O Pelotão Zero tinha o acampamento montado na extremidade, junto ao Décimo Terceiro Batalhão.
Tom e seu Esquadrão Zero 4 estavam com o segundo turno de vigia, eles haviam acabado de assumir a posição. Geralmente a rotação de vigia acontecia de 3 em 3 horas, para que todos os soldados estivessem sempre descansados e prontos.
Tom caminhava calmamente ao lado de Simon, no topo de um pequeno morro. Tudo que viam era escuridão total e o som do vento uivando.
“Senhor, por favor, fique na base do morro, não é ideal ficar num ponto tão destacado.” Simon disse, em direção ao seu jovem Cabo.
Desde que Fernando o destacou para ficar sob o comando de Tom, ele vinha fazendo seu papel da melhor forma possível, instruindo o jovem rapaz sempre que podia.
Inicialmente ele não pensou muito a respeito do jovem, mesmo sabendo que o mesmo tinha algum talento em magia, seu temperamento tímido e pouco destacado o tornavam um péssimo líder. Na maioria das vezes ele tinha que ser a pessoa que colocava o Esquadrão Zero 4 em ordem.
Porém, conforme o tempo foi passando, o rapaz aprendeu a se impor às tropas. Não só ele tinha um talento em magia, mas seu pensamento lógico mostrou-se ser fora dos padrões. Nos treinamentos de combate com os outros esquadrões, ele sempre viria com estratégias pouco ortodoxas.
“Aqui é o melhor lugar para observar. Além disso, você sabe que eu melhorei bastante no meu combate corpo-a-corpo. Um dia eu ainda serei tão forte quanto o chefe e talvez ela…” disse, olhando para o vazio escuro.
Simon, apesar de não dizer nada, suspirou consigo mesmo. Apesar de talentoso, o rapaz vinha sendo impulsivo nas últimas semanas, isso vinha acontecendo desde que se envolveu com Theodora.
Havia um velho ditado que dizia, ‘não importa se você é o mais forte, o mais inteligente ou mais perspicaz dos homens, um dia você será derrotado pelo olhar de uma mulher.’ Vendo a situação do jovem Thomas, Simon pensou que esse ditado não poderia estar mais certo.
Quando estava prestes a recomendar novamente que o jovem Cabo voltasse para a base do monte, um arrepio frio o atingiu na espinha. Olhando para as planícies escuras e silenciosas abaixo, não parecia haver nada, mas sentiu que algo não estava certo.
“Senhor, atire uma de suas magias para o alto.” sussurrou.
Ouvindo isso, Tom olhou para Simon, com um rosto confuso. Apesar disso, depois de passar tanto tempo ao lado desse homem, sabia que ele tinha muito mais experiência e deveria ter seus motivos. Mesmo Fernando costumava ouvir os conselhos do mesmo.
Sem hesitar, fez uma convocação rápida de uma Bola de Fogo, então a atirou para cima. Assim que o fez, tanto o rosto dele próprio, quanto o de Simon ficaram pálidos.
A luz vermelha brilhante da magia de fogo revelou centenas de figuras com cerca de dois metros de altura, caminhando sorrateiramente em meio à noite escura.
“Sulmog!!” Uma das criaturas berrou, então começaram a correr, escalando o morro.
Sem pensar duas vezes, Tom criou duas Bolas de Fogo, uma em cada mão e as disparou para baixo.
Boom! Boom!
As magias acertaram algumas das criaturas, mas outras rapidamente tomaram o lugar, avançando sob os corpos de seus companheiros e os pisoteando.
“Ataque inimigo!” Simon gritou, em plenos pulmões, então puxou Tom, ambos desceram correndo pelo monte.
O restante do Esquadrão Zero 4 na base ficou alarmado, levantando suas armas e preparando-se.
Simon havia reagido mais rápido, mas Tom era muito mais veloz, ele desceu o pequeno monte em poucos segundos.
Desde quando ele é tão rápido?! Simon perguntou-se, mentalmente. Ele mal havia chegado a metade do caminho, quando figuras surgiram no topo, saltando monte abaixo. Merda!
Simon correu com tudo que tinha, mesmo que ele tivesse ficado muito mais forte desde que ficou sob o comando de Fernando, sabia que seria suicidio tentar enfrentar um bando de Orcs sozinho.
Swish! Swish!
De repente, flechas voaram, derrubando alguns dos inimigos. Lina, Cintia e alguns arqueiros alvejaram sem parar o inimigo, ganhando tempo para que Simon chegasse ao sopé do monte.
Logo os soldados levantaram suas espada, prontos para lutar.
“Não! São muitos, vamos recuar!” Simon gritou, mesmo que tenha chegado junto aos outros, ele tinha visto seus números quando estava no alto, havia pelo menos centenas de inimigos. Ele, como alguém que já lutou contra um Orc, sabia quão aterrorizantes eram.
“Façam como ele disse, levantem uma resistência, vamos recuar enquanto defendemos!” Tom disse, preparando-se para o confronto.
Boom! Boom! Swish!
Bolas de Fogo e flechas foram disparadas sem parar, enquanto os homens e mulheres do Esquadrão Zero 4 recuavam, mas logo as criaturas os alcançaram.
Bam! Baque! Ting!
Os primeiros Orcs chocaram-se com os soldados, alguns foram enviados voando, enquanto outros mal conseguiram resistir ao ataque. Pela primeira vez Tom e demais viram a aparência do inimigo de perto.
Eles tinham uma pele verde clara, corpos bem construídos, mandíbulas inferiores expostas e usavam armaduras desgastadas junto a machados e porretes. Apesar de semelhantes aos Orcs que enfrentaram no vale de Flaviore, estes pareciam ser levemente diferentes.
Vendo os homens sendo empurrados, Simon avançou.
“Hah!” Com um movimento, fincou sua espada na garganta de um Orc, sangue jorrou para todos os lados.
Aproveitando essa chance, os homens que foram derrubados levantaram-se e se reafirmaram, empunhando novamente suas armas e agredindo os inimigos, enquanto recuavam.
Boom!
“Nuohhh!” Os Orcs gritaram depois de serem atingidos pelas chamas de fogo, alguns mesmo em chamas continuavam a avançar alguns passos, balançando seus enormes machados, até que caíram, inertes.
Tom jogou sucessivas Bolas de Fogo, queimando vários inimigos de forma impiedosa, logo um cheiro de carne queimada invadiu suas narinas, era o sangue e carne dos Orcs queimando.
“Azat the dushatar!” Um dos Orcs gritou, apontando para Tom.
Vendo isso, Simon que lutava com um Orc arregalou os olhos, vários dos inimigos estavam ignorando os soldados e avançando.
“Protejam o líder!”
Vários soldados entenderam a intenção do inimigo, então formaram um bloqueio na frente de Tom e dos arqueiros, protegendo-os.
Bom! Baque!
Outro choque feroz ocorreu, um soldado que reagiu muito devagar teve sua cabeça acertada por um porrete, ela estourou como uma melancia, fazendo seu corpo rígido cair no chão.
Vendo os Orcs se aproximando cada vez mais, os arqueiros começaram a entrar em pânico. Lina e Cintia rapidamente trocaram seus arcos por espadas, mesmo que fossem arqueiras, haviam recebido algum treinamento corpo-a-corpo para que pudessem se proteger em casos como esse.
“Lina, corre!” Cintia disse, levantando sua espada e avançando em direção a um Orc que chegou.
Lina hesitou por um segundo, suas pernas começaram a tremer e ela queria fugir, mas ao lembrar-se da batalha contra a Guilda Massacre, quando Cíntia quase morreu, sua expressão mudou. Então sem um pingo de medo ela correu, avançando ao lado de sua amiga.
Cintia ficou perplexa com isso, mas não havia nada que pudesse fazer. Ambas as mulheres correram em direção ao Orc, que balançou seu porrete em sua direção.
Swish!
Lina desviou para o lado, enquanto Cintia parou pouco antes do porrete, sentindo a poderosa pressão do vento em seu rosto. Seu coração parou por um momento, mas então viu sua amiga avançando pela lateral da criatura. Vendo isso, ela correu também, se ela hesitasse morreria!
Lina cortou com sua espada, afundando-a na coxa do Orc.
“Gahhh!” O Orc gritou, então usou sua mão esquerda para tentar pegar a pequena fêmea humana, que rapidamente deu alguns passos para trás. Enquanto estava distraído, sentiu uma dor no peito, ao olhar para frente, viu a outra fêmea bem diante de seus olhos. Essa foi a última coisa que a criatura viu, antes de cair de joelhos.
Vendo o Orc sendo morto por Cintia, Lina que respirava pesadamente, suspirou de alívio. Mesmo que ambas tivessem recebido Poções Incrementadoras de Fernando e agora tivessem seu Físico e Agilidade em 10 pontos, ainda tinham pouca experiência em combate de curta distância. Naquele momento ela estava tão cheia de adrenalina e medo, que seu coração parecia que iria saltar pela garganta.
“Ahhh!”
Antes que pudessem comemorar, viram um dos arqueiros próximos sendo pegos por um dos Orcs que escapou, o homem teve seu rosto agarrado pelas mãos nuas da criatura, então ela apertou, esmagando sua face.
Vendo cada vez mais Orcs chegando e os homens caindo, o coração de Tom afundou. Um grupo estava avançando em sua direção, claramente ele era o foco do inimigo.
Inicialmente ele pensou em recuar e ganhar distância, mas se o fizesse, seus homens teriam que arcar com o ônus. Lembrando das palavras de Fernando, de que as vidas de todo o esquadrão estavam em suas mãos e ele era o responsável, ele firmou os pés e tirou uma espada.
Com a espada em punho, Tom avançou em direção a dois Orcs que estavam o perseguindo. Apesar de estar cheio de medo, ele havia treinando extenuantemente no último mês e meio. De repente um dos Orcs levantou o machado e jogou em sua direção.
Bam!
O machado se chocou com um escudo de chamas.
O coração de Tom estava acelerado, ele não esperava que a criatura fizesse isso, apesar disso, reagiu a tempo. Desde que havia tomado as Poções Fauzer Ivrat e tido seus atributos de Físico e Agilidade melhorados até 15 pontos, sentiu que tudo havia mudado. Seu tempo de reação, sua velocidade, sua força tudo havia atingindo um nivel completamente novo.
Levantando uma das palmas, jogou uma Bola de Fogo em direção ao rosto de um dos Orcs.
“Jahhh!” A criatura gritou, colocando ambas as mãos sob a face, tentando apagar o fogo.
Vendo isso, Tom correu em direção ao outro Orc, que em resposta brandiu seu porrete.
Ting!
A espada e o porrete se chocaram. O Orc pensava que iria esmagar o pequeno mago humano, mas ao contrário de suas expectativas, seu braço com o porrete foi jogado ferozmente para trás. Assim que a criatura viu isso, seus olhos se encheram de terror.
Tom não hesitou e cortou verticalmente com a espada com ambas as mãos.
Swish!
O Orc foi partido ao meio, entranhas e sangue espalharam-se, enquanto cada parte de seu corpo caia para um lado.
Vendo o outro Orc de joelhos, com o rosto deformado das chamas, avançou, decapitando-o no local.
Vendo que ele por si só havia matado sozinho dois Orcs em combate corpo-a-corpo, Tom sentiu seu sangue ferver.
Essa força, esse poder, será que é assim que o chefe se sente? pensou, apertando fortemente o punho da espada em suas mãos.
“Líder, cuidado!” Um dos soldados gritou.
Quando Tom caiu em si, viu um grupo de cinco Orcs que sorrateiramente aproximou-se, ele estava tão distraído na luta com os outros dois que nem havia percebido.
Vendo isso, seu coração congelou por um segundo. Naquela fração de segundo, ele sentiu vontade de correr e fugir, mas lembrou-se das costas da pessoa que admirava.
Ele não fugiria…
“Pode vir, seus malditos!” gritou, em plenos pulmões.
Tom sabia que provavelmente morreria, mesmo tendo atributos elevados, ele ainda não controlava perfeitamente essa nova força e nem tinha experiência suficiente. E como as criaturas estavam muito próximas, não poderia usar sua magia. Aceitando seu destino, levantou a espada, ele deveria pelo menos matar metade dessas coisas.
Pensando sobre como morreria sem nunca ter se declarado, sorriu ironicamente.
“Você fica tão bonitinho bancando o corajoso.”
De repente, Tom ouviu uma voz em seu ouvido esquerdo, arregalando os olhos, olhou para o lado. Assim que o fez, viu um lindo rosto sorridente, alguém em quem estava pensando naquele exato momento, fonte de seu arrependimento, Theodora.