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Os elfos prenderam suas respirações, ansiosos, ao verem os barcos a remo se aproximarem. Eram dezenas no horizonte, e se aproximavam da praia como enxames. Quando chegaram a uma certa distância, Celador, do topo de uma falésia, deu a ordem de ataque para os arqueiros.

Uma chuva de flechas de fogo mágico caiu sobre as embarcações, e algumas começaram a pegar fogo. Os atacantes não pararam e desembarcaram na praia em massa. Eram numerosos, vestiam uma variedade de armaduras confeccionadas com diferentes materiais. Portavam machados, espadas e lanças, também, sem nenhuma padronização.

Celador desceu as falésias, com um grupo de espadachins. Eles se posicionaram em uma posição estratégica, no exato local onde as árvores encontravam a areia da praia. Ali, entre a vegetação e a costa, formaram uma linha defensiva. Os atacantes vieram contra a linha defensiva e a batalha corpo-a-corpo se iniciou.

O capitão empunhava uma espada longa, uma relíquia passada de geração em geração. Forjada com uma liga de bronze e ferro dragônico, sua lâmina ostentava uma marca negra que se estendia da ponta até a base. A empunhadura, ricamente trabalhada, exibia o brasão da família de Celandor em relevo. Uma aura branca envolvia a espada, a mesma luz com que Dessielle havia abençoado o capitão no dia anterior.

A escaramuça iniciou-se. Celandor investiu contra seu primeiro oponente, um bárbaro armado com um machado. Com um único golpe, desarmou o adversário. O bárbaro encarou o elfo com temor e mal teve tempo de reagir antes que a espada brilhante perfurasse sua armadura, atingindo fatalmente seu torso. “Fácil”, pensou Celandor.

Um segundo inimigo tentou surpreender o capitão por trás, mas Tassarion estava alerta e contra-atacou.

— Excelente, filho — elogiou Celandor enquanto se esquivava dos ataques de outro espadachim. — Avancem, soldados! Expulsem os invasores!

Um após o outro, os inimigos tombavam na praia, seja pelas flechas letais dos arqueiros posicionados nas falésias ou pelas espadas de Celador e seu pelotão. Os humanos explodiam, quando as flechas com fogo mágico acertavam suas armaduras. Era uma cena de carnificina; os elfos não perderam um único soldado, enquanto os humanos sofreram baixas incontáveis. A moral deles baixou, e os sobreviventes começaram a fugir em desespero.

— Fujam, covardes! Voltem para o seu continente! — bradavam os elfos.

Todavia, Celador não se mostra feliz pela vitória, ele sentia alguma coisa errada no ar, onde estavam aqueles três mensageiros do dia anterior? O exército de Erobern deveria ser formidável, e até agora, os invasores pareciam ser apenas soldados mal-treinados.

A preocupação cresceu quando um dos soldados explodiu em chamas ao tentar fugir em um dos barcos.

— São prisioneiros de guerra, é uma armadilha! — alertou Celandor aos seus companheiros.

Todos olharam sem compreender a verdadeira gravidade da situação.

— Pai, estamos vencendo. Do que o senhor está falando? — questionou Tassarion.

— Eles foram forçados a isso. Não desejam lutar contra nós; são apenas uma distração… — murmurou Celador, enquanto refletia sobre onde estaria a verdadeira força de invasão do Exército de Libertação.

Diante dos olhares atônitos de todos, uma barreira mágica desapareceu e revelou a ilusão. O horizonte não estava vazio; toda a frota de invasão havia se aproximado da praia. Eram três couraçados, as naus capitânias da frota, acompanhadas por duas dezenas de fragatas. Todas as embarcações estavam blindadas, e uma fina fumaça negra emanava de suas chaminés. Era uma tecnologia estranha para um povo habituado aos grandes navios de madeira com velas e mastros.

Mal tiveram tempo de assimilar o que estava acontecendo. Os canhões começaram a atacar a linha defensiva. Os arqueiros nas falésias foram lançados ao mar após uma grande explosão atingir a rocha e desmoronar o penhasco.

— Que tipo de magia é essa? — Celandor olhava paralisado para as embarcações, cujas explosões dos canhões distorciam a água do oceano.

Um dos projéteis explodiu diretamente ao seu lado, o elfo a sua direita morreu na hora. A terra subiu e criou uma nuvem de pó. O impacto derrubou Celandor no chão, atordoado.

— Pai! — Tassarion ajudou-o a se levantar. — O que está acontecendo?

— Eu não sei, filho… Eu não sei…

Na praia, cinco lanchas de desembarque chegaram à costa. Em cada uma delas, um líder do Exército de Libertação acompanhado por dez soldados. Todos os soldados vestiam uniformes negros semelhantes aos dos guardas da Cidade da Joia da Coroa, com capacetes que ocultavam seus rostos, deixando apenas a boca à mostra. Portavam fuzis de assalto e não demonstravam nenhum traço de individualidade.

— Recuar! — alertou Celandor para seus homens, que começaram a retroceder em direção à cidade.

Alguns arqueiros lançaram flechas contra as lanchas, mas estas simplesmente ricochetearam na blindagem e caíram sem causar nenhum efeito. Foi então que uma sexta lancha alcançou a costa. Khan saiu dela em seu corcel marrom, acompanhado por outros três cavaleiros com armaduras ornamentadas, semelhantes à vestida por Khan.

— Vão, meus filhos, orgulhem o Imperador — ordenou ele.

Os cavaleiros avançaram destemidos, atravessando o bombardeio incessante dos couraçados. Com habilidade e precisão, um deles empunhou sua lança, mirando em um arqueiro elfo que tentava fugir pela estrada. A lança cortou o ar, perfurando o arqueiro no coração.

Celandor testemunhou a cena angustiado, e seus olhos viram outro cavaleiro, já preparado para atacar Tassarion. Sem hesitar, ele se lançou contra o inimigo, derrubando-o da montaria.

Celandor rolou pelo chão, e uma briga de empurrões e soco se iniciou, até que o elfo socou o jovem, removendo-lhe o capacete. Ao assistir seu pai lutar, tomado pela coragem, Tassarion sacou sua espada e fincou o braço do cavaleiro no chão. Ao ouvirem o gemer de seu companheiro, os outros cavaleiros cessaram a perseguição, fixando seus olhares no pai e no filho em meio ao caos da batalha.

Eles não se moveram, apenas esperaram o golpe fatal por parte de Celador. Mas, os elfos deixaram o inimigo ferido no campo de batalha e continuaram a fugir para a cidade.

— Covardes… — declarou um dos cavaleiros. 

— Não se preocupe, Dagun, nosso pai saberá como lidar com eles. — O segundo jovem desmontou do cavalo e se aproximou do companheiro ferido. — Jungshoi, que ferimento belo você adquiriu. Uma pequena distração causa grandes estragos.

— Cale a boca, irmão, poderia ter sido você — retrucou ele ao tentar tirar a espada presa em seu braço. — Ajude aqui!

— Por isso ainda não foi promovido — comentou Dagun ao também descer de seu cavalo. — E eles fugiram… Ótimo…

— Esse não era o plano? Prendê-los na cidade? — indagou Jungshoi no momento em que seu irmão retirava a espada de seu braço.

— Os civis já fugiram, qual a graça? Perdi a melhor parte, o saque… Lembra das histórias de nosso pai? Quando ele invadiu o Império dos Quatro Reinos? Foi assim que ele conheceu sua mãe, não é, Dayir? O sangue de nosso pai é muito forte, porque se dependesse dela… — zombou Dagun com gargalhadas.

— Cale a boca irmão. — Dayir removeu a espada, e o sangue da ferida de Jungshoi jorrou em sua armadura.

Jungshoi ergueu-se, ao lado de seus irmãos, e os três contemplaram a cidade de Aethenil ao longe, onde os inimigos se tornavam apenas pontos no horizonte. Dos dois milhares de elfos, apenas um quinto sobreviveu ao ataque na praia. A grande maioria morreu no bombardeio naval sofrido, e o fogo dos soldados de elite do Exército de Libertação dizimou aqueles que tentaram fugir pela praia.

Havia muitos feridos, todos sendo curados pelas sacerdotisas. Celador e Tassarion adentraram o templo, onde uma solitária Dessielle orava para a estátua da Deusa.

— Preciso de respostas — afirmou Celador. — O que era aquilo na praia? Como seus sentidos espirituais não captaram aquilo?

— Não possuo todas as respostas. Num momento, senti a vitória, a euforia de vocês, e no instante seguinte, uma dor profunda… — murmurou Dessiele, com a mão sobre o coração.

— A senhora está bem? — Um preocupado Tassarion se aproximou do altar.

— Não se preocupe, garoto, é apenas minha empatia espiritual. A batalha mexeu com a minha sensibilidade, estou melhor agora.

— Eles vão atacar a cidade em breve, nossa única esperança são as catacumbas. — Celador estava pronto para iniciar a retirada para o subterrâneo.

— Não será necessário os reforços já estão próximos. — Dessiele sorriu.

— Como a senhora sabe? — questionou Tassarion.

— Eu não sei, apenas sinto.

No céu, distante da vista de todos, uma formação de cavaleiros montados em dragões se aproximava de Aethenil. Nele, cinco membros da guarda real do Reino dos Elfos do Sul estavam prontos para lutar contra o Exército de Libertação. A verdadeira batalha estava apenas começando.

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