“Sir Ferman…”
“…”
“Sir Ferman…”
“Hm?! O que foi, jovem?”
“Eu sou grato pela ajuda, mas poderia… Me colocar no chão?” Fernando disse, com um rosto incomodado.
Pelas ruas de Belai, um velho, de mais de dois metros, carregava um jovem rapaz, segurando-o pela parte de trás da armadura.
Obviamente, a cena inusitada chamou a atenção dos transeuntes, que paravam o que tinham para fazer, enquanto apontavam para a estranha dupla.
Mesmo Fernando, que não costumava se importar com os outros, sentiu-se envergonhado.
“Hoh, hoh! Tão imaturo.” Ferman comentou, soltando o jovem tenente. “Se quer tanto andar com as próprias pernas, então me acompanhe. Preste atenção, essa é sua última lição, Jovem Fernando.”
Lição? Fernando perguntou-se, sem entender.
Antes que pudesse questionar do que se tratava, o corpo do velho homem encheu-se de veias saltadas.
BOOM!
Os olhos, do jovem Tenente, saltaram. Antes de perceber, seu corpo moveu-se por conta própria, perseguindo a figura branca que mal era visível.
Mesmo com seus mais de dois metros de altura e sua idade avançada, Ferman movia-se de forma graciosa, como se estivesse deslizando pelo chão.
Usando seus Passos Tirânicos, Fernando movimentou-se o mais rápido que podia para acompanhá-lo. No entanto, as curvas sinuosas e repentinas, que o velho fazia, eram difíceis, quase o fazendo chocar-se contra as casas no caminho. Virar de forma tão abrupta em alta velocidade também colocava uma grande pressão em seu corpo, que ainda não estava totalmente curado.
“Se quer destruir seu inimigo, não faça de forma ignorante. Nem todas as batalhas são travadas com exércitos.”
Há alguns dias, Fernando havia conectado seu Cubo Comunicador ao de Ferman.
Ouvir as palavras do velho, enquanto fazia seu máximo para acompanhá-lo, não era fácil.
O que ele quer dizer com isso? perguntou-se.
“Nos dias de hoje, eu sou Ferman, O Cavaleiro Branco. Atualmente, um Cavaleiro aleijado, que é desconsiderado por muitos, mas por anos, a simples menção deste nome faria Legiões se submeterem e os inimigos dos homens tremerem. Enfrentei o tirano de Kavir Eronai junto aos outros cavaleiros na armada dos dez, além das montanhas de fogo no norte. Liderei exercitos na derrocada dos Elfos Negros, defendi a fundação de Meridai da serpente dos céus, Lerovupel. Estive em muitos lugares, travei inúmeras batalhas e com minhas próprias mãos conquistei a glória.” O velho homem falou, com uma voz forte e estrondosa.
Fernando, que estava fazendo seu máximo para acompanhar a velocidade do velho, teve uma mudança de expressão. Não fazia ideia do que significava tudo aquilo, mas sabia que eram feitos importantes. O título de ‘Cavaleiro Branco’ não era algo que surgiu do dia para noite.
“No entanto, nem sempre as coisas foram assim, houve tempos tortuosos para a humanidade. Se esconder e fugir era o único meio de vida para os fracos, inclusive, para mim…” Ao dizer isso, o velho homem saltou, pisando sobre os telhados das casas.
Bang!
Merda! Fernando pensou, ao colidir por acidente com uma parede ao saltar atrás de Ferman, causando um rombo em uma casa.
“Ah!” Um grito assustado poderia ser ouvido dentro. Um casal de jovens amantes estava escondido ao lado da cama, olhando para a cena de um jovem estranho invadindo seu quarto.
Balançando a cabeça e tirando todo o pó da parede em seu cabelo, Fernando levantou o rosto, perplexo ao ver onde havia caído.
A mulher, em pânico, rapidamente cobriu os seios, enquanto o homem, trêmulo e assustado, se pôs a frente.
“Err… Me desculpem.” disse, de forma constrangida. Movendo o pulso, jogou algumas moedas de prata em direção à beirada da cama. “Pelo estrago…” Então saltou pelo buraco, deixando o par de homem e mulher sem palavras no local.
Quando chegou ao topo das casas, Fernando viu o velho homem parado acima de uma grande edificação ao longe, parecida com uma igreja. Em pouco tempo, escalou até o topo, parando pouco atrás de Ferman.
Seu cabelo branco balançava com o vento, enquanto olhava para baixo. A partir do topo, era possível ver boa parte da Cidade de Belai.
O velho homem virou-se levemente, após isso, sorriu.
“Hoje me chamam de justo, nobre e outros títulos semelhantes, pois dediquei décadas da minha vida ajudando as pessoas comuns. O que eles não sabem, é que durante todo esse tempo, eu estava expiando meus pecados. Eu matei, roubei e fiz todos os tipos de maldade no passado, tudo para viver.” O sorriso de Ferman diminuiu, tornando sua expressão séria, enquanto olhava nos olhos de Fernando. “Escute jovem. Você é muito melhor do que jamais fui em sua idade, mas ainda é tolo e ingênuo.”
Fernando que ouviu isso, franziu a testa levemente.
“Então o que eu deveria fazer? Deixar que ameacem as pessoas que são importantes para mim?”
Ferman sorriu com a resposta impetuosa.
“Um líder deve ser forte, mas mais do que isso, deve ser inteligente.” disse, com uma pausa. “Se quer destruir seu inimigo, faça-o da forma que cause menos danos a você e a aqueles que estão sob suas asas. Não pense que sempre poderá assumir as consequências do que virá.”
Fernando, que ouviu isso, ficou surpreso. Olhando para os olhos do velho, sentiu como se o mesmo estivesse lendo sua alma.
A verdade, é que ele havia decidido assumir todas as consequências por esse ataque a Guilda Fúria, mesmo que no futuro, não pudesse liderar o Batalhão Zero. Demonstrar força e garantir que todos saibam que não podem simplesmente fazer o que querem com eles, era prioridade e algo necessário.
Mas ao parar para pensar, lembrando do que aconteceu no tribunal militar, mesmo que quisesse assumir as consequências, talvez não fosse algo que estivesse dentro de seu poder.
Se as implicações de suas decisões atingissem o restante dos membros do Batalhão Zero, então tudo que havia feito seria para nada.
Levantando seus olhos, olhou para Ferman.
“Está mesmo tudo bem eu sair assim?” perguntou.
Fernando sabia que suas ações naquele dia haviam causado sérios problemas ao Salão de Belai.
O velho sorriu ao ouvir isso.
“Acha mesmo que eu conseguiria te tirar daquele julgamento se os Generais não quisessem que isso fosse feito?” perguntou, com uma leve gargalhada. “Mesmo que eu seja um Cavaleiro e alguém que ajudou a salvar a cidade, ainda sou de uma legião estrangeira. Nenhum General permitiria esse tipo de intervenção em seu domínio.”
Fernando que ouviu isso, ficou perplexo.
“Isso quer dizer…”
“Exatamente. No momento em que você começou a mover suas tropas para atacar a Guilda Fúria, Telles já havia entrado em contato comigo e preparado uma contra-medida. Na realidade, ele não gostava dessa guilda criando raízes aqui, seu fundo é um pouco problemático, então apenas te usou para se desfazer de algo que o estava incomodando. Você realmente acha que conseguiria destruir uma guilda inteira sob o nariz de um General? Hoh, hoh, hoh. Ingênuo.”
Por um momento, Fernando sentiu um certo aperto no peito. Por mais que não se importasse com o objetivo ou motivação dos outros, ainda sentiu-se mal ao saber que mesmo uma decisão que tomou por conta própria, poderia acabar levando-o a ser usado por terceiros.
“Você parece deprimido.” Ferman disse, rindo. “Não se sinta para baixo. Telles é um amigo meu de longa data, ele pode não ser muito poderoso em batalha, mas é extremamente competente em lidar com a política e logística. Bom, ninguém que chegou a posição de General é um fraco sem cérebro.”
Fernando ficou em silêncio por um tempo, então pensou em algo.
“Se ele planejou isso, significa que o senhor me tirar de lá também fazia parte disso?”
Ferman assentiu.
“A cidade de Belai não pode arcar com as consequências de libertá-lo sem uma punição pesada, isso faria todas as guildas levantarem-se em protesto. Mas se eu intervir, as coisas serão diferentes. Quem ousará me criticar? Então não se preocupe com isso.”
Vendo a atitude despreocupada do velho, mesmo após ajudá-lo tanto, Fernando não sabia o que dizer.
Desde que chegou em Avalon, conheceu muitas pessoas que o ajudaram das mais diversas formas. Fernando odiava ficar em dívida com alguém, mas também sabia que o que o velho ansiava era algo que não poderia oferecer.
Abandonar o Batalhão Zero para se tornar o escudeiro de Ferman e segui-lo de volta para a Legião Condor era algo que não poderia fazer.
Observando o jovem pensativo, Ferman sorriu levemente.
“Não pense tanto nisso, já entendi sua situação. Sei que você não me seguirá e se juntará a Condor.” O velho disse, com um rosto gentil. “Apesar disso, eu realmente considerei sequestrá-lo durante a noite…” A segunda parte foi dita num tom de murmúrio.
Olhando o velho, que parecia falar consigo mesmo, Fernando balançou a cabeça. Eles se conheceram apenas por alguns dias, mas tudo que Ferman havia ensinado a ele era de grande valia.
De repente, um rosto veio à sua mente, o de Berton Tenari.
Inicialmente, Fernando não pretendia se envolver nos assuntos alheios, mas sentiu que jamais deveria pagar bondade com ingratidão.
Desde o início, sentiu que o General Berton era estranho. Parecia carregar alguma malícia em direção a Ferman. Quando o viu se reunir com um outro homem num restaurante comum em Belai, finalmente ligou alguns pontos.
“Senhor…” Fernando disse, olhando para o velho.
“Hm?”
“Em relação ao General Berton Tenari… Você deve ser cuidadoso.” disse, de forma sutil. Mesmo que desconfiasse do homem, não se atrevia a fazer insinuações claras.
Por um momento, o velho parecia em dúvidas ao ouvir o jovem, mas então sorriu de forma gentil.