifa entraram em parceria.

Os antigos diretores eram conhecidos por serem fortes e possuírem volunges raras.

O atual, no entanto, é alguém que não se expõe à mídia. Não encontrei nenhuma informação sobre ele, exceto o fato de possuir uma filha junto a sua esposa.

Fiquei perplexo ao descobrir o nome de sua filha: Coraline.

Paro de andar quando chego ao meu destino: um prédio elegante de vinte andares. Na entrada, acima da porta automática, reside o nome: Hospital Gray.

Entro e noto que o ambiente é limpo e simples.

No centro reside um balcão com vários recepcionistas atrás de computadores. Também há TVs nas paredes, pôsteres de médico em telas holográficas e assentos espalhados por fileiras.

— Boa tarde, o senhor precisa de algo? — indaga uma recepcionista em um balcão.

Fico a sua frente e digo:

— Tenho uma visita agendada no quarto 666. — Minha voz neutra, sem qualquer emoção.

— Certo, um momento. — Ela começa a digitar no teclado à sua frente e dar alguns cliques com o mouse. — Qual seu nome?

— Hadria — respondo. — Hadria Hiraeth.

A recepcionista me encara, porém logo desvia ao ver meus olhos inexpressivos.

— T-tudo certo — gagueja enquanto me entrega um cartão verde. — É-é só pegar o elevador e…

— Eu sei o caminho.

Viro as costas e me dirijo até um dos elevadores nas paredes.

Entro em um vazio. Um homem está prestes a se juntar a mim, entretanto recua ao encarar-me por um momento.

A porta se fecha e então aperto o botão para o último andar, enquanto uma música irritante agride meus ouvidos.

— Você chegou ao vigésimo piso — ecoa uma voz robótica.

Saio e vejo três corredores: um na direita, outro na esquerda e o último à minha frente.

Viro para a direita e começo a caminhar. As paredes são brancas com uma linha verde no meio dela, o número de cada quarto ao lado da porta.

663, 664, 665…

“666, finalmente.”

Antes de entrar, olho para os lados e certifico de que ninguém está vigiando.

Coloco meu cartão sobre o pequeno quadrado abaixo da maçaneta e ouço o ruído da porta destrancando.

Empurro-a e entro, assim sentindo o ambiente frio.

— Oi, Beatriz — digo, no entanto ela não responde, apenas continua deitada sobre a cama. — Desculpa, faz um tempo que não venho aqui, né?

O som dos inúmeros aparelhos que a mantém viva é minha única resposta.

Sento na cadeira gelada ao seu lado.

— Eu sonhei com aquele dia de novo. — Aguardo uma resposta, claro, nada vem. Meu coração dói quando murmuro: — O dia que você ficou nesse estado…

Tum!

O barulho da porta se abrindo e batendo contra a parede agride meus ouvidos.

De repente, sinto uma sensação gélida na minha nuca. Uma fria voz feminina vem logo em seguida:

— O que faz aqui? — Suas palavras carregam um rancor passado.

Viro-me e encaro o rosto de uma antiga conhecida. Flashbacks daquele dia preenchem minha mente…

Minha mãe se espantando ao ver que metade de meu braço sumiu. Os pais de Beatriz chegando ao hospital e recebendo a notícia de que a filha jamais acordaria. Os gritos de angústia e desespero de Eliene…

Repudio essas memórias e as guardo no fundo do meu ser.

— Eu perguntei o que faz aqui.

Ela aponta uma pistola a centímetros do meu rosto.

— Oi pra você também, Eliene. — Minha voz sai fria, sem demonstrar nada além de desdém.

— Sai de perto dela — murmura, porém permaneco parado e mantenho a expressão neutra. — Que porra! Mandei sair de perto dela! — Dessa vez ela encosta sua arma em minha testa.

Seus olhos castanhos claros ficam fixos nos meus, consigo ver a fúria por trás deles.

“Preciso ir.”

Estendo as mãos para cima e ela afasta sua arma.

— Tá bom, tá bom.

Levanto e caminho até a porta, porém, ao invés de passar por ela, a fecho e encosto-me sobre a mesma enquanto encaro Eliene.

Ela aponta a pistola para mim. Crio uma camada de mana sobre meu corpo.

Pow!

A bala atinge meu ombro, porém a mesma não perfura minha pele, pelo contrário, é refletida e cai no chão.

— Mas que porra, Hadria! — Ao ouvir meu nome saindo de sua boca, sente nojo das próprias palavras. — Só vai embora… — Sua voz vacila. — Já não causou sofrimento suficiente para minha família… por que continua nos atormentando assim?

Solto um suspiro involuntário.

“Parece que ela ainda me odeia.”

— Ok, estou indo… — paro de falar quando algo me vem à mente — mas antes…

Começo a caminhar até ela com passos leves enquanto a pistola continua apontada para mim.

Pow! Pow! Pow!

Três balas vem em minha direção. As duas primeiras caem quando atingem meu peito, a última, no entanto, estava vindo direto ao meu olho.

Sinto uma ardência nos dedos ao pegar a bala no ar.

Agora, a poucos centímetros de Eliene, coloco a bala de volta no cano da arma e a abaixo com o dedo.

Inclino a cabeça até que minha boca fica ao lado de seu ouvido e então sussurro:

— Você continua linda.

Ela fica sem reação. Um sorriso genuíno cria forma em meu rosto.

— Hã? O que? VAI SE-!

Ativo minha volunge antes que termine de falar. O mundo ao redor fica praticamente paralisado. Encaro seus olhos castanhos claros e também noto que suas bochechas estão coradas.

— Suas reações continuam sendo as melhores… Arght!

Uma dor aguda percorre todo meu corpo, suor escorre pela minha testa e minhas pernas ficam trémulas.

“Parece que não me recuperei totalmente desde a última vez.”

Vou até a cama de Beatriz.

— Vou cuidar dela… eu prometo.

De repente, sinto um aperto no peito, a sensação de culpa toma conta. Sem suportar, retiro minha “máscara” e deixo o que sinto transparecer.

— Eu disse a mesma coisa para sua mãe… — A fito por inteiro antes de continuar: — E olha seu estado.

Os fios de seu cabelo, antes loiros, estão brancos, o rosto pálido, o corpo desfiando sozinho…

Lágrimas brotam em meus olhos. Rapidamente as limpo usando o tecido da longa luva sobre meus braços.

Caminho até a porta e, exausto, desativo minha volunge.

— FODER! Espera, o que…

Sem fôlego, fecho a porta do quarto e, a passos leves, volto pelo mesmo caminho que vim.

ELIENE BESSA:

— Desgraçado — murmuro.

Continuo encarando a porta fechada, esperando que ele volte.

A mesma não se move, solto um suspiro involuntário e sento na cadeira ao lado de minha irmã.

Seguro sua mão e aquele dia vem em mente.

Os gritos da minha mãe, a sensação do mundo desabando, o olhar daquele desgraçado pedindo desculpas…

Hoje, tenho 19 anos, porém, naquela época, possuía apenas onze. Meu mundo era minha família e ele foi destruído.

Minha mãe nunca mais foi a mesma.

“Merecia muito mais”. Foi o que disse quando descobrimos a morte da mãe de Hadria, sua antiga melhor amiga.

Os Bessa, minha família, criaram um rancor contra os Lenox, não importa se tem ou não o sobrenome.

BUM!

Uma explosão interrompe meus pensamentos.

Levanto da cadeira e vou até a janela do quarto. A abro, olho para baixo e vejo fumaça no meio da rua.

Várias pessoas correm, desesperadas, porém duas figuras continuam paradas se encarando.

Penso no anel dimensional que está em meu dedo. O objeto dourado começa a brilhar, e após imaginar a sniper armazenada dentro dele, ela surge em minha mão.

Abro a janela e após mirar, coloco meu olho na lente. Consigo distinguir as duas pessoas paradas.

Uma é o Lenox deserdado. Ele está em posição de defesa — chamas emanam de suas mãos.

O ser à sua frente, no entanto, não é humano. Com a aparência desfigurada, possui duas cabeças e quatro braços.

“Uma maldição?!”


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