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O silêncio entre os dois persistia, até ser quebrado por um elemento externo. Eles se sentiram mais leves, o peso do corpo começou a se tornar nulo.

— Mestre das marionetes! — Vítor prendeu-se ao solo com a ajuda da sua névoa.

— O ataque do último inimigo já começou! — gritou Cassandra, enquanto começava a levitar.

“De onde vem isso? Não vejo ninguém. Todos os outros heróis já caíram… só resta esse desgraçado! Onde ele está se escondendo?” pensou Vítor ao entender sua névoa para agarrar Cassandra e impedir que ela se perdesse no ar.

— Esmague! — Um vulto, oculto pela luz do sol, saltou em direção a Vítor. Como o inimigo havia anunciado, sua intenção era esmagar o senhor da névoa.

Desviar do ataque não foi difícil, mas Vítor sentiu algo diferente. Ele não mais planava sem direção. Pelo contrário, seu corpo se tornava cada vez mais pesado. Aquilo que antes parecia intangível agora se condensava, e controlar a névoa tornava-se uma tarefa árdua.

— Não estou gostando disso — murmurou ele em voz baixa, ao sentir seus movimentos com a névoa lentos, mais lentos do que estava acostumado.

Virou-se, para descobrir quem era o seu adversário. Era o mais velho dos heróis que já havia enfrentado, com ao menos trinta anos, algumas rugas no rosto e um bigode tingido de fios brancos. Estava vestido como se saído de um filme de faroeste, exceto pelo chapéu ausente. Usava botas de cano alto com esporas e carregava um coldre com um revólver.

Tudo ao redor começou a ser atraído para ele, como se o ar ao seu redor se tornasse uma força esmagadora. Qualquer coisa que chegasse muito perto era comprimida até virar pó e se dissipar no vento. Vítor sentiu que o chão desaparecia debaixo de seus pés, como se estivesse à beira de um precipício.

Cassandra estava ao lado de Vítor, batendo suas asas com força. Ele piscou algumas vezes, incerto do que via, mas logo confirmou: ela voava de lado, a gravidade havia se invertido.

— Isso vai ser complicado — murmurou Vítor para Cassandra, enquanto usava sua névoa para se fixar no chão e evitar ser arrastado.

— De onde ele surgiu? Não vi ninguém. 

— Acima de nós. Deveria ter previsto isso. Ele pode manipular a gravidade ao seu redor. Provavelmente estava observando a batalha de cima, o que também explica por que não foi atingido pelas pedras.

— Quando somos crianças, muitos de nós tem sonhos — falou o herói, ao caminhar até eles a passos lentos. 

Ele se aproximava, Vítor sentia a gravidade o puxar e Cassandra era forçada a pôr mais força em suas assas. O homem se aproximava, com a voz calma e compassada, e continuou:

— Alguns querem ser bombeiros, médicos, cientistas, mas há um desejo em comum na humanidade, conhecer o espaço, descobrir o que há além da Terra. No fim, todo mundo quer ser um astronauta.

— Que tipo de monólogo é esse? — Vítor preparou a névoa para a luta iminente.

— Como disse, todo mundo quer ser um astronauta, então, por que não dar um gostinho? — Ele sorriu e a gravidade se tornou nula outra vez.

Vítor se manteve preso ao chão, com a névoa servindo como âncora, porém Cassandra não tinha nada se manter firme, ela saiu levitando sem rumo, tentando estabilizar com as assas.

— Meu nome é Aether, e vocês estão no meu domínio! — Ele sacou o revólver e disparou contra os dois.

Vítor conseguiu usar sua barreira de névoa para evitar a bala mágica, todavia, o mesmo não se deu com Cassandra. A gravidade zero a impediu de desviar eficientemente, o disparo foi perfeito, direto no olho esquerdo dela, o único ponto aberto do capacete.

Em segundos, Aether reativou a gravidade e puxou tudo para ele uma segunda vez. Vítor se sentiu compelido a segurar o corpo de Cassandra, contudo, havia essa necessidade? Ela já estava morta, e poderia lhe ajudar uma última vez. O corpo da valquíria se aproximou de Aether, e começou a ser esmagado, até se transformar em uma grotesca esfera de carne comprimida.

A teoria dele estava correta, o inimigo queria sugá-lo e esmagá-lo com a força absurda da gravidade. As marionetes seriam incapazes de acertá-lo, uma estratégia diferente deveria ser utilizada.

“Mantenha a calma, veja a batalha como um leque de possibilidades.” Ele respirava fundo, para manter a mente limpa e encontrar sempre a melhor decisão. Decidiu fazer um novo teste. Assim como fizera com Ishi, ele lançou suas lâminas contra Aether. Nenhuma delas conseguiu nem ao menos chegar a um metro dele, foram todas obliteradas.

Vítor transformou sua névoa em uma fina corrente, e a estendeu de forma quase imperceptível, na próxima mudança de gravidade, ele atacaria seu inimigo fatalmente.

— Não está chorando a morte de sua amiga? — Aether inverteu a gravidade, agora ele parecia andar de ponta-cabeça.

— Amiga? — Vítor soltou uma gargalhada sarcástica. — Amigos são aqueles com quem temos uma conexão profunda, um vínculo quase inseparável. Não posso chamar de amigo alguém que acabei de conhecer. E o que está esperando para me matar? Dispare logo sua arma e acabe com isso.

Ele provocava, astuto e impaciente, à espera de uma brecha.

— Fique parado, tudo terminará em um instante. — Aether apertou o gatilho, e um projétil, seguido por um rastro branco, saiu do cano do revólver.

A barreira de névoa de Vítor era incapaz de bloquear a bala mágica. O projétil passou de raspão por seu ouvido, deixando-o momentaneamente surdo e desorientado. ‘Pistoleiro! Achei que era um mago! Droga, isso piora a minha situação!’, pensou na mesma hora. A situação começava a piorar.

— Tudo que sobe, desce. — Aether esboçou um sorriso de triunfo.

O projétil, então, voltou, atraído pela gravidade ao redor de Aether. Ele iria se chocar com a cabeça de Vítor, e acertá-lo novamente com a mesma força. Vítor olhou para cima e logo pensou: “truque barato, me sinto como um idiota, lutando contra outro idiota”. No entanto, o projétil atravessou seu corpo de névoa e caiu inofensivamente aos pés de Aether, que permaneceu ileso, protegido pela gravidade que tanto o favorecia.

— Esqueceu que uma bala perde sua benção mágica após acertar um alvo? — zombou Vítor ao ver a falha patética daquele plano.

Aether estreitou os olhos, e sua expressão de confiança vacilou por um instante. Aquele erro não apenas revelou uma falha em sua estratégia, mas também deixou claro que ele subestimou Vítor.

— Não importa — retrucou Aether, com a voz firme. — Você ainda está preso em meu domínio, e nenhum truque barato vai te salvar.

Vítor lançou um olhar de desdém para o adversário antes de dizer:

— Acho que não. Sempre é bom ter uma surpresa na manga.

Uma pedra caiu sobre Aether, esmagando-o instantaneamente. Apesar de não representar uma ameaça real, a demonstração de poder foi o suficiente para assustá-lo.

Vítor não respondeu com palavras, apenas esboçou um sorriso malicioso. Mais pedras começaram a surgir, sendo destruídas sem piedade pela força gravitacional. No entanto, uma fina camada de pó começou a envolver Aether, lentamente sufocando-o.

As pedras continuavam a aumentar em número, enquanto o pó se infiltrava em suas narinas, levando-o ao desespero. Aether, em um último esforço, tentou disparar contra Vítor. Pensou rápido: desativou a gravidade e dispersou os fragmentos de pedra ao seu redor.

Exatamente o que Vítor esperava. Aproveitando-se da baixa gravidade, sua corrente de névoa envolveu Aether, estrangulando-o lentamente. Aether se debateu, tentando arrancar a névoa de seu pescoço, mas foi inútil; seu destino já estava selado.

Nos últimos momentos, Aether reuniu suas forças, segurou firmemente o revólver, mirou e atirou. Pela primeira vez em muito tempo, Vítor foi atingido por um projétil fatal, uma bala abençoada que o impediu de se regenerar com a névoa.

O tiro atravessou seu pulmão esquerdo, e Vítor cambaleou, enquanto a gravidade ao redor voltava ao normal. Sua visão começou a escurecer, mas ele ainda conseguiu discernir uma figura angelical se aproximando. Com a visão turva, reconheceu Zoe, que o segurou nos braços. Ao lado dela, estavam os sobreviventes da guilda dos Dragões do Sol, que haviam acabado de chegar no campo de batalha.

— Sabia que isso era coisa sua! — falou ela com uma lágrima no rosto.

— Eu me sempre me meto em confusão — Vítor riu com sangue na boca e fechou os olhos.

Quando abriu os olhos novamente, estava em uma sala mal iluminada e silenciosa, e logo a reconheceu, o Salão dos Esquecidos. O local onde Erobern, o Imperador da Glória Eterna, fora exilado por toda a eternidade. As tochas de fogo azul, que antes brilhavam intensamente, agora ardiam fracas, mal iluminando o ambiente. A tapeçaria na parede permanecia inalterada, com a mesma cena sombria de antes.

No centro da imagem, uma silhueta humana empunhava uma foice, de onde uma névoa cinza se espalhava por toda a tapeçaria. E a mesma inscrição:  “Pelo poder dado pelo nosso Imperador, nosso salvador deve destruir os infiéis que se negam a aceitar a autoridade do Império da Glória Eterna. Esperamos pela sua vinda, Messias da Escuridão.

— Falhaste novamente… — uma voz ecoou pela sala. Vítor a reconheceu de imediato; era a sua própria voz, mas emanando de outro corpo.

A voz vinha de uma sombra modesta, sentada em um imponente trono de marfim. Ao lado da silhueta, repousava uma coroa de ouro, ainda incompleta, com doze espaços vazios esperando para serem preenchidos.

— Não seja tão duro com ele. Ainda tem muito a aprender. — Uma segunda figura surgiu na sala, um jovem adulto, de cabelos pretos e olhos castanhos escuros, vestido com as mais finas roupas de seda do Império dos Quatro Reinos. Ele segurava um grosso livro de capa de couro, marcado com o numeral romano XLII, e estava de pé ao lado do trono.

— A trindade está completa. Iniciemos nossa reunião. — Erobern falou, levantando-se do trono, revelando sua aparência cadavérica.

Ele não era mais a personificação da glória do passado. Estava debilitado, sua armadura negra reduzida a fragmentos, e agora era apenas um esqueleto apodrecido, cercado por moscas e insetos. Sua névoa negra era fraca, uma sombra pálida em comparação à aura de Vítor, que se expandia vigorosamente por toda a sala.

— Escriba, há muitos ciclos que não nos encontramos. É uma honra ver uma figura tão ilustre do Império. — Vítor se aproximou, e sua mera presença revitalizou as tochas, que voltaram a brilhar com intensidade máxima.

— Infelizmente, não compartilho do mesmo sentimento — respondi, fechando o livro que segurava e conjurando outro, desta vez marcado com o número XLIII. — Então, vamos discutir os planos para o próximo ciclo?


Aether
GuildaDesconhecidoClassePistoleiro
AlcunhaDesconhecidoTécnica Especial“Todo Mundo Quer Ser Astronauta”
Todo Mundo Quer Ser Astronauta
Capacidade OfensivaDCapacidade DefensivaS
AlcanceSResistênciaC
VersatilidadeSVelocidadeC
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Olá, eu sou Miltil!

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