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Ouvindo isso, Fernando franziu a testa, sentindo seu humor azedar. As vilas ao redor da cidade eram responsáveis por produzir comida e bens para Vento Amarelo, mas agora quando mais precisavam de ajuda eram descartados. Ele sentiu que isso era ilógico e inescrupuloso.

Olhando para Gallia em busca de ajuda, a mesma balançou a cabeça de forma desamparada, mesmo ela não tinha autoridade para intervir nisso.

“E se eu contratar essas pessoas por mim mesmo, elas podem permanecer na cidade?” Fernando disse, essa era a única coisa que conseguiu pensar.

Viktor, Gallia, Ismar e até mesmo Ilgner que estava atrás dele ficaram surpresos com essas palavras.

“Você sabe quanto custa manter tantas gente?” Viktor perguntou, num tom de deboche.

“Apenas quero saber se é possível ou não.” Fernando respondeu calmamente.

Viktor o olhou com uma expressão irritada.

“Faça o que quiser, se não sair dos cofres da guarnição, não importa.”

Ao ouvir isso, Fernando assentiu, então se retirou.

Eu fui ingênuo… Os soldados nesse mundo não se importam em proteger civis ou inocentes, tudo que importa são interesses. Na verdade, isso não é tão diferente da Terra. Fernando pensou consigo mesmo, lembrando que muitas guerras começaram e acabaram usando o povo comum como justificativa, mas na realidade tudo era baseado na vontade dos poderosos que governavam das sombras.

Talvez por ser de uma ascendência humilde, não conseguia aceitar esse tipo de mentalidade, onde o fraco e humilde era descartado quando não tinha nada a oferecer.

Rangendo os dentes por sua falta de capacidade de mudar as coisas, Fernando seguiu em frente. Ele não poderia mudar a situação como um todo, mas faria o que estava a seu alcance.

Ilgner que seguia logo atrás tinha uma expressão complicada, a frustração no rosto de Fernando nessa situação o lembrou de alguém. Sua antiga líder da Guilda Guarda-Chuvas, Rosa Vernes.

Era uma mulher íntegra que criou um lugar para as pessoas desarraigadas viverem. Mesmo sob a pressão de muitas pessoas poderosas, não desistiu e perseverou até o fim. Ele a respeitava muito por causa disso, inclusive dedicando anos de sua vida para vingá-la.

Vendo que Fernando se assemelhava a ela em alguns aspectos, sorriu consigo mesmo, pensando que segui-lo talvez não fosse uma má ideia.

Avançando, deu dois tapas no ombro de Fernando, que o olhou sem entender.

“Não se preocupe tanto, líder. Ilgner o Bravo, irá apoiá-lo.” falou com um sorriso, então começou a rir sozinho.

Olhando o sujeito loiro com rabo de cavalo rindo sozinho, Fernando não conseguiu deixar de pensar se o mesmo tinha alguns parafusos a menos.

Algum tempo depois, a dupla saiu do Escritório do QG.

“Parabéns.” Ilgner falou.

Fernando levantou uma sobrancelha.

“Pelo que?”

“Por me recrutar, é claro. Hahaha.”

Balançando a cabeça, confirmou suas suposições. O loirinho definitivamente tinha alguns parafusos a menos. 

O título de ‘Titã Louco’ talvez não fosse só por causa da sua força…

Em pouco tempo Fernando retornou a sua mansão. Ao voltar, notou que os civis que trouxe consigo pareciam muito mais à vontade do que antes, alguns perambulavam para lá e pra cá. Mas apesar do espaço da sua mansão ser grande, era simplesmente muito apertado para conter tanta gente.

O que eu faço? Não quero chutar essas pessoas pra fora da cidade, mas é difícil manter tanta gente aqui. pensou consigo mesmo, afinal o lugar já era apertado para o Esquadrão Zero viver e treinar, muito menos com o acréscimo de quase quarenta pessoas.

Enquanto estava em meio a pensamentos, August e Zavus vieram cumprimentá-lo.

“Senhor, seus prisioneiros, eles…” August falou, quase gaguejando.

“Já estou ciente, os homens do Capitão Viktor vieram levá-los. Não se preocupe com isso.”

Ao falar a respeito dos prisioneiros, lembrou dos cinco homens da Guilda Massacre que jogou no Anel de Aprisionamento junto a Brakas. Ele tinha planos para os mesmos, mas sentiu que ainda não era hora.

Ao anoitecer, o Esquadrão Zero se reuniu na área de treinamento. O corpo de Hannah estava disposto sob uma espécie de cama de madeira, pela aparência, parecia que a jovem garota estava apenas dormindo.

Léo, em meio a um choro abafado, se ajoelhou e beijou a testa da garota. Após isso, Theodora se aproximou e fez o mesmo. Como as duas pessoas mais próximas da mesma, foram os mais impactados por sua morte.

Apesar de nem todos serem íntimos de Hannah, ainda era uma companheira que viam e treinavam junto todos os dias, sua morte mexeu com muitos do Esquadrão Zero.

Cintia em particular, tinha uma expressão severa. Se não fosse o ‘monstro com olho gigante’ de Fernando, seu corpo estaria sendo velado também. Só de pensar nisso, seu corpo tremeu, suor frio escorrendo de suas costas.

Ao mesmo tempo, se culpava em parte pela morte de Hannah. Se ela não tivesse se ferido pelas flechas do inimigo, teria conseguido ajudar a lutar com os inimigos que escalaram e a garota não teria sido morta.

Lina, que viu a expressão estática de Cintia, apertou sua mão.

“Está tudo bem.” Mesmo sem saber o que se passava em sua cabeça, Lina ofereceu palavras de conforto.

“Obrigada.” Olhando para sua amiga, seu rosto se encheu de convicção. Cintia estava decidida a não deixar o que ocorreu nessa batalha se repetir no futuro.

Todos do Esquadrão Zero se despediram de Hannah e ofereceram palavras de conforto a Theodora e Leo.

“Está pronta?” Fernando perguntou, olhando para Theodora, que mantinha um rosto sereno. Apesar da fachada fria, sabia que a Medusa estava muito sentida.

“Sim, líder. Por favor, faça.”

Ouvindo as palavras que soavam tão calmas, Fernando sentiu seu coração apertar. Toda essa calma era apenas um disfarce para suas emoções. Apesar disso, não havia muito o que fazer, ele simplesmente não era bom em confortar as pessoas.

Avançando, aproximou-se da cama de madeira, então sua mão acendeu-se em chamas. Com um movimento, a base da cama começou a queimar.

Essa havia sido a decisão de Leo e Theodora, optando por cremar sua ex-companheira. Depois de cremá-la, suas cinzas foram enterradas e uma pequena sepultura foi feita em sua homenagem no fundo da mansão, junto aos que já haviam partido. Nessa noite o Esquadrão Zero permaneceu com um clima pesado. 

Logo, todos se retiraram para descansar. Fernando que havia tomado um banho, resolveu sair para caminhar. 

Como parte da área do pátio estava ocupada com os civis, resolveu ir para o campo de treinamento, que estava interditado para os mesmos. Chegando lá, viu uma figura parada, inicialmente pensou se tratar de uma das garotas refugiadas, mas logo notou quem realmente era.

Theodora? Assim que estava prestes a chamar seu nome, notou algo que o surpreendeu. A meia elfa estava sentada no banquinho do campo de treinamento, seu rosto iluminado pela fraca luz da lua revelava lágrimas escorrendo por suas bochechas.

Fernando que era péssimo em lidar com situações assim, pensou em sair, mas então suspirou consigo mesmo e foi em direção a ela. Theodora estava tão imersa em si mesma que só o notou quando estava a poucos metros.

“Líder?!” Theodora exclamou, enxugando rapidamente as lágrimas e escondendo seus olhos avermelhados.

“Está tudo bem, chorar faz bem ao coração, não se contenha.” Como alguém que por muitas vezes se viu em meio a situações ruins, Fernando sabia disso melhor que ninguém.

“Líder, eu…Uuu…” Theodora que estava se segurando, rapidamente caiu em lágrimas. Suas bochechas brancas como a neve ficaram vermelhas, ela começou a chorar alto, como uma criança, colocando uma de suas mãos em seu rosto.

Fernando ficou sem palavras, a temida Theodora, que conseguia inspirar cautela em qualquer um e que também era uma Medusa, meio-humana, meio-elfa, agora parecia apenas uma simples garotinha.

Sem saber o que dizer ou como reagir, apenas colocou a mão em seu ombro, tentando confortá-la.

Depois de longos minutos de choro, as lágrimas diminuíram lentamente, como se estivesse cansada, Theodora recostou a cabeça no ombro de Fernando. Apesar de surpreso, ele não se importou muito.

“Líder, por que é tão doloroso? Eu nunca senti isso antes, primeiro com a Natália, depois com Hannah, cada vez parece doer mais e mais.”

Ao ouvir isso, lembrou-se que Theodora era uma Medusa. Como mestiça, foi criada com severidade pelos Elfos Negros, sempre sendo vista como apenas um peão, um soldado. Devido a isso, ela nunca havia precisado ‘sentir’ ou ‘se preocupar’ com outras pessoas. Perceber isso fez Fernando sentir pena dela.

“Enquanto você amar ou se preocupar com alguém, esse sentimento nunca vai sumir. Mas mesmo que seja difícil e doloroso, isso também é uma prova de que estamos vivos, de que estamos ligados a alguém e queremos protegê-los, isso nos torna pessoas melhores, pelo menos é o que eu acredito.”

Theodora ouviu aquilo com um rosto pensativo, ao olhar para Fernando, o viu imerso em suas próprias palavras. Era quase como se ele não estivesse falando com ela, mas consigo mesmo.

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