Na manhã seguinte, as tropas de Vento Amarelo fizeram uma larga varredura no campo de batalha do dia anterior, recolhendo os corpos dos aliados mortos e fornecendo-lhes um tratamento adequado. Seus pertences também foram recolhidos e entregues aos seus superiores.
Apesar de ser algo importante, esse não era o motivo principal de vasculhar o campo de batalha, o objetivo era recolher o saque! Mais de 12.000 Orcs foram mortos na batalha contra o exército de Vento Amarelo.
Deve-se saber que cada parte do corpo de um Orc é útil e pode ser usada para as mais diversas finalidades. Seus músculos, tendões e ossos resistentes poderiam ser usados na manufatura das mais diversas ferramentas e armas, seu sangue e outros órgãos poderiam ser utilizados tanto na Alquimia, quanto no campo de Runas. Entretanto, o mais importante eram seus cristais, o mesmo continha uma quantidade densa de mana que poderia ser usada na criação de Poções de Mana e alguns outros tipos.
Dimitri, Raul, Boris e Ícarus estavam observando o campo de batalha, afinal, os homens sob eles tinham dado seu sangue e suas vidas ali, era certo que assegurassem as devidas recompensas aos sobreviventes.
O saque da ala esquerda foi entregue a Ícarus para que distribuísse entre os Batalhões que participaram, entretanto foi acordado que entregassem 40% a Boris, já que a Cavalaria Tarky os ajudou a vencer aquela batalha.
Quanto ao saque da ala direita, tudo ficou nas mãos de Raul, afinal, quando a Cavalaria Tarky chegou, a batalha já havia acabado. Ícarus ficou extremamente invejoso, mas não havia nada que pudesse fazer.
“Quanto aos recursos provenientes da luta contra a horda principal, cada um de vocês receberá 15%, enquanto as tropas do Salão, junto aos Batalhões que lutaram ao meu lado compartilharão o restante.” Dimitri disse, num tom calmo.
Raul, Boris e Ícarus assentiram, ninguém levantou objeções, pois o Major já estava sendo extremamente generoso cedendo 15%, se fosse outros comandantes teriam cedido no máximo 10%.
Logo as tropas de Vento Amarelo reuniram o saque das planícies, quanto ao campo de batalha em torno de Belai, ninguém os tocou exceto o General Telles, afinal haviam sido os homens e mulheres da cidade que morreram defendendo-a, mesmo que tivessem salvo a cidade, não se atreviam a tentar pegar uma parte dos ganhos.
Da mesma forma, as tropas de Belai não tentaram reivindicar os ganhos da luta nas planícies, ambos os exércitos mantinham uma atitude de respeito recíproco entre si, cada um levando apenas aquilo que era seu de direito.
Ainda pela manhã, na cidade de Estrona, que havia se tornado o novo posto avançado dos Leões Dourados, a notícia da quebra do cerco em Belai chegou.
“Você ouviu? Belai conseguiu vencer o cerco e derrotar os Orcs!” Um jovem disse, entusiasmado num bar cheio.
“Não fale bobagens. Belai estava cercada por 30.000 Orcs! Eu estava extremamente agradecido que não fomos enviados para lá, ou seríamos carne morta.” Um velho disse, virando uma caneca de bebida.
“Eu estou falando sério, ouvi essa notícia ainda de madrugada quando estava fazendo a guarda do QG. Soube que até mesmo um Orc Lord foi morto!”
As pessoas se entreolharam depois de ouvir as afirmações do homem, então começaram a rir.
“Hahahaha, que piada, derrotar um Orc Lord junto a 30.000 Orcs? Você ainda está dormindo cara?”
“Belai neste momento não deve passar de um cemitério, cheio de corpos.” O velho disse, num tom sombrio.
Com essa frase todas as risadas morreram, por mais que estivessem brincando com o garoto, todos estavam tristes e aterrorizados por mais uma cidade cair nas mãos do inimigo. Muitas vidas eram perdidas sempre que uma cidade humana caia. Os Orcs não eram piedosos, sejam homens, mulheres, ou crianças, nenhum teria um destino bom.
Bam!
Nesse momento um homem entrou no bar empurrando a porta com força.
“Todos vocês, estejam prontos para partir em 1 hora.”
Os soldados no local ficaram estupefatos com a ordem repentina.
“Senhor, para onde estamos indo?”
“Para Belai.”
“…”
Logo toda Estrona ficou sabendo da vitória. Comemorações e aplausos foram ouvidos em todas as partes. Desde o início da guerra, essa foi a primeira vitória importante que os Leões Dourados obtiveram sob os Orcs.
Notícias sobre os vitoriosos se espalharam como fogo. Foi alegado que tropas de Vento Amarelo, lideradas pelo Major Dimitri, haviam sido os grandes responsáveis pela conquista, derrotando sozinhos, com pouco mais de 10.000 homens, um exército de 15.000 liderados por um Orc Lord. O fato foi confirmado pelo General Telles, que governa a cidade.
Também se espalharam notícias sobre a aparição do Cavaleiro Branco, Sir Ferman, da Legião Condor. Dizia-se que sozinho, ele havia exterminado milhares de Orcs num ataque.
Ainda pela manhã, 20.000 homens foram despachados para Belai. Depois de obter uma vitória tão significativa, a alta cúpula não se atrevia a arriscar perder a cidade.
Num grande salão no centra, um homem em torno de seus quarenta anos, com cabelos castanhos e roupa fina pomposa estava sentado na cadeira central do local, este era o General Supremo do fronte Orc, Dimas Ortega.
À sua frente, quatro Generais e cinco Majors estavam em silêncio, enquanto ouviam um soldado ler o relatório sobre Belai.
“Com isso, concluo o relatório, todas informações foram repassadas pelo General Telles de Belai e Major Dimitri de Vento Amarelo. Ambos garantiram a veracidade das informações passadas.”
Dimas, que estava em silêncio até agora, cruzou as pernas, apoiando o cotovelo sobre a mesa.
“Impressionante, pensar que aqueles caipiras do norte, sob as asas de Kalfas, conseguiriam tal feito. Parece que aquele velho não pode ser subestimado afinal. Inicialmente pensei em usá-los como bode expiatório, mas no fim se saíram muito melhor do que o esperado.”
Todos na sala estavam em silêncio, mesmo que houvesse Generais, ninguém se atreveu a dizer algo sobre as palavras absurdas de sacrificar seu próprio povo. Dimas atualmente era o General Supremo do fronte, nomeado pelo conselho da própria Cidade Dourada, nenhuma das pessoas na sala queria ofendê-lo, já que era de conhecimento comum que o mesmo tinha amplo apoio do alto comando da legião.
“Ahem.” Um dos Generais destacou-se para falar “General Dimas, 20.000 homens já foram despachados para garantir Belai, entretanto ainda não foi emitido um parecer sobre as recompensas…”
Nesse momento, Dimas levantou uma sobrancelha. Então falou num tom frio.
“Recompensas? Você quer que eu dê recursos para o povo de Kalfas?”
Toda a sala caiu num silêncio estranho, o General que mencionou o assunto começou a se arrepender de tê-lo feito, mas sabia que esse assunto não poderia ser evitado.
“General Dimas, tenha em mente que todos dos Leões Dourados estão de olho na situação em Belai, não só eles, como outras legiões estão nos observando de perto. Se não fornecermos uma recompensa equivalente aos seus esforços… Temo que nossa moral com nossos homens pode cair e boatos ruins começarão a ser espalhados sobre nossa legião.”
Ouvindo isso, Dimas franziu a testa, como alguém que estava envolvido na política como um peixe estava na água, entendia que tudo que o homem disse era verdade.
“O que vocês pensam a respeito?” perguntou, em direção aos outros Generais e Majors na sala.
“Acredito que o General Wayne está correto.” Um dos generais concordou, logo outros seguiram o exemplo. Mesmo que temessem ofender Dimas e normalmente não se metessem em suas decisões e rancores, a situação simplesmente não poderia ser tratada de forma leviana.
Ao contrário das expectativas de todos, Dimas sorriu.
“Os senhores estão absolutamente certos. Se não recompensamos os nossos homens corretamente, quem se atreveria a assumir tarefas perigosas no futuro? Passe meu comando, pelos atos de bravura, as tropas vassalas de Vento Amarelo devem ser devidamente recompensadas.” Ouvindo isso, todos soltaram um suspiro de alívio, pensando que talvez Dimas não fosse alguém de coração tão vil quanto pensavam. Entretanto, a segunda parte do que falou fez seus rostos caírem. “Não só isso, pelos feitos espetaculares do Major Dimitri, eu, como General Supremo, o promovo a General.”
Todos tinham expressões tensas com essa nomeação repentina, normalmente para ser promovido a General, era necessário passar por uma sabatina pelo conselho da Cidade Dourada. Se eles julgassem que seus feitos e força eram dignos da posição, o nomeariam, caso contrário, a promoção seria negada. Afinal, General era uma posição muito significativa e que detinha muito poder.
A exceção para isso seria que em tempos de guerra, um General Supremo poderia fazer algumas nomeações caso julgasse necessário, afinal a situação no fronte era simplesmente muito volátil. Caso a legião perdesse muitos generais, novos deveriam ser apontados para que a cadeia de comando não fosse comprometida.
“General Dimas, o senhor está sendo precipitado. Não sabemos se o Major Dimitri tem as qualificações necessárias.” General Wayne disse.
Se a nomeação fosse por mérito, ninguém seria contra. Entretanto, estava claro que haviam motivos ocultos por trás disso.
Nomeando Dimitri como General, o mesmo estaria na mesma posição que Kalfas, com exceção de um General Supremo, nenhum General poderia receber ordens ou estar sob outros Generais. Caso o fizesse, isso seria considerado uma tentativa de rebelião. Logo, mesmo que conseguisse algumas conquistas, Dimitri não poderia retornar a Vento Amarelo.
Não só isso, mas com Dimitri sendo um General, Dimas poderia dar a ele missões mais complicadas e arriscadas. Sem a força necessária para apoiá-lo, essa posição seria mais prejudicial do que benéfica.
“Absolutamente não. O Major Dimitri provou seu valor ao abater um Orc Lord e salvar Belai do cerco, mesmo a Cidade Dourada não será contra. Senhores, minha decisão já foi tomada, essa reunião está encerrada.” Depois de dizer isso, Dimas saiu, com um leve sorriso no rosto.
Com as duas mãos apoiadas uma na outra sob a mesa, Wayne balançou a cabeça, enquanto os outros Generais e Majors tinham rostos escuros. Apesar do descontentamento generalizado, ninguém se atreveu a dizer nada ou queixar-se, afinal era muito provável que muitas das pessoas naquela mesa fossem leais a Dimas.