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Sabendo que era inútil resistir, Argos acenou com a cabeça em silêncio. Ele servia aos Lobos de Batalha porque era esse o seu trabalho, mas não tinha interesse em ser torturado até a morte por causa de algumas informações.

“Por que os Lobos de Batalha te mandaram para Vento Amarelo? Por que eles queriam pessoas espionando Kalfas?” Fernando perguntou, com um rosto inexpressivo.

Raul sentou-se num canto, ouvindo atentamente. Por mais que tivesse sob Dimitri nessa guerra, suas raízes eram em Vento Amarelo, lá era seu lar. Se havia espiões infiltrados na cidade, ele precisava saber mais a respeito.

Quanto a Theodora, ficou atrás de Argos, suas intenções eram claras, qualquer movimento suspeito e ela o mataria.

Ouvindo a pergunta de Fernando, Argos levantou o rosto, encarando o jovem pálido.

“Você não sabe de nada, não é?” perguntou, de forma retórica. Então olhou para Raul. “Você deve saber que os Leões Dourados não treinam Usuários de Habilidade, alguns dos alto escalões até os odeiam.”

Raul que ouviu isso, franziu a testa. Essa era uma velha ferida dolorosa.

“O Capitão Raul deve saber a história por trás disso, mas como você me pergunta, vou responder. Há vinte anos atrás, os Leões Dourados eram muito poderosos, haviam muitos generais e seu exército fazia outras legiões menores tremerem. Por muito pouco não se tornaram uma das Dez Grandes Legiões.”

Fernando ficou surpreso com isso, sabia que os Leões Dourados eram uma Legião de médio porte, mas nunca soube que eles foram mais que isso no passado.

“Tudo isso foi devido a um único homem. Kaisar, filho de Kalfas.”

Fernando e mesmo Theodora foram surpreendidos por essa informação, apenas Raul parecia não se surpreender, como se fosse algo que já havia ouvido falar.

“Kaisar foi o mais brilhante e poderoso General que os Leões Dourados já tiveram, um poderoso Usuário de Habilidade. Graças a ele muitos territórios foram conquistados e muitos inimigos aniquilados. Sempre que alguém mencionava o nome ‘Kaisar’ as pessoas em volta o reverenciavam ou o temiam.” Argos disse.

“Eu amo umas preliminares, mas que tal deixar de lado a enrolação e ir direto ao ponto?” Theodora susurrou, deslizando sua adaga suavemente pelo pescoço de Argos.

Apesar da adaga a poucos centímetros de ceifar sua vida, o homem manteve-se calmo. Seus longos cabelos balançavam suavemente, ritmicamente com sua respiração.

“Tem haver, está conectado.” Argos falou, olhando para Fernando.

“Deixe-o falar, quero ouvir.”

Ouvindo o comando de seu líder, Theodora sorriu, então afastou-se.

Sentindo-se como se tivesse acabado de escapar da morte certa, Argos respirou fundo, então continuou.

“Mesmo que Kaisar tivesse tantas conquistas, tantas vitórias, tantos feitos, ele nunca teve uma cadeira no Conselho da Cidade Dourada. Ele nunca sequer foi nomeado General Supremo, em suma, foi suprimido e jogado para escanteio, você sabe por que?” Argos perguntou, olhando para Fernando, não aguardando uma resposta, continuou. “Porque ele era um Avaloniano, ou como as pessoas gostam de chamar, Filho de Avalon.”

Fernando franziu a testa.

“O que isso quer dizer?”

“Hah, a ignorância tem limite garoto, sei que você é um fissurado em treinamento, mas deveria ao menos entender o básico do mundo em que vive.” Raul disse, rindo. “Avalonianos são pessoas que nasceram nesse mundo, em Avalon.”

Sentindo um par de olhos perfurando-o em suas costas, Argos continuou, temendo que considerassem suas informações inúteis.

“Você deve saber que somos cópias, cópias de pessoas de um outro mundo, da Terra. Em suma, muitos acreditam que nós fomos copiados pela Matriz do Mundo de Avalon, ao criar nossos corpos, fomos reconstruídos de acordo com as regras de Avalon. Ao sermos banhados pela Matriz do Mundo, ganhamos talento, força e poder.”

Ouvindo isso, Fernando lembrou-se de sua vida na Terra, das luzes multicoloridas que viu na noite antes de acordar nesse mundo.

“Aqueles que foram trazidos pela Matriz do Mundo, são conhecidos pelas raças desse mundo como ‘Humanos Errantes’. Sabe a diferença entre um Humano Errante e um Avaloniano? É que o primeiro é abençoado pela Matriz do Mundo, enquanto o segundo não.” Argos disse, fazendo uma pausa, então continuou. “Kaisar, como um Avaloniano, era considerado indigno, um bárbaro criado num mundo sem lei, propício a baixo talento. Por isso os Leões Dourados jamais o aceitaram na Cidade Dourada. Isso não é exclusivo dos Leões Dourados, muitas legiões não recrutam Avalonianos, e quando o fazem, deixam-nos como soldados até morrerem. Tudo devido ao talento ruim e a sua criação pobre e de baixa cultura.”

Com um rosto pensativo, um turbilhão de pensamentos vinham à mente de Fernando.

“Então se você veio da Terra e tem um filho aqui. Seu filho não necessariamente terá talento. Pelo contrário, ele provavelmente não será muito diferente de uma pessoa normal.” deduziu.

“Sim. Poucos que nascem nesse mundo têm talento.” Argos respondeu.

“Entendo… Mas como isso tem haver com sua infiltração em Vento Amarelo?” perguntou.

“Isso porque Kaisar, depois de ser negligenciado pelos Leões Dourados, abandonou a legião e se juntou aos Lobos de Batalha. Quando ele saiu, a maioria dos Usuários de Habilidades saíram com ele. Acusando-o de rebelião, os Leões Dourados enviaram cinco dos Generais leais à Cidade Dourada para persegui-lo. Alguns dias depois, do exército de 25.000 e dos cinco generais enviados, apenas um mensageiro retornou, carregando cinco cabeças, as cabeças dos generais.”

Fernando sentiu um arrepio na espinha ao ouvir isso. Um único homem havia matado cinco generais!!

“Depois desse conflito, Os Leões Dourados e os Lobos de Batalha se tornaram inimigos jurados. Temendo que algo assim acontecesse de novo no futuro, os Leões Dourados aboliram o treinamento em massa dos Usuários de Habilidade. Quanto a Kaisar, atualmente ele é o Marechal da Guerra dos Lobos de Batalha, a posição mais alta que um General pode ocupar numa legião, respondendo apenas e exclusivamente ao Lorde da Legião.”

Ouvindo isso, tanto Fernando, quanto Theodora ficaram chocados, até mesmo Raul ficou sem palavras. Ele parecia saber parte da história, mas não toda.

“Então o General Kalfas é o pai de Kaisar, o Marechal da Guerra dos Lobos de Batalha. Por isso que os Lobos te mandaram pra espionar Kalfas, para protegê-lo? Em caso dos Leões Dourados quererem eliminá-lo?” Fernando perguntou, cruzando os braços.

Argos balançou a cabeça em negação.

“Kalfas é leal aos Leões Dourados, por causa disso Kaisar cortou relações com ele. Entretanto, os Leões Dourados também não confiam em Kalfas, mas ao mesmo tempo temem eliminá-lo e provocar Kaisar e consequentemente os Lobos de Batalha. Por isso ele foi enviado para Vento Amarelo, um lugar isolado, onde não poderia interferir nas decisões da Cidade Dourada. Meu trabalho era apenas monitorá-lo e observar se Kalfas fazia algum movimento em relação a supressão de seus inimigos, mas o General nunca fez nada.”

Ouvindo até ai, Fernando balançou a cabeça, decepcionado.

“Então era isso? Só isso?”

Ouvindo o tom do jovem, Argos ficou sem palavras, como alguém poderia dizer que era ‘só isso’, era um conflito que envolvia duas legiões!

“Não estou interessado nessa merda toda.” disse, com desgosto. A verdade é que Fernando não se importava com os problemas dos outros ou mesmo dos inimigos da legião. Tudo que ele se importava era consigo e com as pessoas próximas a ele.

Depois de saber a verdade a respeito da missão de Argos. Fez uma série de perguntas. As coisas relacionadas à legião como um todo não o interessaram, mas saber que Dimas, o General Supremo, era o responsável por manda-los para a morte e também aquele que havia fechado o comércio interno da legião em Belai o interessaram, afinal eram coisas que o prejudicavam diretamente. Além disso, havia mais uma coisa.

Aquele sujeito, ele não disse que servia a Dimas? pensou, lembrando de Jean Armand, o velho que tentou matá-lo em Vento Amarelo, causando um conflito entre Guarnições.

Lembrando do sujeito, o punho de Fernando apertou-se firmemente, havia uma dívida pendente entre ele e o velho homem que não havia sido paga.

Depois de mais de uma hora de perguntas, não havia mais coisas que o interessassem, mesmo que houvesse muitas informações úteis que saíssem da boca de Argos, a maioria eram coisas de pouca utilidade para ele.

Vendo a falta de interesse do jovem, suor frio escorria das costas do homem, sentia que o momento da sua morte estava chegando.

Percebendo isso, Theodora sorriu.

“Quer que eu o mate líder? Como ele foi cooperativo, posso fazer de forma rápida e quaaaase indolor.” disse, de forma maliciosa.

Argos baixou a cabeça, seus longos cabelos escuros cobrindo seu rosto. Ele estava feliz que pelo menos poderia ter uma morte rápida. Algo que poucos espiões tinham o luxo, ja que a maioria morria sob tortura, gritando e urrando, engasgados no próprio sangue.

Olhando para o sujeito, de joelhos no chão, Fernando balançou a cabeça.

“Não, não vou matá-lo.”

Ouvindo isso, Argos sentiu um arrepio no corpo, então levantou a cabeça, olhando para o jovem, com olhos incrédulos.

Raul franziu a testa, levantando-se.

“Está louco garoto? Quer soltar um traidor de merda? Se tá com peninha, deixa que eu mato.” disse, sacando sua espada.

Fernando manteve um rosto inexpressivo, mas andou três passos, parando a frente de Raul.

“Eu agradeço a ajuda, senhor Raul, mas gostaria de lidar com isso a meu modo.”

Vendo isso, Raul franziu a testa, olhando o jovem e sua confiança, parecia que tinha algo em mente.

“Foda-se, faça o que quiser então.”

Assentindo, Fernando caminhou em direção a Argos.

O sujeito estava sem entender, o que o jovem queria com ele? Por que o deixaria viver?

Nesse momento, Fernando acariciou um anel vermelho em seu dedo, quando viu aquilo, os olhos de Theodora se arregalaram de surpresa, mas logo um sorriso divertido e de expectativa surgiu em seu rosto.

No momento seguinte, um buraco negro, como se fosse de puro vácuo surgiu a frente do jovem, então dois tentáculos sairam, puxando-se para fora, como se algo monstruoso estivesse tentando se libertar de sabe-se la onde.

Argos tremeu ao ver a cena, seu corpo encheu-se de suor frio.

“Que merda é essa?!” Raul exclamou.

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