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Ainda naquela mesma noite, um anúncio foi feito a todo o exército, dando início aos preparativos do combate.

Muitas das Brigadas foram posicionadas em pontos estratégicos, para poderem se organizar mais facilmente pela manhã.

Apesar do temor natural em relação aos Orcs por parte de muitos soldados, com um poderoso exército de mais de quarenta mil homens, uma confiança indescritível encheu seus espíritos, fazendo com que muitos até mesmo estivessem ansiosos pela batalha que estava por vir.

Pela noite, muitos Majores, Capitães e mesmo Tenentes se mantiveram ocupados com os preparativos. O maior desafio de uma guerra não era apenas vencer batalhas, mas manter as linhas de logística estáveis.

Durante a marcha de Belai até Garância, o grande exército não apenas avançou de forma desimpedida, mas espalhou vários postos de controle no caminho, para garantir linhas de suprimentos, comunicação e reforços posteriores. Mesmo que retomassem a cidade, seria impossível mantê-la sem recursos suficientes, entregues de forma estável.

As plantações em toda a região haviam sido destruídas e saqueadas pelos Orcs, então não poderiam depender dos recursos locais para alimentar as mais de quarenta mil bocas. Mesmo as Caixas de Transporte, recheadas de recursos, não durariam mais do que um ou dois meses. Afinal, diferente de civis, os soldados tinham uma necessidade energético-alimentar muito maior, devido ao consumo constante de mana e energia.

Então para alguns, os preparativos antes da batalha eram tão importantes quanto o resultado em si.

“Sim, senhor!” Um Soldado disse, fazendo uma saudação militar ao sair da tenda do jovem Tenente do Batalhão Zero.

Assim como o restante das pessoas, Fernando também estava se preparando para o que viria no dia seguinte.

Felizmente para ele, como um membro das Tropas de Exploração, que havia aberto um caminho para o restante, o Batalhão Zero havia sido poupado de estar na vanguarda.

Pela primeira vez, Fernando sentiu-se grato por fazer parte delas. Devido à batalha de Belai, ele sabia o quão oneroso era ser parte da linha de frente, que recebia a maior parte da ofensiva inimiga. Se ele estivesse na vanguarda, estava pouco confiante de que conseguiria manter a integridade do Batalhão.

“Com licença, Tenente.”

Enquanto divagava sobre suas preparações, uma voz o chamou a partir da entrada da tenda.

“Pode entrar.” disse, com uma voz calma. A pessoa que ele estava esperando havia finalmente chegado.

Com a confirmação de Fernando, um homem relativamente jovem, com barba por fazer, óculos e cabelos longos, entrou. Atrás dele, estava um velho baixinho, de barba longa, cabelos grisalhos e um manto branco cobrindo-o.

“Senhor Wedsnagauer e Alfie, obrigado por virem.” O jovem pálido disse, com educação.

“Hoho! Que raro você me chamar, rapaz.” O velho disse, de forma contemplativa. Seu estado confuso estava longe de ser visto, indicando que havia melhorado consideravelmente, mantendo-se lúcido por mais períodos que antes.

“É um prazer revê-lo, Tenente, se houver algo que possamos fazer, será nossa honra.” Alfie disse, com seus olhos calmos, observando o jovem à sua frente. “Entretanto, se for algo relacionado ao combate, receio q-”

Fernando rapidamente levantou a mão, indicando que ele parasse.

Desde o início, Alfie Caiman havia deixado claro que ele e o seu mentor, Wedsnagauer, não se envolveriam na batalha.

Normalmente, um Mestre de Runas seria um incrível trunfo no campo de batalha. Mesmo que não fosse alguém experiente em combate, apenas seu suporte poderia mudar todo o rumo de uma situação difícil.

Apesar disso, com a recusa dos mesmos, Fernando não insistiu ou os pressionou, deixando-os fazer o que quisessem.

“Não se preocupe, não é por isso que chamei vocês aqui.” respondeu, de forma tranquilizadora.

Alfie ficou surpreso com isso, então olhou para o doutor ao seu lado, que parecia não se importar com nada.

Considerando que essa era a última noite antes do ataque a Garância começar, o homem sentiu que talvez o rapaz tivesse vindo em busca de sua ajuda.

Eu me enganei? pensou, intrigado.

Movendo o pulso, o jovem retirou um item de sua Pulseira de Armazenamento.

“Gostaria que dessem uma olhada nisso. Eu ganhei de um conhecido.” disse, aproximando-se e entregando um pequeno item na mão do sujeito de óculos.

“Oh, uma Pedra de Armazenamento de Mana bruta.” Wedsnagauer falou, olhando para o pequeno item do tamanho de um grão de feijão na mão de Alfie. “É uma pena que seja tão pequena, se fosse maior valeria uma boa quantia de dinheiro.”

Ouvindo a confirmação do Mestre de Runas, Fernando sentiu seu coração acelerar.

Então realmente é uma Pedra de Mana… pensou, comparando-a a que guardava em seu peito.

“Senhor, eu ouvi que para usar uma Pedra de Mana, é necessário ativá-la primeiro. Isso é realmente verdade?” Fernando indagou, com uma leve indicação do que queria.

Hm… Então é isso. O velho pensou, seus olhos se estreitando, enquanto um leve sorriso aparecia em seus lábios. Eu esperei por um longo tempo, rapaz, finalmente a chance surgiu.

“É isso mesmo.” Wedsnagauer começou a falar, de forma empolgada. “Há dois tipos de Pedra de Armazenamento de Mana. As brutas e as ativadas. Em seu estado bruto, elas não são diferentes de materiais rochosos comuns, mas quando ativadas pelas matrizes de contenção e conversão de mana, podem não só armazenar mana de poções, como o mana contido dentro é filtrado, podendo ser utilizado sem efeitos colaterais. É um recurso muito valioso que muitas pessoas carregam consigo para emergências.” 

Alfie Caiman, ao seu lado, ficou levemente surpreso com a atitude do seu mentor, sem entender porque ele parecia tão animado com algo assim.

Fernando ficou perplexo com a explicação. Até não muito tempo atrás, ele acreditava que sua Pedra de Mana era um item especial e que outras pessoas não deveriam saber sobre sua existência, pelo menos não de forma tão pública. Então descobrir que realmente não era um item tão incomum era estranho para ele.

“Então, senhor Wedsnagauer, gostaria de perguntar se você pode ativar essa pedra para mim.”

“Ativar? Isso?” O Mestre de Runas perguntou, como se estivesse surpreso. “Eu acho melhor não, rapaz, é muito pequena, não vale o esforço. Além disso, mesmo que seja para você… isso não sairia barato.”

Apesar de já esperar que não seria fácil, Fernando ainda não pôde evitar franzir a sobrancelha.

Ele não tinha interesse no uso da pedra em si, mas gostaria de ver com seus próprios olhos a diferença entre essa Pedra de Mana ativada e a sua própria. Só após ter feito isso, poderia sanar as dúvidas que rondavam sua mente.

“O custo não importa, eu irei pagar o que for preciso.” afirmou, com uma expressão calma.

Tanto Wedsnagauer quanto Alfie ficaram surpresos com a estranha determinação do rapaz.

“Bem… você tem certeza? Não vai sair por menos de 10 moedas de ouro, talvez um pouco mais. Já que é tão pequena, vai ser difícil configurar e incrustar as matrizes.” O velho alertou.

Fernando ficou chocado ao ouvir isso. Mesmo que esperasse um valor alto, não esperava que fosse tanto! Nesse ponto, ele entendeu porque Heitor não estava interessado em ativá-la, definitivamente não valeria a pena fazer isso por uma reserva de 50 pontos de mana. Pelo que havia ouvido falar, com a mesma quantia ele poderia ativar uma maior.

Heitor pensou que Fernando e Wedsnagauer tinham algum tipo de relação profunda e por isso o homem faria esse trabalho de graça, mas ele não poderia estar mais enganado.

O velho havia se juntado ao seu Batalhão com a intenção de recrutar Emily e treiná-la. Ele também parecia levemente interessado em Fernando, mas nunca tocou no assunto. No fim, ambos não tinham nenhum tipo de relação realmente próxima, então se quisesse contratar seus serviços, teria que pagar por eles.

Atualmente, mesmo com os gastos recorrentes do Batalhão, ele ainda tinha cerca de 290 moedas de ouro, contando os saques que conseguiu da Guilda Fúria e também das moedas que Ferman havia lhe deixado. Então, pelo menos no momento, ele não estava com falta de dinheiro. Mas mesmo assim, 10 moedas de ouro era um valor extremamente alto, representando mais do que o gasto mensal do Batalhão Zero com as necessidades básicas!

Alfie Caiman olhou com desconfiança para Wedsnagauer. Ele sabia que o valor de mercado para esse tipo de serviço era de apenas 5 moedas de ouro, metade do que ele havia dito.

O que o doutor está planejando? pensou, com curiosidade. Entretanto, ao ver o rosto animado do velho e a situação estranha, um lampejo passou por sua mente, finalmente entendendo suas intenções. Se é assim, vou ajudá-lo!

“Mesmo entre os Mestres de Runas, o doutor Wedsnagauer pode ser considerado uma figura importante. Então se fossemos levar em consideração sua reputação e qualidade do trabalho, dez moedas de ouro não seriam o suficiente para sequer ter uma reunião com ele, muito menos contratá-lo.” Alfie disse, com alguma altivez.

Ouvindo isso, a expressão do jovem Tenente mudou, parecendo estar impressionado.

Muito bem, Caiman! O Mestre de Runas pensou, sorrindo, ao ver seu assistente levantar a bola para ele.

“Entendi…” Fernando disse, após contemplar a situação por algum tempo.

Tanto Wedsnagauer quanto Alfie estavam satisfeitos ao ver o rapaz aceitando a situação com tanta facilidade, mas suas expressões mudaram com as próximas palavras do jovem.

“Então você está dizendo que alguém que come e bebe da comida do meu Batalhão, além de receber proteção vinte e quatro horas por dia, tudo de graça, na realidade é alguém podre de rico que cobra dez moedas de ouro só para falar com as pessoas…” O jovem pálido ponderou, com uma expressão séria e pensativa. “Se é assim, eu acho que deveria cobrar pelos meus serviços um valor equivalente ao seu padrão de vida.”

“O-o que… Não, esper-” O velho exclamou, tentando argumentar, mas foi interrompido novamente.

“Deixe-me ver… Por toda essa incursão que estamos fazendo, eu poderia cobrar vinte ou trinta moedas de ouro pela comida, mais quarenta pela segurança. Não podemos esquecer que foi meu pessoal que tirou vocês da cadeia da Guilda Fúria. Acho que pelo padrão de vida de vocês, isso custaria umas cem moedas de ouro?” Fernando falou, parecendo pensar em voz alta.

Tanto Alfie quanto o Wedsnagauer ficaram pálidos ao ouvir o jovem falando de valores exorbitantes tão facilmente.

Esse garoto… Ele quer me assaltar!

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Olá, eu sou Glauber1907!

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