Sem hesitar, Vítor saltou do telhado do Pavilhão dos Heróis, enquanto o prédio atrás dele era consumido pelo incêndio da explosão no telhado. Usou sua névoa para amortecer a queda e, ao tocar o solo, foi confrontado com um cenário caótico: corpos espalhados por toda parte, em sua maioria de heróis, mortos não pela calamidade, mas pelos próprios companheiros.
Agora no chão, Vítor pôde observar melhor a calamidade. Ela era semelhante a um dragão, porém claramente não o era. Sua aparência era uma fusão de diferentes criaturas. A cabeça lembrava a de um leopardo, com os olhos de um tigre; sua pele era escamosa como a de um lagarto; as asas pareciam as de um morcego, enquanto suas patas lembravam as de um leão. Além disso, possuía características únicas, como uma longa cauda com espinhos na ponta, prontos para proteger suas costas.
Uma valquíria pousou ao lado de Vítor, trajando uma armadura completa que cobria até mesmo suas asas. A armadura, em estilo grego, incluía um capacete e um escudo, conferindo-lhe uma aparência imponente.
— Você é o único dos heróis que parece imune ao caos ao seu redor. — Ela se aproximou, não com desconfiança, como Alexandra fizera, todavia com esperança.
— Sou imune a qualquer maldição inimiga.
— Então, o culpado por todo esse caos é mesmo aquela criatura? — A valquíria apontou para a calamidade à distância.
— Parece que sim. — Vítor fingiu ignorância, tentando afastar qualquer suspeita sobre si. — A propósito, sou Vítor. E você?
— Cassandra, tenente da guarda celestial.
— Qual é o plano para destruir aquilo? — questionou Vítor, interessado em obter informações.
— Não podemos contar com os outros heróis. A guarda celestial está a caminho, mas até lá, precisamos minimizar as baixas.
— Será difícil com eles lutando entre si dessa maneira. — Vítor observou os corpos brutalmente espalhados pelo pavilhão atrás dele.
“A explosão que provoquei no telhado para derrotar Alexandra provavelmente causou várias mortes nos andares inferiores do pavilhão. Isso deve ter alimentado a besta e a protegido da queda,” refletiu Vítor.
Absorvido em seus pensamentos, ele não percebeu que a criatura se virou, apesar do som estrondoso e dos tremores que acompanhavam seus movimentos.
— Vítor… — Cassandra balbuciou. — Ela está olhando para você…
“Olhando para mim? Ela pensa que sou o quê, o pai dela?”, perguntou-se, encarando os imensos olhos fixos nele.
Os heróis, que antes lutavam até a morte entre si, pararam, como se estivessem em transe. Agora os olhares deles estavam em simultâneo com a calamidade, todos focados em Vítor. “Acho que ele coletou as duas mil almas que precisava, agora ela está fora de controle e atrás de mim, é incrível a minha capacidade de me meter em roubadas!”
— Eles estão olhando para você… — afirmou Cassandra.
— Já percebi. — Vítor se colocou em posição de batalha, envolto em sua névoa.
A criatura soltou um rugido agudo e poderoso, que fez os prédios tremerem e balançou as estruturas da cidade celestial.
— Pela Deusa! — Cassandra cobriu os ouvidos, tentando se proteger do alto ruído.
— “Olho do Tigre”… Que habilidade diabólica… Agora eu a entendo, e a venero…
Agora, tendo absorvido a força vital de Alexandra, Vítor sentia sua névoa se espalhar por uma vasta área. Ela penetrava nos corpos dos heróis já caídos, transformando-os em marionetes. Estes não mais limitados pela carne, e sim transfigurados em grandes bonecos de madeira, mais fortes e resistentes do que os frágeis corpos humanos.
— Onde está a guarda celestial? — Vítor perguntou, enquanto lançava suas marionetes contra as ondas de heróis que avançavam. — Eles já deveriam estar aqui!
— A criatura não é a nossa prioridade no momento. — Cassandra abriu as asas e alçou voo, planando acima do caos.
— Qual é a prioridade, então?
— Proteger o cofre.
“O cofre? Então Herman estava com o grupo do exército de libertação, e eu sou apenas a distração! Droga, como odeio ser colocado em segundo plano! Agora tenho que consertar essa bagunça sozinho.”
Uma a uma, as marionetes de Vítor eram destruídas pelos heróis enfurecidos. Apesar dos danos devastadores que causavam, os heróis pareciam imunes à dor ou ao medo, consumidos pela fúria e adrenalina da batalha, todos com um único alvo em mente: Vítor.
Focado na luta à sua frente, Vítor quase não percebeu o som de um motor se aproximando. Ele assumiu que era apenas mais um ruído da batalha até que, de repente, um carro esportivo avançou em sua direção, quase o atropelando.
Num reflexo, Vítor saltou por cima do veículo, confuso com o que estava acontecendo. O mais estranho era que o carro conseguia tocar seu corpo de névoa, indicando que não era um carro comum, porém algo criado por um dos heróis em meio ao caos.
— O que é isso? — gritou Cassandra, voando acima ao ver o veículo avançar novamente contra Vítor.
Vítor se jogou para o lado, esquivando-se mais uma vez, todavia antes que pudesse se recompor, ouviu a buzina de um caminhão se aproximando.
— Herman, eu ainda vou te matar! — rugiu Vítor, forçado a trocar de corpo com uma de suas marionetes para evitar ser esmagado.
O caminhão, desgovernado, colidiu com a já fragilizada parede do Pavilhão dos Heróis. O impacto foi a gota d’água para a estrutura, que começou a desmoronar de uma vez.
Vítor cobriu instintivamente o rosto, esperando ser engolido por uma nuvem de poeira e escombros, contudo algo inesperado aconteceu: não houve poeira, nem destroços espalhados. Em vez disso, a estrutura inteira começou a flutuar, e Vítor sentiu a gravidade desaparecer sob seus pés. A única coisa que permaneceu firmemente ancorada ao solo foi a calamidade, como se a gravidade zero não a afetasse.
E então, o verdadeiro terror se revelou.
O sangue das batalhas anteriores, espalhado pelo chão, começou a flutuar. Até o sangue coagulado retornou à sua forma líquida. No início, Vítor ignorou aquilo, concentrado em entender a ausência de gravidade e o aparecimento repentino dos veículos.
Entretanto, logo percebeu que o sangue também era uma ameaça. Sentiu uma queimação na pele e, ao olhar para baixo, viu o sangue borbulhando e corroendo sua calça. Não havia como escapar.
Vítor usou sua névoa para se agarrar ao chão e se mover, mesmo na baixa gravidade. No entanto, o sangue o seguiu, queimando tudo em seu caminho, derretendo até as marionetes.
Ele procurou por Cassandra, não a achou em lugar algum, ela havia desaparecido entre os escombros flutuantes. Respirou fundo, tentando entender como a gravidade se comportava ao seu redor. O ar ainda circulava em seus pulmões; a pressão parecia inalterada.
O sangue borbulhante se aproximava cada vez mais, pronto para infligir queimaduras graves. Vítor estava ficando sem opções e, em breve, seria atacado sem ter como se defender. Contudo, para sua sorte – ou talvez azar – a gravidade retornou repentinamente, e ele caiu de rosto no chão.
Atordoado, levantou-se. Sua calça havia sido corroída pelo sangue quente, apesar disso, Vítor já estava usando sua névoa para restaurá-la. Olhou ao redor, intrigado com a ideia de alguém usar uma técnica de gravidade zero apenas para desativá-la logo em seguida. O Pavilhão dos Heróis, que estava em ruínas, agora se mantinha parcialmente de pé, sustentado por algumas colunas e paredes que haviam resistido.
Uma pequena pedra caiu à frente de Vítor. Ele pensou que fosse apenas um fragmento dos escombros que ainda estavam flutuando. Em seguida, uma pedra maior, do tamanho de uma bola de tênis, despencou do céu. Logo, uma chuva de pedras de diferentes tamanhos e formas começou a cair ao seu redor.
As pedras atingiam o solo com força, obrigando Vítor a usar as marionetes restantes como escudo para se proteger da queda. “O que está acontecendo aqui? Primeiro, carros surgem do nada, depois a gravidade desaparece, o sangue começa a ferver, e agora uma chuva de pedras? Onde estão os responsáveis por esse caos?” Ele lançou um olhar para a calamidade, que permanecia imóvel, observando-o à distância. “Duvido que seja ela. Deve ser obra de algum de seus lacaios. Preciso encontrá-los e eliminá-los antes de atacar a calamidade diretamente.”
De repente, um terceiro carro investiu contra Vítor, e desta vez, o impacto foi certeiro. Ele foi arremessado a uma boa distância, sentindo o sangue escorrer enquanto seus poderes regenerativos se esgotavam rapidamente.
Caído no chão, Vítor observou o veículo, um carro esportivo vermelho, sem motorista. Espera aí, sem motorista? Era isso mesmo. O carro agia como se fosse controlado por uma força fantasmagórica.
De repente, o som estridente da buzina de um caminhão ecoou atrás dele. Vítor, mesmo sentindo dores intensas, se virou a tempo de ver as rodas massivas se aproximando rapidamente. Ele sabia que não havia escapatória; estava ferido, e sua força estava quase esgotada após o esforço mental de controlar as marionetes e a batalha anterior com Alexandra.
— “Tornado Temporal!” — gritou Cassandra, surgindo de repente. Estava coberta de fuligem e poeira, sua asa esquerda estava quebrada, e ela mancava devido a um ferimento na perna.
As rodas do caminhão pararam a centímetros de Vítor, e então tudo se desfez em um clarão branco.
De repente, ele se viu de volta ao Pavilhão dos Heróis, antes do desmoronamento, antes da primeira tentativa de atropelamento e consecutiva gravidade zero.
— Que poder é esse? — questionou, atordoado, olhando para Cassandra ao seu lado.
— Você percebeu? — respondeu ela, com um leve sorriso. — Ninguém nunca percebeu, além da minha irmã, que eu posso trazer as coisas de volta ao estado em que estavam dois minutos atrás.
— Só agradeço por ter me salvado, mas agora tenho problemas maiores.
Vítor sentiu o carro atrás dele e, desta vez, estava pronto. Com agilidade, desviou rapidamente. Quando o caminhão apareceu logo em seguida, ele saltou com elegância sobre o veículo, pousando em cima do baú.
— Belos reflexos — disse uma voz desconhecida.
Vítor se virou para ver um jovem herói caucasiano, de olhos e cabelos claros, com dentes ligeiramente tortos e cabelo desgrenhado. Ele vestia um casaco de motoqueiro com uma caveira nas costas, claramente um uniforme de guilda.
— Imagino que esses veículos sejam seus. Você deve ser um invocador habilidoso para criar coisas tão grandes e controlá-las tão perfeitamente.
— Não sou, mas o “Olho do Tigre” me tornou assim. Ele despertou meu verdadeiro potencial e me mostrou que você quer o destruir, quer destruir o meu futuro.
— Você está louco. Aquela coisa está te controlando, usando você, para depois descartá-lo assim como fez com os seus companheiros.
— Veja o poder! Veja do que sou capaz! Veja minha “Rodovia do Inferno”!
Uma segunda carreta surgiu, colidindo violentamente com a primeira. Vítor, que estava sobre a caçamba, foi arremessado para o alto. Ele quase se feriu na queda, mas usou sua névoa para amortecer o impacto. Os dois veículos desapareceram após o acidente.
— Cassandra, consegue reverter o tempo de novo? — indagou Vítor.
— Minha habilidade precisa de tempo para recarregar. — Cassandra protegia as costas de Vitor, e lutava lado a lado com as marionetes.
— Então impeça os outros heróis de chegarem. Eu cuidarei desse encrenqueiro.
Vítor reuniu sua névoa restante e se pôs de batalha, olho no olho de seu inimigo, pronto para qualquer novo truque que este apresentasse.
Olho de Tigre | |||
Afiliação | Nenhuma | Raça | Calamidade |
Alcunha | Nenhuma | Técnica Especial | “Olho do Tigre” |
Olho do Tigre | |||
Capacidade Ofensiva | S+ | Capacidade Defensiva | S+ |
Alcance | S+ | Resistência | S |
Versatilidade | S | Velocidade | C |