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— Qual classe você deseja escolher? — perguntou o homem, acomodando-se atrás de sua escrivaninha e pegando uma planilha com um questionário.

— Necromante — respondeu Vítor, sentando-se na cadeira à sua frente.

— Interessante escolha. — O homem anotou a resposta e lançou um olhar avaliativo sobre Vítor. — Sentiu alguma diferença desde que chegou?

— Nenhuma, estou perfeitamente bem.

— Excelente. — O clérigo se levantou e se dirigiu a uma estante repleta de caixas. Escolheu uma delas, uma caixa de vidro contendo um pequeno roedor morto, cujo corpo já exalava o odor da decomposição. — Agora, concentre-se. Visualize-se dentro do roedor, como se fosse parte dele. Não toque na caixa, apenas use sua vontade para fazê-lo mover um músculo, qualquer um.

Vítor estendeu as mãos, e um fio quase imperceptível de névoa começou a emanar de seu dedo indicador, serpenteando pelo ar até penetrar no cadáver do roedor. O fio etéreo se conectou ao corpo como as cordas de uma marionete, fazendo o pequeno animal morto se erguer e caminhar desajeitadamente pela caixa.

— Necromante, aptidão de nível elevado. — O clérigo sorriu, satisfeito, enquanto dava um leve tapa nas costas de Vítor e fazia anotações no questionário. — Parabéns, você conseguiu exatamente a classe que desejava. — Ele fechou o questionário com um gesto final. — Normalmente, levo quase meia hora com cada herói, mas você? Cinco minutos, e tudo resolvido. Impressionante.

— Espere um momento… — interrompeu Alexandra, encarando Vítor por um instante antes de olhar para o rato. — Faça de novo.

— Algum problema? — Vítor ficou alerta, sempre conseguira esconder sua verdadeira classe, revelando-a apenas quando fosse vantajoso.

— Mova o rato novamente — repetiu Alexandra.

Vítor se concentrou, desta vez projetando um fio ainda mais fino, usando toda sua concentração.

— Como imaginei… — A valquíria observou atentamente, e sem aviso, sacou sua espada e tentou decapitar Vítor.

— Que diabos é isso! — gritou o clérigo ao ver Vítor se contorcer em uma névoa negra.

— Senhor da Névoa, uma das cinco classes especiais. Quem poderia imaginar? — Alexandra guardou a espada, e Vítor voltou à sua forma humana.

“Essa mulher é perigosa. Ela conhece minha verdadeira classe. Ainda estou muito fraco para matá-la ou enfrentar os outros heróis que virão atrás de mim,” pensou Vítor, considerando o melhor plano de ação.

— O que eu sou? — Vítor decidiu fingir ignorância.

— Senhor da Névoa, uma das cinco classes especiais. Tem uma taxa de aparecimento de dez em cada cem mil heróis. É a terceira mais rara, atrás apenas dos Devoradores de Mentes e dos Senhores da Eternidade. — O clérigo se sentou e anotou tudo em seu questionário.

— Uma subclasse que combina aspectos de invocadores e magos, capaz de manipular tanto seu corpo quanto a névoa à sua vontade. O nome vem de um herói da Segunda Calamidade, o criador original da técnica. — Alexandra o observava de forma suspeita, a mão sempre próxima à bainha da espada.

— O que aconteceu com ele? — perguntou Vítor, desconfortável com a conversa.

— Ele foi o único sobrevivente da batalha contra o último chefe da calamidade. Ressuscitou seus companheiros caídos e os usou para derrotar o chefe final — respondeu o clérigo.

— Me digam, o que é um Senhor da Eternidade? Qual é o poder dessa classe? É semelhante ao de um Senhor da Névoa?

Tanto o clérigo quanto Alexandra ficaram em silêncio por um instante antes de soltarem uma gargalhada simultânea.

— Senhor da Eternidade, a classe com acesso a todas as magias e habilidades que Testfeld oferece, mas a um grande custo. Você prefere ser mediano em tudo ou excelente em uma única habilidade?

— Ser excelente em tudo. — Vítor sorriu com determinação. — E o que faço agora?

— Vamos relatar isso ao conselho. Muitas guildas vão querer recrutá-lo. Você tem uma sorte incrível, garoto — afirmou o clérigo.

Isso era ruim, muito ruim. Se todos soubessem de suas fraquezas, especialmente as ligadas às bênçãos, iriam explorá-las a cada oportunidade.

— Posso sair por um momento? Estou um pouco abalado e preciso de ar fresco. — Vítor tentava encontrar uma maneira de escapar daquela situação.

— Claro, mas não se afaste muito. — Alexandra o observava com desconfiança.

Calmamente, ele se misturou na multidão, porém suas roupas o entregavam. Na primeira oportunidade, ele roubou um uniforme em uma das muitas lojas de acessórios no pavilhão dos heróis.

Era uma roupa comum, uniforme de um mago de nível baixo, sem chapéu ou outros acessórios extravagantes. Em um minuto, Vítor se transformou em apenas mais um na multidão. Ele estava saindo do pavilhão, quando seus olhos encontraram um estande de recrutamento de guilda.

“Dragões do Sol”, era o nome estampado no cartaz. Antes, Vítor havia sido um dos fundadores da guilda, agora, por ter ficado vários dias apagado, seria apenas um membro comum, caso quisesse voltar.  Ele encarou o estande por alguns segundos, a nostalgia misturando-se com a frustração, até que um homem em trajes negros esbarrou nele propositalmente.

— Ei! Peça licença! — vociferou Vítor, irritado.

— É a melhor forma de chamar a sua atenção… — O homem sorriu, e Vítor reconheceu o rosto familiar.

— Então acho melhor que encontremos um lugar privado para conversarmos.

— É o ideal — concordou Herman, com um brilho conspiratório nos olhos.

Os dois subiram as escadas, indo parar no teto do pavilhão, de onde se tinha uma vista panorâmica da Cidade Celestial, inclusive de suas ilhas auxiliares menores que orbitavam a grande ilha principal. 

— Meu nome é Herman Krieger, vim ajudá-lo. Queria tê-lo encontrado antes, mas minhas fontes me informaram que você estava inconsciente — disse Herman.

— O que você quer? — Vítor perguntou de forma direta.

— Ajudar… Você tem um potencial imenso, Vítor, um potencial que minha organização está interessada em explorar — respondeu Herman, sua expressão séria.

— Então me ajude a esconder minha verdadeira classe. Não posso ficar exposto, essa é minha maior fraqueza. — Vítor sabia que o exército de libertação poderia ajudá-lo, na verdade, eles eram a única esperança dele.

— Posso lhe oferecer algo único, mas tudo tem um preço. Um preço que tenho certeza de que você está disposto a pagar.

— Vamos ver… Me fale o seu preço.

Herman estendeu a mão, revelando um pequeno ovo, do tamanho de um ovo de galinha, negro e pulsante, como se uma energia sombria vibrasse em suas palmas, ansiando por ser liberta.

— O que é isso? — Vítor perguntou, intrigado e cauteloso, era a primeira vez que encontrava tal artefato.

— Ovo de calamidade. Quando eclodir, uma besta emergirá dele — respondeu Herman, seus olhos fixos em Vítor, avaliando cada reação do herói.

— E por que está me dando isso? — Vítor perguntou, desconfiado, tentando entender o verdadeiro objetivo de Herman neste novo ciclo.

— Para que você cuide dele… e libere a besta na Cidade Celestial — disse Herman, com um brilho gélido no olhar. — Ela irá coletar almas para você, e em troca, você ganhará poder, poder suficiente para moldar o mundo à sua vontade.

— As valquírias e os heróis a matarão na primeira oportunidade — rebateu Vítor, ele sabia das verdadeiras implicações de libertar uma calamidade dentro da cidade celestial, e as punições caso fosse descoberto.

— A besta possui uma habilidade especial chamada “Olho do Tigre”. Nenhum herói conseguirá derrotá-la enquanto estiver sob o efeito dessa habilidade, mas as valquírias são imunes. Você terá que distraí-las. A besta precisa de mil almas, coletadas em mortes brutais. Apenas deixe o caos se espalhar ao seu redor, enquanto lida com as valquírias. Alguns heróis afetados pelo “Olho do Tigre” podem até o ajudar nessa tarefa, sem perceberem.

— O que é essa habilidade?

— Você descobrirá quando for a hora certa, até lá, cuide do ovo.

— Estou muito fraco para proteger qualquer coisa. O alcance da minha névoa não ultrapassa dois metros, e não consigo criar marionetes que sejam realmente úteis. Preciso de muitas pedras de mana para ampliar meu poder — confessou, expondo a realidade de sua situação.

— Não se preocupe, durante a luta, você sentirá seus poderes se ampliar, quanto mais forte a besta for, mais forte você ficará.

— E depois? — Vítor questionou, ainda indeciso sobre a proposta de Herman.

— Quando ela coletar mil almas, você a mata. Mas lembre-se: não a deixe coletar mais de duas mil almas. É um aviso. Depois desse ponto, ninguém mais conseguirá controlá-la. Não condene o mundo por imprudência. Considere isso uma advertência — disse Herman, o tom sério indicando a gravidade da situação.

— Tá e depois disso? Protejo a besta até ela concluir seu objetivo, a mato e… nada acontece, feijoada? — Vítor continuava a indagar sobre sua missão.

— Feijoada? — Herman ficou confuso, não acostumado com aquele termo.

— Sim, o que vem depois? Mato a besta, luto contra todas as valquírias, e provavelmente terei mil heróis atrás de mim. Serei o alvo número um. — Vítor falava frustrado com o plano que parecia suicida até aquele momento.

— Não exatamente. Você pode alegar que estava sob a influência do “Olho do Tigre”. Como terá derrotado a besta, será aclamado como um verdadeiro herói — explicou Herman, suavizando a tensão.

— Entendi o plano. Quando eu começo? — Vítor sentiu-se confiante com a explicação de Herman, agora, sim, o plano parecia viável…

— Comece assim que se sentir pronto. Agora, é hora de eu partir. — Herman se transformou em uma sombra, e desapareceu, mesmo na claridade do dia.

“Ele tinha esse poder antes? Isso é novo”, pensou Vítor, ao procurar Herman no horizonte. Ele abriu a mão e viu o pequeno ovo preto, agora era sua escolha, libertar a besta ou procurar um novo plano.


Nota do Autor: A partir deste capítulo, incluirei fichas dos personagens ao final de cada capítulo. Essas fichas serão atualizadas para refletir o estado atual dos personagens conforme a história avança. Portanto, não estranhe se os atributos de um personagem mudarem em capítulos posteriores. Outras informações, como classe, guilda ou alcunha, também poderão ser atualizadas conforme necessário. Os atributos variam de S+ até F-. Certas técnicas especiais que se manifestam apenas no usuário serão colocadas como “irrelevantes” no alcance.


Vítor
GuildaNenhumaClasseSenhor da Névoa
AlcunhaO MarionetistaTécnica Especial“Mestre das Marionetes”
Mestre das Marionetes
Capacidade OfensivaA+Capacidade DefensivaB+
AlcanceCResistênciaB
VersatilidadeSVelocidadeC


Picture of Olá, eu sou Miltil!

Olá, eu sou Miltil!

Capítulo semanal de Sexta-Feira postado.

O arco da cidade celestial se inicia aqui, e é um arco que eu estou gostando muito de escrever, principalmente as lutas. Espero que vocês também gostem. E a novel “Imperador da Glória Eterna” está participando do sorteio em comemoração ao aniversário da Vulcan. Serão sorteados oito vales para combos de capítulos no valor de R$ 100,00 cada. Visite o servidor do Discord da Vulcan e acesse a aba de sorteios para obter mais informações sobre o evento.

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