Tentando apoiar-se no chão trêmulo, Fernando forçou seu corpo a levantar, mas antes que pudesse recuperar seu equilíbrio um novo forte tremor tirou sua base de apoio, jogando-o no chão. Não só isso, mas dois soldados foram jogados em sua direção. Usando seu próprio corpo, protegeu Karol de ser atingida.
Deitado no chão, em meio a confusão e gritos, viu vários brilhos sobrevoando o céu, eram magos inimigos! Eles haviam aproveitado a desaceleração dos vagões para atacar.
Assim que os atacantes se revelaram, os magos da equipe do trem levantaram voo, atacando com brutalidade. Mesmo com o trem em movimento e com a ameaça, não se intimidaram, como se já estivessem acostumados à situação.
Em poucos segundos o espaço acima do trem tornou-se um feroz campo de batalha, magias de fogo e raio cortavam o céu noturno. Não só isso, era possível ouvir o nítido som de algo cortando o ar, um rugido que causava calafrios, era claramente magia de vento, completamente indetectável naquela escuridão.
Os soldados dentro dos vagões se viram numa situação desesperadora, afinal acima de suas cabeças, um inferno de magias estava acontecendo. Alguns desafortunados hora e outra eram atingidos pelos resquícios, morrendo instantaneamente.
Os vagões que deveriam ser seu transporte, agora eram como prisões de metal. Principalmente aqueles vagões do meio e frente, que foram fortemente atingidos e estavam em chamas.
Fernando conseguia ouvir os gritos de agonia ao longe, claramente de pessoas sendo queimadas vivas, sem poder escapar.
Quando o trem desacelerou, finalmente pôde levantar-se. Inicialmente pretendia tentar ajudar na defesa do trem, mas viu-se incapacitado, os magos estavam se movimentando a velocidades absurdas no céu e era dificil dizer quem era aliado ou inimigo. Além disso, com um ponto de apoio instável, seria difícil mirar, se o fizesse incorretamente, poderia acabar atingindo aqueles à sua volta.
Antes que Fernando pudesse pensar em contramedidas, viu vários brilhos acendendo-se e magos levantando-se em meio aos vagões. Eram os Subtenentes e Tenentes dos Leões Dourados. Depois de se recuperarem do desnorteamento, entraram em batalha, ajudando a equipe do trem que havia respondido muito mais rápido.
“Cuidado!!” Alguém gritou em meio ao vagão, quando olhou para cima, viu uma grande lança de gelo voando em direção aos soldados. Vendo aquilo, Fernando preparou-se para correr e defender o local, mas viu-se incapaz de avançar. Várias pessoas estavam caidas no chão, atrapalhando-o, ele só pôde observar inerte.
Boom!
Vários estilhaços de pedras de gelo voaram para todos os lados, acertando muitas pessoas, mas ao contrário do que todos pensaram o impacto havia sido muito menor.
Quando Fernando olhou melhor, viu uma grande parede de chamas acima do local que a lança acertou. Tom havia criado um escudo de chamas e defletido o ataque, vendo isso ele suspirou de alívio. Mesmo que alguns tivessem se ferido, ninguém morreu.
Dois magos com roupas negras estavam sobrevoando acima do vagão, enquanto tentavam escapar dos novos combatentes.
“Arqueiros!” Fernando clamou. Assim que o fez, aqueles que estavam em posição rapidamente entenderam e se posicionaram, aguardando os inimigos se aproximarem.
Swish! Swish! Swish!
Uma saraivada de flechas foi disparada para cima, os dois magos que já estavam numa situação precária sendo perseguidos, foram pegos de surpresa, não esperando um ataque vindo de baixo.
“Argh!”
“Poha! Por que tem tantos inimigos?!”
Um dos magos foi empalado com múltiplas flechas, morrendo na hora, enquanto o outro caiu em meio aos soldados. Apesar de ferido, ele rapidamente levantou um escudo em torno de si, protegendo-se dos ataques de espada.
Os soldados do Pelotão Zero, Leopardo e Lazuli se precipitaram, inundando o mago como uma maré. Mas seu escudo empurrou todos ao redor de volta.
Clanck! Ting!
Léo e Noah que estavam próximos atacaram com ferocidade, empurrando o mago com escudo para trás, mas falharam em romper a magia.
“Continuem! O escudo dele logo vai cair!” Noah gritou, em plenos pulmões.
Apesar de estar momentaneamente protegido, pavor estava estampado no rosto do homem, mesmo que ele tivesse a força de um Subtenente, recebendo tantos ataques era apenas questão de tempo até seu escudo cair. Percebendo que escapar não era mais uma opção, seu rosto cheio de medo se contorceu, então arcos elétricos envolveram seu corpo, tinindo.
Quando Noah viu isso, sua expressão mudou.
“Pra trás, ele vai atacar!!” disse, levantando seu escudo e puxando Léo e outro soldado para trás de si.
Apesar de fazer isso, ele não estava minimamente confiante em defender-se, receber um ataque desses a queima roupa era loucura e ele sabia disso muito bem.
Logo quando Noah se preparou para receber o baque, viu uma figura surgir por trás do mago. Seu rosto era pouco discernível, mas era possível ver um par de olhos vermelhos brilhantes.
Boom! Boom! Crack!
Dois gigantes machados atingiram fortemente o escudo, no terceiro ataque partiu-se, penetrante na magia.
“Nã-!!” O mago tentou gritar, mas antes que pudesse fazer, o machado atingiu-o na cabeça, perfurando-a como se fosse uma melancia.
Um homem com longos cabelos loiros cacheados amarrados em rabo de cavalo estava empunhando o par de machados. Uma expressão indiferente estava em seu rosto, quando ele puxou a arma o corpo do mago levantou junto, estava completamente presa ao crânio.
“Tsk, eu acabei de limpar.” Ilgner disse, com uma expressão irritada.
Quando Noah e os outros ao redor viram isso, soltaram suspiros de alívio, eles foram salvos!
Noah em particular, apesar de estar aliviado, também estava se sentindo estranho. Depois de usar as Poções Fauser Ivrat e melhorar tanto sua força, ele estava se sentindo cheio de vigor e coragem, mas no fim quase havia morrido.
Olhando para Ilgner, sua expressão mudou. Não importa quantos golpes desse, não havia conseguido quebrar as defesas do mago, mas o homem loiro havia feito quase sem esforço. Ele não pôde deixar de se perguntar quão forte o sujeito era.
Argos, que estava não muito longe do local, olhou para Ilgner, então para Fernando, uma expressão estranha permeava seu rosto. Seu olhar parecia conter um misto de surpresa e medo.
Em menos de um minuto depois, os confrontos no céu diminuíram rapidamente, os magos inimigos começaram a ser abatidos feito moscas. Muitos fugiram em várias direções, enquanto os que não conseguiram dar fuga foram mortos pelos Tenentes e Subtenentes que haviam recém entrado na batalha.
Logo um silêncio tomou conta dos vagões, apenas era possível ouvir alguns gritos e lamentos dos feridos. Mesmo depois dessa batalha o trem não parou e voltou a acelerar, Fernando imaginou que o maquinista temia que houvesse mais ataques e seguiu em frente.
Poucas horas depois, pouco antes do amanhecer, o trem enfim parou. Todos desembarcaram e montaram acampamento, tratando dos feridos. Raul convocou Fernando e os outros Oficiais, os outros líderes de Batalhões fizeram o mesmo. O objetivo era levantar quantas perdas e feridos eles haviam tido.
No fim, o Pelotão Zero teve cinco feridos, o Pelotão Leopardo nenhum ferido, mas uma morte, enquanto o Pelotão Lazuli não teve feridos e nem mortos.
Enquanto Fernando, Nina e Argos estavam relativamente bem, com apenas uma morte e alguns feridos, Túlio e seus homens bem como Marlon e o Pelotão Montanha estavam numa situação muito pior. O vagão em que estavam foi fortemente atingido, levando a quase quinze mortos e uma dezena de feridos.
Apesar disso, eles podiam ser considerados afortunados, já que alguns batalhões que estavam mais ao centro, tiveram mais de cem mortos. A maioria das explosões iniciais da emboscada.
“Tsk, malditos saqueadores, causando problemas justo agora.” Raul disse, em sinal de desgosto depois de ouvir o relatório de perdas.
Ouvindo isso, Fernando ficou surpreso.
“Saqueadores? Pensei se tratar de inimigos.”
“Inimigos? Garoto, se fosse alguma legião inimiga, você acha que teriam feito um ataque tão amador? Esse trem é voltado para transporte de mercadorias, seja minérios, bens de valor e até alimentos. Os saqueadores costumam atacar trens assim para roubar o máximo que podem, só que o trem transportava um exército no lugar de bens. Basicamente ferramos com eles, pelo número eles tinham vindo bem preparados.”
Fernando ficou surpreso ao ouvir isso, ele não imaginava que organizações criminosas poderiam reunir tal poder de ataque.
“Huh, eles tiveram o que merecem.” Nina disse.
“Não é estranho eles reunirem tantas pessoas poderosas? Que tipo de saqueadores são esses, Tenente?” Túlio perguntou.
“Não ache que porque as Legiões parecem estar no poder que elas realmente comandam tudo. A influência e poder que as Guildas e o Submundo organizado detém não é pequeno. Enfim, aprontem suas coisas, assim que os reparos no trem terminarem vamos partir.” Raul disse, seu bom humor habitual não poderia ser visto em lugar algum.
Depois de dar indicações a Theodora e os outros, Fernando sentou-se num canto. Olhando para a cena diante dele, com pessoas feridas sendo tratadas e alguns mortos alinhados no chão, seu coração se apertou.
Até então pensou que tinha feito seu melhor, elevando a força dos seus homens bem como a sua própria, mas nessa batalha entendeu quão ingênuo havia sido. Durante a emboscada ele não conseguiu reagir no mínimo nem fazer nada devido a suas limitações de força, o sentimento de impotência fez seu coração pesar.
Olhando para o vagão do centro do trem, a magia que os acertou foi tão forte que as paredes de metal derreteram. Ali havia morrido quase uma centena de pessoas.
Se aquele fosse o nosso vagão… Só de pensar nisso, um calafrio percorreu sua espinha.
Ao amanhecer o trem partiu novamente, mesmo que todos estivessem confortavelmente nos vagões, ninguém conseguiu adormecer.