Olhando ao redor, Fernando percebeu a diferença abismal entre Vento Amarelo e Aquilones, a primeira parecia uma cidade do interior, enquanto a segunda era uma metrópole em todos os sentidos.
Havia dezenas de pessoas andando pelas ruas a todo momento, havia até mesmo carruagens e montarias circulando. O clima era extremamente movimentado e os comércios fluíam sem parar. Além disso, diferente de Vento Amarelo, onde se via guardas e soldados em todo o lugar, a maior parte das pessoas nas ruas eram cidadãos comuns.
Fernando viu até mesmo crianças andando e correndo para lá e pra cá com suas famílias, era uma visão extremamente reconfortante. Ouvindo os risos das crianças e o barulho de pessoas conversando, por um momento ele até sentiu que tinha retornado a Terra.
Era um clima completamente diferente de Vento Amarelo, que era um ambiente quase que puramente militar. Afinal, tratava-se de uma Cidade-Fortaleza numa zona de conflito, havia um rigoroso controle populacional e ninguém era permitido a ter filhos por lá.
Depois de um tempo, Fernando voltou a si mesmo, por mais que o clima nesse lugar fosse movimentado e pacifico, ele sabia que dentro de algum tempo estaria no campo de batalha, repleto de morte e sangue, não poderia deixar seu coração e mente vacilarem. Porém, ao olhar para Theodora, a viu mais aturdida que ele próprio.
O rosto de Theodora estava iluminado ao assistir as crianças rindo e se divertindo com suas famílias, havia um um tom de desejo em seus olhos, principalmente ao ver as crianças com suas mães.
Vendo isso, Fernando se sentiu mal, anteriormente enquanto ela dormia, após perder a consciência ao consumir as Poções Fauser Ivrat, Theodora havia chamado por sua mãe. Foi naquele momento que descobriu que ela havia sido vendida aos Elfos Negros.
Fernando não conseguiu imaginar a dor e o desespero de uma criança ao ser entregue pela própria mãe a estranhos. Por mais que tivesse passado por dificuldades na vida, ele sempre teve sua mãe e o restante de sua família ao seu lado, o apoiando e sendo seu alicerce.
Ao pensar no assunto, ele chegou a uma conclusão do porquê isso aconteceu. Os Elfos Negros não atacavam diretamente pequenas vilas humanas como a Vila Lunar, mas eles tambem não se importavam em protege-las. Talvez a mãe de Theodora fosse uma habitante de uma dessas vilas e acabou se relacionando com algum elfo, posteriormente ao descobrir que ela era uma Medusa, sua mãe deve tê-la vendido.
Suspirando consigo mesmo, Fernando balançou a cabeça, esse mundo era muito cruel. Mas ele também não culpava a mãe de Theodora, levando em conta os perigos que espreitavam todos os lugares, viver sob os Elfos Negros parecia mais seguro que viver em uma pequena vila humana que poderia ser destruida a qualquer hora.
“Theodora.” Fernando, disse, suavemente.
Nesse momento ela retornou aos seus sentidos.
“Vamos.” complementou.
“Sim, líder.” respondeu prontamente.
Caminhando com um rosto inexpressivo, Fernando parecia inabalável. Theodora que mantinha-se ao seu lado, admirava isso nele. Ao vê-lo assim, ela sempre esquecia do seu passado doloroso, das noites frias em que ela era surrada pelos Elfos Negros num treinamento brutal, ou quando a machucavam como forma de penalização por cometer erros.
“Theodora.”
“Sim, líder?”
“Não esqueça, o Pelotão Zero é sua família agora, e… Eu também.” Fernando disse, sem olhar diretamente para ela, seu rosto ficando levemente vermelho de vergonha.
Ao ver isso, o coração de Theodora tremeu, mas ao ver como seu líder havia ficado sem jeito, ela não conseguiu evitar de soltar uma risada.
Vendo-a rindo, Fernando ficou ainda mais envergonhado, ele sentiu que simplesmente não era bom lidando com esse tipo de coisa.
Algum tempo depois, os dois já tinham caminhado por dezenas de ruas, chegando a um ponto onde já não faziam ideia de onde estavam. Olhando para as lojas e comércios, cada um parecia mais popular que o outro. Havia lojas de armas, armaduras e lojas de poções, mas estas eram minoria, a maioria dos estabelecimentos eram de alimentos, roupas, brinquedos e diversos outros bens de consumo. O que era normal, afinal a maior parte do público era composta de cidadãos comuns, que não tinham usos para armas.
Depois de pensar por algum tempo, Fernando escolheu uma loja de poções, não havia muitas coisas que ele precisava, então tentou arriscar.
A entrada da loja era grande e espaçosa, havia pessoas entrando e saindo a todo momento. Apesar da maioria das poções não ser úteis para pessoas comuns, ainda haveriam alguns tônicos e remédios que só eram encontrados em lojas de poções. Mesmo que fossem baratos e unitariamente não valessem muito, como eram vendidos a granel para as massas, ainda geraria uma quantidade razoável de receita.
Quando olharam em volta, viram prateleiras e prateleiras devidamente organizadas, expostas e precificadas, parecia mais um supermercado do que uma loja de poções. Era uma visão completamente diferente dos lugares desolados que esteve em Vento Amarelo.
Dois guardas estavam ao lado de cada saída, certamente para impedir que furtos acontecessem.
“Esse lugar parece ter algumas coisas boas.” Theodora disse, enquanto investigava.
Passando seus olhos pelas prateleiras, Fernando viu os mais diversos itens. Tônicos com os mais diversos efeitos, remédios, plantas e até alguns itens e ingredientes que não fazia ideia do que eram.
Apesar de achar alguns itens interessantes, nada atraiu sua atenção. Então, ao lado de Theodora, caminhou em direção ao balcão.
A atendente, ao ver os dois se aproximando, rapidamente abriu um sorriso educado.
“Boa tarde, tem algo em que eu possa ajudar o belo casal?”
Quando Fernando ouviu isso, seu rosto congelou, apesar de ter vindo apenas fazer compras, ele sentiu que estava de certa forma, traindo Karol. Mesmo que não tivesse feito nada de errado.
Theodora por outro lado, riu ao ouvir isso, e sentiu-se ainda melhor ao ver o constrangimento de seu líder. Então pensou em algo, um sorriso provocador surgiu em seu rosto.
“Eu e meu noivo viemos comprar algumas coisas, mas sabe, ele tem tido alguns probleminhas lá embaixo, se é que você me entende. Ele não consegue mais me satisfazer como antes.” Theodora disse, num tom deprimido.
“O-o que…” Fernando quase engasgou com a própria saliva ao ouvir esse absurdo.
“Oh, entendo.” A atendente disse, lançando um olhar de pena para o rapaz pálido, apesar de ser tão jovem e ter uma noiva tão linda, ele já tinha esse tipo de problema. “Não se preocupe, eu tenho algo que pode te ajudar.” disse, se abaixando e pegando um frasco.
“Este é um tônico que vai ajudá-lo, não só pode melhorar seu líbido, como vai te dar muito mais energia no dia-a-dia.” A mulher disse.
Theodora rapidamente pegou o tônico e pagou a atendente, então olhou para Fernando de forma sorridente.
“Não é ótimo, querido?”
De repente Fernando sentiu-se irritado, arrependendo-se de ter pena dela antes. Essa mulher gostava de provocá-lo.
Ignorando-a, Fernando aproximou-se da atendente.
“Gostaria de saber se você tem um certo item, de valor.” falou, num tom indiferente, como se a questão sobre o tônico não tivesse nada haver com ele.
A mulher percebeu que o jovem não queria falar a respeito, então ela educadamente evitou o tópico. “Mas é claro senhor, nossa loja tem de tudo.”
Ouvindo isso, Fernando assentiu.
“Poção Fauser Ivrat.” pronunciou essas três palavras, lentamente.
A atendente congelou por um momento, como se um raio a atingisse, quando o jovem falou de itens de valor, ela esperava algo na casa das dezenas ou centenas de prata. Não algo que valia 1 moeda de ouro.
“Senhor, isso… Eu não tenho autoridade para tratar desse tipo de negociação… Mas se puder me acompanhar, levarei a alguém que pode.” disse, saindo de trás do balcão e apontando para um lance de escadas no fundo da loja. As palavras ‘Salas VIP’ estavam escritas ao lado, enquanto um guarda guardava a entrada.
Fernando assentiu, então seguiu a moça, quando o guarda a viu guiando dois clientes, rapidamente abriu passagem.
Depois de subirem para o segundo andar, passaram por um longo e espaçoso corredor, havia vários quartos nele. A moça indicou que entrassem em um deles.
“Alguém virá atendê-los logo mais.” disse, de forma respeitosa. Então saiu, deixando apenas Fernando e Theodora na sala espaçosa.
Sentando na poltrona, Fernando cruzou as pernas. Theodora estava prestes a sentar ao seu lado, quando viu o olhar frio de seu líder.
“Líder, você parece irritado.” Theodora disse, num tom brincalhão. “Você não pode me culpar, você disse que era minha ‘familía’ antes, isso de certa forma não é um pedido de casamento?”
Fernando revirou os olhos ao ouvir as palavras da mulher. Antes que ele pudesse repreendê-la, um velho homem entrou no quarto.
“Caros clientes, bem vindos a Loja Etérias.” disse, num tom educado, mas não submisso. “Soube que estão interessados na compra de Poções Fauser Ivrat.”
“Isso mesmo.” respondeu.
Ao ouvir a confirmação do jovem rapaz, o homem continuou.
“Nossa Loja Etérias é extremamente renomada e temos orgulho de ter praticamente qualquer poção que as pessoas precisem, mas o senhor deve saber que o preço de uma Fauser Ivrat não é barato. Isso custa 1.000 moedas de prata, ou 1 moeda de ouro.”
Fernando manteve-se em silêncio, se ele tinha perguntado, obviamente sabia do valor do item.
Vendo o silêncio constrangedor, o idoso continuou.
“Enfim caro cliente, quantas poções o senhor quer?”
Fernando calmamente levantou a mão, com três dedos. Isso surpreendeu o velho homem, essa negociação seria mais lucrativa do que ele havia imaginado! Devido à competição acirrada entre as lojas de poções, era raro ele conseguir uma venda de tão alto valor.
“Então o senhor quer três poções, providenciarei agora mesmo.”
Quando o homem estava prestes a levantar, Fernando fez um sinal de negação com o rosto, o que o fez parar por um momento.
“Eu quero trinta, trinta Poções Fauser Ivrat.”