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Alguns membros centrais do Batalhão Zero ficaram insatisfeitos com a decisão de Fernando de arriscar a vida de todos por causa de pessoas que sequer eram tropas combatentes, enquanto outros pareciam concordar com suas palavras, já que suas vidas haviam ficado muito melhores desde a chegada da Unidade de Logística.

Com a nova Unidade tendo sido montada, não só eles conseguiam se movimentar muito mais rápido do que as outras Tropas de Exploração, como a quantidade de materiais coletados também era muito maior. Além do mais, com várias tarefas simples sendo delegadas a eles, a maioria dos soldados poderiam se manter sempre ativos e a postos, podendo reagir muito mais facilmente as emboscadas e ataques surpresa.

Essa reação rápida às várias situações encontradas, era um dos motivos para a quantidade de baixas não ser maior.

Mesmo assim, muitos ainda pareciam não concordar, mas independente de suas opiniões ou divergências, todos seguiram as ordens do seu comandante.

Ilgner, em especial, deu um leve sorriso com a decisão do jovem, de manter sua palavra e cumprir com suas promessas.

Em menos de meia hora, o local em que estavam estacionados foi desmontado e logo o Batalhão começou a marchar em direção à última localização onde residiam os parentes de alguns membros da Unidade de Logística.

Enquanto marchavam, Fernando convocou o velho Damon. Logo sua promessa estaria praticamente cumprida, já que qualquer coisa além de Garância estava fora de seu alcance.

“O que você sabe sobre o local?” perguntou, com um rosto calmo.

Mesmo que soubesse sobre algumas informações superficiais, achou melhor perguntar mais detalhes sobre a região, ele havia feito o mesmo em todos os outros locais que visitaram.

“É uma vila chamada Rosina, focada na agricultura. Era um local relativamente movimentado devido à sua localização e pelo fato de interligar duas outras vilas. Além disso, estava sob a proteção direta de Garância, como seus produtores de alimentos. Deveria ser um local seguro, ou pelo menos era… até a guerra chegar. Se nada disso tivesse acontecido…” O velho falou, com alguma reminiscência e tristeza em sua voz, havia até algum leve indício de nervosismo.

Fernando tinha um rosto inexpressivo, mesmo após ouvir as palavras do homem. Ele sentia alguma pena dos civis que foram pegos no fogo cruzado, mas não simpatizava muito em relação às perdas das Legiões como um todo.

Apesar de estar em Avalon a pouco mais de um ano, experimentou em primeira mão a violência e brutalidade das Legiões, assim como a desunião da Humanidade como um todo. Mesmo sendo tão fracos, os Humanos ainda preferiam se matar e se maltratar do que lutar contra seus inimigos.

Ao seu ver, todas essas vítimas poderiam ter sido evitadas se as Legiões e outras organizações se precavessem e investissem mais recursos e tropas nas fronteiras.

“Estamos perto.” Damon disse, com um olhar afiado ao notar uma trilha.

Fernando assentiu, então olhou para Theodora que não estava longe.

“Batedores, avancem!” A mulher gritou, enquanto andava em meio às formações dispersas na área. Apesar de sua silhueta esbelta e curvilínea, ninguém ousava olhar por mais de um segundo, temendo chamar a atenção da ‘impiedosa Subtenente’.

Logo o Esquadrão de Bianco se destacou à frente do Batalhão. Como tropas remanescentes, treinadas por Argos, seu trabalho era rastrear e reunir informações de todos os inimigos na área, para que fossem eliminados da forma mais eficiente possível.

Tzim!

Logo após a partida dos batedores, a linha de comunicação do Batalhão foi aberta, com todos os Cubos Comunicadores dos Cabos e acima conectados à Rede de Mana Móvel. Com a comunicação estabelecida, seria mais fácil se organizar antes da batalha.

Mesmo que as Redes de Mana Móvel fossem extremamente úteis, o consumo de mana era extremamente alto, sendo necessário usar vários cristais de criaturas e outros itens energéticos para recarregá-las. Por isso, Fernando decidiu operá-las, na maior parte do tempo, com restrição de uso as mais altas patentes e abrir os canais apenas quando fosse necessário.

Além do mais, os Cubos Comunicadores, mesmo que de forma limitada, podiam se comunicar, com as Pedras e Cubos emparelhados, sem estar conectados a uma Rede de Mana, economizando assim energia e recursos.

“Tenente, passamos pelo grupo menor de Ciclopes que foi relatado. Eles ainda permanecem, aproximadamente, na mesma posição, mas encontrei um problema.” A voz de Bianco, com uma entonação severa, soou da Pulseira de Armazenamento.

Ouvindo isso, Fernando franziu a testa.

“O que houve?”

“Há rastros de um grupo maior de Ciclopes seguindo para a região Oeste e não devem estar mais longe do que alguns quilômetros. Deve ter pelo menos cinquenta deles, talvez mais.”

Ouvindo isso, o jovem Tenente respirou uma lufada de ar frio, então olhou para o velho Damon, que tinha um olhar espantado em seu rosto.

Mesmo que Fernando nunca tivesse enfrentado um Ciclope antes, havia lido a respeito deles no livro Caçador de Monstros um ano antes, nos primeiros dias após chegar em Avalon. Eram criaturas complicadas de matar devido a sua alta regeneração e corpo gigantesco. Cerca de cinquenta deles representava uma séria ameaça ao Batalhão.

Noah, Ugo e alguns dos outros membros centrais, que estavam conectados na comunicação conjunta, se entreolharam, consternados.

“Tenente, solicito uma ordem de retirada. Devemos entrar em contato com as outras Tropas Exploratórias. Se unirmos forças, podemos eliminá-los antes da passagem do exército. Esse tipo de ameaça precisa ser neutralizada.” A voz de Trayan soou na comunicação. Como um Oficial, ele tinha a autoridade necessária para fazer esse tipo de pedido.

O restante do exército chegaria em menos de um dia a sua localização. O dever das Tropas Exploratórias era achar caminhos que o grande exército poderia passar ou evitar, além de eliminar ameaças encontradas e avisar sobre grandes perigos. Tendo em vista isso, unir forças com os Batalhões de Heitor, Amanda e Banjo parecia mais sensato.

Fernando tinha um rosto impassível, mesmo após ouvir a solicitação.

“Pedido negado.” falou, de forma calma, o que surpreendeu toda a cadeia de comando.

A verdade é que o jovem pálido sabia que os outros Batalhões das Tropas de Exploração não atenderiam ao seu chamado, pois era melhor apenas evitar esse caminho. E se atendessem, todos eles levariam pelo menos metade de um dia para se reunir. Além disso, eles estavam fora da rota original, o que faria os Generais questionarem a mudança de curso do Batalhão Zero. Fernando não tinha a menor intenção de dar explicações de suas ações àqueles do topo.

“Todos os Cabos e acima, reúnam-se.” disse, com entonação de ordenança na comunicação.

Essa ordem estranha, seguida da negação do pedido de retirada, pegou todos de surpresa. Apesar disso, em poucos minutos, os Cabos, Oficiais e acima se reuniram à frente do Batalhão.

Entre eles, estava: Theodora e Ilgner, como Subtenentes; Tom e Damon, como Sargentos; também havia Noah, Trayan, Gabriel, Archie e Kelly como Oficiais; assim como Ronald, Emily, Karol, Lenny, Lina, Cíntia, Kain, Leo, Louise, Ugo, Lance, Magnus e vários outros Cabos menos destacados.

Os membros ali eram pessoas de destaque do Batalhão Zero, que lideravam outros. Muitos soldados os admiravam e até os temiam.

“Tenente, o que você está planejando?” Trayan perguntou, com um rosto cheio de dúvidas, afinal, ele havia tido seu pedido de reunir forças com os outros Batalhões negado sem uma explicação. Isso, somado a estranha mudança que Lenny havia tido desde o retorno da missão de infiltração, o fez ficar levemente descontente. “Nós vamos recuar?”

Todos olharam para Fernando, em busca de respostas.

O jovem Tenente ficou indiferente, mesmo com o questionamento do homem que tinha um cavanhaque.

“Não vamos recuar, vamos atacar.” disse, com uma voz calma.

As expressões de Noah, Lenny e muitos outros mudaram ao ouvir isso. Um grupo de mais de cinquenta Ciclopes não era algo que deveria ser tratado de forma leviana. Se vários deles tiverem uma força acima da média, era mais que suficiente para causar pesadas perdas no Batalhão e talvez até obrigá-los a fugir.

“Você está louco? Eu não vou guiar meus homens para a morte!” Trayan falou, com uma expressão chocada.

Vendo isso, Ilgner andou alguns passos na direção do homem, parando a sua frente e o encarando nos olhos, com seu grande nariz quase tocando o rosto do homem.

“Baixa a bola, Oficial. Você está falando com o Tenente do seu Batalhão.” disse, de forma intimidadora.

Um clima frio se espalhou no ambiente, com todos em silêncio.

Trayan estreitou os olhos e os Cabos vindos da Guilda Valorosos também demonstraram descontentamento, pois eles entraram no Batalhão Zero por causa do Lenny e Trayan. Mesmo que muitos dos ex membros da Guilda respeitassem e admirassem o alto escalão do Batalhão, ainda sentiam que deveriam seguir os dois homens.

Lenny, por outro lado, estava suando frio. Depois do que viu na missão de infiltração e sabendo da coisa que estava sob o controle do jovem Tenente, seu coração não poderia deixar de acelerar.

“T-Trayan, n-não cause problemas, certo?” disse, de forma reprimida.

Vendo essa forma amedrontada que Lenny falava, o homem ficou ainda mais desconfiado. O baixinho que sempre causava problemas por onde passava de forma despreocupada, aquele que até mesmo desafiou o próprio Tenente do Batalhão Zero assim que o encontrou, agora estava se encolhendo de medo? O que estava acontecendo?

Fernando viu tudo aquilo com uma expressão calma, ele sabia que isso poderia acontecer mais cedo ou mais tarde. 

Por mais que muitos das tropas recrutadas em Belai fossem excelentes, vários dos soldados vieram de Guildas debandadas e outras organizações das mais diversas. Eles não estavam totalmente acostumados ao modo de agir daqueles que o acompanharam desde Vento Amarelo, que quase sempre o seguiam sem questionar.

“Você perguntou se eu estou louco, Oficial Trayan, e eu posso dizer que não, não estou.” disse, com uma expressão calma.

O homem, que tinha um cavanhaque, olhou para Ilgner, então desviou dele, olhando novamente para Fernando.

“Então como planeja batalhar com mais de cinquenta Ciclopes com apenas nossas forças? Nós podemos vencer, é verdade, mas as nossas perdas…”

“E quem disse que vamos enfrentar todos os Ciclopes?” Fernando falou, interrompendo o homem.

“O-o quê?” Trayan o olhou, sem entender, assim como os demais.

O jovem Tenente deu um leve sorriso, varrendo seus olhos sobre todos os presentes.

“Vocês todos entenderam algo errado aqui. Eu nunca disse que iríamos para uma batalha… Na verdade… está mais para um massacre, um massacre unilateral.”

As palavras insanas de Fernando fizeram com que todos no local ficassem abismados.

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