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Quando a névoa ao redor de Herman, Mávros, Vítor e Alice se dispersou, eles se depararam com um novo ambiente, um beco sujo do outro lado do rio Rhein. Vítor, exausto por usar todo aquele poder em um único dia, deitou-se fatigado e desacordado no chão enlameado, sem ao menos se importar com o uniforme que tanto valorizava.

— E agora? — perguntou Mávros, em sua forma de águia, empoleirado no ombro de Herman.

— Esperar ordens dos nossos superiores — respondeu Herman ao analisar se Vítor estava bem — Seu namorado vai acordar amanhã como um novo homem.

— Nós não somos namorados — retrucou Alice um pouco irritada.

— Formam um belo casal… — Herman segurou o corpo sem forças de Vítor e começou a arrastá-lo.

Ele explorou a parede de tijolos no fundo do beco até encontrar um tijolo meio solto entre tantos outros.

— Encontrei — exclamou ao apertar o tijolo.

A parede de tijolos se moveu, revelando uma abertura para um grande corredor escuro que se iluminava devagar com tochas de fogo azul.

— O garoto nos enviou direto para o esconderijo? — comentou Mávros incrédulo.

— Também acho estranho. Talvez Erobern tenha informado sobre o local anteriormente. Difícil acreditar que ele nos enviaria para cá aleatoriamente — Herman entrou no corredor carregando Vítor no ombro.

— Que lugar é esse? — disse Alice apreensiva, ela encarava aquele corredor com medo do que podia haver do outro lado.

Herman suspirou, voltou seu olhar para ela e disse:

— Vou te dar duas opções, a primeira é dar meia-volta e não entrar nesse corredor e continuar como uma heroína, a segunda é entrar conosco e se tornar parte do exército de libertação. Você entende o que quero dizer, certo?

— Não.

— Como? — falou Herman confuso — Quando você chegou em Testfeld? Em que dia foi invocada?

— Uns dois atrás.

— Leva de abril, pelo menos leu o livro que te entregaram?

— Que livro?

Herman ficou mudo de surpresa.

— Isso explica muita coisa — acrescentou Mávros.

— Entre, vou te explicar tudo — ordenou Herman desanimado — Não é o meu papel, mas irei fazer o meu melhor.

Mesmo desconfiada, Alice entrou no corredor que fechou sua passagem atrás dela.

— Kingslayer e Mávros com dois novos recrutas — gritou Herman no corredor.

Quando tais palavras foram ditas, o final do corredor aproximou-se deles, Alice se encolheu com medo de ser esmagada. Mávros e Herman ficaram parados, sem esboçar nenhuma reação.

A parede parou poucos centímetros antes de tocar o cabelo sedoso de Herman. Uma porta se abriu revelando uma sala de estar com uma mesa, cadeiras, poltronas e uma pequena televisão no canto da parede.

— Pensei que nunca mais veria uma! — Alice correu para tocar no eletrodoméstico e provar que ele era de verdade.

— O que tem demais nessa caixa quadrada? — indagou Herman ao deitar Vítor em um sofá.

— Você tem ideia do que é isso? 

— Caixa que mostra imagens, Erobern usa isso para falar conosco, é uma tecnologia interessante, mas eu não sei o nome.

— Nós não estamos em um mundo medieval? — questionou ela confusa.

— Mundo medieval? — repetiu Herman sem entender.

— Não, Alice, Testfeld está perto do que posso chamar de segunda revolução industrial — balbuciou Vítor no sofá, agora um pouco mais acordado.

— Como você está? — preocupou-se Mávros ao se aproximar e bicar a testa de Vítor.

— Ei! Pare com isso! — gritou ele incomodado — Meu corpo inteiro esta formigando e eu não sinto meus braços e pernas.

— Sinto muito, mas você ficou tetraplégico — zombou Mávros, mas com um tom sério.

Vítor lançou um olhar cético antes de voltar sua atenção para Herman, aguardando que este comentasse sobre a situação.

— Lembre-se do salmão — repreendeu Herman.

— É verdade! Onde está o meu salmão?

— Na caixa que resfria.

Mávros voou até a cozinha e, transformando-se, tornou-se um imenso gorila de pelos escuros. Abriu a geladeira, retirou sua refeição, colocou-a na mesa e voltou à forma de águia para saboreá-la.

— Não se preocupe — Herman dirigiu-se a Vítor — É apenas um cansaço por utilizar muito poder de uma vez só. Descanse e acordará bem amanhã.

Vítor usou suas últimas forças para fazer um sinal positivo com as mãos antes de cair novamente no sono. Herman voltou sua atenção para Alice.

— Quanto a você, mocinha, temos que conversar. Sente-se.

Alice obedeceu em silêncio, acomodando-se numa das poltronas da sala.

— Por onde quer começar as perguntas?

Alice hesitou por um momento, seus olhos percorrendo a sala antes de se fixarem em Herman.

— Comece me explicando mais sobre este lugar, sobre Testfeld. O que é esse exército de libertação, e por que eu deveria fazer parte dele?

— Vou te responder com uma pequena história que, espero, sanará todas as suas dúvidas…


“Vencido, mas não derrotado”, estas foram as últimas palavras pronunciadas por Erobern à aliança dos vinte reis.  Sozinho, ele realizou o feito extraordinário de aniquilar o continente oriental, restando apenas pó no desfecho.

Seu equívoco foi a tentativa de expandir seu Império ao continente dos homens e de desafiar os próprios deuses. Ele sobrepujou um deus em poder, contudo se mostrou impotente diante de uma coalizão completa entre mortais e seres celestiais.

Quando percebeu que o seu sonho era impossível de ser alcançado, ele amaldiçoou o nosso mundo com as calamidades, um lembrete da sua promessa de retorno. Apesar de sua derrota, ele é a representação de uma nova ordem, um novo governo mundial chamado de “Império da Glória Eterna”.

O exército de libertação foi formado por seguidores fiéis dessa ideologia, nosso objetivo é libertar Testfeld da influência dos heróis e dos Deuses e assim restaurar o legítimo Imperador de volta ao seu trono.


— Ele parece ser mal… — comentou Alice.

— Ele tem os seus motivos para querer vingança, posso afirmar isso com convicção — rebateu Herman. 

— Mas… Estou aqui para lutar contra ele?

Herman balançou a cabeça em um sinal negativo.

— Então, contra quem devo lutar?

— Calamidades.

Alice o encarou para pedir mais explicações. Porém, Herman não as tinha e foi bem sincero sobre isso:

— Sinto muito, mas eu não sei o que é uma calamidade e nunca vi uma, elas só aparecem uma vez a cada quinhentos anos. Os contos dizem sobre bestas terríveis provenientes das profundezas para aniquilar a humanidade.

— E como eles esperam que eu lute contra elas?

— Me diga, na Terra, seu planeta natal, você possuía a habilidade de controlar o fogo?

Ela olhou para as suas mãos e criou uma pequena labareda delas.

— Acredito que isso responda sua pergunta — afirmou Herman.

— Após lutar, posso voltar para casa? — perguntou com um brilho de esperança nos olhos.

— Não faço ideia, isso deve estar no livro.

— Que livro?

— Ao chegar em Testfeld, na cidade celestial, você é recepcionada pelas valquírias, que te dão instruções sobre tudo, regras e tudo mais.

— Não comigo — negou um pouco surpresa.

— Quem te recepcionou então? 

— Guildas, guildas de heróis.

— Isso explica muita coisa — gritou Mávros da cozinha enquanto comia o seu salmão.

— Foi assim que conheceu Vítor? — Herman apontou para o jovem em seu sono tranquilo no sofá.

— Sim, a guilda dele me recepcionou, os Dragões do Sol.

— E depois? O que levou vocês a serem perseguidos pela própria guilda? Por que Vitor fez um acordo com Erobern? — perguntou Herman sem parar.

— Prefiro não comentar sobre isso… — falou Alice meio triste.

Herman olhou para ela com um pouco de pena e decidiu não fazer mais perguntas. Mas todo aquele passado dos dois estimulava a sua imaginação, por qual motivo Vítor trocaria a estabilidade como herói para se tornar um rebelde membro do exército de libertação?

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