Cavaleiro era o ranking mais alto no Sistema de Habilidades, logo depois vinha Paladino, Berserk, Guerreiro e por fim, sendo Noviço o mais baixo rank.
Homens e mulheres que conseguiram chegar a este rank eram respeitados em todo o continente. Mesmo que algumas legiões odiassem treinar seus soldados nesse sistema devido às severas perdas, era indiscutível que se mesmo 1 em 100.000 se tornassem um Cavaleiro, tudo teria valido a pena. Isso era o quão poderoso e estimados essas pessoas eram.
Sempre que alguém ascendia à posição de Cavaleiro, todo o continente humano saberia, pois este seria sinônimo de poder e força para a humanidade como um todo. Todos que conseguiam atingir essa posição ganhariam o título de Sir.
A maioria dos Cavaleiros ganhavam terras e tropas de suas legiões, alguns até assumiam diretamente a posição mais alta, um Líder Legionário, o cabeça da legião e aquele que a comanda em pleno direito e poder.
“Então é por isso que Belai não caiu, mesmo após tanto tempo de cerco…” A Tenente Balena disse, aturdida e chocada.
Entre todos na sala, Raul era o mais surpreso, ele como um praticante do Sistema de Habilidades sabia o que significava ser um Cavaleiro, era dito que este tinha o poder e a força de um exército por si mesmo.
Nesse momento, mesmo Ícarus e os demais Tenentes permaneceram em silêncio. Permitir que um Cavaleiro que está defendendo uma cidade dos Leões Dourados caia sem fornecer ajuda era algo grave. Talvez toda a legião seria varrida da face de Avalon.
“Se me permite Major, qual estimado Cavaleiro está em Belai?” Raul perguntou, com um rosto sério.
“Sir Ferman.” O General Lenon disse, com um rosto calmo.
Logo sons de conversas e burburinhos surgiram, inundando todo o lugar.
“Eu logo imaginei, por que o Conselho Superior mandaria um Cavaleiro para nos ajudar?” Um Subtenente disse.
“Sir Ferman é um bom homem, já ouvi muitas de suas histórias, é uma pena que ele já esteja numa idade avançada e com a saúde debilitada.” Alguém mais velho comentou.
“Tsk, de que adianta se ele foi bom ou ruim? Ele já está com o pé na cova, eles querem nos matar para salvar alguém que talvez nem viva até o próximo mês?!” Um Tenente comentou, cheio de raiva.
Bam!
De repente Dimitri bateu com o punho na mesa, silenciando todo o lugar.
“Estamos diante de meu amigo, General Lenon, não me envergonhem, suas maricas.”
Ouvindo isso, muitas pessoas se encheram de vergonha, mas não ousaram retrucar.
“Sir Ferman já está com uma idade avançada, mas isso não muda o fato de que é uma ordem da Cidade Dourada. Eles nos disseram que precisamos tentar romper o cerco de Belai e tentar garanti-la, entretanto não necessariamente temos que vencer.”
Ouvindo isso, um brilho acendeu-se nos olhos de muitas pessoas, eles entenderam a intenção do Major. Eles deveriam ir até Belai, fazer uma luta e recuar antes que as coisas ficassem feias, assim seja a Cidade Dourada ou o Conselho Superior, ninguém poderia culpá-los por não tentar, basicamente fariam um show.
Na verdade, mesmo a Cidade Dourada não esperava salvar Belai, para eles a cidade já era território dos Orcs. Se não fosse o caso extraordinário de Sir Ferman estar na região e abrigar-se lá, defendendo-a, eles jamais sacrificariam tropas de forma tão fútil, todavia no fim, alguém teria que ser o bode expiatório.
“Com todo respeito senhor, mas porque estão nos mandando? Existem várias tropas mais próximas.” Raul disse, cheio de dúvidas.
Dimitri franziu a testa com a pergunta, então recostou a mão na mesa, batendo com seus dedos sob a superfície.
“Um novo General Supremo do fronte Orc foi nomeado, seu nome é Dimas Ortega.”
Ouvindo isso, todo o lugar caiu em silêncio. Agora estava claro porque eles eram os bodes expiatórios. Todas as pessoas que serviam em Vento Amarelo por algum tempo, sabiam da rivalidade entre o General Kalfas e o General Dimas.
Com Dimas sendo nomeado o General Supremo, ele era responsável pela campanha dos Leões Dourados contra os Orcs, podendo comandar todos os Generais e tropas da região.
Depois de receber essa notícia, o local parecia um velório. Todos sabiam que dias sombrios viriam pela frente.
Após o fim da reunião, todos os Tenentes e Subtenentes partiram para incitar suas tropas. Organizando todo o exército para marchar em direção a Belai.
Na tenda de Raul, os quatro Oficiais e o Sargento Túlio receberam a notícia de sua missão.
“Estamos indo para Belai? Essa cidade não está sob cerco e cairá a qualquer momento?” Fernando disse, com um rosto confuso.
Raul e todos os outros olharam para o jovem com expressões curiosas, perguntando-se como o mesmo havia conseguido esse nível de informação.
“Isso mesmo, mas nossas ordens são de quebrar o cerco e defender a cidade.” Raul falou, com uma expressão estranha.
Fernando e os demais sentiram que havia algo mais que o Tenente não queria dizer, mas isso era algo que não dizia-lhes respeito.
Logo o exército de nove mil homens começou a marchar em direção à saída sul de Meridai, seu objetivo era romper o cerco de Belai.
Muitos olheiros e enviados de outras legiões observaram a cena, tentando entender os objetivos dos Leões Dourados.
Quando souberam das circunstâncias de Belai e do Cavaleiro, Sir Ferman, todos não puderam deixar de zombar de sua desgraça.
Em frente ao portão sul, o General Lenon esperava. Atrás dele, 1.000 homens montados em criaturas que se assemelhavam a lagartos aguardavam silenciosamente. Dimitri, que estava à frente das tropas, avançou em sua direção.
“Lenon, qual o significado disso?” perguntou, com um rosto cheio de confusão.
O velho de barba branca tinha um sorriso calmo no rosto.
“Minha autoridade é limitada, infelizmente não posso ajudar um velho amigo que está com problemas, mas posso pelo menos fornecer um pequeno apoio. Esta é minha cavalaria móvel pessoal, eu as deixo em suas mãos. Gostaria de fornecer mais ajuda, mas esse é o meu limite, se eu fizer mais o General Supremo tomará medidas.”
Dimitri que ouviu isso, tinha uma expressão complicada.
“Você já fez mais do que deveria, seu velho babão.”
Lenon e Dimitri se entreolharam, então começaram a gargalhar.
“Esse é Boris o Capitão dessa unidade de cavalaria e um dos homens mais leais a mim, ele irá ajudá-lo nessa missão.” Lenon disse, apontando para um homem alto e com uma constituição forte.
“Eu e meus homens estamos a seu serviço, Major.”
Vendo isso, Dimitri tinha uma expressão extasiada. Devido as limitações de mão de obra e aos possiveis conflitos com os Elfos Negros, ele não pôde trazer nenhum Capitão consigo. Ter um reforço poderoso como esse era algo bom.
Além disso, ter tropas montadas era uma grande vantagem militar. Ele sabia quão difícil era montar uma cavalaria. Os domadores eram extremamente difíceis de serem contratados e certamente não eram baratos. Para Lenon emprestá-los, mostrava o quanto considerava sua amizade.
Depois de uma breve conversa, Dimitri partiu de Meridai, saindo pelos gigantescos portões. Dez mil homens seguiram em formação, avançando sob as pradarias secas.
Thud! Tum!
Trombetas soaram e estandartes de Leões Dourados foram levantados.
Fernando que marchava junto ao Pelotão Zero, observou ao longe os mil homens montando lagartos, era uma visão realmente estranha. Cada lagarto era tão grande quanto um boi, causando um pouco de medo.
Vendo o poderoso e intimidante batalhão montado, pensou nos Lobos Prateados que deu a Brakas para treinar.
Brakas pensou, focando sua mente no Anel de Aprisionamento.
Recentemente, no período em que marchou de Vento Amarelo até Aquilones, não havia muitas coisas para fazer e ele não podia treinar. Então gastou parte de seu tempo investigando algumas coisas, o Anel de Aprisionamento era uma delas. Ele descobriu que como mestre do anel, poderia não só inspecionar o que acontecia dentro, mas também se comunicar com as formas de vida presentes ali.
Mestre, os lobos estarão prontos dentro de alguns dias, mas precisarei de mais carne e Poções de Mana. A voz envelhecida do Beholder soou em sua mente.
Nos últimos dias, Brakas vinha pedindo com alguma frequência por Poções de Mana e carne, segundo ele, para treinar os animais e acelerar seu processo de crescimento. Fernando não sabia que tipo de métodos o Beholder usava para fazer isso, mas estava ansioso.
Algumas horas se passaram, o exército avançou sem impedimentos pelas planícies pálidas, não havia muita vegetação nessa região, ao contrário do Norte, que era repleto de verde.
Enquanto marchava, Fernando observou muitos vilarejos e vilas no caminho, a maioria vazio ou com apenas um pequeno número de moradores. Devido ao medo dos Orcs, a maioria das pessoas migrou, refugiando-se nas regiões atrás das muralhas de Meridai.
Depois de cerca de quatro horas de marcha, finalmente começaram a avistar sinais do inimigo, encontrando muitas vilas queimadas e pilhas de corpos das pessoas que ali viviam.
Vendo aquela cena, Fernando sentiu seu estômago remexer-se, muitos corpos estavam desfigurados e multilados, essa era a brutalidade dos Orcs.
“Essas malditas bestas, eles não se atrevem a avançar tão longe com seus exércitos, mas mandam pequenos grupos que passam por nossas linhas de defesa.” Túlio disse, rangendo os dentes, apesar de não ter tido muitas oportunidades de enfrentar Orcs, sabia muito sobre táticas de guerrilha.
Mesmo avançando a passos largos, seu destino ficava a cerca de um dia de viagem. Com a noite chegando, Dimitri ordenou que montassem um acampamento. Mesmo que estivesse com pressa, se forçasse demais as tropas, elas estariam esgotadas quando chegassem na batalha.
Durante a noite, o silêncio nas planícies era aterrador, isso somado aos ventos frios causava uma sensação arrepiante.