“Você é o primeiro com quem faço um negócio tão grande em muito tempo. Como você se chama?” O Catador perguntou.
“Fernando Nobrega, Cabo da Décima Terceira.”
“Entendo, Cabo Fernando então. Se tiver mais materiais, traga-os até mim, eu os compro. Principalmente se for de criaturas raras. Quanto mais raras, melhor.”
Fernando olhou de uma forma estranha para o homem narigudo.
“Para que exatamente você usa esses materiais?”
O homem ficou surpreso por um instante, mas respondeu.
“Eu sou um alquimista, meu objetivo é me tornar um Mestre Alquimista. Para isso preciso melhorar minha proficiência em produção de poções e outros itens. Além de criar coisas novas, então obviamente preciso de muitos materiais.” O Catador respondeu.
Fernando ficou surpreso, ele não imaginou que esse homem estranho fosse um alquimista.
“Bem, se não tem mais nada pra discutir, vocês podem ir. Tenho trabalho a fazer.” o Catador disse, se preparando para voltar ao seu trabalho.
“Espera, tem algo que talvez você esteja interessado.”
O homem parou por um momento, olhando para Fernando com olhos céticos.
“O que seria?”
Com um movimento de pulso, Fernando tirou uma massa negra de sua Pulseira de Armazenamento.
Ao ver aquele material estranho, inicialmente o Catador ficou intrigado, mas não muito interessado. Porém, conforme observava, seus olhos começaram a arregalar-se, cheios de espanto.
“Essa coisa! Onde você conseguiu isso?!” O homem gritou, alarmado.
“Isso não é da sua conta, só quero saber se você está interessado em comprar.” Fernando respondeu com um tom frio.
O que ele havia mostrado ao Catador, eram os restos mortais do Obscuro. Mesmo que a criatura tivesse uma forma que se assemelhava a fumaça, quando morta seu corpo começou a se solidificar em algumas partes.
Fernando não sabia se seria útil, mas mesmo assim resolveu guardar isso. Vendo a reação do homem à sua frente, ele percebeu que sua decisão estava certa.
“Q-quanto você quer nisso?” O homem perguntou, quase engasgando em sua própria saliva.
“A preço de mercado.” Fernando respondeu diretamente.
“O que?! Eu não tenho todo esse dinheiro aqui!” O Catador gritou espantado.
“Entendo, é uma pena.” Fernando falou com indiferença, se preparando para sair.
“Espera! Espera! Me de alguns dias, eu consigo reunir a quantia. Também posso fazer parte do pagamento com poções, só preciso de uma semana!” O homem narigudo falou, seu tom cheio de desespero.
Fernando olhou para o Catador com um rosto frio.
“Por que eu venderia para você em uma semana, se tem outras pessoas interessadas agora?!”
Ouvindo essas palavras, o Catador começou a suar frio. Assim como Fernando havia dito, materiais de um Obscuro eram muito raros e preciosos, qualquer alquimista estaria desesperado para pôr as mãos nisso. Principalmente alguém como ele, um alquimista não afiliado a nenhuma Legião ou Guilda.
“Eu posso te dar benefícios extra. Basta dizer!”
Fernando fez um rosto pensativo, então assentiu.
“Tudo bem, então me venda Poções ao preço que me vendeu hoje no futuro, sem restrições. Também quero preferência caso você faça poções raras.”
Ouvindo isso, o homem franziu a testa, mas acabou concordando no final.
Depois disso, o Catador tirou um cubo de sua pulseira.
“Vamos alinhar nossos comunicadores, assim eu posso entrar em contato com você.”
Fernando ficou em dúvidas sobre o que o homem queria dizer. Mas fingiu entender, então tirou seu próprio comunicador.
O Catador aproximou o seu cubo ao de Fernando, então ambos brilharam com uma luz azul fraca.
“Pronto, eu entro em contato quando tiver o pagamento.”
Fernando estava pensativo, ele não entendia o que ‘alinhar comunicadores’ significava. Então checou a situação do seu comunicador.
Autoridade: Cabo Fernando Nobrega, Décima Terceira Guarnição. Vento Amarelo.
Mensagens recebidas: Nenhuma.
Ordens QG: Em espera.
Negociações: Nenhuma.
Rede de mana: Operante.
Contatos: 1
Olhando para as informações de seu cubo comunicador, ele percebeu que uma seção antes inexistente havia aparecido, chamada ‘contatos’.
Clicando nessa seção, ele ficou surpreso.
Contatos:
1- Karius Autierk – Alquimista Intermediário
Observando o nome que surgiu em seu cubo comunicador, Fernando imediatamente entendeu.
Então eu também posso falar com outras pessoas de fora da Legião, elas só precisam ter cubos comunicadores e encostar um ao outro para salvar o contato… descobrir isso, deixou Fernando ainda mais interessado nas funções do comunicador. Era a coisa mais próxima de tecnologia que ele viu nesse mundo.
“Então você se chama Karius, certo então, estarei aguardando.” Depois de dizer isso, Fernando saiu, Simon o seguiu logo depois.
Karius seguiu os dois homens com seus olhos, ainda suando frio de nervosismo. Se tudo corresse bem e esse jovem mantivesse suas palavras, ele poderia comprar um material valioso.
…
Enquanto ambos andavam, Simon parecia inquieto. Fernando percebeu isso e o olhou de forma inquisitiva.
“Líder, você negociou com aquele sujeito o corpo do Obscuro a preço de mercado, mas quanto exatamente é isso?” Mesmo que Simon fosse um soldado experiente, algo como isso estava fora do seu escopo de conhecimento.
“Não faço ideia.” Fernando respondeu com indiferença.
Ouvindo isso, Simon ficou chocado.
“Então você… Apenas fingiu saber o preço?!”
Fernando assentiu, ele apenas havia jogado verde, quem imaginaria que o homem teria caído? Ele apenas disse ‘preço de mercado’ pois não fazia ideia do custo dessa coisa.
Simon estava impressionado, mesmo sendo jovem Fernando sempre o surpreendia. Se Karius tivesse percebido que ambos não tinham a mínima noção do preço, provavelmente teria tentado enganá-los.
Olhando para o horário, Fernando percebeu que ja eram 13h, a reunião com o Ferreiro Negro começaria as 14h. Ele havia perdido muito tempo negociando com o alquimista.
Chegando em frente a lola do Ferreiro Negro, viram a mesma fechada. Dois guardas estavam parados do lado de fora. Quando um homem se aproximou, foi barrado.
“Senhor cliente, infelizmente hoje a Loja do Ferreiro Negro não estara disponivel, peço que compreenda e volte em outro dia.”
“O que? Eu sempre compro minhas flechas aqui. Quem você pensa que é?!” O homem gritou indignado.
Algumas pessoas em frente a rua movimentada pararam para observar a situação.
“Olha, esta acontecendo alguma coisa na loja do Ferreiro Negro.”
“Eu soube que está havendo alguma comemoração hoje e apenas pessoas importantes foram convidadas. Dizem que o próprio Ferreiro Negro irá aparecer.”
“O que? Você está brincando, o homem é uma lenda em Vento Amarelo!”
Fernando e Simon pararam no meio da multidão, observando a situação. Depois de discutir com os guardas por algum tempo, o homem desistiu de entrar.
“Foda-se, vocês acabaram de perder um cliente! Eu sempre gastava 50 moedas de prata todos os meses, vou levar meu dinheiro para outro lugar!”
Os dois guardas se olharam impotentes. Eles foram ordenados a não deixar ninguém entrar no local, da forma mais educada possível, mas alguns clientes acabaram por ser irracionais.
Fernando cansou de observar a situação e avançou em meio às pessoas.
Vendo o jovem vindo em direção a entrada, os dois guardas suspiraram, pensando ‘mais um’.
“Caro cliente, a entrada hoje não é permitida, peço que compreenda.” O guarda falou.
Fernando não queria causar problemas ao guarda, ele viu que ambos só estavam fazendo seu trabalho. Então apenas tirou seu convite.
Ambos os homens ficaram surpresos, então sem dizer nada abriram a porta.
“Seja bem vindo.”
“Ele está comigo.” Fernando falou apontando para Simon, que estava logo atrás.
Vendo os dois se preparando para entrar, o sujeito que foi recusado ficou irritado.
“Por que eles podem entrar e eu não? Quais as qualificações que eles têm?!”
“Olha, talvez aquele garoto seja filho de algum figurão. Deixaram ele entrar tão fácil.” Alguém da multidão falou.
Fernando que ouviu as palavras do homem e da multidão não pôde deixar de abrir um sorriso. Ele achou engraçado ser chamado de ‘filho de um figurão’ quando na realidade sempre foi pobre a vida toda.
Vendo o jovem sorrir, enquanto olhava na sua direção, o homem ficou inquieto. Pensou em dizer alguma afronta, mas ao se lembrar sobre as pessoas comentarem sobre ele ser filho de um figurão, o fez temer por sua vida.
Talvez o sorriso que ele recebeu fosse uma declaração de morte, só de pensar nisso fez suas pernas tremerem.
“Que se dane, eu não volto mais aqui!”
Vendo o homem ir embora como se sua vida dependesse disso, Fernando balançou a cabeça consigo mesmo. Então entrou.
“Por aqui caros convidados.” Uma garota estava dentro da sala após a entrada, então indicou o caminho. Fernando e Simon se entreolharam, então seguiram a mulher.
Passando pela parte da loja, eles foram para os fundos. Surpreendentemente, o local parecia mais espaçoso do que aparentava externamente.
Depois de descer por algumas escadas e passar por um corredor, a garota parou em frente a uma porta. Então se curvou, indicando que eles deveriam entrar.
Fernando estava em dúvida sobre o que fazer, ele não gostou de todas essas etiquetas irritantes. Então olhou para Simon, ele havia o trazido para ajudá-lo em situações que não entendia. Porém, ao ver a expressão perdida do mesmo, balançou a cabeça.
“Vamos.” Sem pensar muito a respeito, simplesmente empurrou as portas e entrou diretamente.
Ao abrir ambas as portas, Fernando e Simon foram cumprimentados por dezenas de olhares.
Dentro do salão, havia duas mesas semicirculares. Havia homens e mulheres sentados em ambas, pareciam ser convidados como ele, aguardando.
Fernando rapidamente se moveu, escolhendo um lugar vazio e sentando-se.
Simon olhou para os assentos vazios, mas não se sentou. Como não era um convidado, seria desrespeitoso ocupar um lugar, então ficou atrás de seu líder.
Enquanto observava as pessoas, viu muitos conversando e cochichando. Havia pelo menos quarenta convidados além dele.
Enquanto analisava as pessoas, ouviu alguém chamar seu nome.
“Fernando?”
